sexta-feira

Trilhos dos Pernetas 4.7 - adiado


Há decisões que são fáceis de tomar - o adiamento dos Trilhos dos Pernetas 4.7 era mais que previsível e como digo, muito fácil de tomar - neste caso até a tomaram por nós visto a Camara Municipal ter cancelado todos os eventos de Abril e Maio - mas mesmo que não o tivessem feito nós iríamos fazê-lo pois no estado em que as coisas estão não existe outra opção, mesmo que tudo se resolvesse por milagre num ápice não teríamos tempo de preparar o terreno em 2 ou 3 semanas.

Mas lá por ser fácil de tomar a decisão não quer dizer que não seja difícil ter que o fazer - confuso? É fácil porque tem mesmo que ser, é difícil por tudo o que envolve, por todo o trabalho que já foi feito e que foi imenso, pelas quase 700 pessoas que se inscreveram antes de esta situação surreal acontecer, pelas empresas que nos apoiam, pelo dinheiro que já gastamos e também porque queríamos mesmo muito realizar mais esta edição dos Trilhos dos Pernetas.

Mesmo salvaguardados pelo regulamento da prova não queremos prejudicar ninguém e foi encontrada a solução que achamos mais justa para todos os envolvidos, nós incluídos. 

Ainda não perdemos a esperança que os vamos realizar este ano numa data mais à frente - esperemos que isto se resolva o mais rapidamente possível para que possamos analisar as opções.

Importante neste momento é cada um cuidar-se para travarmos este filme de terror e depois podermos voltar a ter a liberdade de correr onde quisermos com quem quisermos.

Fica aqui a informação oficial do adiamento dos Trilhos dos Pernetas 4.7:


"Agora é oficial!!
Os Trilhos dos Pernetas 4.7 terão que ser adiados pelos motivos que todos sabemos. Não é nada que já não se adivinhasse mas quisemos aguardar a informação oficial por parte das entidades competentes do nosso Concelho para o comunicar.

Adiado para quando? Infelizmente não sabemos, ninguém sabe a partir de quando é que esta situação surreal em que vivemos nos deixa voltar à normalidade. Por isso fica em aberto até que tenhamos informações suficientes para tomar uma decisão concreta sobre a nova data.

Embora o nosso regulamento preveja este tipo de situações não queremos prejudicar ninguém, nem quem se inscreveu, nem quem nos apoia e também não queremos ser prejudicados. Já investimos bastante neste evento, algum desse investimento será perdido, outro será com certeza recuperável para a nova data. 

A forma mais justa e equilibrada para todos que encontramos foi passar todos os inscritos automaticamente para a nova data – caso não possam comparecer nessa nova data ficarão automaticamente inscritos para a edição de 2021, que queremos realizar como sempre a 1 de Maio -  logo que possível entraremos em contacto para que possam escolher qual a opção que mais vos convém.

Por agora é tudo!! Agradecemos a vossa compreensão, esperamos e desejamos que isto tudo passe o mais rapidamente possível para que possamos, entre muitas outras coisas, voltar a correr livremente e desfrutar da natureza.

Mantenham-se saudáveis e fica a promessa da Pernetada … VAMOS TODOS FICAR BEM!!!"

Tenho saudades de tanta coisa, entre elas da família Perneta e do nosso quintal!!!

Mantenham-se saudáveis!!!

segunda-feira

Perneta em Isolamento



Tinha escrito o texto abaixo no sábado passado e não publiquei porque não tive pachorra de procurar umas fotos para o ilustrar. Hoje já não sei se tenho a mesmo opinião a 100% … e tudo por causa do dia de ontem, por causa da irresponsabilidade de alguns chego à conclusão (sou um crente) que afinal nós os portugueses somos mesmo irresponsáveis e não somos melhores que italianos ou espanhóis, e pior, não aprendemos com os exemplos que nos chegam desses países. É triste que assim seja, mas só vamos lá mesmo com mão de ferro. É pena, é triste mas que venha ela!!!

Mantenham-se saudáveis!

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Ando sem vontade em escrever por aqui e não é por falta de tempo como muitas vezes acontece, é mesmo porque não me apetece. Mas como isto é uma espécie de diário de bordo faço um esforço para que esta situação única que vivemos fique registada para memória futura neste meu tasquinho.

Estou em casa faz hoje uma semana – tenho a sorte de poder trabalhar de casa ao contrário de milhares de outras pessoas que são obrigadas a ir trabalhar normalmente como se nada se estivesse a passar. Aproveito para agradecer esse esforço enorme, não apenas dos profissionais de saúde, bombeiros, policias, homens do lixo, malta dos supermercados, farmácias mas também aos milhares de trabalhadores como os meus colegas da Cinca que continuam a ir para as linhas de produção e para os armazéns para fazer a empresa continuar a laborar, a produzir e a carregar para onde ainda é possível carregar. Obrigado!!!

Não é fácil trabalhar a partir de casa e tento manter uma certa rotina onde tem cabido o exercício físico e alguma corrida também … mas já lá vamos.

Depois de Sicó a minha recuperação física foi excelente – podia ter regressado ao treino de corrida logo 2 dias depois não fosse o tornozelo esquerdo muito inchado por ter apertado o atacador em demasia e ter “trilhado” um nervo durante umas dezenas de kme umas largas horas. Ainda hoje, 3 semanas depois, tenho parte do pé esquerdo insensível, como se estivesse anestesiado. O inchaço desapareceu passado uns 4 dias o que fez com que voltasse a correr apenas no domingo seguinte, dia 8 de Março. Depois voltei aos treinos normais diários até que no final da semana passada a situação do Covid-19 ter piorado em Portugal.

Nesta última semana tenho treinado todos os dias - tenho feito alongamentos e reforço muscular em casa, mas também tenho ido fazer algumas corridas ligeiras na rua ao fim do dia.

