A minha participação
no Trail da Pampilhosa veio na sequência de um convite/desafio feito pela
Anabela (do blogue Run Baby Run). Como já andava com saudades de participar num
trail, não era muito longe e era a um sábado ao fim da tarde (o que dá sempre jeito
para a malta ir e voltar sem ter que pernoitar) convidei uns amigos e pronto –
no total eramos 6 elementos.
Como sabem estou a
finalizar a preparação para a Meia Maratona do Porto, onde tenho um objectivo
difícil para concretizar. Não me perguntem onde vi isso, mas achava que este
trail iria ser fácil, com pouco desnível e muito corrivel de início ao fim,
pelo que a minha ideia era fazer um treino bem ritmado – santa inocência.
No sábado, a malta de
Fiães e arredores (Eu, Badolas, Zé Miguel e Pedro Lino) lá nos encontramos na
Feira com o Filipe e o Orlando à hora combinada (12.30h) para apanhar o “avião”
– um belo de uma Station Wagon da Lancia, de 7 lugares com montes de espaço e
uma catrefada de luxos a que o pessoal não está habituado - o cunhado do Filipe
é um santo !!! Um bólide ao nível da equipa J
O condutor foi o
Filipe e o mestre de navegação o Zé Miguel (cognome “Mister GPS”) – a viagem
correu bem, foi divertida e passado pouco mais de duas horas estávamos a
“aterrar” nessa bela localidade que é Pampilhosa da Serra...
Passamos por uma terras com uns nomes bem estranhos....
…eu disse que estava a
correr bem? Pois…mas mesmo à entrada de Pampilhosa, o Mister GPS decidiu
ignorar uma placa que dizia “Centro” e mandou o motorista virar à esquerda,
enfiando a “camioneta” por umas vielas estreitas, a descer a pique…demoramos
quase tanto da Feira a Pampilhosa como nos 500m que tivemos que fazer dentro de
Pampilhosa…um dos moradores teve que vir arrumar o carro dele para a malta
poder passar….acho que teríamos sido “linchados” por interromper a sesta daquela
malta não fossemos sempre a gritar “alto lá, somos amigos dos Run Baby Run”,
uma espécie de salvo-conduto que funcionou muito bem…chegados cá baixo à Vila,
junto à Camara lá estava a Anabela à nossa espera para nos dizer, que o melhor
sitio para estacionar seria subir a rua principal até um parque que ficava a
uns 100m antes do corte que o Mister GPS tinha obrigado o motorista a fazer, e
que quase nos levava à morte…enfim, gajos de crista a mandar nisto é o que dá.
Estacionamos,
equipamo-nos rapidamente e fomos logo para a camara municipal levantar a senha
que dava direito a lugar no autocarro, que nos iria transportar até à Barragem
de Sta.Luzia, local de partida. Pelas informações que tínhamos, a organização
disponibilizava apenas 50 lugares neste autocarro, por ordem de chegada…por
sorte fomos praticamente os últimos a ter lugar…o meu amigo Badolas ficou com a
senha nr.49….
..não percebi esta
decisão da organização…acho que é obrigação da organização, sendo o local de
partida diferente do da chegada, transportar todos os atletas inscritos até à
zona de partida. Eram ca. de 200 atletas e só havia transporte para 50. Tenho a
dizer que a organização disponibilizava novamente transporte para a zona de
partida ao fim da noite, para que os atletas pudessem ir lá buscar os carros,
mas volto a dizer que acho que não faz sentido…levavam os atletas todos à
partida no inicio e o assunto ficava arrumado. De referir que a Anabela nos
tinha já assegurado um plano B – um dos amigos disponibilizava-se a ir connosco
no nosso carro até à Barragem e trazer o carro de volta a Pampilhosa – não foi
necessário, mas mesmo assim o nosso muito obrigado pela disponibilidade.
