Na véspera da Maratona, fui com os amigos Bruno e
Zé Miguel levantar os dorsais à Alfândega do Porto. A organização este ano
melhorou, no ano anterior estivemos muito tempo à espera e este ano a coisa foi
rápida (pelo menos para nós). Não gostei muito da Expo-Maratona, não encontrei
nada de muito interessante, não havia promoções que valessem a pena (falo apenas por mim), por ex. a Sportzone tinha lá modelos actuais de
sapatilhas de corrida, mas a preços normais sem qualquer desconto (e eu que até
ia com ideias de aproveitar algum desconto de que pudesse usufruir – ainda não
foi desta que comprei as minhas Nimbus 14 ou 13 novas). Valeu pelo desconto de 50% na inscrição na Maratona do
Porto 2013, que aproveitamos de imediato (nós os 3 mais o Badolas que se juntou
ao grupo para a Pasta Party) – este desconto parece-me uma “boa jogada/resposta” da Runporto,
para tentar contornar o facto de a Maratona de Lisboa 2013 ter antecipado a
prova para poucas semanas antes da do Porto. Se existem rivalidades entre
as duas Maratonas, acho uma estupidez….se se entendessem, acho que teriam muito
mais a ganhar, pois com certeza uma grande parte dos atletas iriam às duas se
houvesse um intervalo razoável entre elas – mais uma vez falo por mim. Destaco
ainda termos encontrado o Paulo Pereira, atleta do NAC Cucujães, que é um dos
melhores atletas amadores aqui da nossa zona –
pergunta-me ele –“então pá? Vais correr a Family Race?” – deu-me logo aquela moral:D
– lá tive que puxar dos galões e dizer-lhe que eu SOU MARATONISTA!!! O Paulo é
o que chamamos um “gajo fixe” que corre para caraças para atleta amador mas
sempre humilde, o que é normal neste nosso desporto….basta dizer que
nesta Maratona ficou em 10º lugar na geral com 2h35min (acho que foi tb a 3ª
dele)…. não é preciso de dizer mais nada.
A Pasta Party foi como no ano passado, a mesma
ementa, a música melhorou um pouco, a comida nem por isso, mas como está
incluído há que aproveitar.
A tarde foi passada com a Inês e a minha filhota,
e o nervosismo miudinho começou a aparecer ao fim da tarde quando comecei os
preparativos para o dia seguinte. Ao jantar “fugi” da tradicional massa, gosto
muito mas andava farto (é que já eram uns 3 ou 4 dias a enfardar todo o tipo de
pastas). Franguinho Churrasco bem bom, com batatinhas fritas de pacote e uma
saladinha, regado com Coca-Cola Zero. Hmmm…maravilha. Deitei-me cedo e para meu espanto até que
adormeci logo (ca.das 23h)….embora durante a noite tenha acordado várias vezes,
sempre a controlar o relógio, posso dizer que quando chegou a hora de levantar
(ca.5.15h) tinha descansado bem - logo quando acordei, tive aquele sentimento que
o dia ia correr bem. Pequeno-almoço habitual, apenas com a excepção de ter
bebido um batido de proteínas (que uso quando faço treinos longos) – nada de
arriscar para não me dar a volta. Ao sair pela porta fora é que me dei conta do
briol que estava – um frio de rachar, e um vento que piorava as coisas.
Às 7 horas estava no Beto em Fiães para me
encontrar com o Bruno e o Zé Miguel, para o café da praxe, antes de arrancarmos
em direcção à Invicta. O Bruno estava com “cara de caso”…. estava com dores no
pé esquerdo, inexplicável segundo ele, diz que ao colocar a meia de compressão
sentiu uma fisgada e que não conseguia apoiar bem o pé no chão??? É a primeira
pessoa que eu conheço que se consegue lesionar a calçar uma meia – o gajo não
conseguia caminhar mas teimava em ir correr – estes gajos do CAL não desistem
assim sem mais nem menos.
Chegados ao Porto, estacionamos perto da zona de
chegada na Avenida da Boavista e seguimos directos para os autocarros que
transportavam o pessoal da Meta para a Partida na zona do Pavilhão Rosa Mota
(nome mais adequado para esta crónica). O frio e o vento eram por demais, era
ver as pessoas espalhadas pelos corredores dos prédios circundantes a tentar
arranjar um cantinho onde o vento não lhes pegasse. O cházinho e cafezinho que
a organização disponibilizou deu para aquecer a alma, embora não lembra o diabo
beber chá por copos de shot….mas que soube bem, soube. O Bruno lá continuava
com a dor no pé, a dar umas corridinhas para tentar ver se passava…..estava
decidido a arriscar e se não desse fazia os 15kms da Family Race. Muito perto
da hora da partida lá ganhamos coragem, fomos entregar a roupa no camião da
organização e quase sem aquecimento entramos na zona de partida – faltavam
poucos minutos. Primeiro contratempo foi ver os balões dos pacemeakers na zona
de partida dos atletas de elite – acho que não faz sentido. Eu que queria ir
com o balão das 3h30 não tive hipótese, pois havia muito mais de mil atletas a
separar-me dele, e como demorei mais de 1 minuto a passar a Partida, tão
depressa não o vi.