Quem segue os grupos de corrida nas redes sociais sabe que o tema do correr ou não correr fora de casa tem sido uma discussão danada. Eu deixei de ter paciência para acompanhar porque as fileiras estão extremadas, os argumentos de parte a parte muitas vezes são estapafúrdios, apresentam-se opiniões com base de opiniões de outros, a maior parte sem fundamentos credíveis e pior de tudo, ofendem-se uns aos outros fazendo com que como disse, não tenha paciência para isto.

O mesmo se passa com noticiários na TV, programas de opinião, etc, etc, etc … não sabia que Portugal tinha tanta gente especializada em virologia … não tenho pachorra … empolam-se as desgraças, só se falam nas coisas más durante horas e horas … as redes sociais são inundadas por fake news … chega … eu vejo notícias, tento ligar-me por volta do meio-dia para ver os novos dados sobre a evolução do vírus em Portugal e no mundo e vou espreitando durante o dia para ver se existem alterações nas medidas que o Governo nos impõe para vencermos esta “guerra”.

E como não sou especialista nem em virologia, nem em política e percebo pouco de economia decidi acreditar em quem nos governa e seguir as medidas que nos foram impostas. Neste momento no meio de tantas restrições é-nos permitido sair para fazer actividade física moderada e é isso que faço … não todos os dias, mas quando posso e me apetece, naturalmente com os cuidados que todos conhecemos.

Tenho a sorte de ter uma zona tranquila a 200m de casa … faço corridas abaixo de 1h, a ritmos muito tranquilos. A ideia, além de me mexer, é limpar a cabeça, espairecer … não é o “treinar”  … deixei de fazer series, rampas, treinos longos … a ideia é não me cansar demais e reduzir a possibilidade de me lesionar ao mínimo por motivos óbvios. Escolho horários muito fora das horas de ponta e a verdade é que me cruzo com muito pouca gente. Não toco em nada durante o tempo em que estou fora de casa e quando chego além de lavar as mãos tenho todas os cuidados de higienização possíveis.

Acredito que o Governo toma medidas com base em pareceres especializados de técnicos das diferentes áreas envolvidas. Quero acreditar que quem decide por nós sabe o que está a fazer e se consideram a actividade física fora de portas importante ao ponto que tenha honras de ser mencionada nessas medidas é porque é mesmo importante e necessária – sou apenas eu que acho que seria muito mais fácil não terem incluído a alínea da “actividade física” no decreto, que seria mais fácil proibir de todo?. Quero acreditar que os portugueses na sua grande maioria são responsáveis e saberão usar essa “benesse”, que considero um voto de confiança.

E agradeço que não me julguem tal como eu não julgo ninguém que tenha uma opinião diferente da minha, logo que cumpra as regras e as medidas estabelecidas. Eu jogo pelas regras … passo 90% do meu tempo ou mais em casa com a Pikinita. Sabiam que não estou com as minhas filhas vai para duas semanas? Não é nada fácil mas estou tranquilo porque sei que estão bem, que tem melhores condições do que se estivessem comigo e que seria um disparate andar com elas de casa para casa. O mesmo se passa com os meus pais … valem-me as tecnologias para manter os contactos e “inventar” formas de estar mais perto deles e dos amigos como fizemos ontem … o primeiro jantar Perneta online que me deixou de coração cheio.



Deixo-vos por hoje, desejando que tenham força para aguentar esta guerra que havemos de ganhar. Adivinham-se tempos muito complicados e tenho a esperança que possamos todos aprender algo de positivo com isto para o futuro.

Mantenham-se saudáveis!

Homenagem a um Companheiro


Há uns anitos atrás, estava eu um pouco para lá do meio do Ultra Trail de Vila de Rei, a uns 200m de uma aldeia onde havia um abastecimento e ouço um gajo que lá estava a dizer qualquer coisa do género ...

"lá vem o gajo a tirar fotografias"

... confesso que na altura me pareceu em tom algo jocoso mas acabei por não dizer nada. Se foi ou não, não sei … o que sei é que depois do abastecimento fui um pouco a pensar nisso e cheguei à conclusão que o homem até tinha uma certa razão. Com o devido respeito para com os verdadeiros fotógrafos, a verdade é que eu adoro registar em fotografia os sítios onde vou passando, inclusive quando vou correr.

Em 2016 esta minha faceta teve um melhoramento significativo de qualidade - na altura tive que trocar o telemóvel e optei por um modelo da Samsung que além de supostamente ter a melhor camara do mercado da altura, prometia ser resistente a água - não foi barato, mas olhando para trás e o que já fiz com ele bem que posso afirmar que caro é que não foi. Desde aí o meu companheiro esteve ao meu lado em praticamente todas as corridas - salvo raras excepções - tirou milhares de fotos por essa europa fora, fez filmes, andou por estradas, serras, montes, florestas, montanhas, praias e até dentro de água ... 

Escolhi algumas assim ao rápido, sem grande critério porque é impossível escolher as melhores - está tudo distribuído por umas centenas de pastas de arquivo … as que escolhi são fantásticas e fazem despertar as memórias que se escondem por trás … lembro-me perfeitamente onde, quando e em que contexto foram tiradas … em cada uma existe uma história por trás … há muitas mais igualmente bonitas e com algo para contar sobre elas ...

