terça-feira

E agora?


Depois de uma avalanche de postas aqui no meu tasquinho dei-vos umas semaninhas de descanso para poderem recuperar bem das baboseiras deste vosso amigo.

Após a PT281 entrei em modo recuperação. Já há muito tempo que tinha previsto 3 dias de férias logo após a prova para dormir e descansar muito. Mas lixei-me ... quis o destino que a mudança de casa calhasse exactamente na semana a seguir à PT281, ou seja, logo na 2ª feira começou a festa ... empacotar cenas, carregar caixotes, desmontar mobílias ... conseguem imaginar o que me custou vergar, pegar, descer e subir escadas, entrar e sair do carro ... e foi isto a semana toda ... e alguns dias da semana seguinte ... mas valeu a pena, a casa nova está linda 😊

O que devia ter sido!!!
A realidade!!!


Mas teve um custo ... além de não ter descansado fiquei com uma dor nas cruzes que ainda hoje, ao fim de um mês, perdura. Pensei que passava com descanso mas não tem sido fácil. 

pareço um garfo

Estive 2 semanas sem fazer nadinha a nível de corrida ... já estava previsto. Na 3ª semana fui correr duas vezes e além de estar perro como o caraças as dores nas cruzes após a corrida eram muito fortes. Parei e comecei a tratar-me no Rui, o gajo que me trata das mazelas. Após mais uns dias de paragem, algumas caminhadas e tal a coisa parece estar a melhorar embora ainda esteja longe de estar a 100%.

Na semana passada voltei a correr 2 vezes entre algumas caminhadas ... uma das corridas até foi benzinho de forma a que na segunda tentei abusar um bocadinho e levei uma marretada aos 7km como se tivesse corrido uma maratona no red line ... arrastei-me até casa, deu 10km, e andei empenado durante 2 dias ... foram 10km a 4,37m/km, ou seja, em condições normais algo que faria na boa. Estou mesmo uma lástima.

onde anda o Perneta de há 1 mês e a sua forma estúpida?

Pior foi que as dores nas costas voltaram em força ... parei novamente 4 dias e após mais um tratamento senti-me melhor e tive autorização para voltar a correr. Fui ontem, fiz 10km e senti-me bem ... as dores nas cruzes ainda andam aqui, os músculos hoje estão super massacrados como se tivesse feito uma semana de treinos intensos. Ou estou mesmo velho e acabado ou então a PT281 + as mudanças de casa deixaram mesmo marcas que não passam assim com duas tretas. Acho que é um pouco das duas coisas.

treino normalíssimo mas parece que fiz a PT duas vezes

E agora? Não havendo provas que outros objectivos posso perseguir? No inicio deste ano tinha estabelecido 2 grandes metas ... uma era a PT281 que concretizei, a outra era fazer a Maratona do Porto abaixo das 3h10. Não há Maratona do Porto em 2020? Não faz mal ... a minha ideia é correr uma Maratona no dia em que se realizaria a Maratona do Porto.

Vamos lá ver se até final de Agosto resolvo o problema das costas e ganho uma basezinha para começar a  treinar a sério para a Maratona ... o meu RP está em 3h14 e baixar as 3h10 pode parecer um salto grande mas sinceramente eu acho que valho uma marca bem abaixo disso se fizer um trabalho especifico e me dedicar apenas a isso. Ainda por cima tenho alguém que percebe da poda e me vai orientar ... tenho é que me por em condições pois por muita vontade que tenha só o posso fazer se o corpo ajudar.

Veremos ... novos capitulos desta novela dentro de alguns dias

quarta-feira

PT281+ „Inspiram-me pessoas normais que fazem coisas extraordinárias“

A verdade é esta ... digo-o muitas vezes. Não posso dizer que tenha ídolos, tenho algumas pessoas pelas quais nutro admiração porque efectivamente se destacam nas suas áreas. O mesmo se passa com a corrida, seja de estrada ou em trail onde além dos desempenhos valorizo muito outras caracteristicas como a simpatia, a humildade e o sentido de humor.