Mal se deu o tiro de partida, tentei entrar o mais
rapidamente no ritmo das 3h30 (ca.5min/km) o que consegui já no início da
descida da Avenida da Boavista. Nesta fase assiste-se à azáfama habitual, com
os atletas da Maratona a serem constantemente ultrapassados por atletas da
Family Race…. Nesta fase estava bem calmo, decidi fazer a prova sozinho, não
cair no erro de ir apanhar o balão das 3h30 e gastar energias desnecessárias.
Passei o balão das 4 horas logo a no inicio da Avenida da Boavista, pouco
depois passa por mim o Zé Miguel a grande velocidade (ele tem sempre um acesso
de loucura quando chega ca. dos 5kms, já em Madrid foi a mesmo coisa) – desta
vez quis aproveitar a descida para apanhar o balão dele, o das 3h45min… eu
mantive-me calmo e sereno e pouco depois lá passei o balão das 3h45, ainda na
Avenida da Boavista. Junto ao Castelo do Queijo a virar para Matosinhos fiz os
primeiros “amigos”, 2 atletas de Leiria com os quais troquei algumas
experiências, eles iam para 3h45 (espero que tenham conseguido) – deixei-os
junto ao edifício transparente e perto do retorno em Matosinhos comecei a ver
ao longe (ca.300-400m) o meu balão, circundado por perto de meia centena de
atletas que o seguiam – deixei-me ir no meu
ritmo, sempre ligeiramente abaixo dos 5min/km e a controlar o balão ao
longe. No retorno vi que o Zé Miguel continuava junto do balão das 3h45 e vi o
Bruno junto do Balão das 4h (fiquei bem contente, era sinal que se estava a
aguentar do pé) - o único problema depois do primeiro retorno era o vento forte
que se fazia sentir, e que obrigava a esforço extra para não baixar o ritmo.
Este vento haveria de nos acompanhar por largos kms, que me lembre pelo menos
até ca. meio do percurso. Quando passei 1/3 da prova ia com 1h09min, ou seja, um
minuto de vantagem para o meu objectivo e, como seria de esperar nesta fase, a
sentir-me muito bem. Foz, depois seguir junto ao Douro na marginal até pouco
antes da Alfândega - foi a parte mais solitária para mim, sempre com o balão à
vista e a recuperar algum terreno à medida que os kms passavam.
Pouco antes da
meia Maratona uma primeira surpresa ao avistar o Zé Alexandre a acenar com uma
camisola do CAL e a Ana, a incentivar-me – sabe tão bem ter amigos a dar uma
força – eu continuava muito bem e à passagem dos 21km mantinha 1 minuto de
vantagem. Antes de chegar à zona da Ribeira já os primeiros atletas africanos
vinham de regresso no outro sentido…é impressionante. Uma novidade no percurso
deste ano foi a incursão na zona pedonal da Ribeira, mesmo junto ao rio, zona
que estava cheia de público o que tb ajuda muito e até faz ultrapassar a
subida, curta mas ingreme para o tabuleiro da ponte D.Luis , facilmente. Ao
passar a zona ribeirinha de Gaia até ao retorno na Afurada, cheguei-me mais
perto do balão, estava apenas a uns 60-70m e assim me mantive…. ainda antes do
retorno vi o meu amigo Ricardo Pires que tal como o ano passado veio dar o seu
apoio e um pouco mais à frente tb o Nuno Silva (colega do CAL) que correu (quer
dizer, caminhou, pq este ritmo para ele é caminhar) comigo durante um ou dois
kms e tirou umas fotos. No retorno da Afurada estavam cumpridos ca.27km e
continuava a sentir-me bem sempre com o balão à vista, não consegui ver o Zé
Miguel mas vi o Bruno um pouco atrás do balão das 4h (bom sinal) – pouco depois
passava o 2/3 da prova, agora com quase 2 minutos de vantagem em relação ao
objectivo. Aos 30km comecei a sentir as pernas um pouco mais pesadas
(psicológico? Não sei.), mas conseguia aguentar o ritmo sem dificuldade, nova
passagem pela ponte e corte à direita em direcção ao Freixo para o último
retorno um logo mais à frente (Km32)….. foi um pouco antes deste retorno que vi
a Inês, a Maria e a minha sogra (eu sabia que iam lá estar, só não sabia bem
onde)…deu para dar uma beijoca na esposa e para a Maria correr comigo até ao
