Falando português o que me aconteceu ontem é no mínimo um bocado
fodido. Tá dito.
Fazer uma meia maratona de faca nos dentes desde os
7/8km, uma prova de enorme garra, só eu sei quanto me custou voltar ao centro
de Viana com o tempo em que cheguei, quanto tive que lutar para arrastar as
minhas pernas de forma a que chegasse ali tão perto com um novo recorde pessoal
… acontece que uma Meia Maratona tem um pouco mais que 21km e não 20,86km …
O dia até estava a correr bem … pessoal do CAL bem
disposto como sempre – poucos mas bons. Primeiro pequeno-almoço na Laurita.
Viagem tranquila até Viana onde chegamos cedo com a desculpa de ter que
levantar os dorsais – a ideia era chegar ao Natário e ter mesa para sentar.
Nada disso, um lugar ao balcão e já foi uma sorte. Uma bolinha e um café para
manter a tradição e mais meia dúzia para levar para casa.
O sol apareceu mas estava frio … a tradição do frio
também se manteve, já a da chuva nem por isso o que foi bom. A tradição de
tirar a roupa apenas uns minutos antes da partida tb se manteve J … ainda deu para um aquecimento melhorzinho que o
habitual e toca a ir para a zona de partida onde já estava praticamente todo o
mundo. Bem … não resta outra alternativa a não ser ficar na parte de trás de
pelotão. Até aqui a tradição se manteve J
com um calção de compressão destes até eu ...
a equipa maravilha ...
Partida … e nada. Nem um passo. Demorei 2 minutos para
passar o pórtico e depois precisei de quase 4km pra atingir a média que
precisava para chegar na 1h25 ao fim, objectivo muito ambicioso* a que me propus.
Mesmo com o esforço despendido no para e arranca e nos ziguezagues para
recuperar sentia-me bem. Os primeiros 10km até ao retorno tem mais subidas. Quero chegar lá com
4,05min/km ou seja um bocadinho abaixo dos 41m.
Por volta dos 7km volta o fenómeno dos músculos das coxas presos, situação
habitual desde inicio do ano. Valeu de pouco os treinos ligeiros, a massagem e
os dois dias de descanso desta semana.
Passo o retorno com 41min e alguns segundos. Tudo impecável menos as pernas
... mais concretamente os músculos posteriores das coxas, ambos, que me obrigam
a arrastar a passada. A sensação é de que vou quase a caminhar, mas a verdade é
que vou conseguindo manter o ritmo.
É nesta fase que desisto da 1h25 e passo a concentrar-me em bater o meu rp
que está na 1h27,43 ... tb é durante estes km sofridos que vou a pensar que
preciso mesmo de meter uma ou duas semanas de descanso, uma espécie de reset
muscular. Está decidido, vou faze-lo.
Sofro mais a subir e menos a descer. Felizmente na volta são mais descidas
que subidas. Entre o km 17 e 19 voltamos aos viadutos à entrada de Viana.
Detesto rectas ... o cansaço físico está a fazer-se sentir. Tenho um gel no
bolso, mas o facto de ter que tirar as luvas, abrir o gel e toma-lo faz-me
decidir ir assim até ao fim. Todos os segundos contam e eu aguento.
As coxas estão uma lástima ... é pena porque acho que tinha reservas para
um último forcing. Mas é melhor não abusar ... isto está preso por arames.
19km entramos no centro de Viana. Como sempre muita gente. Tenho direito a
alguns incentivos do meio do público - obrigado. 20km ... do outro lado já vejo
a meta. Espreito o relógio ... vai dar, é só controlar ... último retorno, 500
ou 600m ... vai dar para ficar no minuto 26 ... espectáculo ... sou o maior!!
...
... até que uma forte contractura na coxa direita me manda ao chão ...
assim, de repente quando eu já só via o pórtico da meta, ali tão perto à minha
espera ... não acredito nisto ... tento levantar-me e não consigo, para o fazer
tenho que fazer força nas pernas e não dá .... para terem uma ideia deve ter
sido mais ou menos isto...
Aproveito para agradecer a alguns atletas que se aproximaram de mim para
perguntar se precisava de ajuda, largando a prova deles preocupados comigo
assim como ao atleta que me ajudou a levantar.
Arrastei-me até à meta ... não ia desistir a tão poucos metros. Quase 7 min
para fazer pouco mais que 300m. Mesmo assim 1h32min.
sim, estava cabeçudo ...
Desiludido? Nem por isso. Chateado? Sim, comigo próprio, por saber que
estava no fio da navalha e mesmo assim ter arriscado, ter continuado. Acabou por ser má opção.
300m ... faltou um danoninho e é esta a diferença entre chegar à meta empenado mas bem, entrar em
modo recuperação com um sorriso de orelha a orelha ou chegar a mancar com
dores, lesionado e cabisbaixo.
O que vale é que a mim a neura passa rápido e para isso contribui muito a
maluqueira dos meus compinchas. Pouco depois da meta já andava na put@ da
brincadeira.
amigos da onça a rir-se do velho e agora verdadeiro Perneta ...
Importante agora é recuperar bem - embora esteja com dores e dificuldade a
caminhar não deve ser nada de muito grave. Digo eu que conheço os sintomas da
vida de futeboleiro no passado. Também não posso fazer muito agora, estarei no
estrangeiro até ao fim do mês - o bom é que vou apanhar temperaturas negativas
(hoje em Estugarda apanhei -12 graus) ... não preciso colocar gelo na pernoca,
vou fazendo crioterapia durante o dia. Basta andar na rua.
Por falar em gelo. Sabiam que a organização da MM Viana não tem gelo no fim
para alguém que como eu possa aliviar o problema? Fui a duas tendas de
massagem, falei com não sei quantas pessoas ... foram-me mandando de um lado
para o outro até por fim me aconselharem ir pedir gelo a um café. Muito mau
mesmo. Afinal estamos a falar de uma das MM mais conceituadas do nosso País.
Apesar de tudo valeu a pena, foi uma manhã de grande divertimento, fiz mais
uma prova espectacular e fiquei a saber que tenho ainda margem de progressão
nesta distância.
Ahhh ... e aprendi que só fica feito quando passas a linha de meta. Nem sempre é domingo 😉