quarta-feira

Volta a Santa Maria da Feira 2021 - venham connosco...

 

Luis Lobo, João Sousa e Carlos Cardoso ... que medo

Era sábado de manhã, o tempo estava seco, a temperatura bem fresquinha ainda  quando o relógio apontou as 7h08 e estes 3 estarolas arrancaram para a Volta ao Concelho da Feira onde o principal objectivo era colocar os pezinhos em todas as localidades do Concelho – 31 no total.

Carregado nos nossos relógios um track que nos iria servir de guia, as nossas linhas mestras para que não houvesse falhas. Pai desta “criança” e mentor deste projecto o Domingos Gomes que infelizmente não pode participar. Como já tinha referido no texto anterior, esta ideia já tem uns 2 ou 3 anos, nasceu do Domingos que a partilhou comigo … precisamos deste tempo todo e uma pandemia para que a aventura andasse para a frente. 

A primeira versão era mesmo uma volta (mais por fora) que se não me engano dava uns 115km … depois a ideia passou para ir a todas as freguesias e atingiu 135km, depois era fixe ir ver alguns pontos altos em cada localidade e passou para 150km, mais uns acrescentos e já eram 155 para finalmente acabar nos 160km com os quais arrancámos. Escusado dizer que não me atrevi mais a questionar o Domingos porque como podem ver, cada vez que o fazia a distância aumentava 😊

A noite anterior tinha sido curta … o comboio do Luis atrasou um pouco e já jantamos perto das 23h. Deitei-me quase à uma da manhã para levantar às 6h … eram 5h e pouco e já estava bem desperto … embora poucas horas tenho a dizer que foram bem dormidas e ao contrário de muitas outras vezes estava bastante tranquilo – não sei se foi por já ter alguma experiência nesta coisa de longas distâncias, por ter feito uma boa preparação, por ir correr em “casa” ou por ser uma aventura com amigos – talvez um pouco de tudo.

o Luis com o seu pequeno-almoço habitual ... sande de queijo e uma cerveja

Um velho Perneta (eu), um Jovem Traquina (João) e um Alentejano de gema nascido no Algarve (Luis) … falando português é caso para se dizer … fodeu-se 😊

O cenário para a partida e chegada só podia ser o majestoso Castelo da Feira, ex-libris do nosso Concelho … o início do percurso levou-nos pelo parte velha da cidade para passar pela Camara e seguimos em direcção a Arrifana, passando por Sanfins e Fornos … esta parte é maioritariamente a subir. Logo nos primeiros km deu para perceber que o track não era 100% fidedigno visto os pontos GPS estarem um pouco afastados … nada que já não estivéssemos à espera e fácil de resolver para quem tem alguma experiência e ainda por cima conhece a zona razoavelmente bem. Nestes primeiros km tivemos a companhia ainda do Tiago que apareceu de surpresa no Castelo.




O percurso quase todo foi um misto entre estrada e trilhos … a primeira metade viria a ter mais trilhos e a segunda mais estrada.

Chegamos a Arrifana com ca. de 8km, um ou outro pequeno engano e a um ritmo bem razoável para quem começou logo de início a caminhar nas subidas que apareciam. Só corremos em plano e a descer de forma a poupar energia. Os meus dois compinchas são autênticos cavalos de corrida, muito mais rápidos que eu, mas dos 3 o que tinha experiência nesta coisa de longas distâncias era eu … e como sou o mais velho eles só tinham que respeitar a táctica, certo? Certo 😊 … além disso isto era um “passeio” e não uma competição.


A única preocupação era o Luis Lobo ter que apanhar o comboio no domingo, às 15h em Espinho. Temos tempo …

Chegados a Arrifana o percurso começou a descer por Escapães em direcção a Milheirós e à famosa Praia Fluvial da Mamoa (onde o Tiago nos deixou), de onde continuamos para Romariz pelo caminho mais longo mas também mais bonito .. pelos montes 😊 … aqui o ritmo baixou um pouco devido ao tipo de piso bastante empedrado. A equipinha continuava muito bem-disposta, a contar histórias e na puta da galhofa como deve ser. Andamos muito por Romariz, por montes e vales, por umas estradas antigas em pedra tipo vias romanas, por campos, fomos à Igreja e só falhamos o Castro (por pouco) porque nos enganamos no percurso.