retorno….embora as pernas pesassem um pouco continuava incrivelmente bem e
depois de me despedir voltei ao encalço do balão, que com esta “brincadeira”
tinha fugido um pouco. Sem stress apanhei verdadeiramente o balão das 3h30 pela
primeira vez depois do túnel da Ribeira, já com muito menos gente (talvez uns
10-12 resistentes) e ali me mantive. Foi nesta fase que de km em km as pernas
iam pesando mais, mas ia aguentando, muito tb com a ajuda de um senhor (deveria
ter mais de 60 anos) que com uma facilidade enorme ia falando, apoiando e dando
dicas ao pessoal que ia naquele grupo. Nesta altura ainda pensava em fugir ao
balão nos últimos 2kms, tal era a confiança – segundo as minhas contas a
continuar assim iria chegar nas 3h27 - acontece que junto à entrada da Foz, quando
passamos na fortificação e começa a subir ligeiramente para entrar naquela
interminável Avenida Brasil dei “o estouro”, as forças foram-se de um momento
para o outro e comecei a ver o meu balãozinho a afastar-se aos poucos…. a caixa
estava mais ou menos bem, mas a pernas não queriam andar….não sei onde fui
buscar as forças entre o km 38 e o 41km para manter bem vivo o objectivo a que
me tinha proposto, mas fui….talvez às constantes contas de cabeça que
fazia….quando cheguei ao Castelo do Queijo e entrei na Avenida da Boavista senti
pela primeira vez que ia conseguir, faltava pouco mais de 1km, já se ouvia o
speaker na zona de chegada, via o muito público ao longe e tb os pórticos cor
de laranja que indicavam o corte que dava para a recta da meta – a meio da
última subida vejo a Samanta, a Sónia, o Diogo e um amigo que com os seus
incentivos me deram mais aquela forçinha… tinha levado uma bandeira de Portugal
comigo (a mesma que tinha desfraldado em Madrid na chegada com o meu amigo
Badolas), dentro de uma bolsa onde levava o gel, as chaves do carro, o
telemóvel, era só para encher e evitar que o material andasse às voltas dentro
da bolsa, mas naquela altura decidi-me novamente a desfralda-la como incentivo e
assim fiz os últimos 400m, muito apoiado pelas pessoas que se encontravam na
zona de chegada…. Quando passei a meta senti-me um super-homem, o meu relógio
assinalava 3h29,42min…..tinha conseguido!!!
Estava de rastos, mas só a nível das pernas, a
“caixa” estava incrivelmente bem…..não havia tempo a perder, não queria falhar
a chegada dos meus amigos. Recebi a medalha, o saquinho com os brindes, fui
mudar a “àgua às azeitonas” e fui colocar-me na zona do público a 100m da meta
à espera do Zé Miguel e do Bruno. Á medida que os minutos iam passando, ficava
mais inquieto pois queria muito que eles chegassem bem, eles mereciam (ambos
tiveram alguns duros percalços durante a preparação e nunca atiraram a toalha
ao chão). Chegou o balão das 3.45h e nada de Zé Miguel….confesso que fiquei
preocupado…. mas pouco depois lá vinha ele de sorriso de orelha a orelha, tão
contente que nem me viu chamar por ele, acabando a prova em 3h55 (11 minutos
abaixo do tempo feito em Madrid) – fantástico.
Agora só faltava o Bruno que tb
não demorou muito a chegar, passava alguns minutos das 4h de prova quando o
Bruno acompanhado pelo sobrinho Diogo e um amigo entrou na recta da meta,
viu-me, parou e cumpriu um tipo de “aposta” que tinha feito comigo no dia antes……dançou
o “Galgar Style” antes de fazer os últimos 100m e terminar em 4h09min (5
minutos abaixo de marca de Madrid)….e isto sem esquecer que, de manhã ainda nem
sabia se ia conseguir correr. Absolutamente fenomenal….
Posso dizer que quando
se entra nisto com amigos, fica-se tão contente com a própria marca como com a
dos amigos. Não podíamos imaginar melhor resultado, todos batemos os nossos
recordes por grande margem e mais importante, chegamos bem (na medida do
possível) ao fim. É o que eu digo, a malta do Clube de Atletismo de Lamas é
guerreira e não se deixa abater – podemos não ser os melhores, nem ganhar
nenhuma corrida, mas não quebramos!!!
