Ontem foi dia de
participar no Trail de Santa Luzia em Viana do Castelo – a minha experiencia
neste tipo de prova resumia-se a uma participação do Trail de Sicó há 2 anos
atrás. O cartaz deste Trail apresentava a distância de 33km com 2600m de
desnível acumulado…. com a distância podia eu bem, agora essa história de
desnível acumulado é que não sabia se era muito ou pouco e com o aproximar da
data da prova as dúvidas iam sendo maiores. Da nossa equipa tínhamos 5
elementos inscritos, o Hugo Fernandes (Ultra-Maratonista e já com muitas provas
deste tipo nas pernas) e o grupinho aventureiro habitual constituído por mim,
pelo Bruno, pelo Zé Miguel e pelo Badolas (os 3 últimos estreantes nos Trails)
– como as dúvidas e incertezas eram comuns aos 4, já há muito que tínhamos
combinado fazer a prova juntos – do tipo um por todos, todos por um!!!
Ao longo da semana ia
espreitando as previsões meteorológicas, que apontavam para chuva e frio à hora
da prova, o que me deixava um pouco apreensivo. Será que tenho o equipamento
adequado para andar aquelas horas todas por aqueles montes? Não tenho
impermeável, só corta-vento…..andei pela net a ver casacos impermeáveis e
esbarrava quase sempre em preços exorbitantes, valores que neste momento não
queria estar a gastar. Nada como ligar ao Hugo e pedir uma dicas e ainda bem
que o fiz….aconselhou-me a ir a Decathlon e comprar um impermeável da Quechua,
simples e que para este tipo de provas era mais do que o suficiente – assim
fiz…gastei € 8,95…maravilha. No sábado esteve um dia fantástico, embora tenha
estado frescote foi um lindo dia de céu azul e sol – acreditava que os gajos da
meteorologia se tinham (mais uma vez) enganado e que no dia seguinte iriamos
ter um dia bonito para desfrutar do Trail – afinal S.Pedro costuma ser nosso
amigo, não é?.
As diferenças para as
provas de estrada fizeram-se sentir na hora de preparar o equipamento no sábado
à noite….como gajo inexperiente que sou, cheio de dúvidas enchi uma mochila com
o seguinte:
- camelback de 2ltr
(isotónico)
- 1 garrafa de meio
litro (+ isotónico)
- uma camisola e umas
meias extra
- 2 barras e um gel
energético
- Bandeira de Portugal
que me acompanha em provas especiais
- uma toalhinha,
lenços de papel, vaselina e a minha pomadinha especial para reumáticos
sofredores de dores de coluna e joelho à mantorras como o meu.
Bem, era para levar
também uma tenda de campismo, uma lareira portátil e um rádio para ouvir o
relato de futebol durante a tarde, mas não cabia na mochila. Eram quase 4
Kgs de peso extra.
A noite foi mal dormida,
talvez por alguma ansiedade e pelo facto de a minha cadela ter começado a
ladrar à meia-noite (levava 1 hora de sono), me ter obrigado a vir cá fora e
com isso me ter despertado de tal forma que demorei mais de uma hora para
voltar a adormecer. Pelas 5 de manhã tocou o despertador, e eram 5.40h já ia a
caminho do ponto de encontro com os restantes 3 magníficos no sítio habitual
para o cafezinho da praxe. Nesta altura ainda não chovia e a temperatura não
estava nada mal para estas horas (10ºC). Às 6.30h apanhamos o Hugo na Decathlon
na Maia e pouco depois estávamos a chegar ao Estádio Municipal Manuela Machado
em Viana, já com chuva e vento a dar-lhe com força – afinal os da meteorologia
desta vez acertaram.
Curiosamente fomos os
primeiros atletas a chegar (em alguma coisa temos que andar na frente, não é?),
só andava por lá pessoal da organização. Levantados os dorsais não demorou
muito a começar a chegar os restantes atletas…. em relação a provas de estrada,
nota-se um tipo de atleta diferente, mais cuidado com equipamentos técnicos
(seja relógios, casacos, mochilas) o que é normal – notei também que era um
ambiente de maior convivência entre a chamada “Tribo do Trail”, tudo muito mais
descontraído - quer dizer os outros, nós embora a disfarçar com as brincadeiras
habituais, e misturados com a malta, estávamos um pouco apreensivos por ser
nossa estreia e por causa do tempo horrível que fazia - e mais ficamos à medida
que íamos falando com pessoal experiente, que diziam que não ia ser fácil.
Ainda tivemos oportunidade de conhecer o grande Armando Teixeira e de trocar
umas palavrinhas com ele – encontramos tb o Filipe Fontes (o nosso amigo e “guia
turística” por trilhos de Santa Maria da Feira da semana passada). E com isto
fomos passando o tempo até à hora da partida, não sem antes do meu amigo
Badolas fazer das suas – na sua incessante procura por uma casa de banho entrou
no balneário das mulheres e só não levou um enxerto de porrada pq elas viram logo,
que uma peça destas não faz mal a uma mosca.
