O meu amigo Luís Lobo perguntava ontem numa publicação no
fb quantos km é que iria ter esta minha prova de 100km em Lousada?*
*para quem está fora estas perguntas parecem parvas (e
até são J) mas a nossa malta usa este tipo de
parvoíce com km, com os meses do ano, datas de eventos e aniversários. Quem
acompanha os bate-boca nas redes sociais deve achar que a malta não bate bem da
bola e no fundo até tem razão J
Avante … respondendo à questão do Lobo … os meus 100km de
Lousada este ano tiveram 60km J
Ontem não era dia, faltaram pernas como sempre faltam
nestas provas, o que acontece a todos, ninguém que se iluda – quando estava a
tomar banho estava lá o Luis Gil (vencedor pela 3ª vez consecutiva sempre com
tempos a rondar as 7h20-7h30) e também ele me disse que a partir dos 50/60km as
forças lhe começam a faltar. A diferença é que ele e todos os outros que
concluem estas maluquices, seja em 7h30 ou em 15h (que são o limite), a partir de
certa altura deixam de correr com as pernas e começam a correr com a cabeça
usando a força de vontade, o poder de superação para carregar o corpo até à
meta.
Pois ontem não tive essa força, essa motivação, algo que
até é um dos pontos fortes em mim … uma prova de 10, 21 ou mesmo até a Maratona
consigo acabar mesmo não muito motivado. Este tipo de provas já não é bem
assim. Não sendo muito experiente nestas andanças, já tenho alguma e não tenho
dúvidas que teria conseguido acabar se me “apetecesse” sofrer muito … e não
apeteceu.
Quando ia para Lousada, de carro sozinho e cheio de sono
– enganei-me na hora e levantei-me uma hora mais cedo do que precisava J (cá vamos nós a começar um rol de desculpas
esfarrapadas) - já se adivinhava um dia complicado. Sentia-me cansado e sem
energia, as pernas pesadas e lá está, sem aquela vontade. Mas isto passa,
quando lá chegar, com o pessoal o sono desaparece, a motivação volta e as
pernas soltam-se.
E por acaso, com o chegar de malta conhecida e menos
conhecida, com a conversa e o solzinho a começar a aparecer, os pensamentos
negativos foram-se e a vontade em fazer a prova chegou. E não tardou em dar-se
o tiro de partida.
E agora? Como corro isto? Quando me inscrevi há uns meses atrás a ideia era melhorar o meu recorde pessoal aos 100km, mas como não treinei nada jeito (cá está mais uma desculpa que não cola) a coisa era quase impossível – teria que correr os 100km abaixo dos 7min/km.
Vamos lá a isso ... estas não me deixam assim muitas saudades
E agora? Como corro isto? Quando me inscrevi há uns meses atrás a ideia era melhorar o meu recorde pessoal aos 100km, mas como não treinei nada jeito (cá está mais uma desculpa que não cola) a coisa era quase impossível – teria que correr os 100km abaixo dos 7min/km.
Comecei demasiado rápido … tenho por hábito fazer
joguinhos mentais comigo mesmo, dar-me prémios, inventar histórias .. . sim,
tenho uma panca e daquelas grandes J … mas é a forma
que tenho para ir entretendo a mente e ir avançando. Decidi dividir a prova em
“Maratonas de Roma” … iria precisar de 9 Maratonas de Roma + 1 sprint final de
aproximadamente 1km.
lá está o Perneta ... brinca brinca enquanto podes ...