Mas tal como aquela simples frase ali em cima diz, o que me inspira mesmo são as chamadas pessoas „normais“ que fazem coisas extraordinárias.

Uma das coisas que a PT281+ me deu foi mais um carregamento de pessoas que me inspiram ... no terreno, dentro daqueles 70 e poucos  que partiram de Belmonte a grande maioria eram pessoas „normais“, pessoas que tal como eu tinham um sonho, fazer esta viagem „louca“ desafiando os seus limites ... tive a felicidade de durante esta viagem ter conhecido mais uma data destas pessoas, „amigos“ de circunstância, cada um com as suas histórias para contar – ouvi muitas, contei outras, muitas ficaram por contar. Uma inspiração ... obrigado a todos pelos muitos bocadinhos que partilhamos durante estes longos 281km e que me ajudaram a que também eu pudesse concretizar este sonho que carregava dentro de mim há 5 anos.


Também no terreno, sem estar a fazer a prova, existiram estas pessoas a quem chamo „normais“ mas que são inspiradores e nos ensinam que não devemos desistir de um sonho – nem imagino o que terá sido conseguir que a prova se realizasse num ano tão atipico como 2020. A organização com o Paulo à cabeça, passando pelo Borges e mais alguns são inspiradores por isso ... não desistiram e conseguiram colocar de pé mais uma edição da PT281. Obrigado por isso e parabéns por uma prova muito bem organizada.


Adoro estas provas longas pelo desafio em si mas muito também pelo ambiente familiar que é criado, entre atletas, mas também com a organização e os voluntários que nos tratam como lordes ... não é nada fácil estar horas e horas ao sol ou noites inteiras a receber atletas cansados, muitas vezes a rabujar por causa de um pormenor qualquer. Fui tratado como um rei, sempre com um sorriso e uma palavrinha de apoio por estas pessoas „normais“ mas que largaram o bem bom em casa para nos aturar. Obrigado!!!


Inspiradores também foram os fotógrafos presentes ... não só na arte da fotografia com estas recordações espectaculares que nos ficam para a vida mas também pela forma como viveram estes dias intensos. Não pensem que é apenas carregar no botão ... foram dias inteiros no terreno, de carro, a pé, a apanhar sol, pó ... eu bem os vi de noite nas BA ou nos carros, ligados aos pc’s a editar, descarregar, etc, etc ... tal como nós fizeram um ultraprova e os resultados são fantásticos - eu não conheço outra prova com um trabalho fotográfico tão espectacular como este ... tb temos que dizer que os modelos ajudam 😊 ... além de todo o trabalho todos eles foram incansáveis a apoiar-nos, com uma palavrinha, com uma piadola ... grandes, muito grandes. Obrigado!!! 


Depois temos os „roadies“, a malta que vem apoiar os seus „atletas“ durante o caminho ... amigos, familiares, conhecidos ... acabam por apoiar também os outros, que não conheciam de lado nenhum mas não é por isso que não levam uma palavra de apoio, um aplauso ou mesmo meio litro de água fresca ... gente boa que conheci e que ajudaram a que a minha história tivesse um final feliz. A tal gente „normal“. Obrigado por tudo!


Depois tenho-vos a vocês, que acompanham este cantinho, as minhas redes sociais, me acompanharam durante os meses da preparação, uns mais caladitos e outros mais atrevidos ... mas sempre presentes. Então nos dias que antecederam a prova e durante foi qualquer coisa de extraordinário ... cheguei a receber mensagens de madrugada a avisar que estava fora de rota. Malta que com tantas coisas boas para fazer (dormir por exemplo 😊) estavam atentos à prestação de um „atleta“ de fundo do pelotão ... fiz questão de ir publicando no fb algumas fotos e vídeos da aventura para ter os vossos comentários, que eram lidos quando o cansaço apertava porque acreditem, era uma injecção de confiança e uma ajuda incrivel. Imaginem que tive a sorte de algumas pessoas que nem conhecia pessoalmente se deslocarem à Beira Baixa para acompanhar um pouco o meu percurso, dar um incentivo ao vivo e a cores. Imaginam a força que isso dá? Não se pode desistir não é? Obrigado a todos vocês, pessoas „normais“ por me ensinarem que uma palavrinha, um pequeno gesto faz toda a diferença.


