A chegar à última viragem deste novo
percurso, no Freixo passamos os 30km ... pergunto ao Luis Lobo que tempo de
prova temos ... “2h13 ...” ... ainda consigo fazer contas de cabeҫa ... “Perneta,
só precisas de fazer os últimos 12km a uma média de 5m/km e está feito” ... mas
vou muito cansado e em grande esforҫo já há alguns km. Chega a viragem, aquela última
viragem custa-me horrores, especialmente aquele arranque para voltar a entrar
no ritmo.
Procuro no horizonte e no sentido
contrário a bandeira das 3h15 ... ainda demora umas boas centenas de metros a cruzar
comigo o que é bom. É a minha bitola e ainda tenho uma boa vantagem, talvez uns
3 minutos ... talvez ... voltam os cumprimentos com alguns elementos que ali vão
na luta.
Um deles é o bem disposto do André
Oliveira (um dos 352 irmões Oliveira aqui da nossa zona 😊) que
sempre que se cruza comigo canta músicas da Igreja (hoje já tinha saído um Pai
Nosso entre outras – é o que faz o percurso ter muitos retornos) ... desta vez
foi original ... do outro lado da rua grita “dou-te a extrema unҫão” ...
Achei imensa piada ... se ele soubesse
como eu ia, se ele imaginasse que estava praticamente morto ... ainda durei 1km
em que lutei bravamente com os diabinhos na minha cabeҫa a dizerem para eu
parar e eu a insistir em correr ... uma forte tontura fez-lhes a vontade ...
tive que parar e agarrar um poste de electricidade que estava ali por perto
para não desfalecer ...
Voltemos este filme um pouco mais de 2
horitas para trás. Ali ia a familia Perneta a descer o fim da Avenida da
Boavista em amena cavaqueira para se dirigir à Partida de mais uma Maratona do
Porto. Somos muitos este ano, 8 no total ... destaco o Elisio e o Nuno Pereira,
estreantes na distancia. Brincadeira, mijinhas de última hora, foto na rotunda do Castelo do Queijo e lá vou eu fazer um ligeiro aquecimento com a minha lebre
de luxo, o Lobo.
a tropa manda desenrascar
Nuno, Mor, Lobo, Bruno, Badolas, Américo, Serafim e Elsio - the dream Team
Poucos minutos depois estamos na box A a arrancar para a minha
13ª Maratona de estrada, a 9ª no Porto. Tinha ligado o meu GPS e colocado o
relógio no cinto ... não perguntem porquê, mas iria fazer a Maratona sem
controle de tempo constante ...
com malta dos Montemorrows ou lá como se chamam...
A minha primeira preocupaҫão era
passar a bandeira das 3h15 ... subimos muito bem a parte da Avenida da Boavista
que viriamos a repetir umas 3h mais tarde. O dita bandeira ia uns 200m à nossa
frente mas ainda demoramos uns bons 3km para finalmente a conseguir alcancar e
passar ... agora era ir à procura da bandeira das 3h ...
Na minha cabeҫa era colocar-me entre
as duas bandeiras e depois seguir conforme me fosse sentindo. E estava a sentir-me
muito bem como seria de esperar. Uma coisa era certa ... não ia fazer uma prova
na retranca, ia arriscar e queria um tempo entre as 3h05 e as 3h10.
Nas voltinhas por Matosinhos comeҫou
algo que para mim era inimaginável ... um apoio de fora e de dentro do pelotão que
foi qualquer coisa de espectacular e que viria a repetir-se durante toda a
prova. De tal forma que o Lobo a dada altura se vira para mim e pergunta ...”
mas há alguém que não te conheҫa?” ... é o que faz ser parvo e pertencer aos
Pernetas 😉
Não tardou muito a entrar na parte que
era nova para mim ... a ida a Leҫa. As pernas estavam frescas pelo que a subida
ao pontão foi feito sem dificuldade, tal como a ida até perto do Farol para
mais um retorno onde meti o primeiro de 4 géis (não falhei nada neste aspecto).
A bandeira das 3h continuava ali bem perto ... algumas vezes pensei que talvez
estivesse a exagerar, mas continuava a sentir-me bem. Apenas no regresso à
ponte de leҫa a bandeira fugiu mais um pouco.
Mais umas voltinhas e já estamos de
regresso à marginal de Matosinho. Junto à rotunda da anémona mais um apoio
enorme ... ouvia-se “andaaaa Pernetaaaa” de todos os lados ... não conseguia
ver ninguém, tentava retribuir com aceno ou um sorriso, era o possivel.
Voltamos a passar a zona de onde tinhamos partido há 20km atrás e seguimos pela
Avenida Brasil onde a meio iríamos passar à Meia Maratona ... confesso que
nesta fase já estava a sentir algum cansaҫo.
Passamos a meia maratona com 1h32 ...
tinha aparecido o Rebelo a dizer “juizinho...” e logo de seguida o João Sousa “calma,
controla ...” . Foi a primeira vez que soube a quanto ia pois perguntei ao
Lobo. Também foi a primeira vez que senti que talvez tivesse exagerado um pouco
no ritmo.