A primeira Maratona de Roma foi feita em 1h02min – média
um pouco acima dos 5,30min/km. Demasiado rápido, mas eu desgasto-me muito se
correr mais lento que isto. Acho que é um ritmo em que vou confortável sem me
desgastar demasiado. Tirando duas ou três paragens nos abastecimentos para
beber (não hidratei nada bem nos últimos dias por ter estado muito ocupado, e
tinha a boca sempre seca desde o inicio – ou seja, ponham mais esta desculpa esfarrapada
na lista). A pernas estavam bem (mal seria, não é?) mas a motivação não era a
melhor. O Vitor Dias da organização chegou-me a perguntar “não tás com muita
vontade pois não”? e o Mauro disse-me algo do género “tás muito preso” … pois …
além disso, não sei se já tinha dito, mas estava a correr com sono …o meu reinado por um café J
os créditos das fotos durante a corrida são da Elisabete .. dona do tasquinho Corridas&Suadelas - está lesionada e por isso a dedicar-se a outra paixão que tem, que é a fotografia - obrigado pelas excelentes recordações e pela companhia e espero que recuperes rápido para voltares a correr e a escrever no teu cantinho
Para a segunda Maratona de Roma ensaiei uma estratégia diferente … o percurso de ca. 1,6km (sobre isto falarei mais à frente) tinha uma subida de ca.300m em terra logo à saída do estádio … aquilo ao início faz-se bem, mas com o acumular dos km começa a parecer uma Montanha … comecei a fazer essa subida a caminhar e o resto tudo a correr. Com as paragens nos abastecimentos e coiso fiz 1h09. Pouco mais de meia Maratona e com as pernas a ficar pesadas. Tá bonito isto …
Na terceira Maratona de Roma utilizei a mesma estratégia,
mas entrei já em esforço … pernas a ficar mesmo muito pesadas, as dores
habituais a aparecer, adutores, gémeos e joelho a começar a dar aqueles
primeiros sinais. Cum caraças … já??? A ideia de desistir estava já fortemente
implantada nesta cabecinha. Resultado 1h11 para 11km até nem era mau … J … só agora que fui ver o tempo é que reparei nos números
… isto persegue-me J
ia a passar no pórtico de chegada quando se deu a partida dos 10km ... fonix, ia sendo atropelado
Na 4ª Maratona de Roma iria passar a distância mítica … continuei com o mesmo estratagema … fazia a subida a caminhar e depois corria o resto, neste caso já me arrastava bastante. Os músculos das coxas estavam a prender muito e na descida o joelho direito já dava de si forte e feio. Já houve uma ou outra volta em que caminhei na pequena subida de acesso à entrada do estádio. Foi nesta fase que chegou a família Perneta e logo houve festa J … vinham preparados para um picnic e até o dito cafezinho me arranjaram … servirem-me um café na pista do estádio é um serviço de luxo J … não tardou muito o fogareiro Perneta estar a deitar fumo e eu a cada passagem ver a malta de cerveja na mão e a trincar qualquer coisa de mais sustento. “Ó Perneta, anda daí” … e eu “Deixa acabar a Maratona que já vou almoçar” J … fiz a Maratona em 4h26 e parei para almoço.
já fumega....
tão bem que soube ...
Bifanas, Rissóis, Batatas-fritas, bolo e claro … a bela
da mini fresca J … ali deitadinho
ao lado da pista a ver os companheiros de luta a passar, a acrescentar voltas.
Não sei se volto à pista … estava-se bem ali J
Mas voltei … não sei quanto tempo depois, nem interessa … voltei com a ideia de fazer 50km e desistir. Ver-me a levantar deve ter sido engraçado pelas reacções dos amigos da onça J … o que vale é que foram surpreendidos pela “rapidez” e no meio do gozo nem se lembraram de sacar dos telemóveis para filmar a cena triste. Sabem … toda a malta que aparece por ali é para apoiar os amigos que estão em prova. Os Pernetas não, é mesmo para deitar abaixo porque é assim que se motiva um Perneta … “desiste” .. “que andas aí a fazer” … “tás velho para estas aventuras” ... estou a evitar colocar aqui as outras pérolas motivadores desta cambada porque me esqueci de colocar a bola vermelha no canto superior direito J
até a sobremesa vieram servir ao lado da pista ...
