Domingo,
19 de Maio – Porto-Basileia-Lucerna – zero KM
Pouco passa das 13h e cá vou eu enfiado num avião da
Easyjet em direcção à Suiça para mais uma semana de estágio em altitude. O voo
passou muito rápido … dormi o tempo todo, não foi como uma pedra porque isso
não consigo. Foi o que chamo de “soneca de avião” onde adormeces ainda a
hospedeira está a fazer figura de parva com uma máscara enfiada no focinho a
esbracejar feita doida varrida e vais acordando de quando em quando com dores no pescoço, a babar para a tua camisola
ou com uma bofetada bem assente da senhora do lado porque lhe mandaste uma
cabeçada ao tombar para o lado da janela. Pelo menos não tombei para o lado do
lugar do corredor, acho que a minha dentadura
não ia aguentar uma murraça do
imigrante tuga, trabalhador na construção todo tatuado, bem torneado e
musculado mas com cara de poucos amigos.
Chegado a Basileia, tempo de apanhar o carro que aluguei
e me por a caminho de Lucerna numa viagem de uns 100km. O tempo está horrível …
chuva intensa, nevoeiro, vento e frio. Quero ir correr!!!
Chego ao Hotel por volta das 18h – o tempo piorou. Uma
corridita pequena de 6 ou 7km para recuperar dos 45km da Volta ao Porto é o
objectivo. Ainda me começo a equipar mas um último olhar pela janela do quarto faz-me
desistir da coisa. Lá se foram os 5 treinos previstos para esta estadia … fico
com aquele sentimentozinho de remorso que daqui a uma hora já me vai passar, à
mesa na companhia de uma pizza daquelas 5 estrelas acompanhada de uma cervejola
bem fresquinha … não coloco fotos para não meter aquele nojo à malta e porque
me esqueci de as tirar J
2ª
feira – Lucerna – 10km
Dormi duas noites em Lucerna, a minha cidade preferida na
Suiça. Conheço muito bem as zonas circundantes do Hotel que fica na periferia e
é por isso que me custa mesmo muito quando as condições climatéricas não são
boas. Foi o caso. Choveu o dia todo, um tempo invernal horrível … mantêm-se o
nevoeiro, o frio, o vento. Chego ao Hotel já passa das 17h outra vez … vou
correr nem que a vaca tussa. Equipo-me e saio para a rua determinado … quando
chego cá fora surpresa … não chove … despacho o treino de 10km por entre
floresta e campos num ida-e-volta … ainda apanho uma ou outra chuvada mas
soube-me muito bem. Os 5km de volta são feitos a uma média de 4,15m/km …
recuperei bem do treino longo do fim de semana J
o meu amigo Pilatus lá ao fundo ...
nada mau … segundos 5 km em 21min
Á noite uma voltinha pelo centro da cidade um rissoto de
cogumelos e umas cervejinhas como recuperação activa. Não coloco fotos de
comida, podem estar descansados J
3ª
Feira – Moutier – 10km
Moutier é uma pequena vila, enfiada num vale na zona de
Jura, mais a norte da região da Suíça francófona. Por acaso não tinha por
hábito ficar por aqui a dormir, mesmo tendo clientes perto costumava fazer o
meu roteiro de forma a dormir nas partes alemãs. Não apenas pela língua, mas a
experiência com hotéis que fiz nesta região raramente correu bem. A não ser a
última, em que descobri um em Moutier de que gostei bastante da relação
preço/qualidade. O que era lindíssimo era
a zona, o trajecto que fiz dezenas de vezes entre Hägendorf e Délemont, por uma
estrada rasgada pelo sopé de umas montanhas sempre ao lado de um riacho com
rápidos, intercalado com as paisagens típicas de mantos verdes salpicados por
umas vaquinhas de várias cores é apenas perfeito. Da última e única vez que
tinha ficado em Moutier tinha chegado muito tarde e não corri … e tinha na
retina uma espécie de Capela que se via bem lá no alto de uma das montanhas.
Foi hoje.
onde é o gajo quer mesmo ir?
“Como é que chego aquela capela ali em cima na montanha?”
… “você vai a correr??? Olhe que aquilo é sempre a subir … está a ver a bomba
de gasolina, blá, blá, blá” … a senhora de recepção é portuguesa J
Após 1km chego às tais bombas de gasolina, e por trás
começa a aparecer a sinalização para os percursos pedestres, um deles vai
levar-me à tal capela que não é uma capela … é um miradouro. São apenas 1,5km
para lá chegar, mas subo 200m … sempre a “serra trote”, faço questão … mentira,
paro uns segundos para ir tirando uma foto ou outra … há um blogue para
alimentar J
Chegado ao Miradouro está lá uma rapariga com uma bebé e
o respectivo carrinho … outras mentalidades … veio dar um passeio com a filha.
Lá em baixo tem um rio e uma zona gira, plana, ideal para passear. Mas lá não se
ouvem o chilrear dos pássaros, não se sentem os cheiros da floresta húmida das
chuvas dos últimos dias como hoje. Hoje o sol espreitou timidamente durante
o dia e está uma luz bonita de fim de dia.
ufa … inclina um bocadito ...
