quarta-feira

PK100 - é já no próximo sábado

 

Parece que é desta que se vai realizar o PK100. E o que é o PK100? Podia ser o Papa Kilometros 100 mas não é ... é nada mais nada menos que o Pikinita 100.

A Dora (aka Pikinita) nunca fez os 3 digitos e já mostra vontade de os fazer há 2 anos. Estava decidido que seria em 2020 ... só faltava escolher a prova ... Sicó era muito cedo, mas TPG, Portalegre ou mesmo Abrantes eram algumas das hipoteses. Todos sabemos como foi 2020 ... mas em 2021 é que ia ser mesmo, não falha ... e logo no inicio do ano escolhemos a prova, escolha que recaiu sobre a Mozart 100, em Salzburgo na Austria que coincidia com o aniversário da Pikinita – 109km com quase 5000D+ - juntamente com uma semaninha de férias seria a prenda ideal 😉

era este..

Seria, mas não foi ... pandemia a não dar tréguas e prova adiada para final do ano, data em que não dá para nós. Com uma boa parte do treino feita e nenhuma prova por perto decidimos fazer a “nossa” prova, a PK100 ali pela data prevista inicialmente para a Mozart 100, .. mas como eu fiquei doente na semana antes a coisa teve novamente que ser adiada. Por um lado ainda bem, porque logo no dia seguinte iriamos de férias para a Madeira, e férias para nós é sinónimo de não parar um segundo.
























A data escolhida para realizar o PK100 passou então para 31 de Julho, ou seja, para o próximo sábado. Isto fez com que pudessemos realizar mais alguns treinos longos em estrada, um deles uma volta completa ao Porto que com mais uns pózinhos deu uma Maratona, treino feito com um calor que nos deixou de rastos.




Escolher o local tb não foi fácil, enfiarmo-nos por serras e montes sozinhos não é opҫão ... há que ter logistica, abastecimentos, e experiência, pelo que para primeira vez dela não é boa ideia .. poderíamos fazê-lo perto de casa, junto à praia até Aveiro ou para norte, ou uma espécie de Volta ao Concelho da Feira encurtada, mas sinceramente a ideia não seduzia – é por aqui que treinamos muitas vezes, era porreiro variar um pouco.

Até que nos lembramos dos Caminhos de Santiago, do caminho central a partir do Porto. Já fizemos juntos o Caminho da Costa, numas férias em 2018. A Pikinita já fez várias vezes o central e diz ser muito porreiro, além disso tem tascos pelo caminho 😊 ... e como eu nunca fiz, achei muito bem ... da Sé do Porto até um pouco depois de Ponte de Lima ... dá 100km com um pouco mais de 2000mD+.  

Vamos sair de madrugada para avanҫar o máximo possivel antes que o sol apareҫa ... vai ser mais uma bela aventura a dois, a minha Pikinita é de raҫa e não tenho dúvidas que vai passar a marca dos 3 digitos. Quanto a mim, mais cerveja menos cerveja tb lá chego 😊

domingo

Lichtenstein Weg - que bela jornada

O despertador tocou pouco passava das 4 da manhã. Estou cheio de sono, ouço a chuva a cair lá fora … ligo a net do telefone, vou espreitar as previsões para o dia seguinte na esperança que sejam melhores. Mas não, no dia seguinte vai estar como hoje. Ainda pensei em desistir da ideia, de durante o dia fazer um outro tipo de treino longo. Mas caraças, quando é que vais ter uma oportunidade de fazer isto? Vamos mas é embora … foi só vestir o equipamento, pegar na mochila pré-perada de véspera e sair do hotel. 

Fazer o Liechtenstein Weg obriga-me a uma logistica complicada. O Hotel que escolhi teve o preço como um dos factores principais … marquei umas horas antes de cá chegar, quando já vinha a caminho … nem sabia bem onde ficava e foi surpresa quando vi que ficava numa aldeia idilica tipica dos Alpes, no meio de montanhas fantásticas a 1500m de altitude no centro do Liechtenstein. Por outro lado obrigava-me agora a uma viagem de carro de 40min até posto fronteiriço ao lado da Austria, em Schaanwald para depois apanhar um autocarro para Balzers na outra extremidade do Principado, fronteira com a Suica a ca.25km de distância e que demorou outros 50 minutos a fazer. Durante esta viagem nasceu o dia e a chuva parou … sabia que seria por pouco tempo, porque as previsões apontavam para chuva durante o dia todo … mas se pudesse começar sem chuva seria espectacular. Cheguei a Balzers com o seu Castelo impetuoso bem lá no alto. Saio na última paragem … não chove, tiro o impermeável e guardo na mochila … trinco uma barra e uma maça e dou uma golada de água, ligo o relógio …  


