sexta-feira

Maratona de Berlim 2018 - "Ich bin ein Berliner"


Ora bem. A Maratona de Berlim foi no domingo dia 16 de Setembro. Mas voltemos um pouco atrás, voltemos ao domingo anterior, dia 9 de Setembro pelas 23h30 ali pela margem do Douro por baixo da ponte do Freixo.
O quadro habitual de uma beleza que nunca cansa, por mais vezes que se treine por lá é sempre espectacular. As luzes das margens do Douro a reflectir na água, as pontes tão diferentes umas das outras e ali mais ao fundo o Porto, com as suas colinas com casas estreitas e coloridas, as luzes que iluminam tão bem os edifícios históricos. Espectáculo. 
Hoje está um pouco de nevoeiro o que dá uma pincelada um pouco diferente ao quadro. Vindos do Porto em direcção ao freixo vem dois vultos, um mais alto, outro mais baixo, ambos a arfar e a progredir com muita dificuldade. Estão a chegar de um treino de 20km e os músculos das pernas estão a ganir… 12km corridos sem parar e o resto alternando 1km a andar e 1km a trote. Uma catástrofe a forma como terminam este treino. Estamos lixados!!! Como iremos conseguir acabar a Maratona de Berlim? Não fazemos a mínima ideia!
Voltemos o filme mais um pouco para trás … uns dias, umas semanas ou até uns meses. Não temos corrido … nem um nem outro. Uma corrida ou outra esporádica não conta. Malditas lesões musculares que me assolam novamente desde os Caminhos do Tejo, ou no caso da Dora uma canelite fortíssima que lhe apanha o gémeo e impede de correr. Em Agosto os km a correr não chegaram aos 30km e nunca acima dos 10km cada. Em Julho não tinha sido melhor. Correr uma Maratona seguida? Missão Impossível … os 330km caminhados no Caminho de Santiago poderiam ajudar na resiliência, mas era só.
Mas Berlim é especial!!! Porque é uma Major, porque a presença foi por sorteio e bem paga e porque tínhamos uma semana de férias marcadas e paga para conhecer a cidade J … vamos estar na linha de partida, isso era mais que certo. Tínhamos 6h15m para terminar e uma táctica para o conseguir … o teste dessa táctica correu pessimamente mal, a sério … não me lembro de um empeno tão grande … 2h20min para 20km e estava pior do que quando acabei os 148km dosCaminhos do Tejo, apenas há 3 meses atrás.
A semana que antecedeu a Maratona foi fantástica. Chegamos na 2ª feira antes e palmilhamos Berlim (e Potsdam) de fio a pavio … saíamos às 9h, regressávamos às 19h para jantar e voltávamos a sair até à meia-noite, no mínimo. Há que aproveitar o que Berlim oferece, e oferece muito, muito mesmo. Não contabilizei os km feitos a pé nestes dias mas certamente sempre acima dos 20 porque efectivamente nunca paramos a não ser para dormir. 
1 dia num dos maiores jardins zoológicos do mundo … fantástico

a experimentar as especialidades … a Curry Wurst ...


Porta de Brandenburgo "at night"

para desenjoar jantamos e muito bem, algumas vezes em casa

sabiam que Potsdam tb tem uma Porta de Brandenburgo, menos conhecido mas mais antiga que a de Berlim? .. não? Agora já sabem … Potsdam vale bem a visita ...

Bairro holandês em Potsdam

A encher o bandulho … é preciso energia não é?

umas das minhas partes preferidas … Check-Point Charlie .. onde se respira história (e é preciso ter cuidado com as carteiras)

ainda dá para saltar? … tá bom

fodaice … até aqui ...