Depois de ter caminhado uns metros ensaiei umas passadas
de corrida e pouco depois estava a correr de forma até bastante fluída. Já não
me doíam as pernas como antes … o descanso tinha feito maravilhas. Pena ter
sido sol de pouca dura … uns 7 ou 8km se tanto e voltou tudo como estava ou
pior ainda. E a motivação foi-se de vez. Os Pernetas foram-se embora aos 50km e
foram rendidos pelos Montemorrows ou lá como se chamam … a Dora ainda fez umas
voltas comigo mas nem assim. A cabeça já não queria andar mais ali … 5 Maratonas
de Roma … vou até aos 60km (talvez no fundo no fundo ainda estivesse à espera
que nalgum momento um milagre me fizesse acordar para a vida e seguir em
frente).
olhem a carinha dele ... mais que visto que já não ia lá ...
sorrisinho amarelo em mais uma "escalada" ;)
Mas não houve esse milagre … “mais esta volta e saio de
cena” … os Montemorrows ou lá como se chamam ainda me tentaram dissuadir mas a
decisão estava tomada. A última volta foi quase toda feita a passo … a magicar
na decisão, a enviar sms à malta que me tinha enviado mensagens de força nas
horas anteriores. Custou-me tomar essa decisão, mas sinceramente achava ser a
mais acertada (e ainda acho). De todos eles recebi respostas encorajadoras de
imediato que me deixaram sensibilizado. Faltavam uns 400m e começou a ventar,
escureceu e começou a chover … o cenário ideal para desistir. Passei a meta e
dirigi-me ao Vitor Dias a informar que ia desistir … achei piada à cara de
incrédulo, tipo “desistir como?”.
já não foi mau ....
Pois é … como ando sempre na brincadeira, a meter-me com
o pessoal, a rir-me, talvez a maior parte das vezes não mostre como na
realidade me vou a sentir. Talvez daí alguma surpresa.
Fiquei ali na zona da meta com os Montemorrows, a
incentivar a malta que passava, fui tomar um cafezito … o sol tinha voltado …
passaram certamente 20 ou 30 minutos e eu continuava com os chips nas
sapatilhas. E via os companheiros da luta a passar, muitos já a sofrer a bom
sofrer mas a aguentar firme e hirtos dentro do possível. E eu ali sentado …
tinha feito o mais fácil … desistir!!!
A olhar para os chips nas sapatilhas ainda me lembrei de
voltar à pista mas depois rapidamente decidi tira-los e ir devolve-los à
organização. Pronto … agora era definitivo. Banhinho quente e voltar para a
meta apoiar os amigos que ainda lá andavam.
Estava de bem com a minha decisão … a sério que estava e
estou.
Ainda estive uma horas valentes por ali, vaguei pelo
percurso para incentivar quem passava … sei o quanto pode valer um pequeno
incentivo nesta fase. Já o fizeram comigo no passado. Acompanhei de perto o
esforço dos bravos e bravas que teimavam em lutar com as forças todas que
tinham. Espectacular de ver!!!
Vim embora já era noite porque teve mesmo que ser – ainda
havia afazeres para cumprir antes de finalmente poder cair na cama. Gostava de
ter ficado até ao fim porque ainda havia amigos em provas, muitos conhecidos
colegas de luta, mas também a Raquel e a Ana Xavier que mereciam que esperasse
por elas.
Foi mais um dia em cheio que a corrida me proporcionou.
Destaco a família Perneta … embora soubesse que vinham
apoiar (a desculpa era a de promover os trilhos dos pernetas), vê-los ali por
minha causa deixou-me muito orgulhoso dos amigos que tenho. Não há melhor ….
obrigado meninos e meninas …
“Quando corre um
corremos todos” …
Á 2ª família
corredora - os Montemorrows ou lá como se chamam … vocês tb estão cá dentro.
Ao Serafim do CAL … deixaste-me sem palavras ao aparecer
a meio da tarde ali assim de repente, para me vir apoiar. E eu sentado acabadinho de deitar a toalha ao chão L … obrigado
Serafim.