O calor já se começava a fazer sentir e lembro-me bem que por volta dos 20km me estarem a doer as pernas e ir a pensar que ainda era muito cedo para isso acontecer – não entrei em grandes alarmismos pois já me tinha acontecido em outras ocasiões.

De Romariz seguimos pela periferia de Louredo onde uma senhora simpática nos deu água fresquinha de um poço para abastecermos os bidons – gente boa encontra sempre gente boa pronta a ajudar 😊. A temperatura tinha subido bastante e já se suava bem mais e por isso era preciso repor mais como é lógico. Muito se bebeu e muito xixizinho se fez … sempre a controlar a cor para antecipar qualquer sinal de desidratação. Seguimos pelo Vale, passamos na Igreja e seguimos direcção a Gião.




“Ó Daniiii” … grita o João Sousa … nem um minuto depois o Daniel está cá fora, outro minuto depois chegam as minis pretas e a sangria fresca que naquela hora souberam que nem ginjas … obrigado ao Daniel, que durante a tarde nos 10.000m de pista no Campeonato Regional em Vagos viria a bater o seu recorde pessoal ficando no minuto 34 … ganda cavalo 😊

De Gião seguimos para Guizande (mais um Igreja) para de seguida chegar a Pigeiros … depois de bastantes km em alcatrão, junto ao Parque de Lazer de Várzea entramos novamente em trilhos, estes que nos são sobejamente conhecidos, sempre junto ao rio Uíma até às Caldas de S.Jorge … pelo meio atingimos a marca da Maratona com uma média aproximada de 8,45m/km … demasiado lento pensarão vocês, demasiado rápido digo eu 😉 … mas siga …







Nas Caldas aproveitamos as Fonte nas Termas para voltar a abastecer de água fresca. Agora era entrar nos passadiços e seguir em direcção a Fiães … 6km para o primeiro abastecimento organizado … venha o nosso almoço que a barriguinha já pede algo mais consistente do que barras energéticas!!!

Chegamos primeiro que o almoço, eram 14h 😊 … 2 minutos depois chegava a Ana (esposa do João) com uns franguinhos de churrasco, broa e batata frita … para acompanhar umas minis frescas. Maravilha. Chegaram tb os meus pais com uma aletria e com a Pikinita que nos iria fazer companhia nos próximos 36km. Aproveitamos para descansar um pouco … as pernas já acusavam os 50km percorridos e íamos entrar na tarde que além do calor nos iria oferecer a parte mais difícil do percurso que na teoria seriam as serras de Canedo, o Quintal dos Pernetas. Objectivo era chegar ainda com luz do dia ao Carvoeiro (86km) onde nos esperava o nosso jantar … sim, aqui só se pensa em comer e beber 😊






ela é negra car@%$%

Obrigado pelos franguinhos Ana

a Pikinita pronta para o treino de 36km

Luis com enorme apoio da filhota

a minha Pikinita é gira ... e vê mal ;)

os meus velhinhos não falham .. a minha mãe dá-me cabo da cabeça por causa destas loucuras mas é a primeira a dizer presente

vai estar solzinho durante a tarde...

hidratar bem é importante ...


tá na hora de seguir viagem ... obrigado a todos!!!

Faltavam poucos minutos para as 15h quando arrancamos fazendo os passadiços até ao fim, saindo na Tabuaça em direcção a Lobão que atravessamos de lés a lés …novamente um misto entre estrada e trilhos que nos custou para caraças. Não foi pelas subidas, ou pelo pico do calor … pode ter ajudado talvez, mas foi porque é normal que assim seja … nestas coisas das muito longas distâncias a partir do momento em que a coisa deixa de ser quase só física o psicológico faz toda a diferença … e esse oscila entre o fantasticamente bem capaz de vencer todos os obstáculos do mundo e o mais fundo dos poços negros que possamos imaginar, às vezes numa questão de minutos. Mas tb sei pelas experiências que já vivi que por mais fundo que esse poço seja, se tiveres a força para continuar e juntando uma boa dose de paciência, ali ao virar da esquina, vem novamente um momento bom.




não estava fácil nesta altura ...