Obrigado também às pessoas que eu chaguei nas semanas que antecederam a prova, para que me emprestassem equipamentos (obrigado pelo GPS Paulo Melo, obrigado pelas Powerbanks Teresa e Nuno) e para que me dessem as dicas necessárias para que falhasse o mínimo de pormenores possíveis. Por falar de pessoas que me inspiram, e sem desprimor para outros, destaco o Paulinho (dos Montemorrows ou lá como se chama) que me teve que aturar antes e durante da prova. Muitas das dicas que me deu foram essenciais para que a viagem tivesse sucesso. Obrigado!!!


Obrigado Hélio Fumo!!! Por aturares um gajo como eu, um pouco para o indisciplinado mas que se esforça bastante para cumprir com o treino estabelecido. Conseguiste-me por de rastos durante semanas seguidas – como te dizia muitas vezes „eu não quero ir aos jogos olímpicos“ 😊 – mas além de me teres conseguido motivar conseguiste que fizesse treinos que achava impossíveis para um perneta como eu. Foram meses muito duros, mas que eu adorei e me colocaram numa forma física como já não me lembrava de ter. Obrigado!!!


Familia Perneta!!! O que dizer que já não tenha dito ... só me posso repetir. Pode haver no mundo uma familia igual, é dificil mas não digo que não possa haver. Mas melhor não há, isso é impossivel. Tenho tanto mas tanto orgulho em fazer parte e sou muito grato por a vida me ter colocado tanta gente inspiradora no meu caminho. O nosso lema „Quando corre um corremos todos“ foi mais uma vez vivido em pleno. Vocês inspiram-me!!!


Por falar em Pernetas e inspirador ... o que dizer do meu companheiro de viagem, o Nuno Lima? Somos do mesmo ano, 1972 foi o melhor ano de todos, mas realço que ele é mais velho (1 mês). Somos amigos desde sempre ... desde que eu em criança vinha de férias da Alemanha para casa da minha avó em Portugal. A casa dos pais do Nuno era colada à dos meus avós e naquela altura brincava-se na rua todos os dias até às tantas, ou até dar fome, ou até a mãe nos vir buscar de chinelo na mão. As vidas levaram a que fizéssemos caminhos separados mas a corrida viria a juntar-nos novamente ... foi numa Meia Maratona em Cortegaça há uns 7 ou 8 anos que a meio nos reencontramos ... a partir daí não demorou muito a meter-nos em aventuras cada vez maiores, que culminou agora com a PT281 ... muito obrigado por tudo, sozinho tb podia ser feita mas com certeza não seria a mesma coisa. És o maior (e o mais velho) 😊

 

Há a família Perneta e há a família de sangue – a minha mãezinha foi incansável, sempre com sms cheios de dicas boas, tipo se estiver frio põe um casaquinho, se estiveres cansado desiste, etc, etc ... estou a brincar 😊 ... muitas mensagens encorajadoras que colocavam os olhitos a suar o que é um problema porque toda a gente sabe que se perdem sais pelas lágrimas. Fica na retina e gravado para a posteridade a frase da PT281 2020 – „parabéns, mas enquanto eu for viva não te metes em mais nenhuma destas“... tá bem mãezinha (estou a cruzar os dedos atrás das costas) ... a minha Maria, filhota mais velha foi quem me conseguiu colocar a suar dos olhos antes da partida ... uma mensagem que me encheu o coração. Obrigado!!!