E agora? Continuo a subir … outro miradouro para uma
garganta bastante funda … lá em baixo pelos vistos habitaram dinossauros de
várias espécies. Existem centenas de
provas disso por esta zona, incluindo esqueletos completos descobertos há
algumas décadas numa pedreira ali perto.
há uns anitos viviam por aqui umas famílias de dinossauros felizes
Continuo a subir … quando chego perto dos 4km com 350m D+ chego ao topo e encontro o campo verde, um manto de erva fresca com umas
dezenas da vacas espalhadas por ele … tenho um dejá-vu que me leva até à Ilha
Terceira nos Açores, numas descobertas que andei a fazer com a Pikinita numas
férias há uns 2 anitos. O caminho que vou a seguir leva-me a atravessar este
campo, cercado por uma estrutura de madeira … na cancela de
entrada uma placa a avisar que não nos devemos meter com as crias porque as vacas
mães podem não gostar. Mas são tão fofinhas e curiosas J
são curiosas e fofinhas
tb gosto delas no prato ...
Não me lembro de correr tanto por uma montanha abaixo …
se disser que os calcanhares me batiam no cachaço não devo andar muito longe da
realidade. Eram 4 vacas atrás de mim a correr pelo monte abaixo … continuo a
achar que queriam brincar, mas não quis esperar e perguntar … quando as vi a
trotar cada vez mais rápido em minha direcção só tive uma solução … abre
caralho … nem joelho de Mantorras, nem a lama escorregadia (ou seria bosta de
vaca???), nem o facto de as minhas sapatilhas de estrada não agarrarem nada naquele piso evitaram que eu batesse o meu recorde de velocidade de todo o
sempre J … foram algumas centenas de metros
até encontrar a cancela do portão de saída. E as minhas amigas pararam a uns 50 metros de
mim … pareciam amistosas, mas uns 400kg cada em velocidade por ali abaixo seriam
suficientes para com uma marrada carinhosa me fazer chegar ao Hotel bem antes
do tempo previsto. Não ia ser bonito de ser ver J
ATENÇÃO!!! IMAGENS CHOCANTES!!!
foram estas … falta uma na foto
E agora? Não podia voltar para trás, melhor, não me apetecia. Segui
o meu instinto e desci pelo lado contrário chegando ao outro lado da cidade. Mas
não me apetecia comer alcatrão, voltei-me a meter pela floresta por uma cota mais baixa, fiz mais um
D+ antes de voltar ao Hotel.
Maravilha!!!
Á noite fui a um restaurante português … a ideia era
comer qualquer coisa tradicional, matar saudades … afina já estava há quase 3
dias fora.
comer uma francesinha na Suiça é arriscar mesmo tudo :)
4ª Feira
– Moutier-Crissier – 9 + 7 km
Quando atingi o tal Miradouro no treino do dia anterior
tinha visto que do outro lado da cidade também havia campos verdes, florestas e
montanhas giras. Só havia uma forma de ir experimentar … cortar no sono e
levantar cedo. E assim foi .. só custa sair … valeu cada minuto J
desta vez nem falei para elas ...
O dia de trabalho correu bem … chegamos a Crissier um
pouco antes das 17h. Hoje havia compromisso para jantar, mas ainda dava tempo
para ir conhecer a zona onde também não costumo ficar. Crissier fica na
periferia de Lausanne, e pela corridita que dei pareceu-me mais uma zona de
dormitório. O senhor do Hotel indicou-me um parque florestal ali perto que rapidamente
descobri, mas uma volta completa eram menos de 1km … andei ali pela zona e não
vi nada de interessante.
com os Alpes ali ao fundo
Já muito bom foi o jantar em casa de um sobrinho do
Ramalho que foi comigo esta semana. Obrigado ao Fernando e à simpática família que
nos recebeu em casa com uma comezaina daquelas J
num cliente serviram-me este café ...
5ª feira – Wheil
am Rhein – 11km
Wheil am Rhein fica na Alemanha, mesmo na fronteira com a
Suiça e a França, perto de Basel. Quando
voo de regresso de Basel costumo ficar na Alemanha ou na França porque é muito mais barato. Chegamos seriam umas 17.30h e estava calor. Já fiquei aqui uma
meia dúzia de vezes mas nunca tinha chegado a horas decentes de andar à
descoberta – agora que penso nisso acho que nunca tinha estado em Wheil am
Rhein com luz do dia. E lá fui eu …
da Alemanha para a França
da França para a Suiça
da Suiça para a Alemanha
O Jantar foi do lado francês em Huningen … foi só
atravessar a ponte a pé, andar uns 300m e lá encontramos o local. Maravilha!!!
como é que estas fotos vieram cá parar????
desculpem … a sério :P
6ª
feira – Porto – zero Km
O voo de regresso obriga a ser madrugador. 2.45h (hora
portuguesa) toca o despertador. Ta que pareu … que moca J
A manhã passada no escritório, a tarde a tratar de
assuntos pessoais, ir buscar as filhotas e leva-las a casa dos meus pais. Vão
dormir lá esta noite, elas e os primos … casa cheia em casa dos meus velhotes … uma festa J … aqui o marmanjo vai continuar o estágio … vai treinar
privação de sono e resistência para o North Festival que se realiza na
Alfandega do Porto.