Não estávamos no poço mais profundo, longe disso, mas estávamos a passar a pior fase até ao momento. Acho que o facto de estar ali a Pikinita nos ajudou bastante porque sempre se foi falando e rindo das misérias pelo que estávamos a passar. Os meus pés já acusavam o esforço e já sabia que não me safava das famosas bolhas .. ainda por cima tivemos uma travessia de rio que não se consegue evitar … molhar os pés com eles no estado em que estava não é aconselhável, por outro lado a água fresca do ribeiro no momento soube pela vida.







Mesmo assim chegamos à D.Alice  (lugar de Parada, Louredo …68km) no tempo previsto … gastamos as 3h que tínhamos para lá chegar … hora de uma última pausa antes de entrarmos definitivamente nas serras. Lá estava o Bruno e o Elisio no apoio – já não deu foi para eles nos acompanharem até ao Carvoeiro como estava previsto. Mais umas minis, água com fartura e as famosas sandes de presunto com ovo que foram colocadas na mochila – ainda não havia fome e os próximos 18km seriam de pura serra sem hipóteses de reabastecer – há que prevenir.

Bruno, Elisio e Sérgio no apoio ...

não sei se já tinha referido, mas é importante não descurar a hidratação

Até ao Marco dos 4 Concelhos foi praticamente sempre a subir por trilhos empedrados e estradões em terra … lá chegados tínhamos o Sérgio (amigo do João) à espera … tinha-nos trazido de mota o que sobrou do garrafão da água que tínhamos comprado na D.Alice … grande Sérgio, obrigado 😊 … aproveitamos a famosa mesa dos presidentes para morfar a sandocha, descansar um pouco e meter uns Guronsan Energy no bucho. Sigaaaa…


sempre a subir...

Os próximos 2km foram na crista da Serra …é o nosso Quintal, conheço cada cantinho daquilo mas por mais que lá volte é sempre um deslumbre. Era fim do dia, já se notava que o sol se iria por daqui a pouco mais de uma hora … a temperatura estava mais amena, as cores primaveris da serra lindas de morrer … um quadro fantástico. Ainda há 1 hora atrás estávamos a “morrer” para chegar à D.Alice e agora estávamos vivinhos da Silva a curtir cada momento …

… alto do Camouco, ponto mais alto de todo o percurso!!! Eu sou suspeito, mas aquilo é lindo … podes vir cansado, mas basta olhares à volta, inspirar duas vezes fundo e absorver todo aquele cenário para recarregar as baterias num instante …









Uma catrefada de fotos e siga que se faz tarde … agora é descer às margens do Inha .. são 4km que não são fáceis pelo tipo de piso e a inclinação que além de te dar cabo dos posteriores são um massacre para uns pés que já vem massacrados – é que a brincar a brincar já levamos 75km. Evitamos a descida habitual dos Trilhos dos Pernetas e optamos por uns estradões menos técnicos … a inclinação é a mesma mas os pés agradecem o piso menos empedrado.



O rio Inha lá corre calmamente em direcção ao Douro … anda muito limpo e por isso transparente nos últimos tempos. Uma maravilha esta zona ribeira … no lugar do Inha encontramos o Domingos que aproveitou um tempinho que tinha para fazer um treino e nos vir dar o seu apoio pessoalmente .. tenho mesmo muita pena que não lhe tenha sido possível participar porque ele merecia, é o pai desta criança.

cá está ele ... o pai da criança, o Domingos ...

Estava a escurecer muito rapidamente pelo que optamos seguir para o Carvoeiro por estrada e não por trilhos como nos dizia o track. Primeiro subindo por Val Cova (Canedo), zona onde atingimos os 80km e consequentemente metade da aventura, e depois descendo até ao Carvoeiro, perto de 4km sempre a correr a bom ritmo.


Chegamos ao Carvoeiro (Aldeia de Portugal pertencente a Canedo junto ao rio douro) pelas 21h15 com 86km como previsto e lá estava o Carlos Oliveira com um abastecimento de luxo à nossa espera. Tb estava lá novamente a Ana, o filhote, a Barbara (filho do Luis) … sabe tão bem ter os nossos por perto nestas coisas – eu tinha a minha Pikinita que embora estivesse cheia de vontade por continuar iria dar o seu treino por terminado.

quem pode pode ...

que luxo ... ganda Carlos Oliveira

Sopa quentinha para aquecer (o tempo estava frio), uma massaroca que a minha mãe tinha feito para nos encher de hidratos, aletria, chocolates, fruta, barras, cerveja, cidra, Coca-Cola e nem sei mais o quê. Grande Carlos Oliveira que tb nos deu uma musiquinha religiosa à chegada – talvez como extrema unção 😊 … também nos transportou uns sacos com uma muda de roupa, os frontais e mais alguma comida para enfrentarmos a noite o mais preparados e confortáveis possível. Aproveitamos para descansar bem … mesmo com todas as dificuldades desde o almoço tínhamos conseguido manter a média com que saímos de Fiães … ligeiramente abaixo dos 10m/km.