 
Pilatus, Suiça

Mont-Blanc, Itália

Chamonix, França

Floresta Negra, Alemanha

durante o meu CCC 

Utrecht, Holanda

Canedo, Portugal

Bergen Op Zoom, Holanda

Esel, Suiça

Vale D'Aosta, Itália

Algures

Porto, Portugal 

Amadora, Portugal

Sardegna, Itália

Sardegna, Itália
Esteve "doente" uma vez … por culpa minha … deixei-o em cima do tejadilho de um carro … arrancamos a grande velocidade, ele aguentou-se uns 500m até que se ouviu o estrondo daquela carcaça a embater no alcatrão … soube logo o que tinha acontecido … fui a correr ter com ele ali prostrado e temi o pior … mas não, tinha o ecrã estalado e alguns cantos amassados mas estava a funcionar a 100% …


 

... depois disso ainda trabalhou bastante antes de uma queda de merda num treino no Algarve lhe ter apagado o ecrã ...aí foi "operado" … mais tarde voltou a ter uma queda bruta, normal de quem anda a percorrer trilhos e voltou a lascar mas também continuou a funcionar (menos as selfies para gaudio de alguns seguidores deste tasco mais fervorosos e invejosos ...hehehehe) … de resto sempre firme e hirto … até Sicó na semana passada … em Sicó apanhou humidade, como medida de defesa não se deixava alimentar … o dono insistiu várias vezes até que ele cansado de lutar apagou … pronto …. foi de vez pensei eu ...




Uns dias depois voltou a deixar alimentar-se e deixou que o ligasse … mas já está velhote, enrugado com as cores pálidas e a visão turva … opera-lo novamente? Não faz sentido … está na hora de ter a merecida reforma … diz que não quer ficar a definhar num canto, diz que quer uma reforma activa e eu prometi-lhe isso … ainda irá muitas vezes comigo para os montes, e também servirá ainda para um joguito ou outro - a minha mai nova há-de tomar conta dele e ajudar a mantê-lo vivo.



Obrigado companheiro!!! Sem ti este meu tasquinho não teria a mesma qualidade - espero que o teu substituto me traga as mesmas alegrias que tu … goza a tua reforma bem merecidae está prometido - vais continuar a ir para o monte comigo de vez em quando!!!

O substituto foi escolhido com base nas mesmas características … maquina fotográfica brutal e resistente a água, além disso é um maquinão impressionante em todos os restantes aspectos… é um pouco maior e mais pesado mas falta testar no terreno, como é manuseá-lo em treino. Veremos … em todo o caso o modo selfie funciona a 100% … preparem-se ;)



esta qualidade toda deve dar para fazer umas coisas giras 

Ultra Trail Sicó 111km - ganda "treino"



Faltam pouco menos de 20 minutos para a meia-noite e vou a correr a bom ritmo em direcção à meta … “Anda caralho, mexe-te que ainda acabamos isto antes da 24 horas” … atrás de mim só ouvia o Lima a arfar. Passamos há pouco o terrível Trilho da Cascata, subimos a picada final até às ruinas de Conimbriga e começamos a correr … nem nas pequenas rampas caminhamos… entramos nas ruelas periféricas de Condeixa … devem faltar uns 2km no máximo …  vamos numa "luta“ com dois outros companheiros que ultrapassamos e vão uns poucos metros atrás de nós … já sentia o cheiro da meta quando de repente ouço atrás de mim … “tenho que cagar” …” como???” … achei que tinha ouvido mal mas ele repete com convicção “tenho que cagar caralho”…“foda-se, outra vez? Aguenta que tamos a chegar”  … “não consigo, ou cago agora ou borro-me por caminho ou o mais tardar quando me estiverem a entregar a medalha” … Puta que pariu  lá a minha sorte …

Mas puxemos este filme umas horitas atrás … é 6ª feira, dia 28/2 … tirei a tarde de férias para descansar um pouco antes desta aventura. São quase três da tarde e estou a deitar-me … persiana completamente fechada, porta do quarto também … tudo escuro … não demoro muito a adormecer … acordo às 17h15, por mim … tinha o despertador para as 18h … já foi bom, 2h e pico de soninho bom. Toca a preparar as coisas todas que daqui a pouco chegam as visitas.
ciente das minhas capacidades psicológicas? Tive que mentir...

a cábula do costume...

Convidamos o Lima e a malta dos Montemorrows ou lá como se chamam (Raquel, Ana e Paulo) para jantar cá em casa antes de rumarmos a Condeixa. E o cozinheiro de serviço é o Chefe “Perniti-Mori” … menu? Pasta Bolognesa e uma Pasta Vegetariana … à vontade do freguês J … corre tudo bem, tanto a paparoca como a preparação de todo o material que preciso para esta aventura, e olhem que não é pouco. Tudo? Bem, só não encontro as minhas sapatilhas de trail no sitio habitual … mas tenho a certeza que estão na mala do carro, levei-as para o último treino do quintal dos Pernetas e ficaram lá, de certeza …talvez seja melhor ir num instantinho lá abaixo confirmar … mas distraio-me com qualquer coisa e já não dá porque ainda deixo passar o ponto “al dente” da massaroca e isso é que seria uma desgraça J … depois confirmo quando for para arrancar-mos … mas tenho a certeza que estão lá …
nem quando vou de férias levo tanta coisa
uma das novidades … 5 estrelas


A malta chegou a horas, a janta estava pronta e modéstia à parte estava muito bom … correu-me bem … já passa das 21h, a malta está bem disposta, barriguinhas compostas … vamos à vida … é uma horita de caminho .. tranquilos.

Por incrível que pareça ninguém se lembrou de tirar uma foto da jantarada para memória póstuma … uma falha grave mas podem acreditar em mim … estava tudo bom.

Quando entro na A1 em direcção a sul lembro-me das sapatilhas de trail e comento com a Pikinita e com o Lima … “nem confirmei se as sapatilhas estão na mala … mas estão, tenho a certeza”.

Estacionamos e fomos levantar logo os dorsais … voltei a esquecer de confirmar se as sapatilhas estavam na mala do carro, mas estão de certeza …  no local de levantamento dos dorsais estava alguma confusão mas até que foi rápido, algumas caras conhecidas e toca a voltar ao carro para equipar. Abro mala do carro, confesso que com alguma ansiedade … procuro do lado em que achava que estavam as sapatilhas e nada … do outro tb não … óh diabo … toca a tirar tudo de dentro da mala … nada … abro os caixotes com coisas dos Pernetas que ando a passear no meu carro há semanas e tb não estão lá … tou fodido … não tenho sapatilhas de trail … mas tenho as minhas Nimbus 21 praticamente novas … o que fazer? Sigaaa …
lá vai ter que ser..