Uma breve conversa com o Lobo e estava
decidido ... vamos baixar o ritmo para 4,30m/km ou um pouco acima até ... chega
bem para o objectivo. Vamos a isso.
Acontece que aquela fase complicada
que aparece em quase todas as Maratonas e que todos tentam adiar o mais
possivel me apareceu demasiado cedo. Lembro-me de a partir dos 23km, já na
parte junto ao rio Douro, estar a olhar para o horizonte à procura da placa seguinte
um pouco deseperado o que é mau sinal. As pernas já pesavam e o facto de esta
ser uma das partes em que não existe grande público tambem não ajuda nada. O Lobo já se tinha apercebido do meu estado ... tentou
falar algumas vezes comigo, controlava o relógio e várias vezes se colocou
ligeiramente à minha frente para que eu seguisse na sua roda.
Ainda não tinha visto a Pikinita ...
na partida sei que estava ali na rotunda do Castelo do Queijo mas não a vi. Quando
lá voltamos a passar tb não a vi ...pensei que estivesse na Avenida Brasil mas
tb não.
Aos 25km a surpresa da Maratona ... via
uma pequena multidão ao longe aos saltos e a fazer um barulho ensurdecedor ...
reconheci as camisolas vermelhas do CAL ... tu queres ver? Reconheci a Marlene
que tinha vindo um pouco mais ao nosso encontro ... mais à frente a nossa
familia calense e perneta ... o Lobo só me diz “impressionante” ... emocionei-me,
confesso ... ali estavam todos por nós, equipados a rigor a fazer uma festa que
só visto ... sei que a Pikinita tb lá estava mas confesso que não a vi naquela confusão.
O que sei é que por momentos me esqueci do cansaҫo e as pernas ganharam um
boost que durou ainda umas boas centenas de metros.
Lá ia fazendo tripas do coraҫão para
me aguentar, tomando o meu gel religiosamente de 9 em 9km com a esperanҫa que a
coisa se fosse aguentando. Mas estava dificil ... aquela rampa ao lado da Igreja
de São Francisco antes de investir à direita pela Ribeira foi feita num esforҫo
enorme para não perder muito ritmo ... tb sabia que de seguida ia descer até ao
rio Douro o que dava para recuperar um pouco.
Agora vinha aquela rampa da Ribeira
para o tabuleiro de baixo da ponte D.Luis ... tem que ser. Lá em cima eu sabia que
costuma haver bastente público agora nunca pensei que viesse a ser como foi ...
no fim da subida só vi gente conhecida ... ali estava a malta do Caldas, do BTT
de Sanguedo, do Running Espinho, do SC Espinho entre muitas outras ... “olhem
os Pernetaaaaas” ... cum caralho, eu mesmo que quisesse morrer não me deixavam ...
não ali ... 😊
obrigadoooo malta ...
Siga para o último retorno no Freixo
... vão ser 2 penosos km onde a marreta comecou a pairar ainda com mais forҫa
sobre a minha cabeҫa. Chegamos ao ponto onde iniciei este texto ...
A chegar à última viragem deste novo
percurso, no Freixo passamos os 30km ... pergunto ao Luis Lobo que tempo de
prova temos ... “2h13 ...” ... ainda consigo fazer contas de cabeҫa ... “Perneta,
só precisas de fazer os últimos 12km a uma média de 5m/km e está feito” ... mas
vou muito cansado e em grande esforҫo já há alguns km. Chega a viragem, aquela última
viragem custa-me horrores, especialmente aquele arranque para voltar a entrar
no ritmo.
Procuro no horizonte e no sentido
contrário a bandeira das 3h15 ... ainda demora umas boas centenas de metros a cruzar
comigo o que é bom. É a minha bitola e ainda tenho uma boa vantagem, talvez uns
3 minutos ... talvez ... voltam os cumprimentos com alguns elementos que ali vão
na luta.
Um deles é o bem disposto do André
Oliveira (um dos 352 irmões Oliveira aqui da nossa zona 😊) que
sempre que se cruza comigo canta músicas da Igreja (hoje já tinha saído um Pai
Nosso entre outras – é o que faz o percurso ter muitos retornos) ... desta vez
foi original ... do outro lado da rua grita “dou-te a extrema unҫão” ...
Achei imensa piada ... se ele soubesse
como eu ia, se ele imaginasse que estava praticamente morto ... ainda durei 1km
em que lutei bravamente com os diabinhos na minha cabeҫa a dizerem para eu
parar e eu a insistir em correr ... uma forte tontura fez-lhes a vontade ...
tive que parar e agarrar um poste de electricidade que estava ali por perto
para não desfalecer ...
... demorei alguns segundos a recuperar
e disse ao Luis ... “vamos continuar” ... durei talvez mais um km antes de voltar
a ter que parar por mais um tontura, mais fraca, mas como ia mais atento reagi
antes. O Luis dizia “se quiseres caminhamos um pouco” ... conselho que aceitei
... tomei tb o último gel, um pouco antes do previsto para ver se se dava o tal milagre.
a tentar nao dar parte fraca ...