…78km e 2200mD+ no total …  Balzers fica a 450m de altitude enquanto que Schaanwald sensivelmente a 470. O Liechtenstein tem o rio Rhein a fazer fronteira com a Suiça … no sentido em que fiz, de sul para norte, o rio é do lado esquerdo e vai servir-me de orientação. Junto ao rio as localidades mais importantes estão “encurraladas” do outro lado por um imponente maciço de montanhas, com vários picos bem acima dos 2000m (o mais alto a 2700) … não os consigo ver, está muito nevoeiro a partir do meio das montanhas. Quanto ao percurso não espero grandes dificuldades técnicas, pelo que li é de dificuldade média pela distância … trata-se de um passeio pela história do Liechtenstein, que nos irá levar aos Castelos, Igrejas, localidades importantes, florestas e tb um pouco à montanha (ponto mais alto a 1150m). Espero caminhos em terra, estradas florestais e muito alcatrão … vou ter isso tudo, mas tb vou ter algumas surpresas … prevejo 10 a 12 horas... vamos a isso ... 


1a etapa – Balzers-Triesenberg (14km/600mD+) 


A primeira coisa que fiz foi procurar as placas sinalizadoras do caminho – procurei ficheiros GPX nos dias anteriores mas não encontrei - iria ter que ser com os sinais do percurso. Sabia que junto ao Castelo havia de as encontrar e assim foi. Ao fim de pouco tempo fiquei descansado … tudo muito bem marcado. Esta etapa leva-nos pelo centro de Balzers, depois por caminhos exteriores em terra para então começar a virar para as montanhas, passando por uma localidade chamada Triesen “conhecida” por uma empresa antiga de transformação de algodão. Pelo gráfico são 8km mais ou menos planos para depois fazer a maior subida de todo o percurso e chegar a uma aldeia histórica (séc.13) chamada Triesenberg a 900m.  

Ia eu ainda no centro de Balzers e começou a picar-me ao fundo das costas de forma bastante violenta. Mal saí para o campo procurei um arbusto e estriei-me a adubar o Liechtenstein 😊 … tenho que actualizar a lista de países onde isso já aconteceu (mais de 20 com certeza 😊). 







Sentia as pernas pesadas e estava a suar bastante … a chuva ainda dava tréguas, não havia vento mas os 20 graus faziam a coisa estar abafada. Forcei um pouco correndo nas primeiras subidas. Queria ganhar algum tempo na primeira metade embora as pernas não estivessem com muita vontade.  

A subida a Triesenberg trouxe a primeira surpresa … além da inclinação brutal houve single-tracks com muita terra que com a chuva se transformou em lama … e o que é que eu levava calçado? Siiiiiiim … sapatilhas de estrada! Como adivinharam? Até parece que é costume. As minhas Glideride pouca tracção me davam. Não foi nenhum drama, mas desgastou um pouco mais e tive que ter cuidados especiais porque o trilho era muito estreito e do lado esquerdo a queda podia ser brava. 


Em Triesenberg vi novamente Lamas … o animal. Já tinha visto na aldeia onde estava o meu hotel e viria a ver daqui para a frente mais algumas vezes. Não faço ideia qual a utilidade destes animais ali, provavelmente apenas como animais de estimação. São giros mas não me ligaram nenhuma. O mesmo se passou com as vaquinhas que fui encontrando por caminho … não quiseram nada comigo ... os animaizinhos são antipáticos. Já das pessoas do Liechtenstein só tenho a dizer bem … cumprimentam sempre que passam por nós, todos a quem precisei de recorrer por algum motivo foram de uma simpatia inescedível.  





Demorei mais tempo do que esperava para esta etapa … começou a chover … toca a vestir o impermeável novamente … 


2a etapa – Triesenberg-Vaduz (10km/265mD+) 


Sinto-me melhor fisicamente … olhando para o gráfico desta etapa tenho a firme convição de que vou recuperar tempo. Täo enganadinho estava … 

Esta etapa leva-nos a subir quase 300m em 4km até Profatscheng, ponto mais alto do percurso (1150m) onde nos é prometida uma vista deslumbrante sobre o vale do Rhein. Subi de forma vigorosa … lá em cima o nevoeiro não deixa ver a vista prometida. 




Agora serão quase 700mD- para descer em 6km até à Capital Vaduz. Sabia perfeitamente que é muito ingreme mas achava que os ia fazer em estrada, ou seja, que os ia fazer a correr. Foi assim apenas em parte … metade foi feito em single-tracks pelo meio de uma floresta … muita lama escorregadia, 3 ou 4 escorregadelas e uma queda fazem disparar os meus alarmes. Foram provavelmente os 3km mais lentos de todo o percurso.  