Mas antes ainda estivemos 2 horas à espera que o Lima se equipasse na rua … chegou a minha casa de calcinha de ganga, camisa lavada, pullover, cueca vincada e sapatinho de ir à missa … eu devia ter desistido logo ali mas não … gosto de sofrer J

este veio de mala de viagem 

a gente espera, sem stress ...

Pouco depois estávamos no centro de Condeixa, junto ao local de partida. Tanta gente maluca J … segundo a organização praticamente 500 para os 111km. Fotos da praxe e não tardou a partir para este “treininho longo”.


altura de deixar a Pikinita

e troca-la por este marmanjo ..

HELP!!!

 

Não levava nenhum objectivo concreto nesta viagem … era para fazer nas calmas até onde desse, se possível até ao fim. Queria (ou tinha) que chegar por volta das 20h porque tinha o compromisso de ir buscar as filhotas a casa dos meus pais – podia derrapar um bocadinho mas não muito – se visse que não dava teria que abortar o “treino” … mas não ia ser complicado … afinal pelo que ouço de toda a gente Sicó é rolante e deve ser por isso que tem tanta gente aqui para se estrear nos 3 dígitos …

E partidaaaaa…. para completar o percurso são 12 etapas

1.    Condeixa-Beiçudo – 10km (225m D+ e 156m D-)

A partida foi espectacular … saímos do centro de Condeixa e percorremos umas ruelas carregadas de gente de ambos os lados que fizeram uma festa do caraças … até arrepiou J … depois foi o sair da cidade, passar as ruinas de Conimbriga de noite, ou seja, sem se ver absolutamente nada … 

...primeiros 10km caracterizados por muito estradão e trilhos entre campos (acho eu, porque pouco se via)  … tudo muito corrivel  … saímos bastante atrás como sempre fazemos … fiquei impressionado com tanto bombeiro, tanta ambulância, policia e pessoal de apoio em várias zonas deste percurso … e não se cansavam de apoiar de todas as formas e feitios … muito bom mesmo. Outra característica destes primeiros km era ver a malta a encostar às bermas para libertar a bexiga … a malta hidratou-se bem antes da prova e agora era a consequência disso … também não escapamos a esse “vírus” … conhecem a Maratona dos Incontinentes dos Monty Phyton? Tal e qual … JJJ

algures pelo meio deste vídeo … foi mesmo isto


O Paulinho tinha dito que os 30 primeiros km eram todos muito corriveis … isso é muito bonito se a prova tiver uns 40 ou 50km … é preciso calma, controlar o nível de ansiedade de ver os outros a desaparecer, teres as pernas frescas e mesmo assim meteres uma caminhada ou outra pelo meio. Foi o que fizemos … a ideia era chutar aquele cansaço extremo típico o mais para a frente possível … veremos.

Na primeira descida mais acentuada, já pelos montes …. catrapum … Perneta ao chão … escorreguei num trilho seco, bati com o cú no chão e fiquei com a perna esquerda torcida … tive sorte, foi só susto … levava bastões e o escorregar fez-me agarra-los com força o que tb foi erro … podia ter partido um braço … esse episódio viria a condicionar toda a minha prova … agora tinha a certeza, as Nimbus iam ser um problema … teria que ter cuidados redobrados e se voltar a cair tenho que largar os bastões. Ainda nem me tinha recomposto e catrapum, catrafoda-se … Perneta ao chão novamente … desta vez larguei os bastões e mais uma vez foi só susto … pensei em desistir … será que vale a pena continuar, arriscar uma lesão feia por causa de um esquecimento estúpido da minha parte? Duas quedas feias e ainda ia nos primeiros km em zonas sem tecnicidade nenhuma … tou lixado. Mas decidi continuar … se já sou uma lesma a descer, imaginem agora … mas tinha tempo …

E não demoramos muito a chegar ao primeiro abastecimento onde confirmei outra coisa que se diz desta prova …. os abastecimentos são fartos …entre outras coisas já havia Bifanas a sair na hora … mas era cedo … agarrei qualquer coisita de comer, encho um flask que estava a meio, um dedo de conversa com a sempre muito simpática Margarida da organização, que nos reconheceu dos Caminhos do Tejo, e siga viagem …


2   2.    Beiçudo-Podentes – 8km (187mD+ e 157m D-)

Mais do mesmo … o pelotão já se tinha alongado. Não fazia ideia em que posição iriamos, muito para trás era certo. Correu-se grande parte do tempo, intercalado com alguma caminhada forçada porque as pernas continuavam frescas e o terreno permitia correr sem problemas. Era preciso gerir e adiar o cansaço o mais possível. Neste troço consegui evitar qualquer queda o com isso desapareceu a ideia de desistir.

Em Podentes voltamos a parar, comemos qualquer coisita pouca e seguimos viagem. O próximo abastecimento distava apenas 6km.




3   3.    Podentes-Penela – 6km (246mD+ e 181m D-)

Praticamente resume-se a descer um monte de um lado e subir o seguinte até ao Castelo de Penela. Parte do percurso é feito em alcatrão e passando por pequenas aldeias … tudo a dormir, apenas uma ou outra luz exterior ligada … o tempo tinha estado excelente … noite agradável, temperatura ideal para correr, céu estrelado desde Condeixa … e continuava assim embora as previsões apontassem para muita chuva durante a madrugada e manhã. Parecia impossível … será que vamos ter sorte.