Kusturica que vi pela primeira vez ao vivo a fazer jus ao seu aspecto de boémio maluco, divertiu toda uma plateia em que a média de idades era a minha …
não me lembro de estar num festival ou concerto onde não me sentisse o pai de
pelo menos 75% da canalhada que aparecia por ali. Voltando ao Kusturica, a
banda é boa, já ele vale pelo lavajão que é … canta pouco, toca pouco mas
também não precisa … tem uma banda de qualidade tão doidos como ele e assim
fazem a festa J … gostei muito.
Depois vieram os Bush. Confesso que como grande fã dos Nirvana
nos longínquos inícios dos 90´s me custou um pouco na altura muitos
considerarem o Gavin Rossdale o sucessor de Kurt Cobain. Como se fosse possível
o Cobain ter algum sucessor. Isso fez com que no inicio eu abominasse tudo o
que viesse dos Bush … ainda por cima o gajo era giro e as miúdas caiam de
amores pelo moço … que raiva páh. Com o passar do tempo lá me foram convencendo
e posso dizer que gosto de muitas das músicas deles. Não quero dizer com
isso que seja fã … mas já agora que aqui estou (fui ao North Festival pelos
Franz Ferdinand, que fique bem claro) faço o favor de os ver … ainda por cima já
passaram 20 anos, o gajo de certeza que deve estar feio e gordo …
Pois L … não está nem
feio, nem gordo … está com tudo no sitio, com um vozeirão daqueles e uma
energia inesgotável a debitar um som com o resto da Banda que fez a 1h30
parecer 10minutos … que grande concerto deram os Bush, que energia.. uauhhh.
Ainda faltava um dia de festival e o dinheiro investido já tinha valido a pena J
Deitei-me mais morto que vivo, já passava das 2h30 da
manhã – quase 24h a pé.
Sábado
– Porto – zero km
7h e toca a levantar … que puta de moca. Mas não havia
tempo a perder … cabeça de baixo de água fria e sigaaa … o dia vai ser preenchido e longo. Primeiro fui
ter com as minhas meninas … pequeno-almoço com elas, dia passado entre um
Shopping prometido e a tarde no aniversário da afilhada mais bonita que tenho na
Senhora da Hora, a Mafaldinha J … ao fim da
tarde levar as meninas a casa e preparar um jantar rápido antes de seguir para
a 2ª noite do North Festival onde chegamos ainda a tempo de assistir a meio
concerto dos Capitão Fausto … só conheço duas ou três músicas mas gostei.
De seguida os Bastille … não sendo um profundo conhecedor
desta banda, conheço apenas o que todos nós conhecemos de ouvir na radio.
Pompei e mais duas ou três. Mas desde que ouvi pela primeira vez que a voz do
rapazola me chamou a atenção pela positiva. O concerto não é do estilo que me agrade, nem as
músicas de uma forma geral, nem a performance do grupo … mas pela reacção do público acredito que tenha
sido bom. Aproveitei para beber
uns copos, para ir despejar os líquidos nas calmas (3x em 2 horas J) e descansar para o que vinha aí … afinal era por isso
que eu tinha investido no North Festival.
dica importante … nunca esquecer de hidratar …
Despachados os Bastille, pouco depois ali estavam eles …
Franz Ferdinand ao melhor estilo britânico, uns escoceses de Glasgow que mandam
pinta desde a ponta da biqueira dos sapatos de bico brilhantes até à ponta de cabelo
bem penteado e aprumado, passando pelos fatos e camisas impecavelmente vincados
e feitos na medida perfeita de cada um deles. Que som, que voz, que energia … o
impossível aconteceu … eu tinha-os visto pela primeira vez ao vivo no NOS Alive
no ano passado, onde estiveram perfeitos entre outros concertos perfeitos como
foram o do Jack White e o dos Pearl Jam. Melhor? Impossível achava eu … mas achei
mal, e ainda bem … grandes, muito grandes …
North Festival … perto de casa, junto ao rio Douro num
cenário espectacular, organização enxuta a um preço justo. Super Bock como patrocinador
da cerveja a preços altos como é normal nestas coisas, infelizmente. Copos reutilizáveis com tara - excelente a reduzir e muito a quantidade de lixo produzida. Um
programa de dois dias preenchido com rock de bandas que dão concertos brutais. Muito bom J
Estava estafado como podem imaginar, o objectivo de
treinar privação de sono e resistência foram cumpridos na integra.
Já passavam das 3h da manhã e estava a colocar o
despertador para o dia seguinte … “6.30h???” … “não chega, põe 6.15h” … fodaice
…
Próximo capítulo …. Os 25km do NAC TRAIL