A partir daqui foi isto ... ia-se
corrinhando ... a última vez que ainda pensei em recorde deve ter sido pelos 35km
... perguntei o tempo ao Lobo e vi que ainda daria se fizesse um pouco abaixo
dos 5m o km ... e fizemos um km a 4,50
mas tive que parar novamente. Agora eram as pernas que não iam, doia
tudo, os adutores, o estomago dorido ... uma desgraҫa. E foi nesta altura que o
Paulo Pereira passa por mim com a bandeira das 3h15 às costas ... “anda ... encosta
aqui ...” .... mas não tinha forҫa, encostado já estava eu 😉
Se por um lado este tenha sido o
momento do adeus ao RP também me libertou um pouco dessa "responsabilidade" ... já nada havia a fazer a
não ser chegar ao fim o mais rapidamente possivel. E lá fui, com o Lobo muito
paciente a apaparicar-me durante o resto do percurso. Ora corria-se ora
caminhava um pouquinho de vez em quando. Voltamos a passar pela malta do CAL,
agora um grupo mais reduzido porque se dividiram ... a outra metade tinha seguido para a
zona da meta ... tb aqui fiz questão de não me verem a caminhar ... maravilha 😊
rir para nao chorar ...
Na chegada à Foz estava o Ricardo Bontempo
... “então? Anda que vais fazer 3h25...”
... uns poucos metros mais à frente o Lobo pergunta “este moҫo tem
alguma bola de Cristal?” ...
Lá está a sempre infindável Avenida Brasil
... digo sempre isto ... esta avenida é mais longa de sul para norte do que de
norte para sul ... e ninguém me convence do contrário 😉
As dores nas pernas eram mais que
muitas, os adutores então nem se fala. Mas agora iria correr até ao fim. Rotunda
do Castelo do Queijo, faltam 2km ... iamos lentos mas mesmo assim ainda iamos passando
alguns que estavam piores que eu. A subidinha da Boavista tem mais de 1km, já
se veem os pórticos e uns 100m antes de fazer a curva lá está a nossa claque novamente...
... grande festa ... procuro a Pikinita ... beijoca ... e siga ... o Lobo já
tinha seguido mas espera por mim uns poucos metros antes da meta ... hora de um
primeiro abraҫo sentido ... mais uns metros e passamos a meta juntos ... 3h25
... o Bontempo afinal tem mesmo uma bola de cristal.
foi o possivel ...
Mais um abraҫo ao Luis Lobo a quem estou
profundamente agradecido ... ele tem por hábito não repetir maratonas e já
tinha feito a do Porto em 2015. Tinha feito a Maratona de Berlim há pouco mais
de um mês mas desde que soube que eu tinha como objectivo baixar as 3h se
prontificou imediatamente em ajudar-me. Ali estava ele ... com uma paciencia daquelas
a fazer o pior tempo de sempre em Maratona ... e olhem que já tem muitas 😉 ... mas os
irmãos são para as ocasiões não é? 😊
obrigado Luis ...
Eh páh ... esta Maratona saiu-me do pêlo
como já não me saía uma prova há muito tempo. Eu sabia perfeitamente que não
tinha feito a preparaҫão ideal, e que as 3 semanas parado iam fazer mossa. O
meu treinador diz-me que fui pouco inteligente e tem razão. Eu tb sabia que se
fizesse uma prova mais contida, mais resguardada, teria uma grande
probabilidade de bater o meu recorde. Fiz algo que raramente faҫo que é jogar
ao ataque e depois logo se vê ... paguei o preҫo e servirá de experiencia. Adoro a Maratona por isto mesmo, se nao te preparares levas no focinho e se te preparas levas no focinho na mesma só que menos. O
facto de ter corrido sem o relógio foi um erro ... é de facto uma ferramenta
que me podia ter controlado o impeto. Mas isso agora não interessa nada ... o
que interessa mesmo é que adorei mais esta Maratona do Porto. Desde a prova em
si, à organizaҫão que esteve ao nivel que nos habituou, até o tempo ajudou ...
o ambiente entre atletas foi excelente e o público presente esteve impecável e
bem acima da média ao que estamos habituados em provas portuguesas.
Ainda fiquei com a nossa claque à
espera de ver chegar e a aplaudir os atletas durante mais de uma hora ... espectacular
assistir ao esforҫo, as caras da malta prestes a concluir uma Maratona são
qualquer coisa de fenomenal.
Os calenses estiveram em grande e está tudo de parabéns. Américo
e Bruno com excelentes recordes pessoais, o Nuno Pereira e o meu primo Elisio
com estreias na distancia bem sucedidas (benvindos ao clube) e o Serafim e o
Badolas com mais uma para a colecҫão.
Esta Maratona do Porto não fica por
aqui ... existem agradecimentos por fazer num post à parte ...