Potsdamer Platz … super moderno

A partir de 4ª feira tivemos a companhia da tropa “Perneta” … como sempre nestas coisas de Maratonas no estrangeiro, a coisa faz-se em família. E é mesmo família … Pernetas, mulheres e filhos J … e a coisa flui de forma automática. Há um entendimento que não se explica … e a diversão é garantida J
só faltava o Hélder que só veio na 6a





Berlim é uma miscelânea de tudo, desde os povos, raças, artes, moderno e antigo

e descobrimos uma cervejaria típica de …. Munique :)

cervejaria bem preparada para a malta despejar as litradas




tudo nas cervejas e um no Capuccino … tá acabado o moço

Check-Point Charlie de dia … 

aqui passava o Muro original ..

Porta de Brandenburgo de dia ...

os preparativos para a Maratona já eram visíveis por todo o lado

e como ainda não tínhamos feito o suficiente porque não subir os centenas de degraus para ir ver as vistas da estátua do anjo?

valeu a pena...


Maravilha ….

no sábado fomos levantar os dorsais … e deixar a nossa marca


equipa maratonista completa ...

à noite voltamos à cervejaria ...

era preciso hidratar bem para a Maratona do dia seguinte …

Vejam a forma apoteótica dos Pernetas a sair da Cervejaria com quase 1000 pessoas lá dentro



Estamos de novo no dia 16 de Setembro, na linha de partida da Maratona. Faltam poucos minutos para o tão desejado tiro de partida. As pernas estão pesadas de tanto km feito nos dias anteriores. Já não estava nervoso … já tinha estado, na noite anterior antes de adormecer. Raramente fico, mas ir para uma Maratona sem estar minimamente preparado deixou-me assim … mesmo tendo combinado com a Dora que faríamos só o que fosse possível e se não acabássemos que se lixasse. Mas queria mesmo acabar … estar ali naquele ambiente ainda me fazia mais querer conquistar a Maratona. Iria ser diferente de todas as outras 11 (sim, eram mesmo 11) que já tinha feito até à data.
é muito SWAG … então o Badolas de banana na mão 



é o que digo … muito Swag …

heheheeeee…. festa ….


Quase quase….

E lá se deu o tiro de partida … juntamente com a Dora e todos os Pernetas - eramos 6 no total. Saímos todos juntos e a festa começou desde o primeiro metro … dentro de fora do “relvado” J.

A táctica era correr 10km seguidos e depois entrar no esquema “Corrinhar” … correr e caminhar até ao fim. A estratégia foi adulterada logo ao início.
Feita …