Estava com frio … tinha mudado de roupa, colocado umas camisolas secas, optei por manguitos em vez de térmica de manga comprida e um colete corta-vento. Não tinha colocado luvas no saco – da próxima não esqueço – sempre a aprender. Ali junto ao rio Douro faz mais frio ainda. Siga mas é.

Siga que se faz tarde ....

Saímos do Carvoeiro por volta das dez da noite … beijoca à Pikinita, despedir daquela malta boa e siga que se faz tarde … venha a noite, uma experiência nova para os meus dois compinchas de aventura. Com a paragem a média tinha aumentado para 10,40m/km.

Seguimos em direcção a Vila Maior num percurso que ia alternando trilhos e estrada … como sempre as primeiras centenas de metros depois de uma paragam são feitos a caminhar para desenferrujar as pernas e o esqueleto e acomodar os pés cheios de bolhas nas sapatilhas. Foram 9km para chegar ao Campo de Futebol de Vila Maior onde tínhamos o António Martins à nossa espera para fazer um treino nocturno – tinha combinado com o João acompanhar-nos dali. Foi bom ter companhia nova … ao fim de tantas horas um elemento novo trás sempre novas conversas que ajudam a distrair a mente.


Próximo objectivo era o alto do S.Bartolomeu em Sanguedo onde nos esperava a Teresa e o Flávio com um belo termos de café quentinho. O desejo por um café era mais que muito … seria meia-noite e o último café tinha sido na D.Alice há umas boas 8 horas atrás. Mais um percurso misto de estrada e trilhos … mais trilhos com a conquista de Sanguedo a ser feito pelo gasoduto onde o João atingiu pela primeira vez a marca dos 100km a pé … estranho um moço com tantas maluquices feitas ainda não ter feito esta marca. Fartamo-nos de rir com aquela ideia de os primeiros três dígitos dele terem sido feito em Sanguedo … todos nós planeamos uma prova mítica, numa bela serra ou montanha para os fazer … qual Mont-Blanc. Gerês ou Estrela … o João Sousa fez os seus primeiros 100km em Sanguedo 😊

Aquele café no S.Bartolomeu (e uma fatia de pão de ló) soube pela vida … a sério … obrigado Teresa e Flávio … é daqueles momentos em que já podes morrer que vais feliz … mas não podíamos morrer ainda porque ainda havia uns 55km para fazer … sigaaa … mas antes ainda nos fartamos de rir porque a boa disposição reinava e o Tiago decidiu voltar a aparecer vestido de pijama e robe e com uma camisola dos Pernetas por baixo … estava na cama, e lembrou-se de vir ver como a coisa estava a andar … a sério??? Só nos aparecem doidos.

100km em Sanguedo não é para qualquer um ...

mais uns anjos que nos apareceram ... obrigado Flavio e Teresa
 

Siga para o Parque de Lazer de Argoncilhe – que não vimos porque decidimos seguir um caminho diferente e deu merda 😊 … de noite todos os gatos são pardos 😉. Mas vimos o pavilhão desportivo, a Igreja e o Campo de futebol … foi durante este percurso que o João levou com a marretada do sono … que riso … o moço praticamente a dormir de pé parecia que tinha bebido uma dúzia de gins … com piadas, cantorias e a levar o rapaz pelo braço lá se foi avançando … o sono é tramado e às vezes basta dormir 10 ou 15min para resolver o assunto – mas era para seguir … isso passa 😊 … seguimos para a Vergada, atravessamos a nacional N1 novamente para chegar a Mozelos via Nogueira da Regedoura.