Ao chegar cá acima ás muralhas do Castelo enganamo-nos pela primeira vez … em vez de seguir um trilho em terra para entrar nas muralhas seguimos em frente até à Vila. Deixamos de ver marcações e voltamos para trás.

Mais um abastecimento farto onde paramos um bocadinho mais de tempo, para comer qualquer coisa e encher os flasks - nunca descuro a hidratação. A etapa seguinte já metia mais desnível. Vamos embora.


só facilidades


4   4.    Penela-Casas Novas – 9km (408mD+ e 362m D-)

Este percurso é para vencer alguns montes … estão a ver as boças de um camelo? Pronto, umas belas mamarocas? Pronto … é isso, sobes um monte e voltas a descer, depois sobes o próximo para depois o voltares a descer.

Foi o primeira vez que tivemos assim uma subida mais longa até um Marco Geodésico … e a primeira vez que estivemos em zonas mais desprotegidas … já se sentia bem o vento e algum frio lá em cima … a descida depois do Marco foi mais uma vez complicada para mim … mesmo estando seco, não tinha aderência e depois de mais uma queda a solução foi ir por fora, tipo corta-mato pelas zonas não-trilho … uma eternidade com todos os cuidados possíveis.

O mesmo aconteceu na segunda descida … mais uma queda … a 4ª …em 30 e poucos km … mais uma descida que demorou uma eternidade … mas mais uma vencida.

Uma malguinha de sopa de legumes quentinha, sandes com queijo presunto, ovo cozido e batata frita. E Frize limão que foi uma companhia constante durante esta prova J  Neste abastecimento demoramos mais um bocadinho que o normal ...



tu enche essas peles meu menino


5   5.    Casas Novas – Alvorge (11km - 349mD+ e 379mD-)

Em Alvorge teríamos a primeira base de vida e um saco com roupa seca à espera. Para lá chegar apenas uma Maratona de Roma J … as pernas continuavam bem, o cansaço longe … há duas semana em Santo Tirso aos 10km estava lixado das costas e aos 25km tinha os músculos a ganir. Muito bom … se chegasse assim aos 50km é que era J

Esta etapa fica marcada com a chegada da chuva mais a sério, primeiro uns pingos, depois tipo molha-tolos para depois chegar em força … não era só o desconforto, o sentir molhado, o frio (que por acaso nunca foi extremo para mim – acho que escolhi a roupa certa, ao contrário das sapatilhas J) … a chuva tb dificulta a visão … não esquecer que continuava a ser noite serrada e a luz do frontal foca nos pingos da chuva tocada pelo vento e não nos deixa ver tão bem, obrigando a uma maior concentração.

Também foi nesta etapa que nasceu o dia e pudemos desfrutar a primeira vez das paisagens do percurso em toda a plenitude. Muito verde, muros em pedra, horizontes ondulados e lama … muita lama.

O percurso em si tinha pouca dificuldade mas com a chuva o aparecimento de lama foi quase imediato e o resto conseguem imaginar … imaginem um sabonete molhado a fazer espuma e tentem agarra-lo com força … era isso … em plano e a subir era tranquilo, a descer é que nem por isso … mas ao contrário do Nuno que mandou um tralho daqueles (afinal as Hoka nestas condições tb não aderem J) eu não caí nenhuma vez. A queda do Nuno foi mesmo à minha frente e foi feia … ficou com um braço debaixo do corpo … mas felizmente tb foi só susto. Sigaaaa …

Chegamos à Base de Vida a Alvorge com mais 2km no relógio do que deveríamos. Não faz mal. Estavamos na pior fase de chuva …. mesmo na hora para uma mudança de roupa. Decidi só mudar as camisolas e trocar o impermeável. Mantive os calções. O Lima decidiu trocar tudo … incluindo as sapatilhas o que foi um erro crasso … trocou umas Hoka algo gastas por umas Hoka completamente desgastadas de sola … erro de principiante, ainda por cima  já sabia o que o esperava … pelo menos a nível de aderência ficamos em pé de igualdade J

Estivemos mais de 40min em Alvorge … tentei carregar o tlm que estava a ficar com pouca bateria e não consegui … tinha apanhado humidade e não deixava … óh diabo … isto sim, já é um problema grave … então e as minhas habituais fotos??? Como vou ilustrar a minha aventura? J … sequei bem o menino, meti-o numa bolsa de plástico e mochila com ele. 

7h30 para 46km … nada mau. O melhor é que o cansaço ainda estava longe. Sigaaaa ….




não é fácil atura-lo … quero a Pikinita de volta

quem lhe disse que aquela coisa amarela na cabeça lhe fica bem enganou-o


6   6.    Alvorge-Senhor da Guarda (6km – 203 D+ e 245 D-)

Não foi fácil sair do quentinho da Base de Vida para o frio e chuva na rua … começamos logo a correr para tentar gerar calor no corpo. Em toda a prova foi a altura em que tive mais frio … frio, chuva e vento = um cocktail explosivo. Uns minutos depois a trote já tinha aquecido e estava-se bem … o próximo abastecimento era onde partia a malta dos 57km … essa partida era às 9.30 e estava lá a minha Pikinita e a Ana Barroso … seria engraçado chegar a tempo de vê-las.