Deixo para último o agradecimento à minha Pikinita, que de Pikinita só tem mesmo o tamanho. De resto é gigante em tudo. O sucesso de uma aventura destas começa em casa ... com apoio ... estares tranquilo durante as horas e horas e mais horas que „roubas“ à familia e amigos é meio caminho andado. E da Pikinita tive esse apoio desde a primeira hora – tenho a sorte de ela correr (e muito) o que faz com que compreenda estas "loucuras" e que me acompanhasse em muitos dos treinos de preparação que fiz ... bateu todos os recordes de km dela nestes dois ou trés últimos meses. Sei que esteve com o coração nas mãos por não ter tido a oportunidade de estar comigo durante todos os dias da prova mas foi por um bom motivo e quando foi mesmo preciso esteve lá. A minha Pikinita é gigante e inspiradora ... e gira ... e deve ver um bocadito mal e está bem assim 😊 Obrigado!!!


Para acabar esta saga que já vai longa queria deixar umas últimas palavras sobre prova.

Eu nem sei bem o que dizer, não sei explicar bem o que vivi ali naquelas 64 horas ... hoje passado pouco mais de uma semana parece que estive num filme, num sonho, numa bolha, sei lá. Só sei dizer que foi tudo fantástico e que ainda hoje estou de peito cheio pelo conseguido, pelas experiências que tive oportunidade de viver, pela região e pessoas que conheci ... não falei com Deus mas fui mais além do que alguma vez tinha ido, acho que hoje me conheço um pouco melhor ... foi uma viagem e peras cheio de situações novas para mim ... foi difícil? Muito ... sofri muito em algumas partes desta viagem ... mas também foi fácil ... tinha a preparação base bem feita, acho que acertei em cheio na táctica usada e plano estabelecido, cometi poucos erros e tive aquela pontinha de sorte que é sempre precisa. O resto foi cabeça, gestão, capacidade de sofrimento e paciência, muita paciência ... algo em que eu acho que tenho algum „jeito“. Só sei que tenho uma bela história para contar aos meus netos 😊


Nestes dias tenho tido algumas pessoas a dizer-me que com os textos publicados, com o acompanhar da prova, ficaram cheios de vontade em ir experimentar a viagem. Eu a essas pessoas digo para seguirem os seus sonhos ... se querem mesmo muito então sigaaaa, não tenham medo de falhar porque nada tem a provar a ninguém e no minimo será uma bela de uma aprendizagem. E garantam que contam com o apoio devido em casa porque a prova não são apenas aqueles 2 dias e 3 noites, são largos meses de preparação que exigem muito tempo. Digo a todos e é verdade ... „se eu consigo, todos conseguem“. Força nisso.


Se eu vou voltar? Não digo que não, mas é a prova de uma vida e o ir por ir não se enquadra na minha maneira de estar ... é demasiado desgastante para isso.  ... existem outros desafios para concretizar. Mas não digo que não, quem sabe um dia volto 😊

OBRIGADO A TODOS PELO VOSSO APOIO E PACIÊNCIA!!!


terça-feira

PT281+ Montes de Senhora a Proença-a-Nova

foto Matias Novo

Passava pouco das 5h da manhã de domingo ... ali estamos nós, os dois velhadas Pernetas que no final do ano passado decidiram dar aquele primeiro passo para entrar nesta aventura, inscrevendo-se neste sonho que era fazer a PT281+. Muitos meses passaram, muitas incertezas sobre as capacidades em terminar a prova ou mesmo a incerteza se a prova se iria realizar – ali estamos nós, à saída da BA de Montes da Senhora a ajeitar o esqueleto e a ganhar coragem para esta última etapa.