Depois de uma breve
espera ali pela Vila, lá nos enfiamos no autocarro que nos levou à Barragem
Santa Luzia – foi já dentro do autocarro que conheci o Rui Soeiro (do blogue “só mais um blogue de corrida”), que se iria estrear no mundo dos trails e estava
ali com a família. O trajecto de ca. de 20km de autocarro, deu para nos
deslumbrarmos com as paisagens imponentes daquelas serras e vales, tudo com
pouca presença do homem visível – lindíssimo,
com um tipo de vegetação muito diferente da minha zona…trilhos amarelos, bem
visíveis serpenteiam por entre a vegetação de diferentes verdes, picadeiros com
desníveis bem acentuados e que me deixaram desconfiado…como é que no meio disto
eles arranjam 19km de trilhos sem grande desnível?
Chegados à Barragem
foi tempo de levantar os dorsais e de conviver com a tribo do Trail ali
presente. Fiquei a conhecer a “equipa da casa” dos Run Baby Run, e pouco antes
do inicio da prova ainda fui com o Orlando e o Filipe fazer um breve
aquecimento…descemos até à praia fluvial e voltamos a subir a correr….aqui já
vi que a maquina estava um pouco “perra”…estava muito calor, ca.30 ºC….as
previsões estavam correctas e seria essa a temperatura que nos iria acompanhar
durante a prova.
O tiro de partida foi
dado às 17h em ponto – partimos quase do fim do pelotão e como quase sempre em
trail, o pelotão começa a afunilar de tal forma que é quase impossível passar
os atletas da frente. Assim foi durante os primeiros 2 km…ia com o Badolas, e
só conseguíamos passar um ou outro atleta de vez em quando, até que começou a
subir a sério….como estava convencido que o mais difícil seriam “apenas” os
primeiros 5km (volto a dizer que não sei onde vi isso), não liguei nenhuma ao
esforço que ia a fazer, para me manter a correr e a um ritmo alto para a
situação em questão…foi sol de pouca dura…logo após o primeiro abastecimento de
água (ca.km3) – que ignorei - e antes de enfrentar a subida mais longa
acabou-se a minha gasolina, quase inexplicavelmente fiquei sem forças…estão a
ver nos videojogos as barrinhas de energia dos bonecos? Pois, a minha já só
tinha meio tracinho…a partir daqui foi um sofrimento para me manter motivado…o
Badolas continuava comigo….até aos quase 6km era a subir, e conseguia-mos ver o
trilho a percorrer até bem lá no alto…íamos a caminhar (apenas corríamos quando
o terreno ficava mais plano durante alguns metros) e ia ansioso por chegar ao
cume daquela serra, pois pensava que a partir dali seria plano e a descer....quando
finalmente chegamos lá acima, o terreno efectivamente ficou plano e deu para
correr durante algum tempo, mas estranhamente não tinha forças….tomei um gel,
para ver se conseguia alguma energia…ia progredindo mas não como
pretendia….depois vieram as descidas e a dificuldade aumentou. As descidas são
o meu calcanhar de Aquiles, muito devido ao meu joelho direito que ainda por
cima andava a dar sinais estranhos desde 5ª feira passada, depois de muitos
meses adormecido. Fazia as descidas mais ingremes muito lentamente, com o
joelho a dar sinais de a qualquer momento “partir”….numa das descidas cheguei
mesmo a ter que parar a meio….estas “travagens” faziam com que gastasse mais
energia…estava completamente de rastos, quase morto, pois ou era subidas ou
descidas, terreno plano que é bom e eu gosto para recuperar o fôlego
praticamente não existia.
Sentia que o Badolas
ia muito bem, e o facto de ele não me deixar para trás estava a incomodar-me,
várias vezes insisti com ele para ele se ir embora o que ele sempre recusou.
De vez em quando
apanhava-mos zonas em alcatrão e aí, como que revigorado, conseguia correr sem
problemas, fosse a subir ou a descer – foi o meu lado estradista a vir ao de
cima. Ao km 8, dentro de uma aldeia, tivemos direito ao segundo abastecimento e
novamente apenas água…positivo era, que em muitos pontos do percurso havia
pequenos grupos de pessoas a incentivar, batendo palmas e dando força à malta.