O percuso até lá foi tranquilo q.b. – os desníveis eram fáceis de vencer, o problema continuava a ser a lama e a nossa falta de aderência à mesma. E as descidas por mais curtas que fossem eram sempre complicadas e muito lentas. Numa dessas descidas, pouco depois de termos partido de Alvorge o Nuno volta a cair à minha frente … voltou a ter sorte, foi só um banho de lama e mais um monte de palavrões. Ainda nos enganamos bem lá no alto junto a um parque de merendas com uns moinhos … é daquelas situações em que segues por instinto alguém que vai à tua frente, esse engana-se e vão todos atrás J … ainda foram uns bons 400m para lá e outros tantos para voltar ao trilho certo … que se lixe … vamos chegar a tempo da partida da Pikinita J

Chegamos às 9h21 … 50km feitos e algum cansaço muscular … bem bom ter aguentado até aqui. Encontrei a Pikinita e a Ana – fiquei bem contente por a ver – tinham ficado a dormir em solo duro e com o problema que tinha no tlm não tinha havido grande contacto. Também iria ficar bem mais descansado sabendo que ela iria à minha frente … as condições do terreno não estavam fáceis e muita gente nos dizia que as partes mais técnicas e complicadas eram mais para a frente, especialmente um chamado Trilho da Cascata mesmo mesmo no fim e que nestas condições seria muito perigoso.

Um abastecimento muito rápido … enchi os Flasks novamente até à ponta, enfiei 2 quadrados de chocolate na boca e siga … pelo registo foi o abastecimento onde estivemos menos tempo … 9 minutos. Estava na hora da partida da Utra dos 57km, procurei a Pikinita na confusão mas já não a encontrei … aproveitamos e partimos juntamente com aquele maralha, bem no fim do pelotão.

Participar em 2 Ultras ao mesmo tempo não é para qualquer um!!!
   
então … e coisas difíceis, não há?

 

a malta do Gang do Mê Primo de Aveiro



     7.    Senhor da Guarda – P.Vedras (16km – 532 D+ e 520 D-)
Foi a etapa mais longa em km de todas e já apresentava uns desníveis de respeito. Iriamos subir a Serra de Sicó neste percurso, uma parte que para além de inclinar bastante é igualmente muito técnica, com muita pedra. Deixou de chover praticamente com a partida dos 57km e pouco depois o tempo abriu e veio o sol que secou a terra dos trilhos, tornando-os mais seguros.

Como disse atrás o cansaço muscular tinha chegado … não era exagerado, mas quem faz ultras sabe que muitas vezes depois é um instantinho a chegar àquele ponto que todos conhecemos … vai doer mas faz parte J Mas continuamos no nosso ritmo, corre em plano e a descer, caminha forte a subir. 

O início foi por estradões de terra, com campos agrícolas como companhia … ouvia-se uns Badalos ao longe, daqueles que se ouvem nos Alpes, aquilo era uma festança … pouco depois conseguimos ver a Serra de Sicó no horizonte e descortinar umas camisolas coloridas a subi-la … o barulho vinha do cima da serra … era uma malta que estava ali a incentivar o pessoal na subida e a fazer a festa. 

Ainda demoramos algum tempo para chegar ao sopé da Serra de Sicó … nessa fase decidi imprimir um ritmo forte a subir aqueles trilhos muito técnicos com muita pedra e lama. Benditos bastões … não só nesta fase como em quase toda a prova foram uma ajuda brutal - a mim ajudam-me especialmente a manter a postura a subir … não tenho dúvidas que a prova ter-me-ia custado muito mais sem eles.

Cheguei bem lá acima … e como o Lima ficou um bocadinho para trás tive ali uns minutinhos para descansar um pouco e tirar umas fotos. Faltavam ainda 5km para o próximo abastecimento que foram feitos ao longo da serra mais ou menos no topo, para depois descer até Vedras. Estava feito o maior troço .. 66km … mesmo ritual, parar um pouco, comer qualquer coisa, encher os flasks e desta vez tomei um café … era fraquito mas estava a precisar … quando percorri o cimo da Serra de Sicó tinha-me dado sono, até cheguei a fechar os olhos e tudo … foi a única vez que aconteceu em toda a prova.


O Nuno é farmacêutico e pode falhar em muita coisa, ser um chato do caralho e um velho feioso difícil de aturar, mas de vez em quando ainda saca uma ideia boa … estava eu a levantar-me para arrancar, chega ele à minha beira e diz .. bebe isto … um copito de água com uma pastilha efervescente .. tipo vitamina C … o sabor era muito bom … “que é esta merda”? … Guronsan, o equivalente a 3 cafés, energético … fodaice, atão aquilo não é uma cena para curar bebedeiras??? … sigaaaa…

Pikinita a escalar Sicó

a malta a fazer a festa

o velhinho a arrastar-se




fácil páh...


7   8.    P.Vedras – Poios (9km – 405m D+ e 393m D-)

Este troço foi um dos pontos altos de toda a prova. Que coisa mais linda … desce serra de um lado, contorna, sobe do outro, inclinações complicadas e trilhos técnicos … mas quem é que quer saber do complicado quando tudo à tua volta é assim tão lindo? Que pena tenho eu de não ter praticamente bateria no telefone e ter que gerir isso. Em todos os abastecimentos tentei recarregar, tendo conseguido uns poucos % no anterior … no entanto com o powerbank o telefone não deixava carregar, aparecia mensagem de humidade. Mesmo assim ainda gastei um bocadinho de bateria com duas ou três fotos … brutal esta parte, mesmo …

E as perninhas? Estavam brutalmente em forma … não desgastei nadinha de nada … sempre com força … não é que viesse mal, longe disso, mas depois daquele Guronsan fiquei melhor … ou terá sido placebo? … safoda … toca a aproveitar enquanto dá.

Chegamos a Poios com 75km e muito bem fisicamente. Reforço isso porque parece impossível. Incrível. Mesmo assim voltamos a ficar um bocadinho no abastecimento, o Lima comeu uma massaroca e eu não quis … não tinha fome, comi apenas um pouco de banana e voltei a encher os flasks.



o velhinho foi largar uma horda de javalis e eu tenho que esperar se não ele perde-se

lá vem ele todo contente e bem mais leve



não havia branca foi mesmo da preta

leitão no abastecimento??? 