Muitas mensagens tinha eu recebido, a maior parte do tipo „está feita“ „agora é só gerir“ ... eu tentava afastar essa sobranceria e evitar entrar em euforias ... faltavam 24km para Proença, ainda são muitos e desde que na Meia de Viana há uns anos atrás com um recorde pessoal praticamente no papo me „atirei“ para o chão a 300m da meta que evito embandeirar em arco. Não é fácil ... a verdade é que sentia que ia acabar, melhor ou pior mas era para acabar.

Posso dizer que foi a vez que depois de um BA parti em pior estado ... o descanso tinha tido pouco efeito ... estava mesmo cansado. Mas também o que queria? Tinha 59 horas de caminho, 258km feitos, calor, desidratação, pouco descanso, pouco ou nenhum sono, 3 noites acordado ... queria estar fresco? Não há milagres ...

Começamos por caminhar durante algum tempo, talvez 1 km para aquecer as roldanas. Mal saímos do alcatrão e entramos no monte começamos a correr, e de repente deu-me uma doideira que já é habitual nestas coisas e „ csa foda, é até partir ....“ ... incrível o que corremos, de tal forma que passado pouco tempo avistamos um grupinho de colegas a caminhar ... „com licença que estamos com pressa....“ ... e siga ... passado uns 100 ou 200m ouvimos passos atrás e alguém a chamar por nós ... era o Rui Pinho que tinha deixado o tal grupinho e aproveitado a nossa boleia. E em boa hora o fez.




Começo a notar um padrão nestas provas mais longas ... das poucas que fiz acabo sempre por fazer os últimos km com o Rui Pinho. Nada é combinado mas acontece quase sempre ... quase sempre vemo-nos ao inicio, depois vamos cruzando pelo caminho e nos BA (ele chega primeiro e sai primeiro), andamos nisto o tempo todo até que no último troço me dá o tal „vibe“ de correria desatada, passo por ele e ele vem atrás 😊 ... já não é a primeira vez e espero não ser a última.

Facto é que assim foi uma bela de uma „ajuda“ ... com muitas histórias, boas conversas e risadas lá fomos correndo a um ritmo bem razoável e com isso avançamos muito bem. 



Com aproximadamente metade da etapa feita voltou o cansaço ... metemos mais caminhada, e de vez em quando lá tinha que parar para esticar as pernocas. Com isto vem de trás um grupinho composto pela malta toda que tínhamos passado desde que saímos de Montes de Senhora. Acho que foi tipo „arrastão“, a malta foi-se juntando e  de repente eramos uns 8 no total .... 


Eles estavam bem e eu nem por isso ... e a cada subida precisava de parar ... disse ao Lima „deixa-os ir ... ou vai tb que eu preciso recuperar um pouco“ .... e sentei-me num muro em pedra à saída de uma aldeia, o Lima ficou comigo ... tb não estava propriamente fresco. O resto da malta seguiu para fora da aldeia para o alto de uma serra.

Foto Agnelo Quelhas

Pouco depois arrancamos e qual não é o meu espanto quando o grupinho estava umas centenas de metros mais à frente a olhar para trás e a chamar por nós ... „obrigou-nos“ a acelerar o passo para nos juntar-mos ... „vamos acabar juntos“!!! 

Foto Agnelo Quelhas

Foto Agnelo Quelhas

Faltariam uns 10km para Proença e só vos digo uma coisa ... não imaginava o „forrobodó“ que iria ser até ao fim. Não foi fácil porque se gerir a disposição de 2 já é complicado, imaginem „gerir“ a disposição e o ritmo de oito personagens com 270km nas pernas ... mas fez-se bem, muito porque tivemos „ajuda“ ...


Por um lado aquele troço era muito bonito, subimos um monte em alcatrão que tinhas umas vistas espectaculares. Por outro lado o fogo em Oleiros estava a tapar o céu com fumo e o vento trazia fagulhas nos ar ... ardiam os olhos e era mais difícil de respirar ... mas a tragédia deu aos fotógrafos da prova um cenário ideal e nós, aquele grupinho do zombies andantes, tivemos a „sorte“ de estar no cenário certo à hora certa ... vejam as fotos ....