Aqui a classificação da malta do CAL:
Classif. Geral
|
Escalão
|
Posição
|
Dorsal
|
Nome
|
Clube/equipa
|
Tempo
|
Escalão
|
Oficial
|
|||||
510
|
M40
|
106
|
1700
|
Carlos Cardoso
|
Clube Atletismo Lamas
|
03:29:42
|
1043
|
M35
|
213
|
1630
|
José Martins
|
Clube Atletismo Lamas
|
03:55:31
|
1262
|
M20
|
253
|
1792
|
Bruno Pinho
|
Clube Atletismo Lamas
|
04:09:36
|
Quanto à organização de uma forma geral pode
considerar-se muito positiva, houve claros melhoramentos em relação ao ano anterior,
a começar pelo percurso que com a introdução da voltinha por Matosinhos em
detrimento à ida ao Freixo (sempre penosa) e com a passagem junto à zona
pedonal da Ribeira, o que fez com que houvesse muito mais público na rua (pelo
menos pareceu), e que ajuda muito à festa, fez com que esta Maratona melhorasse
bastante. O facto de termos registado um recorde de participantes e
finalizadores da Maratona tb é facto positivo a assinalar. Pena é que o vento
forte (felizmente o homem ainda não consegue controlar o tempo) tenha
invalidado uma melhor marca do vencedor, com bom tempo poderia ter chegado ao
recorde da prova. Como sempre tb houve alguns poucos pontos negativos, que me
parecem fáceis de eliminar no futuro:
- pacemaker do balão das 4h – supostamente, e
baseado em informações de pessoas que estavam presentes, este balão chegou à
Avenida Brasil já no retorno com 8 a 9 minutos de avanço em relação ao tempo
previsto – quem corre sabe que isto é uma enormidade de diferença para quem
treina para uma determinada marca e confia num pacemaker, situação que sabemos poderá
muito bem ser um factor para um atleta nem sequer conseguir completar a prova.
Há que ter sensibilidade nesta questão, controlar bem os tempos (o que não é
difícil) se não é melhor não existir balão. Com o “meu” balão das 3h30 isto não
existiu, esteve sempre mais ou menos dentro do tempo.
- tb em relação aos balões, acho que devia haver
na partida zonas por tempos…o meu caso é um exemplo claro….queria ir com o balão
das 3h30, mas não pude pq ele partiu da zona elite e eu cá atrás com mais de 1
minuto de diferença.
- os sacos (com os pertences dos atletas)
entregues no camião da organização, no fim da prova estavam espalhados em duas
tendas no chão, numa zona de acesso a toda a gente, inclusivamente do público.
Os voluntários presentes não tinham mão nas pessoas que queriam levantar os
seus sacos e a confusão era generalizada. Acho que a organização tem a
obrigação, ao oferecer tal serviço, de olhar pelos pertences dos atletas até ao
fim. Acho tb que este problema é de fácil solução, basta colocar um balcão à
entrada das tendas para não deixar entrar ninguém “estranho” e reforçar a
equipa de voluntários com mais um ou dois elementos.
Volto a frisar, são pequenos pormenores que me
parecem fáceis de corrigir e que podem tornar o evento perfeito. Parabéns à
Runporto por mais esta bela prova!!!
Agradecimentos
- à minha família – especialmente esposa e filha pelo apoio nesta minha outra paixão. Sei,
que embora me esforce por minimizar, muitas vezes nos roubo tempo familiar. Aos
meus sogros que dão uma ajuda do caraças para eu poder treinar.
- a todos os que nos apoiaram nestas últimas semanas – o apoio dos amigos é
por demais importante. Ver que não somos esquecidos, por exemplo numa sms, num telefonema
ou mail um dia antes ou no próprio dia -
então ver durante o percurso o Zé Alexandre e a Ana, a Samanta, a Sónia,
o Diogo e o amigo dele, o Pires (mais uma vez), o Nuno Silva e o Hugo (este
último não vi por muita pena minha, mas sei que esteve presente) é fenomenal. É
de verdadeiros amigos.
Próximos
capítulos Maratonistas
A próxima Maratona já está a ser equacionada – deverá ser no estrangeiro na primavera de 2013 – falta decidir entre Amsterdão, Roterdão, Milão, Roma, Dublin ou Paris. E pela malta interessada em ir (e não só do CAL, tb de clubes amigos) vamos ter recorde de participação. Em relação ao Porto, para o ano cá estaremos de volta se não houver problemas de maior, aliás 4 já estão inscritos (os 3 de 2012 + o amigo Badolas que desta vez não se vai baldar).
Tenho tb um pressentimento que na próxima
Maratona do Porto vamos ter estreantes, não é Zé Alexandre?
Boas Corridas!!!
Parabéns pela prova e pela concretização do objectivo sub-3h30 entre amigos e família.
ResponderExcluirBoas corridas!
Que maravilha, amigo ! Meu carinho e bons treinos.
ResponderExcluirMuito obrigado.
ResponderExcluirParabéns por mais um desafio superado. Venha o próximo!
ResponderExcluirAbraço.