Pelo meio passamos a ruína do Castelo Waldschloss e depois pelo ex-libris do Liechtenstein … o Castelo de Vaduz que aparece em tudo o que pesquisares sobre esta terra. E a verdade é que é imponente … um pouco antes, por volta dos 20km ligo para a Pikinita para dar noticias e dar tb um pouco descanso aos posteriores que se vão a queixar desta descida. 





Depois do Castelo a descida até Vaduz já é por caminhos asfaltados e escadarias … a chuva continua presente com alguns poucos intervalos secos.  

O percurso leva-nos pelo centro, muitas lojas, cafés, Museus até ao “Parlamento”... mesmo ao lado a Catedral St.Florin. Estava a ficar com fome e com calor … aproveitei um banquinho junto a uma fonte para descansar um pouco, e reabastecer de água. Dei-me algum tempo, hidratei bem, comi uma sandes que tinha levado e um pequeno chocolate. 4 horas para 25km … a média dava para o tempo final que queria, mas confesso que pensei conseguisse fazer esta duas etapas um pouco mais rápido. 



Lembro-me de ter chegado com 8,45min/km e de ter arrancado com 9,08m/km deste “abastecimento”. Os primeiros metros custaram mas depois entrei num trote certinho … o percurso ainda nos levou junto ao rio Rhein, a visitar uma ponte antiga que liga o Liechtenstein à Suiça e por fim dar uma volta dentro do complexo desportivo do Vaduz, o clube mais representativo da região. Está feita esta etapa ... 




3a etapa – Vaduz-Nendeln (17km/580mD+) 


Depois das voltas todas dentro de Vaduz esta 3a etapa iria levar-me novamente para as montanhas.  

Depois do “Gru Maldisposto” ter aparecido no final da etapa anterior (andar às voltinhas dentro de uma localidade quando estás cansado dá nisto) voltei a motivar-me e meti na cabeça que ia fazer esta etapa em 1h45 … os primeiros 10km são mais ou menos planos, para nos últimos 6km subires e desceres ca 300m.  

No inicio passo a parte velha de Vaduz (muitas casas de madeira tipicas, umas vinhas) sempre com o Castelo imponente no cima da montanha à vista. O percurso leva-nos à localida a seguinte, Schaan, onde passamos pelo centro, depois pelo convento St.Elisabeth para depois então atacar a tal subida de 300mD+ até Planken – o localidade mais pequena do Liechtenstein.  



Os primeiros km desta etapa tinham corrido muito bem, praticamente sempre a correr … o atingir o objectivo de 1h45 dependia do tipo de piso a subir, e especialmente a descer. A subida foi feita entre alcatrão, estrada florestal e um pouquinho de single tracks … sempre  a bom ritmo, o chamado caminhar vigoroso 😊 … lá de cima mais uma vez as vistas prometidas terão que ficar para uma próxima. Tinha receio que a descida fosse como a da primeira etapa. Ao inicio não foi, deu para eu correr mas a parte final foi novamente com mil cuidados, a ver onde colocar cada pé para não ir por ali abaixo … definitivamente, lama e sapatilhas de estrada não combinam.  





A chegar a Nendeln volta a chover com força … decido abrigar-me numa estação de autocarros para vestir novamente o impermeável. Aproveitei para abastecer, encher os flasks com sais e Guronsan Energy. Comi meia sandes, umas amendoas com sal e mais um chocolatinho.  

Tinha conseguido cumprir as 1h45 nesta etapa. A paragem atrasou-me um pouco mas mesmo assim vestava bem dentro do tempo pré-estabelecido para esta aventura. 


4a etapa – Nendeln-Rugell (15km/270mD+) 


Arranco cheio de confiança para esta etapa, de tal forma que entro na rua errada. Passado algum tempo parece-me que já tinha passado ali naquele sitio … estranho … quando dou por ela passo novamente na paragem de autocarro onde à pouco tinha estado a descansar. Enfim … 

De novo no percurso certo passo na estação de comboio que depois nos leva a dar uma volta dentro do complexo desportivo de Eschen/Mauren. O meu organismo está a pedir muitos liquidos nesta altura e já só tenho 1 ltr … vou atento a fontes mas por incrivel que pareça não aparece nada … em todo o percurso as fontes com água fresca são mais que muitas e agora nem ve-las.




Este percurso vai de localidade em localidade, por campos, vaquinhas a pastar, casas de madeira … tipicamente cenário alpino. Os quase 300m de desnivel positivo são feitos a partir dos 4km, em 3 subidas de ca.100m cada. Tranquilo … continuo num ritmo certinho. 




Em Aspen junto ao cemitério vejo um casa de banho pública. Nem é cedo nem é tarde … enchi dois flasks com água da torneira do cemitério 😊 … tranquilos porque não precisei de a beber … as fontes iriam voltar a aparecer umas atrás das outras. 

50km e ligo para a Pikinita e para os meus pais para os tranquilizar. 