Foto Agnelo Quelhas

Foto Matias Novo

Tivemos direito a um acompanhamento de carro da malta da organização, do Paulo, do Miguel Angel que é pouco maluco é ... e depois o espectáculo dentro do espectáculo que é o Matias Novo, que consegue por uma cambada de mortos vivos, desfeitos por um combate de tantas horas a fazer o quê? A dançar meus amigos!!! DANÇAR ... a mim, Carlos Cardoso, para me por a dançar em situação normal é preciso dar-me primeiro uma dúzia de gins bem fortes ... o gajo conseguiu pôr-me a dançar ali ... já vi o vídeo 3000 vezes e a cada um vejo novos pormenores e mato-me a rir com a cena ... espectacular ... que figurinhas fizemos ... mas a verdade é que estes pequenos pormenores nos animavam e a gente lá seguia viagem ... 

ver video aqui 

Faltava passar um monte apenas ... eram 800m a subir a sério ...o grupo dividiu-se por alguns momentos mas reagrupamos lá em cima, mesmo à entrada de Proença ... está feita!!! Está mesmo ... faltam umas centenas de metros mas agora vou nem que seja a rastejar se for preciso ... tenho que me controlar para não armar um pranto já ali ... sinto os olhos a suar e tento disfarçar ... vai ser bonito ali na meta ... seguimos em grupo ...

Foto de Agnelo Quelhas


Olha a Pikinita que vem ao meu encontro ... diz-me qualquer coisa, abraço e beijinho ... não respondo porque não consigo ... estou a tentar segurar-me ... olha o Lobo a filmar ... última curva ... ali está a meta ... tb está ali a família Perneta ... seguimos em grupo como combinado, palavrinha para o meu amigo Nuno „está feito velhinho“ ... que maravilha ... uma rampinha de acesso à meta ... já está ... estamos no pódio, puta que pariu ... parece mentira






 ... fotos de família, receber a medalha lindíssima e mais que merecida ... a minha „família „ está comigo no pódio ... encosto-me a um canto para me segurar novamente, o pranto esteve por um triz ...a Pikinita percebe e diz para deitar para fora mas eu aguento não sei como ... uma estupidez, eu sei .... garrafa de xiripiti, brinde com a malta ... evita-se ao máximo os abraços ... apetecia abraçar tudo e todos mas não se pode, melhor não se deve ... é pena ... telefonema da minha mãe que acaba com uma frase em directo para o facebook dos Pernetas „parabéns, mas enquanto eu for viva não te metes em mais nenhuma destas, ouviste?“ ... risota geral ... e eu continuo a segurar-me ... 

video completo aqui



Hora de sair do pódio e finalmente tirar o que resta dos pés das sapatilhas ... o cenário não é do mais bonito. A família Perneta de volta de nós a apaparicar-nos, comida, bebida e o Bruno continua no directo a dar música a tudo e todos dentro daquela tenda ... foram 45minutos de directo ... e a festa só não foi maior porque estava tudo em contenção por respeito ao Bombeiro que faleceu no dia anterior no combate ao incendio de Oleiros, tinha 21 anos e era de Proença.




Depois do banhinho e tratar dos pés viemos embora. Cheguei a casa eram 15h e o que fui fazer? Dormir claro ...

A saga PT281+ não acaba com este post ... ainda há algo a dizer, faltam as conclusões, faltam os agradecimentos. Tenham paciência 😊

segunda-feira

PT281+ Vilha Velha de Rodão a Montes da Senhora

Saímos eram ca.23h ... a temperatura estava agradável e mesmo cansados a moral estava em alta. Só faltavam 2 etapas, as mais curtas de todas e tínhamos 13 horas para fazer os 50km em falta – tudo sobre controle, é para gerir... ligeiramente à nossa frente 2 companheiros de viagem que ultrapassamos ainda dentro de Rodão ... diz um deles „não podemos descurar, esta etapa vai ser muito dura, o Miguel disse que as 13 horas vão ser curtas...“ ... sinceramente pensei ..“foda-se, 13 horas para 50km? Chega e sobra muito...“.