Corremos quase 15km seguidos … e rápido demais para a nossa condição. “Culpa” da euforia de estar a correr a Maratona de Berlim, de ir com os outros Pernetas, do público empolgado que não nos dava descanso com tanto apoio e mais do que isso tudo, uma certa “vergonha” de começar a caminhar com tão poucos km percorridos.
Esta corrida é a dois se é que ainda não tinham reparado. Apenas me juntei verdadeiramente à Dora por volta dos 10km, que ia um pouco mais à frente na companhia do Américo. Eu ia com o Helder uns 100m atrás na converseta.
“não achas que vamos rápido demais?”  perguntava eu… ia bem, muito melhor do que no treino de domingo passado … “corremos até aos 17km e depois entramos na nossa táctica” … porquê 17 não sei J
Mas não chegamos lá … o peso anormal das pernas chegou de fininho e bem rápido, mais à Dora do que a mim pelo que pouco depois dos 14km começou a “corrinhada” da nossa Maratona. E não pensem que foi fácil …
São 45.000 Maratonistas … embora as estradas sejam largas não há espaço … lá nos encostamos a um dos lados e começamos a caminhar, tentando atrapalhar o menos possível quem queria correr. A multidão na berma da estrada virou as atenções para nós … “Carlooooos” … “Doraaaaa” …. é só incentivos, em todas as línguas que possam imaginar.
Um “you´re looking great” ficou-me na memória … acho que o senhor era irlandês … soube tão bem … e tinha razão … estávamos com óptimo aspecto. As pernas doíam, mas tínhamos entrado no espirito daquela Maratona … high-fives eram mais que muitos, palmas, agradecimentos e acima de tudo sorrisos. Estava a adorar aquilo … de tantos e tantos que falaram para nós só me lembro de um de que não gostei … um velhote alemão que disse qualquer coisa como “isto não é para namorar, é para correr” … em situação normal talvez tivesse razão mas naquela situação era a única forma de chegar ao fim. A dois J, a “namorar” … perdoei-lhe porque ele não podia saber JJJ
E assim fomos, a “corrinhar” … caminhamos menos do que apetecia porque as zonas mais centrais com muita gente não “deixavam” J … abastecemos sempre bem em líquidos e de vez em quando uma banana e maça e aproveitamos uma ou outra casa de banho pelo caminho J … boa desculpa para descansar.
Passamos a meia-maratona com 2h02min. Fizemos os 20km ca.25min mais rápidos que no treino da semana anterior e estávamos um bocadinho melhor fisicamente. Sigaaa….
O apoio nas bermas da estrada é impressionante … não há zonas com pouco público … há zonas com público, zonas com muito público e zonas com multidões impressionantes … bandeiras de tantos mas tantos países, claques enormes organizadas (lembro-me dos dinamarqueses), os mexicanos eram dos mais entusiásticos (ainda mais que os outros), brasileiros, americanos, japoneses, espanhóis (tb muito entusiásticos), franceses, irlandeses, alemães e tantas outras bandeiras … e portugueses? Acreditam que vimos a primeira bandeira tuga apenas aos quase 40km? A sério … procuramos tanto, queríamos fazer a festa com os tugas por caminho e não havia … pelo menos não que tivéssemos visto.
Isto não quer dizer que não tenhamos feito “festa” com tugas que estavam a correr a Maratona. Houve vários que nos ultrapassaram com os quais trocamos incentivos e cumprimentos J … havia camisolas de todas as zonas do país, Cães da Avenida de Gaia, Viseu, Setubal, Lisboa e até uma do Ronaldo J … e havia um grupinho com quem nos cruzamos várias vezes … eram 3, uma mulher e dois homens … um deles estreava-se na Maratona e os amigos estavam a apadrinhar essa estreia. Hoje sabemos que se chamam Alice, Zé e Chico porque já houve contactos depois da Maratona pelas redes sociais.
Fomos cruzando com este grupo várias vezes a partir dos 30km. Ora passavam eles quando nós caminhávamos, ora passávamos nós quando decidíamos correr. O estreante (o Zé) ia numa de “gru maldisposto”  já há alguns km … conheço tão bem essa fase J … não lhe adiantou de nada porque fartei-me de me meter com ele … se o olhar matasse JJJ … as caras deles não me eram estranhas, mas sempre pensei que fosse das corridas que os conhecesse. Apenas depois de os procurarmos pelas redes sociais por causa de umas fotos que tiramos no fim é que descobrimos que se tratava de jornalistas conhecidos da nossa praça. 

A nossa maratona continuava a ser uma festa, cheia de sorrisos a disfarçar as pernas muito mas mesmo muito pesadas. Quando retomávamos a corrida depois da caminhada era um martírio durante as primeiras dezenas de metros. Mas o que nunca faltou mesmo foi a boa disposição. Estava melhor que a Dora que estava a “lutar” bravamente … nada de novo, impressionante a força e resiliência que vem daquela “pequenita” J
E assim chegamos aos 40km … “vamos correr os últimos 2km!!” … a Dora respirou fundo e disse “vamos ….” …

… mas não corremos … não porque não conseguíssemos, mas sim porque ainda aproveitamos uma casa de banho pela última vez para um xixizinho J … depois sim, corremos até ao fim ..