Pouco depois deste
abastecimento, ao entrar num trilho, bati com a ponta da sapatilha direita numa
pequena pedra fixa, e dei um trambolho daqueles…apenas tive tempo de amortecer
a queda com a mão esquerda e rolar sobre o corpo…prontamente o Badolas e mais
dois atletas que vinham mesmo atrás de mim, ajudaram a levantar-me…aparentemente
nada de grave e siga…apenas um susto e a confirmação que um trail sem um
trambolhão não é a mesma coisa J
Até ao 3º e último
abastecimento ao km 14 foi um suplício….não tinha forças, ponto final….estava
com calor, as pernas não queriam andar…o percurso era duro? Era, mas não
explicava tudo….em treino faço subidas mais complicadas a correr e não me sinto
assim…apanhei um dia menos bom? Talvez, mas haverá com certeza outros factores
que contribuíram para isto…
Quando finalmente
chego ao 3º abastecimento, encontro algo sólido para comer….devoro uma banana e
bebo uma garrafa de água de penalty….uso ainda uma segunda para me refrescar…e
descanso uns 2 ou 3 minutos….sigo, mais uma vez com o Badolas para mais uma
subida….agora doí-me o estômago…a ele também, mas pouco a pouco as forças
começam a voltar, parece que sinto a barra da energia a encher, e consigo
correr a subir e até a descer…nem o joelho direito dá mais sinais….é aproveitar
a embalagem e lá vamos os dois por ai fora, a ganhar confiança nos últimos kms
e lugares na classificação…o nosso Bónus final chega a ca. de 2km da
meta….alcatrão…sempre a descer a avistar a Vila de Pampilhosa….ritmos na ordem
dos 3,20–3,40min/km permitem-nos ultrapassar alguns atletas nesta fase final….a
zona de chegada é impecável, bem no centro da cidade, percorrendo a zona da
praia fluvial, por um passadiço de madeira até à meta….cortamos a meta ao mesmo
tempo. Curioso, ainda á meia hora estava a morrer e agora fazia mais 20km.
Sentia-me bem…estranho. Aproveito já para agradecer ao meu amigo Badolas por
ter “puxado” por mim (normalmente é ao contrário) – se me tivesses deixado para
trás eu acredito que chegasse na mesma, mas bem mais tarde. Acho que se
tivesses seguido a tua vidinha ias fazer um resultado muito bom.
Ali na zona de chegada
fico logo a saber que o Orlando ficou em 4º na geral e ganhou o escalão dele em
Vet.3 e que o Filipe ficou em 17º na geral e em 6ª no escalão Vet2. Muito bom. Agora
era tempo de banho no rio…e que bem que soube dar uns mergulhos no rio para
refrescar e recuperar forças. Maravilha. Entretanto chegaram tb o Pedro Lino e o Zé
Miguel e estava na hora de banho, para
nos pormos bonitos e ir ver o Orlando a subir ao pódio para receber a taça
correspondente à vitória no escalão dele…muito merecido…o Orlando é daquelas
pessoas que merece tudo, pela história da vida dele, cheia de infelicidades que
deitariam qualquer um abaixo…mas não o Orlando é um lutador…tem 46 anos, corre
apenas á 10, homem simples, humilde e grande campeão. Neste momento lidera o
campeonato nacional de montanha no escalão dele, ainda faltam algumas provas e
segundo ele próprio, será difícil manter o primeiro lugar, mas mesmo se ficar
em 2º ou 3º, não deixará de ser um campeão na vida.