O track levava-nos agora em zigue-zagues por Mozelos, SP Oleiros até à Quinta do Engenho Novo em Paços de Brandão. Decidimos descer a estrada que vem do Picoto a direito … foram praticamente 5km seguidos a correr a bom ritmo desde a Igreja de Mozelos, passando o Continente de Lamas, Galp, Corticeira Amorim, Linha do Vouga, Fábrica de Papel, Hospital de Oleiros e finalmente a Quinta do Engenho Novo … estes km foram feitos em silêncio, apenas se ouviam os nossos passos e o arfar dos cavalos.


O track levava-nos pelo interior da quinta mas decidimos fazer por fora – era noite cerrada, não havia nada para ver. As minhas pernas já ganiam (penso que a dos companheiros tb) e aquela subida veio mesmo a calhar para nos obrigar a caminhar. Vinha um pouco preocupado com o Luis que se vinha a queixar de uma dor lateral num pé desde os 80km. Cremes e anti-inflamatório não estavam a ajudar, mas como ele mesmo dizia … “não está pior, estabilizou” … alentejano duro do catano!!! 118km percorridos. Já não faltava tudo mas voltou a entrar-se numa fase complicada, mais um poço 😉

A noite, os cansaço e o conta quilómetros que parece não querer andar … quem já passou por isto sabe do que falo. Ficamos rabujentos, como costumo dizer tipo “Gru-maldisposto” … passamos pelo centro de Paços de Brandão e o próximo ponto era o Parque de Lamas … se fosse a direito era um tirinho, mas o percurso leva-nos a fazer uma volta pelo Museu do Papel, ou seja, chegamos a andar para trás. Numa altura destas em que vais literalmente fodido da vida é muito mau, ainda por cima conhecendo a zona e sabendo que encurtavas a coisa em praí um quilometro … agora dá para rir, mas acreditem que um quilómetro naquela altura vale ouro.



É a vez do Luis Lobo levar com a marretada do sono … quem se apercebe do zombie a caminhar e a dormir ao mesmo tempo é o Martins que o agarra pelo braço … estão a ver o Pai da noiva a levar a menina ao altar? … é mais ou menos isso 😊 … estes episódios ajudam, fazem rir e lá se vai andando. Houve outro episódio que ajudou .. um telefonema do Albuquerque … eram 4 da manhã e estava a perguntar onde estávamos e que precisamos. Caféeeeeeeeee…. o meu reinado por um café!!!

Foi já à saída de Lamas, na variante para Lourosa que o Anjo Albuquerque apareceu … cafezinho quentinho maravilha, regueifa doce aquecida com manteiga ou manteiga de amendoim, bolachas … um luxo… eram 4h30 da manhã, tínhamos ca.125km feitos. Albuquerque, és um anjo!!!


Pouco depois estávamos a passar a zona da Pedreira em Lourosa – consegui um objectivo que era passar Lourosa de noite para ninguém me ver (um dia destes levo uma carga de porrada daquela malta que nem é bom … é brincadeirinha pessoal, não levem a mal 😉) … descemos a S.J Vêr onde junto ao estádio estava um carro com a porta aberta … era o Alcides Barbosa que apareceu para fazer companhia nos últimos km.


Seguimos para Rio Meão altura em que o dia começou a nascer … tenho por experiência que o nascer do sol costuma ser um pau de dois bicos. O alivio de a noite já ter passado e um inexplicável perder de energia (já me aconteceu por duas ou três vezes) … desta vez foi um pouco diferente, pelo menos para mim … naturalmente cansado das quase 24 horas a correr e caminhar até que estava animado … ainda bem.



João, Martins e Barbosa a guarda-costas ... um luxo

Passamos pelo meio do Europarque a bater as 24h e com sensivelmente 135km feitos. Seguiram-se Espargo, depois Travanca … o percurso leva-nos pelas Igrejas destas freguesias. De vez em quando alterávamos o percurso do track, indo por estrada em vez de trilhos para poupar os pés demasiado massacrados. Isto levou a alguns problemas, termos que voltar para trás … nuns sítios mais distância e noutros menos. Isto não seria problema absolutamente nenhum se fosse num treininho normal, agora nesta fase em que a tua cabeça já só faz contas para chegar é complicado e faz sair o tal “Gru Maldisposto” que há em ti.




O Martins que conhece bem a zona diz que provavelmente não vamos passar no Souto … o João dizia que devíamos lá ir … eu queria que o Souto se fodesse na altura … o Luis não queria saber de nada … para o Alcides estava tudo bem … para ir ao Souto a volta seria maior … vamos seguir o track!!!

