terça-feira

Caminhos do Tejo 2019 ou "o Calvário" by Nuno Lima




Inspiro-me em pessoas normais que fazem coisas extraordinárias!!!



O Nuno Lima está de parabéns, voltou ao lugar do crime e sensivelmente um ano depois matou o bicho. 

Desafiei ontem o moço a escrever uma crónica sobre a aventura … recusou. Hoje de manhã tinha este texto na minha caixa de correio. Boa leitura …

"Boas perneta ! 


aqui vai alguma prosa para as tuas brincadeiras !


As sapatilhas ficaram naquele estado após os 144km da ultra maratona caminhos do Tejo... imagina como eu fiquei😀!. 




Segundo o ditado popular ,há quem diga, que à segunda é de vez! e não é que foi mesmo !  

Pois é, no passado dia 14, aqui o "velho perneta" fez -se à vida , meteu-se no comboio a caminho de Lisboa. Desta vez completamente sozinho e abandonado, pois há um ano atrás tive a oportunidade, ou não, de ter a companhia do nosso ilustre Perneta Mor, Carlos Cardoso. Digamos que é uma excelente companhia, mas tem um problema, dá cabo de qualquer um !. Quando se aproxima o fim, eis que o seu parceiro de longas horas dá-lhe o treco e o mais engraçado é que já não é a primeira vez que tal acontece.


E lá vai o desgraçado sozinho, mais uma vez, repetir o que não terminou. Eu acho que ele faz de propósito, alguma mesinha caseira, ou então, ele é mesmo bom e deita abaixo qualquer concorrência!!!. (acho que as duas primeiras é que são verdade 😀😀!). 


E com o aproximar do inicio da prova (20H de 6 feira), começa aquele nervoso miudinho, pois já sabia o que me esperava até aos 115km e desta vez sozinho e abandonado que nem cão vadio. 


Mentira, senti todo o apoio da família Perneta, são todos uns queridinhos e desde já quero agradecer todo o apoio que me deram, MUITO OBRIGADO, é uma cambada brutal!!! 


E lá começou a prova, como sempre parti em último, deixei-os ir todos à minha frente pois sabia que os ia ultrapassar mais tarde ou mais cedo. Qual não foi o meu espanto que na classificação geral, afinal só passei um 😀😀😀😀😀😀!.


Eu posso explicar porque acabei em penúltimo lugar, foi tudo devido à minha táctica de corrida, ou seja, como sabia que o pessoal da organização nos trata muito bem, é extremamente simpático, dá-nos uns excelentes caldinhos, um franguinho, sandes de presunto sem ovo (as verdadeira só nos trilhos dos Pernetas), uma massa à bolonhesa, pizza e muitas outras coisas óptimas e tudo isto regado com uma boa cerveja preta bem fresquinha... perdi muito tempo, ou não, nestes óptimos abastecimentos . Acreditem que vale a pena, a malta é fantástica, sabe dar bons miminhos ao pessoal, mas nem a todos, porque há aqueles que querem correr!!!!.


De corrida em corrida, de caminhada em caminhada, de abastecimento em abastecimento lá fui andando e a certa altura não sozinho mas na companhia do ilustre presidente da ATRP, Rui Pinho, grande conhecedor destas longas lutas e de todo o pessoal, parecia que ia ao lado do nosso Presidente, Professor Marcelo, eram só beijos e abraços. 


E lá fomos nós os dois, às vezes de mão dada !!! Tinha a estrada toda para ele mas acabava sempre em cima de mim 😀😀😀😀!... Foi uma boa companhia, ajudou-me a superar o trauma do km 115, nessa altura tinha a minha boca a parecer papel de tão seca que estava.


E eu a pensar que já tinha passado o Cabo das Tormentas e dali para a  frente é que foi o verdadeiro calvário, aparece a serra, subidas, descidas, pedras fodid..... nada melhor para acabar em beleza.


Mas foi aqui, nos derradeiros kms que senti o grande apoio da família Perneta, e em especial, do Perneta Mor (ele estava com a consciência pesada de não me ter dado o privilégio de ter terminado o ano passado com ele😎😀😀). Obrigado malta, mais uma vez, pelo vosso apoio.


Lá cheguei a Fátima, e só me lembro do Rui Pinho dizer: "deixei o meu carro ontem no hotel e fui de camioneta para Lisboa, para hoje vir a correr até aqui para o vir buscar!! Acho que alguma coisa está mal !!!!"


E foi assim que se passaram entretanto 24h e 30min. da minha vida, com uma dor de satisfação.


P.S. moral da história: LONGAS DISTÂNCIAS NÂO SÂO PARA MIM!"