Ali estava a tão aguardada e imponente Porta de Brandenburgo … há pouco mais de 3 horas tinha passado ali um gajo chamado Kipchoge a voar para um recorde do mundo da maratona impressionante J … nós não íamos a voar, mas estávamos a chegar tão longe como ele, um bocadinho mais lentos mas a chegar ao destino como ele tinha chegado J … selfie … tinha que ser … 




… e retomar a corrida … da Porta de Brandenburgo até à meta ainda são uns poucos centenas de metros … ali estava a meta … feita … juntos conseguimos JJJ 



bem-vindo ao clube dos Maratonistas Zé :=


Uns poucos metros depois da meta estão a Alice, o Chico e o novo colega maratonista Zé. Já lhe tinha passado a parte do “gru maldisposto” … estava visivelmente emocionado a tentar perceber como é possível ficar assim “apenas” com uma corrida. Entretanto já deve ter percebido que não é apenas uma corrida … é uma Maratona caraças, e foi a primeira caraças … numa Maratona carregamos muita coisa connosco e quando passamos aquela linha de meta vem tudo ao de cima, especialmente na primeira. Eu sabia o que ele estava a sentir J … o Zé tem um blogue (descobri isso passado uns dias, onde escreve (e bem) sobre corrida entre outras coisas … e o Zé escreveu sobre nós, sobre mim e a Dora … cruzou-se connosco 3 ou 4 vezes durante a Maratona, esteve connosco uns minutos no fim  e trocamos umas mensagens para tentar resgatar as fotos tiradas. E escreveu sobre nós, sobre uma Maratona feita a dois … obrigado Zé!!!
No fim ficamos ali, deitados na relva, de cerveja (sem álcool) na mão a descansar um bocadinho, a absorver o ambiente e a festejar o feito – e a rir da malta a cambalear J .. temos que nos rir uns dos outros, certo? J. Foram 5h14, 2 horas (do meu) e 1h30 (do da Dora) acima dos nossos melhores tempos na Maratona … e foi tão mas tão fixe J

Os Pernetas regressaram no domingo à noite, nós ficamos mais um dia e surpresa das surpresas e ao contrário do que estava à espera não empenamos assim tanto. As pernas pesavam, mas não invalidaram de sairmos para ir conhecer aqueles últimos recantos de Berlim que tinham ficado para segundas núpcias.

Restaurante onde fomos almoçar .. tinha que nos calhar esta mesa… 




não podíamos sair de Berlim sem experimentar a verdadeira ..

a despedida … havemos de voltar...
 


Faltam os agradecimentos … obrigado a todos que nos apoiaram, mais uma vez montes de mensagens J. Á família Perneta (os que estiveram e os que não estiveram), mais uma vez foi uma pernetada muito boa e divertida – mantivemos o lema “quando corre um corremos todos”. Por fim à Dora … tínhamos conseguido sozinhos? Sim, acho que sim … mas não tinha sido a mesma coisa J
NOTA 1: um dia gostava de voltar a Berlim para correr a Maratona, bem treinado para tentar um brilharete. Acho que é mesmo a Maratona perfeita para se conseguir um tempo canhão. O percurso plano, o tipo de piso e aquelas centenas de milhares de pessoas que te “carregam” são umas mais valias importantíssimas. Não é por acaso que o recorde do mundo já cá foi batido várias vezes.
NOTA 2: por falar em recorde do mundo, eu estive presente!!! J não é mentira nenhuma eu dizer que fui sempre atrás do Kipchoge JJJ … sabiam que aqui o vosso amigo também esteve presente na prova em que se bateu o recorde do mundo da meia Maratona, em Lisboa? Ainda hoje é válido!!! Resumindo, eu estive nos dois recordes do mundo, da meia e da maratona J … não pode ser coincidência. As organizações com aspirações deviam ter isso em conta e no mínimo convidarem-me para as suas provas … não acham?

NOTA 3: a Maratona de Berlim é cara … a inscrição custou 114 €. Tens direito a dorsal e a uma medalha de finisher se chegares ao fim. A T-Shirt custa 30 € e a Pasta Party 20 € … e é para quem quer, que não foi o meu caso. Basta-me a bela da medalha J


Um dia vou voltar a correr a Maratona de Berlim!!!