Às pessoas que estavam a assistir e que tinham sempre um
sorriso, um incentivo, uma brincadeira para comigo. Obrigado J
Depois uns grandes parabéns e obrigado a todos os
companheiros de luta que andaram ali às voltas. Uma cambada de gente
bem-disposta. É muito pelas pessoas que isto tem piada … pelas conversas, as
histórias, os queixumes, o mal-dizer J, o picanço, os
incentivos, os sorrisos …
Os outros que me desculpem, mas enorme admiração pelas
provas do Paulo Gomes (sei bem do que ele é capaz, mas olhando ao que andou a
fazer nos últimos dias e ao facto que desde as primeiras voltas andar a dizer
que estava todo “fodido” é de extraterrestre). E que dizer da Ana Xavier … ali
vai ela, nas calminhas, num estilo inconfundível a distribuir sorrisos,
incentivos e simpatia por toda a gente. Tem um estilo franzino mas
é só para enganar … desde cedo disse que acabava aquilo nem que fosse de gatas,
nem que fosse às 23.59h. E manteve o discurso com as pernas desfeitas e com
umas dezenas de km pela frente. Grande Ana Xavier J - põe os olhinhos ó Perneta J
E deixo para o fim a Raquel … porquê? Primeiro porque num
jantar há umas semanitas atrás me desafiou para esta prova, dizendo que me ia
ganhar (depois disse que não se lembrava disso, mas existem testemunhas
infelizmente JJJ). Depois porque
a prestação dela, além de extraordinária, chuta todas as desculpas que eu
poderia ter para não ter concluído a prova para canto. É um exemplo de garra
esta rapariga.
- eu estive no
Marão no sábado umas 10 ou 12 horas a ajudar no UTM – ela esteve lá desde 6ª
feira até ao fecho do evento no sábado à noite.
- dormi pouco nos últimos dias – imagino ela, envolvida num evento como o UTM
- eu treinei pouco e mal – a Raquel esteve lesionada num pé que a impossibilitou de treinar nas últimas 4 semanas (ou mais)
- dormi pouco nos últimos dias – imagino ela, envolvida num evento como o UTM
- eu treinei pouco e mal – a Raquel esteve lesionada num pé que a impossibilitou de treinar nas últimas 4 semanas (ou mais)
Resumindo
… Perneta, amigo … mete a violinha ao saco J
Paulo, Ana Xavier e Raquel ... gandas maquinas
Falta referir a organização – esteve tudo a bom nível como já nos habituaram e por isso não há muito a dizer. Apenas três coisinhas que são apenas opiniões minhas:
- a prova ser ao domingo – quando me inscrevi não pensei neste pormenor – é
complicado acabar uma prova destas ao domingo à noite, tipo 20, 21, 22 ou até 23h, todos
empenados, tomar banho, jantar e regressar a casa. No dia seguinte é dia de
trabalho.
- estive na primeira edição – as provas paralelas distribuídas durante o
dia são uma mais valia para quem anda ali a correr tantas horas. Desta vez a
Maratona e os 10km foram despachados durante a manhã, e ao início da tarde já
havia pouca gente ali pelo complexo. E sabe bem ter pessoas por ali. Dão
alento.
- a alteração do percurso de 2,3km para 1,6km por volta é negativo. As voltas
nesta prova sempre foram “feias” … se retirarmos a parte da pista do estádio,
tudo o resto é desinteressante. Mas isso já sabia. Retirar ca.1/3 do percurso,
mantendo as partes mais complicadas (uma subida em terra de 300m) e a descida
em alcatrão do outro lado, faz com que praticamente não haja planos onde
possamos “descansar” um pouco … no fundo estamos quase sempre a subir ou a
descer, se retiramos a parte da pista. Tornou o circuito muito mais duro e mais
monótono ainda. Mas foi igual para todos – mais uma vez não serve de desculpa.
Resumindo
esta lenga lenga toda … Amigo Perneta!!! Treinasses J
Sigaaaa
a camionetaaaaa….