5 minutos antes da
partida fomos ao carro para nos equiparmos – primeira grande molha – e lá fui
eu todo contente com o meu impermeável novo por cima de 2 T-Shirts, 1 Polar e 1
corta-Vento…..sabem, eu sofro muito de frio :D. Bem, quando comecei a olhar
para os outros na zona de partida reparei num pormenor - muitos sem qualquer
mochila, uns com uns cintos e umas garrafitas, uns camelbacks minúsculos e eu
ali com uma mochila de 4Kgs!!! Confesso que fiquei um pouco envergonhado…. mas que
se lixe, o problema é meu e afinal ninguém sabia se eu não quereria ficar por
ali uns dias, não é?
Mal se deu o tiro de
partida começamos a correr uns 500m por um estradão, antes de nos enfiarmos
pelos montes…..o pelotão aglomerou de tal forma que no primeiro km tivemos que
parar várias vezes. Brincadeiras, gritos, incentivos e muita energia para
gastar….. aí é assim isto dos Trails? Afinal não custa nada….. não demorou a
mudar de opinião com as primeiras ingremes subidas, naturalmente feitas a
caminhar….. Tinham-nos avisado que a parte mais complicada seria até ao km
11/12, até ao Parque eólico, pois seria sempre a subir – como atleta de estrada
a tendência de olhar para o relógio, analisar ritmos e analisar tempos
previstos de chegada veio ao de cima e foi o choque….3km a 11,30min/km…mais
para a frente viria a conseguir “desligar” desta preocupação….nesta primeira
fase do Trail tive calor e arrependi-me de não ter deixado a camisola tipo polar
no carro, mas quando começamos a chegar lá acima, no parque eólico e com a
chuva e vento a dar com força mudei de opinião e fiquei contente por ter aquela
roupa toda no corpo. O nosso grupinho ia todo bem, apenas o Bruno se ressentiu
de uma dor nas costelas que o anda a assolar há algum tempo, e que lhe
dificulta a respiração e eu ia com uma dor no pé direito, de vez em quando dava
uns esticões na zona frontal da planta do pé…..mas as paragens para fotos
faziam-nos recuperar e lá íamos no nosso ritmo, sempre divertidos. O Badolas
até ao km 11 conseguio só molhar o pé esquerdo, segundo ele o direito estava
seco o que a ser verdade acho verdadeiramente incrível.
Logo após o km 11
(penso ter sido o ponto mais alto), iniciamos o que para mim é a maior dificuldade
nestas andanças….descidas, e quanto mais ingremes pior….o meu joelho direito é
uma lástima (fruto de uma rotura total do tendão rotuliano e de todos os
ligamentos há uns anos atrás a jogar à bola, que me demorou 3 anos para poder
voltar a fazer desporto), e como tento compensar com a outra perna o resultado
é dores na coluna….. com as descidas não demorou muito as dores nas costas a
aparecer, mas como estou habituado lá me vou aguentando….sempre que havia
descidas ia ficando para trás, e sempre que o terreno ficava plano ou a subir
voltava a colar-me ao grupo. Quem andava super divertido com as descidas era o
Zé Miguel, arrojado lançava-se por ali a baixo e desaparecia…. uns bois a
pastar sem dono por perto, mais umas fotos e não demorou chegamos ao
abastecimento nr.2 (ca.15km), onde nos refastelámos com bolo, laranjas (que
boas que estavam) e isotónico – tb havia vinho do Porto, mas eu não quis
arriscar (havia de ser bonito, pensando bem até era bem capaz de chegar mais
depressa quando fosse a descer :D). Quem aproveitou foi o Bruno, quem mais
poderia ser…. nesta zona conseguimos ver o mar e as praias da zona bem lá em
baixo e aproveitamos para tirar mais umas fotos antes de nos mandar-mos por
mais umas descidas abaixo.
Até ao abastecimento
dos 23kms foi a altura em que deu para correr durante mais tempo seguido, facto
que aproveitamos para progredir mais rapidamente. Foi das zonas mais bonitas do
percurso (não sei os nomes das zonas por onde passamos), mas serpentear por
entre os trilhos na mata, muito verde, muitos riachos de água transparente para
atravessar e pequenas quedas de água embelezavam o ambiente e nem dava pelo
tempo passar – tudo com muita lama à mistura. Nesta fase nem me lembrava das
dores de costas nem do pé. Ia tudo muito bem disposto, e a dor do Bruno tb tinha
desaparecido. Chegados ao abastecimento do km 23 com céu azul, abastecimento
instalado numa espécie de quinta e onde serviam broa com mel (só provei um
bocadinho), vinho do Porto (agora foi a vez do Badolas acompanhar o Bruno numa
copada) e chã quente que me soube muito bem. Faltavam agora 10km, que segundo
um membro da organização seriam mais fáceis.