Ao descer para Eschen sigo as marcações mas no centro da vila não encontro mais nenhuma e fico sem saber para que lado ir … tento várias estradas e nada de sinalização. Decido voltar a subir até ao último sinal do percurso … confirmo que não me enganei … volto a descer e encontro uma senhora a quem pergunto para que lado fica a Capela Rofenberger (tirei fotos a um guia para estas situações). Sigo as indicações dela e encontro a sinalização … siga … além do tempo perdido isto fez-me perder um pouco o ritmo com que vinha e a boa disposição





Chego a Bendern e volto às margens do rio Rhein … o percurso faz-nos passar num espaço desportivo com piscinas ao ar livre, parques para crianças, de skate e um bar em Gambrin … ora chove ora pára de chover … tem sido assim o dia todo … já guardei o impermeável e não o volto a vestir … estou todo molhado mas não tenho frio.  

Falta um último montinho para passar e chegar ao fim desta etapa a Ruggell. E assim só falta uma etapa … 


5a etapa – Rugell-Schaanwald (19km/510mD+) 

Entro cheio de moral em Rugell e é cheio de moral que coloco as pernas cansadas ao caminho que nos leva pelas ruas desta localidade até a um canal onde perco novamente a sinalização. Consulto o meu guia que me diz que depois desta localidade tenho que subir para uma terra chamada Schellenberg … sigo a minha intuição e passado uns 200m volto a encontrar os sinais do caminho.  

Foi sol de pouca dura … uma estrada cortada devido a obras corta o transito a peões tb. Dou a volta à Junta de Freguesia e encontro as placas mas sigo o sentido errado … só me apercebo à saída da localidade quando reconheço uma casa agricola por onde já tinha passado … e agora? … estou chateado e cansado com esta confusão … estava a correr tão bem páh.

Solução … encontrar o caminho para Schellenberg que tem um Castelo … lá devo voltar a encontrar as placas. Pergunto a uma senhora se Schellenberg fica na direcção em que vou …. diz que sim, sempre em frente a subir … entro pelo monte dentro, por trilhos e estradas florestais … tem vários cruzamentos mas eu confio na senhora e sigo sempre o mais em frente possivel, a subir … uns dois km mais à frente saio numa estrada … ligo o GPS do tlm para ver para que lado é … estou a ca.2km … sigo pela estrada, e já vejo a localida e o Castelo um pouco mais acima … tem que ser isto … e é mesmo. Um pouco antes do Castelo reencontro as placas do meu caminho … ufa ..., siga … 




Agora é seguir um antigo caminho de contrabandistas … até Mauren sempre a correr a descer durante 3 km. Passo pelo centro de Mauren e a única coisa que verdadeiramente me chama atenção é uma casa com uma bandeira portuguesa à janela. 






De Mauren a Schaanwald são uns 4km que faço a correr … doi-me tudo e já so quero acabar com isto … vai dar menos km que previsto, muito provavelmente por causa das confusões em Rugell no inicio desta última etapa. Que se lixe … a um km da “meta” começa a chover a sério … tinha que ser ...  😉 




Feito, bem dentro do tempo que tinha estabelecido … deu menos 3km que o oficial mas mesmo assim chegaria bem entre as 10 e as 12 horas. 

Foi uma bela de uma jornada que me deu a conhecer resumidamente o Principado do Liechtenstein. Fiquei a conhecer as localidades principais, a saber onde ficam, vi por fora praticamente todos os Castelos, Igrejas, Museus, Capelas, Campos de Futebol e piscinas da região que é absolutamente linda … um ambiente calmo, mesmo nas “cidades” que mesmo para Portugal não passariam de pequenas vilas. Ali vive-se a natureza, especialmente a montanha … pouca indústria vi, embora tenha visto algumas marcas de renome mundial ali com a sua sede (a HILTI por exemplo). Mas atenção a um pormenor … é extremamente caro … uma pizza e uma cerveja nunca por menos de 30 euros … não é apenas a legislação que é suiça, usam a mesma moeda que é o CHF (franco suiço) e o nivel de vida também. O que gostei mais? Mesmo que o ambiente dos Alpes e tudo que envolve seja qualquer coisa de maravilhoso o meu destaque vai para as pessoas … cruzei-me com dezenas de pessoas, não houve uma, desde as crianças mais pequenas aos mais velhos que não me tenham dedicado um “Hoy” sorridente que é o nosso equivalente ao “olá” … viajo muito e é muito raro ver isto …  

Bem, e foi assim o meu Liechtenstein Weg. Adorei embora me tenha ficado um ligeiro amargo de boca ao olhar para o alto das montanhas … são vários picos a cima dos 2000m que ficaram por visitar por causa do mau tempo. Lá terei que voltar um dia destes, quem sabe num verão 😉