Pelo sim pelo não aproveitamos a energia que tínhamos e imprimimos um ritmo de caminhada bem forte a subir aqueles primeiros km para passar Rodão. Estava à espera que o percurso nos enfiasse pelos montes mas não ... continuamos por muitos km em alcatrão por estradas nacionais ... fez-me lembrar a ida a Fátima no outro dia mas sem transito. 

Aquela frase das 13h serem curtas deixou-me a matutar, olhei para o relógio e era perto da meia-noite ... o Paulinho ainda deve estar acordado ... toca a ligar para o gajo que mais me teve que aturar com perguntas sobre a PT281 ... o Paulinho tem duas no currículo e sabe o que a casa gasta. Queria perguntar-lhe se conhecia estas etapas e se seriam mesmo assim duras para que 13h fossem curtas para 50km. Ele atendeu e disse desconhecer a etapa que estávamos a fazer, que das duas vezes que fez os percursos eram outros mas que não deveria ser nada de especial em comparação com o que já fizemos. Fiquei mais descansado, mas mantivemos o ritmo forte a subir e deu para usar a táctica de sempre ... em plano e a descer corria-se.

Andamos de tal forma rápido que ainda nem 10km estavam feitos e já tínhamos passado alguns companheiros e colamos noutro grupo de 4 que ia à nossa frente. Foi com este grupinho que fizemos uma grande descida sempre em alcatrão em direcção a uma aldeia (lá está, não me lembro do nome nem me apetece ir pesquisar) ... o que sei é que a descida me massacrou completamente os músculos das coxas e me desfez o que ainda poderia restar dos pés ... foi um massacre de tal forma que quando me vi lá em baixo nem queria acreditar. Contornamos a aldeia e começamos a subir em estrada empedrada ... esta aldeia era super pitoresca, muitas casas em pedra recuperadas e transformadas em pequenos negócios, alojamentos locais e afins. Nessa subida voltamos a encontrar o Artur e a Rute ... a casinha que alugaram para estes dias ficava ali ... perguntaram se precisávamos de alguma coisa mas naquela altura estava-se bem. 




Seguimos, ao contrário dos 4 colegas que decidiram ali dormir 15 minutinhos ... num momento estavam de pé, no momento seguinte estava um para cada lado deitado onde calhou para ferrar uma soneca ... tudo malta habituada a estas coisas de muito longas distâncias. Nós seguimos ...

Agora era subir a sério ... primeiro para sair da aldeia, depois entramos à direita no monte. Um estradão em terra largo, com uma inclinação que deveria ter uns 8 a 10% de média, cheio de pó e pedrinhas soltas que me provocavam dores horríveis nos pés ... este estradão foi nossa companhia durante uns bons 5 ou 6 km ... aquilo foi horrível porque nunca mais acabava, até subíamos bem, ainda com energia, mas aquelas pedras, o pó no ar, o não ter nada de interessante para ver ali fez saltar o „Gru Maldisposto“ em mim e no Lima tb ... a mim pareceu-me percurso para „encher chouriços“, dava a sensação que andavas às voltas no mesmo sitio - pelos visto não é, mas na altura foi o que nos pareceu. Pelo meio uma aldeola com uma dúzia de casas ... tudo fechado, nem vivalma ... no centro uma caixa de esferovite com àguas frescas ... não pegamos porque nada dizia que era para a malta da PT281 ... soubemos mais tarde que todos os anos colocam ali líquidos e que podemos pegar ... azar.