Depois fomos para a
churrascada, que se realizou no quartel dos Bombeiros…comer umas sandochas de
porco, beber umas cervejas e confraternizar com a malta dos Run Baby Run e com
o Rui e família. Esta malta sabe receber bem – noite agradável (daquelas
verdadeiramente de verão), malta porreira, conversar sobre corridas e beber
umas minis…o que mais se pode querer? Pois, mas aqui os Papa Kilometros tinham
que voltar, e havia 2 horas e meia de caminho para fazer – foi com muita pena
que tivemos que desmontar o acampamento – ainda por cima havia ali um recorde
para bater (35 grades numa noite é obra, parabéns por isso), mas não havia condições – talvez para
o ano – levamos as respectivas famílias e ficamos por ali no Hotel.
O regresso a casa
correu bem….se descontarmos o facto de em vez de apanharmos a direcção de
Coimbra termos seguido uns 20 minutos em direcção contrária para Castelo
Branco…enfim…pormenores J
Foi mais uma aventura
que a corrida nos proporcionou – tive a oportunidade de conhecer os primeiros
colegas bloggers de corrida pessoalmente, tive uma primeira (excelentíssima)
impressão da zona de Pampilhosa da Serra que não conhecia – vou voltar com a
família de certeza – e espero também ter aprendido com os erros que cometi na
prova:
- almocei um prato de
massa e uma fatia de bolo seco às 11.30h – como não tinha fome não voltei a
comer até à prova que se iniciou às 17. É muita hora sem comer.
- não descansei
durante a semana – fiz o meu plano de treinos normal e cheguei à prova cansado.
Da próxima, ou dou um pouco de descanso ao corpo antes, ou levo a prova na
desportiva.
- errei ao analisar a percurso
da prova – andei rápido demais nos 2/3 primeiros km, excesso de confiança por
serem “só” 19km - que a juntar aos dois pontos acima fizeram o resto.
Quanto à organização
do evento, conto algumas falhas graves para uma empresa com tanta experiência
na organização de provas. A história do transporte no início é uma, mas pior
que tudo, é falhar abastecimento de água e sólidos aos atletas mais lentos no
último abastecimento…por fvr, com aquele tempo quente o que não pode falhar são
abastecimentos de líquidos e se sabem que são 200 atletas a participar há que assegurar
abastecimento a todos – eu felizmente não tive este problema, mas ouvi isto mesmo
da boca de um desses atletas que chegaram com 2h e muito.
O percurso era muito
bonito – não tirei o devido proveito porque a minha condição física durante grande parte da
prova não o permitiu. Tb não tirei as fotos habituais como recordação, mas
ainda tenho algumas do antes e depois.
Fica aqui tb o registo
das classificações da nossa malta, embora não seja o mais importante:
Class.
geral |
Escalão |
Class. Escal. |
Nome |
Tempo |
4 |
Vet3 |
1 |
Orlando Valente |
01:28:18 |
17 |
Vet2 |
6 |
Filipe Fontes |
01:36:22 |
73 |
Senior |
26 |
José Coelho |
01:54:59 |
74 |
Vet2 |
15 |
Carlos Cardoso |
01:54:59 |
103 |
Vet1 |
16 |
Pedro Lino |
02:07:09 |
170 |
Vet1 |
27 |
José Martins |
02.28:18 |
Palavra final de
agradecimento (de todos nós) para os Run Baby Run, Anabela, Paul
Michel (força aí nesse mega-objectivo para 2014) e todo o restante grupo, por
nos terem convidado e nos terem recebido tão bem – foi um prazer ter-vos
conhecido pessoalmente. São todos malta 5 estrelas, e conforme falamos,
contamos poder retribuir a hospitalidade quando vierem cá mais a norte – é só
apitar que a malta organiza-se.
Ao Rui Soeiro, esposa
e restante família – tb foi um prazer conhecer-vos – força nesses treinos para
a Maratona de Lisboa e que tudo corra bem lá mais para o fim do ano com a
menina que vem a caminho. Tb já sabes, um dia que venhas aqui ao norte e
queiras conhecer uns trilhos, avisa.
Ahhh… se tiverem
fotos, mandem-me por fvr para casc1972@hotmail.com.