Mal arrancamos
senti-me mal, sentia-me enfartado (teria sido do chã?) e demorei algum tempo a
recuperar. Entramos na mata e começou a chover torrencialmente com ventos muito
fortes, de tal forma que dobrava os eucaliptos por cima das nossas
cabeças…..siga para bingo….nesta altura da prova, as dores de costas tinham
reaparecido mas o pior era a dor no pé direito que me estava a incomodar e
muito, tb as pernas estavam já cansadas….acho que dos 4 eu ia em pior estado,
mas lá me ia aguentando….descer, subir, subir, descer….quem é que disse que
agora era mais fácil? Até pode ser, mas o facto de já andarmos naquilo há 4
horas não o fazia parecer. Foi nesta fase que apanhamos os Canos de água da
Aerosa (acho que é assim que se chama), uma espécie de muro com ca. meio metro
de largura e talvez um km de extensão, que obrigava os atletas já cansados a
concentração máxima para se equilibrarem – eu tive dificuldades nesta parte,
estava sempre a escorregar – mais uma vez o Zé Miguel desaparecia nestas partes
mais técnicas. Mais umas subidas ingremes a caminhar, e com o Bruno a dizer-me
que já não podia e eu a dizer que estava quase (faltavam 2 ou 3 kms) chegamos
ao último abastecimento, perto da Basilica Sta.Luzia….mais umas laranjas e uns
copos de água e toca a subir por uns trilhos…ao fim de mais de 30kms de
subidas, descidas, pedras, lama, água, cair, levantar e continuar chegamos à
Citânia de Sta.Luzia - sabe muito bem avistar Viana bem lá do alto…lindo…já não
deu foi para tirar fotos….não queria perder o ritmo e chegar ao fim o mais
rapidamente possível. Mais um trilho com água e um fulano da organização a
dizer que faltavam 200m, altura para tirar a bandeira de Portugal da mochila e
lá cortamos a meta, os 4 juntos, quase 5 horas depois.
Posso dizer que adorei
a experiência, se por um lado foi pena estar tão mau tempo, que impediu que
pudéssemos curtir as paisagens de outra forma, por outro lado toda aquela
chuva, vento, frio e lama valorizaram muito mais o feito e até tornou a prova
mais “divertida”. Gostei tb do ambiente descontraído em redor desta prova e da
“Tribo dos Trails”….claro que existe competição, mas não se nota tanto (pelo
menos eu). Não sei se esta prova é muito ou pouco técnica, qual o tipo de grau
de dificuldade em comparação com outras, só sei que fiquei bem mais cansado do
que estava à espera, mas o objectivo de fazer um “bom treino longo” como
preparação para a Maratona de Paris foi alcançado.
Quanto à organização a
cargo da Viana Cycles, os meus parabéns. Como inexperiente nestas andanças,
senti-me bem acolhido, adorei o percurso, os abastecimentos foram bons e muito
importante, senti-me sempre seguro com a presença de pessoas da organização de
poucos em poucos kms.
Um palavra especial
para o Hugo Fernandes (um dos culpados por eu ter vontade de andar nestas
coisas malucas)…..se quase que entras-te em hipotermia por teres estado uma
hora à nossa espera na meta (eu é que fiquei com a chave do carro) a culpa é
tua…não fosses tão rápido:D….da próxima vens com a malta bem cá atrás….é pá,
desculpa, não me lembrei (e tu tb não) desse pormenor.
Mais uma aventura com
o pessoal do CAL, que cada vez mais se está a tornar mais do que um pessoal que
se junta para dar umas corridas. Obrigado Amigos, prova superada e que venha a
próxima.
P.S.1. O Zé Miguel tb
vai à Geira Romana – dois novos Ultras em preparação !!! Este rapazola tem
jeito para estas coisas. Tb gostaria de salientar que com o boné vermelho ao
contrário, parecias “o menino Tonecas”. Ahhh….e parabéns por não poderes ir à
Maratona do Porto este ano:) – you know what i mean!
O "menino Tonecas"
P.S.2. O Badolas
finalmente sujou as sapatilhas (e não só)…ele diz que só não gostou da lama, da
água, da chuva, do frio, das subidas, das descidas, mas de resto até que foi
porreiro.
Badolas
P.S.3. O Bruno acha
que os abastecimentos das provas de estrada tb deviam incluir Vinho do Porto.
Bruno
P.S.4. – O Hugo já se
deve ter arrependido de ter ido connosco. Ter que ficar à nossa espera parece
castigo – numa outra vida deves ter feito muito mal a alguém pá!
P.S.5 – Acho que
bichinho pegou – vão ter que nos aturar mais vezes por essas montanhas fora.