Quando pensávamos que agora a coisa iria normalizar voltamos a entrar no monte para mais do mesmo. Foda-se ... esta merda não tem piada nenhuma. Fizemos alguns troços com inclinações brutais, subidas com 15 a 20%. Não estava fácil ... estava cansado e a ficar com muito sono ... era a 3ª noite e pouco havia dormido. Entrei em modo zombie o que até foi bom, porque nem sequer deu para resmungar muito ... enganamo-nos uma vez ... em vez de sair à direita continuamos em frente a subir ... foda-se ... subir não era fácil, mas descer era pior por causa dos pés, e do pó, e do caralho a sete ... 

... ao longe víamos o incendio em Oleiros, lavaredas enormes, luzes azuis, fumo. Finalmente vislumbramos umas luzes e uns telhados lá em baixo e a setinha do GPS começou a indicar para lá ... deve ser Senhora dos Montes ... embora eu achasse estranho que Montes de Senhora ficasse num vale ... a descida ainda foi longa e há alguns bocados que não me lembro ... desci autenticamente a dormir em pé em alguns bocados ... entramos na aldeia, tudo muito sossegadinho, tudo fechado, apenas ouvias os nossos bastões a bater no chão ... continuo meio a dormir e a caminhar ao mesmo tempo ... num cruzamento olho para a direita e vejo uns joelhos „agachados“ atrás de um poste de eletricidade e um telemóvel a „espreitar“ ... nem tive tempo de saber se estaria a alucinar ou que raio era aquilo ... vejam pelos próprios olhos, a mesma cena de dois ângulos diferentes ... 😊



Os Pernetas são os maiores caralho ... ali estava o Flávio, a Teresa, o Badolas e o Bruno ... tinham vindo dar apoio para a parte final desta empreitada ... espectáculo ... o nosso lema é „quando corre um corremos todos“ e ali estavam eles ... ainda lhes comemos o presunto e as batatas fritas que tinham trazido, descansamos um bocadinho e depois pusemos os pés ao caminho que segundo o Badolas ainda faltavam uns 3km.



E assim foi ... afinal tinha razão, Montes de Senhora fica mesmo num alto ... para lá chegar fomos pela estrada e tivemos que vencer mais uma subida brutal. Analisando a coisa até que fizemos esta etapa num bom tempo, mas tinha-me dado uma coça do caraças,  eu estava mesmo de rastos ... quando chegamos nem dei a devida atenção à família Perneta ... „ó homem, onde é que se pode dormir“ ... „ali ao lado“ ... e pumbas ... meia horita de sono profundo que pareceram 2 minutos ...




... nem queria acreditar quando o telemóvel me acordou, só me apetecia ficar a dormir para sempre ... mas não, não tinha chegado aqui para ficar pelo caminho. Levantei-me e fui até à zona dos comes e bebes tratar de vidas. A minha família Perneta continuava por ali e ajudou no que podia ...

O Lima estava chateado a reclamar comigo ... dizia ele que eu tinha fechado mal um bolso da mochila dele por caminho e que tinha perdido os cabos de carregar o telefone, do relógio e uma powerbank das novas. Eu cheio de sono nem sabia bem o que se estava a passar mas sinceramente não me lembrava de lhe ter mexido naquele bolso. Mas se ele o dizia e de forma tão convicta só podia ser não é?***

Bem .. lá juntamos as peças todas, compusemos o esqueleto da forma possível, despedimos da família Perneta e pusemos os pés ao caminho. Seriam mais ou menos 5 da manhã ... 24km para o sonho e 7 horas para o fazer. Vamos até Proença?

*** um dia e pouco depois, é 2ª feira, fim da manhã ... estou em casa e liga-me o Nuno Lima ... „então Perneta, como estás? Blá, blá, blá, blá .... blá, blá, blá, blá .... e por falar nisso, os cabos e a powerbank apareceram ... tinha-os despachado no saco em Vila Velha de Rodão...“ ????? E se fosses pró caralho, velhadas de merda ....