Uns poucos minutos
depois das 21h saímos de Penha Garcia com destino a Idanha-a-Nova, percurso com
33km a fazer praticamente durante a noite, a 2ª noite desta empreitada, algo
completamente novo para mim.
Os primeiros km ainda foram
feitos a apanhar a última luz do dia ... e que lindo final de dia apanhamos com
uma paleta de cores apenas magnifica. O percurso logo após a saida de Penha
Garcia levou-nos para caminhos campestres em terra com pouco desnivel o que nos
fez correr.
A motivação estava bem
lá em cima, a boa disposição era comum aos dois ... como é possível eu ainda há
pouco estar tão mal humorado e agora estar assim, cheio de ganas? Não se
explica ... sente-se...
Depois de uns bons 15 a
20 minutos a caminhar de forma vigorosa a meu pedido, para „assentar“ as bolhas
dentro das sapatilhas e para „assentar“ tb a comidinha boa que tinha metido no
bucho, começamos a correr. E de que maneira ... houve alturas em que corremos a
5m/km ... era um inicio de noite abafado mas tínhamos que aproveitar o facto de
estarmos bem para avançar o mais possível.
Os primeiros 7 ou 8km
passaram muito rápido ... depois entramos num estradão em terra largo que subiu
durante uns bons 4 ou 5km ... o estranho é que aquilo tinha um pó muito fininho
que enterrava o pé quase na totalidade. E não havia forma de fugir. Quando
ficava plano ou descia ligeiramente continuávamos a caminhar para não levantar
ainda mais pó no ar – já estávamos a comer pó o suficiente assim 😊.
Já estava a ficar farto daquilo, notava-se bem as pegadas do pessoal que passou
antes de nós.
foi nesta etapa que batemos o nosso recorde distância … a partir daqui cada km a mais era novo recorde pessoal
Chegamos a uma primeira
localidade (não me lembro o nome) ao fim de uns 18 ou 19km onde paramos num
fontanário para encher os flasks e refrescar as „ideias“. Apetecia-me um café
mas embora ainda fosse cedo (ainda não seria 1 da manhã) já estava tudo fechado
... ainda fomos ao tasco do clube desportivo onde havia luzes ligadas mas já
estavam a arrumar e não serviam ninguém. Paciência ... siga.
Sentamos num degrau de
uma casa para tirar pedrinhas das sapatilhas e sacudir o pó antes de seguir
viagem. Nessa altura recebemos uma chamada do Américo e fomos a falar durante
uns bons 15 minutos enquanto subiamos umas estradas para voltar ao monte.
Não tardou muito entramos
numa estrada nacional em alcatrão que nos iria levar direitinhos a Idanha-a-Nova.
E voltamos a correr. A boa disposição ainda reinava apesar de acusar já algum
cansaço. Mas não havia calor, não passava sede ... comparado com a etapa anterior
era o paraíso.
o gajo é bom ...
A coisa corria mesmo
bem ... acho que nesta etapa devemos ter passado uns 7 ou 8 companheiros de
viagem. Um deles foi o Jorge Bastos (dos Pernetas genéricos) ... já nos
vínhamos a cruzar praticamente em todos os abastecimentos, nós a chegar e ele a
partir. Em Penha Garcia confessou-me que tinha feito uma contractura na zona do
gémeo e só conseguia caminhar. Ali ia ele, a arrastar-se por ali fora numa
descida em alcatrão com Idanha-a-nova já à vista mas ao mesmo tempo ainda a uns
bons km (talvez 4). Paramos, falamos um pouco mas nada podiamos fazer por ele.
Disse-nos que iria tentar chegar a Idanha, descansar e ver o que poderia fazer
para continuar em prova. Grande Jorge ... uma força de vontade ferrea e sem
atirar a toalha ao chão mesmo sabendo que as possibilidades fossem minimas.
já se vê Idanha lá ao fundo
Sou contactado pelo
Miguel, amigo do Jorge, via messenger a dizer que estava em Idanha e que se
precisasse de alguma coisa que dissesse. Agradeci e recusei ... estávamos bem,
não precisávamos de nada, Aproveitei para o avisar do estado do Jorge. Boa gente!!!
Chegamos ao sopé de
Idanha .. tinhamos que subir para o Castelo ... mais uma inclinação brutal,
mais umas estradas empedradas mas desta vez não nos queixamos. Havia reservas
de força e foi um luxo a forma como subimos, de tal forma que passamos mais 3
colegas até lá acima onde encontramos o Miguel Barros e a Bitinha ... sabe
sempre bem ver gente conhecida. Dois dedos de conversa e siga que ainda
faltavam 2km até escola secundária do outro lado da Vila onde estava instalada a
BA.
Fizemos esta última
parte a caminhar. Não me lembro que horas eram, talvez umas 2h30 ... excelente
... depois da etapa anterior ter sido onde mais sofri, esta foi se dúvida a que
me correu melhor até à data.
grande etapa companheiro … fossem todas assim
Estava com sono e disse
ao Lima que ia tentar dormir 30m ... encontrei a Flor Madureira que, como sempre,
foi super prestável e me arranjou logo as duas águas com gás que pedi. „Onde
posso dormir?“ ... „tem duas tendas lá fora, uma está ocupada mas podes usar a
outra“ ... „xau ... já volto“...
antes da soneca … foto tirada pela Flor
... despertador para
daqui a 30min e já nem me lembro de mais nada, apenas me lembro do despertador
tocar e de me custar pra caraças levantar. Que moca 😊,
que dores nas cruzes meu Deus ... mas tem que ser e aquele bocadinho soube que
nem ginjas - o meu primeiro soninho há 44 horas.
Quando voltei a entrar
no pavilhão a melhor surpresa do dia ... a Pikinita estava ali 😊
... não esperou por sábado de manhã, acabou o trabalho meteu os pés ao
caminho e veio apanhar-nos a Idanha. A
minha Pikinita é a maior!!!
Vamos às rotinas, desta
vez com ajuda da dela. Esperava-nos outra grande empreitada ... 46km até
Lentiscais, com o famoso Vale da Morte na 2ª metade ... grande preocupação com a
hidratação ... tinha colocado no saco para esta etapa uma botija extra de 2ltr
... com os flasks que tinha seriam 4,5 ltr de capacidade ... parece muito não
é? Não é nada ...
Outra preocupação eram
os meus pés ... cada vez mais massacrados ... pomada para cima deles.
topem a cara de sono de um deles???
que cabelo é esse moço???
a minha Pikinita dormiu no carro e alimentou-se a cerelac … bem bom