9   9.    Poios – Tapeus (8,5km 207mD+ e 386 D-)

Em Tapeus seria a segunda e última base de vida. Tínhamos decidido não ter lá nenhum saco pois em teoria já não faltavam muitos km para o fim. Acabamos por ter sorte porque a maior parte do tempo entre as bases de vida não choveu e estava confortável com a roupa que tinha.

Também este troço foi muito bonito, especialmente pelo Trilho de Poios, um single track em parte fechado, muito bonito, técnico q.b. mas que permitiu correr na maior parte do tempo … menos quando o Lima decidiu que tinha que ir libertar mais uma horda de javalis J

Mesmo com essa paragem técnica chegamos a Tapeus em ca. de 1h … quase 10km, com mais de 80km nas pernas? Velhinhos estão em forma J

(A partir daqui deixo praticamente de ter fotos .. não havia forma de carregar o telefone ... é pena) 


     10Tapeus – Casmilo (10,6km – 620mD+ e 382m D-)

Os desníveis apresentados para este troço metiam respeito. O gráfico da prova mostrava a maior subida de todas, com 450m em 3km … é como uma subida ao Camouco do nosso quintal J

Fez-se muito bem … sempre a caminhar forte com a ajuda dos bastões. Saquei do telefone quando estava quase cá em cima … dá para 2 fotos e 2 chamadas … tirei as fotos … as chamadas viria a fazê-las quando descíamos a serra pelo lado oposto por estrada de alcatrão com vista para as eólicas … liguei para a minha mãe e para a minha filha mais velha … estava preocupado em não conseguir acabar a prova a tempo de as ir buscar dentro do horário combinado. Tinha muitas chamadas e mensagens registadas … whatsapps, messengers e afins … como não podia gastar bateria não pude responder … no meio tinha chamadas e msg da minha mãe e filha … planos tinham sido alterados … já não as precisava ir buscar, só domingo às 10h. Fiquei mais tranquilo … a hipótese de ter de desistir aos 100km não tinha estado longe. Agora podia ir até às 2 da manhã, hora limite da prova J

Ainda subimos a umas eólicas antes de descer para Casmilo … a última parte não foi nada fácil. O último 1,5km era um single-track embrenhado numa floresta encantada … muito musgo, muita pedra, muita lama e muito perigoso … além disso estava a escurecer rapidamente … só nos primeiros 200m dois desistentes … um rapaz que já não conseguia dar um passo … ficamos com ele um pouco, estava a ligar para a organização para o virem buscar… um pouco antes estava um carro dos bombeiros, que estavam em missão de resgate de uma moça que tinha caído e torcido um pé uns metros mais à frente … ficaram também com o moço … e nós seguimos viagem, primeiro até ao vale, sempre a descer, para depois subir até Casmilo. No início dessa subida difícil apanhamos a Mi Couto do Boavista Trail que se estava a estrear nos 3 digitos … ia morta a reclamar com o mundo … fartei-me de rir porque conheço aquele sentimento mas também sei que passa J

Além da chegada da noite, tb voltou a chuva … quando entramos no abastecimento começou a chuviscar. Muita gente ficou ali … cansados, a noite e a chuva desmotivou muita gente - nós não, era para acabar. Comemos, bebemos e consegui carregar o tlf com uns 6 ou 7% de bateria … uma alegria danada J … mensagem à Pikinita … faltam 16km, estamos bem ... no máximo daqui a 3h estamos na meta … vais vais … santa inocência.



subimos isto tudo … agora sim, acabam-se as minhas fotos

1   11.  Casmilo-Zambujal (6km – 164mD+ e 316m D-)

“Isto vai ser um miminho da organização, para nos descansar para o tal Trilhos da Cascata” … sim, sim Perneta … foi mesmo isso.

Quando saímos estava a chover torrencialmente, ventava também o que me deixou desconfortável. Tem que ser, tem que ser … voltamos a passar a Mi Couto que entretanto tinha chegado ao abastecimento e que parecia que queria ficar ali – ainda ajudamos um pouco a incentivar a seguir e ali estava ela na luta. Continuava tipo “Gru Maldisposto” a reclamar por tudo e por nada … “é para chegar ao fim, ouviste? Prometes?” …”vocês nem esperam por mim na meta…” … “não prometo, mas quero uma foto tua com a medalha ao pescoço” … diz ela … “fazemos já a foto” … dito e feito, selfie de grupo no meio da escuridão ao dilúvio J .. e seguimos o nosso caminho na esperança de este troço ser fácil.

Mas foi tudo menos isso … se tivesse que escolher o mais difícil de todos eu escolheria este … são só 6km, mas teve descidas muito complicadas, primeiro em degraus empedrados que molhados escorregavam muito – com as minhas Ultra Raptor estas zonas tinham sido um mimo L

Depois com descidas curtas e igualmente muito ingremes em terra que com a chuva e lama se transformaram em pistas de sku … não se via nada, era lama por todo o lado … várias vezes atirei os bastões para a frente e desci de sku … quando podia procurava as laterais com tufos de erva … havia zonas já calcadas, sinal que não eramos os únicos com falta de tracção nestas zonas. O resultado disto tudo foram alguns km a demorar 30min .. por outro lado felizes por mais uns obstáculos passados sem quedas e lesões, apenas cheios de lama J

Chegamos a Zambujal vivos e sem mazelas … faltava “apenas” a etapa final … fui ao balneários lavar as mãos e os bastões e refrescar a cara .. mais “limpo” ataquei o café, uns bolinhos e enchi os flasks pela última vez. Estava apreensivo … vinha aí o terrível Trilho da Cascata que todos diziam ser perigoso com chuva … e eu de Nimbus nos pés.