E seguimos para Mosteirô … reconheci o caminho do percurso  “Travessas e Vielas” e a fazer contas de cabeça achava que assim só íamos fazer 150km ou até menos. O João só dizia que tinha que fazer 100 milhas nem que andasse às voltas ao Castelo e apetecia-lhe apertar o pescoço a mim e ao Luis  … o Luis continuava a dizer que por ele tudo bem mas lixado do pé e a cara dele a dizer que só quer chegar o mais rapidamente possível … eu apetecia-me apertar o pescoço ao João por querer fazer 100 milhas … o Martins e o Barbosa a assistir de 1ª fila a este espectáculo sem pagar bilhete … maravilha.

A verdade é que ainda demos uma volta ao quarteirão em Mosteirô por umas vielas lindíssimos que já conhecia e que valem mesmo a pena quando não tens mais de 140km nas pernas. O sol já batia mais forte novamente. 






Chegados à Igreja de Mosteirô decidimos de manter a táctica de evitar trilhos e fazer o percurso por estrada … corremos enquanto foi a descer e plano até ao Ecoponto e nas subidas caminhamos … foi na subida para Fornos que nos apareceu esta placa …

safamo-nos ... ufa ...

… salvos … afinal sempre se coloca o pé em Souto e com isso o objectivo de ir a todas as 31 freguesias do Concelho ficava completo.

Mas não pensem que o ambiente melhorou … o João estava lixado porque queria fazer 100 milhas … agora dá para rir das nossas figurinhas porque a nossa cabeça é do caraças … e começou a fazer piscinas para acrescentar uns metros à distância dele …

Último cruzamento já em Fornos e já cheira a Castelo … pouco mais de 1km para a meta. Eu estava de rastos física e psicologicamente. Estava feito mas não conseguia estar radiante o que é estranho.

Já se vê o Castelo … lá vem o João em mais uma piscina para se juntar a nós e acabarmos juntos esta aventura. Pouco passava das 10h.



Á nossa espera a Pikinita, a Barbara, a Ana, o Igor, o Sérgio, o Badolas, a Andreia, o Martim, umas minis e umas coca colas frescas. Foda-se, está feita!!!! Objectivo cumprido e bem cumprido … 27h e uns minutos, ca.155km no meu relógio, 156km no do João e o do Luis tinha desligado com 21h (por isso não conta, vai ter que repetir 😊). Um ritmo médio abaixo dos 10,30m/km o que para esta distância é muito bom, pelo menos para o meu nível. Fantástico!

ganda Sérgio ...

Badolas, Martim e Andreia

Mas acham que já acabou? Só mais um bocadinho porque o João continuava a barafustar e que ia fazer as 100 milhas …vais, mas não vais sozinho… ele arrancou, juntou-se o Martins … eu tirei a mochila e juntei-me … demos 4 voltas ao Castelo e depois formos dar um giro maior que já estava a ficar ourado … 4km a um ritmo “infernal” que chegou a baixar ligeiramente os 5m/km … acreditam? Pois … o que a mente consegue fazer … há uns 10 minutos estava todo lixado a arrastar-me a cada passo, agora ali estava eu a correr a 5min/km com quase 160km nas pernas e sem dormir há 27 horas… coisas que se aprendem, o nosso corpo e a nossa mente são fantásticos 😉



cá vem ele a acabar as suas primeiras 100 milhas ...

Pronto … chega que isto já vai longo.

Resumindo, mais uma aventura das grandes concluída, mais umas belas experiências e histórias para contar … uma vez mais com amigos por perto. Não posso pedir mais.



Obrigado João e Luis por terem embarcado nesta brincadeira comigo e desculpem lá qualquer coisinha 😉

Obrigado a todos vocês que nos ajudaram e foram tantos, no apoio no terreno a acompanhar em parte, com abastecimentos, com mimo, por telefonema, sms ou a mandar uns bitaites nas redes sociais aos vídeos que íamos postando. Tudo isto é mesmo muito importante porque te sentes apoiado, sentes que tem pessoas que estão a acompanhar e a torcer para que a aventura tenha um final feliz, muitas que nem te conhecem pessoalmente. Muito mas mesmo muito obrigado a todos!!!

Venha a próxima … vamos lá ver se o Mestre Moutinho tem uma carta de condolências para mim 😉

ca puta de tripla ...