Liguei à Pikinita, que tinha acabado de concluir a sua prova e me pediu máximo de cuidado neste troço – se alguém conhece bem aqui o trambolho é ela J

Dentro do abastecimento o tema de conversa era o mesmo, os membros da organização a avisar-nos dos perigos, a pedir o máximo de cuidado. Estavam dois jovens lá dentro que nos perguntaram se não podíamos ir todos juntos … claro que sim, assim em grupo é mais fácil J Vamos a isso …
parabéns Mi … grande superação

um video do trilho da cascata sacado do youtube



1   12.  Zambujal – Condeixa (11,8km – 395m D+ e 469m2 D-)

Saímos juntos do abastecimento e logo começou a subir … os dois moços já tinham feito esta prova no ano passado e sabiam o que nos esperava. Primeiro uma parede enorme a direito para vencer uma serra … estradão, dificuldade apenas a brutal inclinação. Fiz esta subida completamente à vontade … meti um ritmo certinho e fui por ali acima com os meus melhores amigos, os bastões … sem problema … estava (e ainda estou) admirado, isto com 100km nas pernas. Depois vinha uma descida que diziam ser complicada, lama e pedra solta, escorregadia … por acaso até se fez bem, sempre com cuidado e lento, mas bem J … feito … só falta a Cascata … respirei fundo e segui o Nuno Lima que ia a comandar o pelotão … as pilhas do frontal já há muito que estavam a dar as últimas e já eram as de substituição … tinha uma luz fraquinha e apoiava-me nas luzes dos meus companheiros de viagem.

Lá estava ele … o Trilho da Cascata … não tenho fotos desde que chegou a noite, ainda antes de Casmilo. Ás vezes até é bom não vermos tudo J … em todo o caso acabou por não ser tão complicado como o que estava à espera … estava perigoso? Sem dúvida … as pedras, a lama, os trilhos estreitos, os precipícios mesmo ao lado e as solas das minhas Nimbus … mas havia pontos positivos … estarmos em grupo ajudou muito, ter as pernas compridas que me permitia colocar um pé em determinado sitio sem tirar o outro (em alguns sítios só pensava como é que o raio da Pikinita tinha conseguido passar ali – gaja de raça J), estar tranquilo com o tempo para fazer as coisas com calma e sentir-me bem fisicamente, sem impedimentos musculares de maior … tou uma maquina J

Demorou bastante tempo mas sobrevivi sem cair uma única vez J … uma última subida ingreme e estávamos junto às ruinas de Conimbriga … está feito … 4km até à meta J … agora podem voltar a ler o primeiro parágrafo e depois voltam aqui, vale? … JJJ

E perguntam vocês … mas se estavam numa rua com casas onde é que o gajo foi cagar? Pois … Perneta que é Perneta desenrasca-se sempre … tem uma boa escola e mais não digo J … só sei que sou mais que um pai para ele … dei-lhe lencinhos de papel e no fim ainda uma garrafinha de água para o gajo lavar as mãos, só faltou mesmo limpar-lhe o rabo … já o estava a ver a cortar a meta e a querer dar-me um abraço, pior, um high-five J

Os últimos 2km foram feitos a correr … queria avisar a Pikinita mas o telélé tinha ido à vida definitivamente … lá estava a meta … já não íamos chegar antes das 24h … safoda … foram 24h02minutos …da Pikinita nem sinal … há precisamente um dia inteiro estávamos a arrancar do mesmo sitio … até passou rápido J 

Levantamos os prémios finais e fomos à procura do pessoal. Encontramos o Paulo e a Raquel na esplanada de um café … “não viste a Dora e a Ana?” .. “elas foram a correr para vos ver chegar…”   … estavam a ver o Livetrack mas esqueceram-se que aquilo tem uns 10 minutos de atraso JJJ

esta foi pra meinos … fácil, fácil

Já não tomamos banho ali, já era tarde, apetecia chegar a casa … tomei um café, coloquei uma camisola seca e siga embora.

Que espectáculo de “treino” … 24h em cima das pernocas, 111km (o meu relógio deu mais qualquer coisa), quase 8.000mD acumulado. Melhor de tudo, eu conseguia continuar … perfeito!!!

Sobre a prova só posso dizer que me surpreendeu muito pela positiva – eu lembravam-me vagamente da minha participação em Sicó quando fiz o meu primeiro trail e as recordações das paisagens não eram boas nem más. O que se ouvia é que era um trail muito rolante e achava eu que talvez por ser considerado fácil é que tanta gente vinha a Sicó para se estrear nos 3 dígitos. Agora percebo porque é que vem tanta gente a esta prova … é espectacular … especialmente na segunda metade da prova, ou a partir dos 50km … os percursos são equilibrados, tem dureza, tem tecnicidade, subidas e descidas desafiantes, mas também tens zonas onde podes correr, esticar as pernas, tens trilhos e paisagens lindas de morrer e por fim tens uma organização que é exemplar, ambiente muito familiar onde és tratado como um rei – as inscrições não são baratas, mas o que trazes de Sicó vale bem a pena – eu pelo menos acho que sim. Parabéns e obrigado Mundo da Corrida!!! 


Raquel, Paulo, Ana … obrigado pela companhia e muitos parabéns por mais esta aventura concluída J

Pikinita – és uma maquina, 1,59 de maquinão J … falta a de 3 dígitos no CV, mas essa é para fazer comigo J

Montemorrows ou lá como se chamam … no fundo bem lá no fundo até que são boa companhia

Nuno, meu velhinho … mais um trilho em direcção ao grande objectivo!!! És o maior e o mais velho dos dois J … tb és o mais feio e chato pra caralho … e agora tb és cagão J … obrigado pela companhia e pelo Guronsan J Venha a próxima …

como podem ver, nada de empenar


Quanto a mim é recuperar desta coisa, fruto de um dorzita que me apareceu por volta dos 60km e que ignorei … apertei demasiado o atacador esquerdo, a falta de estabilidade das Nimbus em terreno incerto devem ter feito o resto. Nada de grave, uns 2 ou 3 dias e estou fino novamente ...

Ninguém leva umas coisas destas para um trail como este???