segunda-feira

Skymarathon Serra Amarela - brutalmente brutal




Vou escrever sobre esta prova enquanto ainda tenho as pernas tipo cepos a moldar-me a memória J … é justo que assim seja. Que coisa mais brutal aquela vivida ontem …
Antes de mais queria agradecer à Agridoce por me ter lembrado desta prova com um comentário num dos meus posts da semana passada. Quando desisti de ir aos Picos da Europa foi uma das provas que ficou em cima da mesa para se fazer, prontamente eliminada pelo facto de calhar no fim de semana dos Caminhos do Tejo – como a escolha depois recaiu na UTDP a Serra Amarela caiu no esquecimento até ao tal comentário … foi na 4ª feira de tarde … fui espreitar … 48km com 2800m D+, organização Carlos Sá e no Gerês … perfeito … inscrições fechadas mas com um contacto à organização lá se conseguiu meter mais dois aventureiros no pelotão … bye bye treino no percurso longo do Paleozóico, hello Serra Amarela  J
Vidas atarefadas não permitiram ir de véspera para Entre Ambos os Rios a uma dezena de km de Ponte da Barca. Quando o despertador tocou às 5h da manhã foi como ser abalroado por um comboio, estava ferrado e num primeiro instante nem sabia onde estava, que dia era e o que estava a acontecer J … estava tudo preparado de véspera, foi equipar, tomar o pequeno almoço e levantar ancora … eram 7h e estávamos a chegar para levantar dorsal e a horita que tínhamos até à hora da partida tb passou num ápice, entre cafezinho e últimos preparativos. “Levamos os bastões ou não?” … “não levamos” … para ser sincero, nem me lembrei deles durante a prova, em alguns segmentos com certeza que teriam sido uma mais valia, noutros iriam atrapalhar. Ainda deu para conhecer a Agridoce respectiva cara metade  e dar um abraço ao Filipe Torres já dentro da box de partida. 
encontro de Pernetas … a Arménia dos genéricos e eu dos verdadeiros

Uma vista de olhos rápida pela “concorrência” mostrava que hoje não iria ter hipótese de ir ao pódio JJJ … aquilo era só malta magrinha, todos equipados, tudo atletas  dos prós … outros campeonatos J … mas eu e a Pikinita tínhamos objectivos delineados: 
1º - acabar (seria a distância mais longa que a Pikinita percorreu seguida numa prova)
2º - desfrutar do Gerês
3º - se possível entre as 9 e as 10h o que corresponde à média que precisamos de fazer no UTDP

Vou dividir isto por 6 segmentos  com algumas das fotos que tirei - afinal já houve quem me chamasse de corredor/fotógrafo (não sei se com desdém ou não, mas gostei porque até que é verdade) e tenho que justificar a alcunha – embora exista uma diferença entre quem é fotógrafo e quem tira umas fotografias como é o meu caso J
olhó emplastro lá atrás … ganda Xico 


De Entre-ambos-os Rios aos quatro km – o aquecimento 
É a parte inicial, feita quase sempre a correr mesmo nas pequenas inclinações … primeiro para sair de Entre Ambos os Rios para depois entrar numa zona junto ao rio, single tracks típicos do Gerês que misturam terra, raízes e pedras … sempre tudo muito verde, adoro o musgo que envolve e reveste as pedras e os muros … algum congestionamento mas sem stress … temos tempo … pouco depois dos 4km ia começar a primeira grande escalada.



Subida a Louriça – 1250m D+ em 10km
Eu gosto de subir!!! E esta subida quase seguida foi fantástica, muito diversificada e nada monótona. Primeiro fazemos alguns km entre floresta, caminhos rurais em zigue zagues, algum empedrado e uma ou outra localidade. Uma delas é Ermida onde está instalado o primeiro abastecimento aos 7km.


Aproveitamos logo para comer e encher os bidons de líquidos. O pequeno-almoço já tinha sido há algumas horas e até ao próximo abastecimento ainda seriam 8km sempre a subir. 
Estava a suar em bica, embora não estivesse um calor abrasador estava abafado. Também comecei logo a aproveitar as bicas e fontes que foram aparecendo para refrescar a cabeça.

estes foram uma constante durante todo o tempo

 

A boa disposição reinava entre o casalito Perneta&Pikinita, aliás posso adiantar que iria ser assim até final. Foram muitas horas onde podem ter faltado pernas, mas boa disposição e vontade em estar ali nunca faltaram.
Continuamos a “escalada” e pouco depois chegamos às partes mais altas daquelas serras, mais brutas, mais pedra, mais expostas ao tempo. Ficou mais fresco, corre uma brisa … mesmo continuando a subir já não suo em bica. 
E as vistas? Começa a parte dos horizontes longínquos, de vistas de cortar a respiração. Maravilhoso!!! 

ri-te ri-te


Ainda tivemos hipótese de correr numa zona mais plana, passar uma zona de um ribeiro embrenhado numa floresta para depois finalmente chegar a um dos pontos mais altos do percurso a 1350m. 


e fizemos um amigo, o Ian que veio de Manchester passar uns dias ao Porto, ouviu falar na prova e toca a participar






Agora um km em estradão em terra a descer e chegamos ao 2º abastecimento, em Louriça, por volta dos 15km, onde as provas dos 48km e 33km se separam. Era a única barreira horária que tínhamos, 3h30 era o limite e chegamos com 40min de vantagem. Tudo impecável para já. 

Estivemos ali uns bons 15 a 20m … descansar um pouco, alimentar e hidratar bem. Era esse o plano.
Agora íamos descer a Lindoso … esperava-nos 10% de desnível negativo em 7km. Ao subir já fiquei com uma noção do que nos esperaria a nível de piso, e fisicamente não ia ser agradável. Veremos … 


Descer a Lindoso – 700m D- em 7km
Vamos embora que se faz tarde. Soube muito bem aquele 1,5km a descer por estradão em terra. No sentido contrário passa o Ricardo Silva completamente à vontade a liderar a prova e uns dois minutos depois o Mário Elson com a faca nos dentes a tentar recuperar. Eram os dois primeiros que já tinham ido lá abaixo a Lindoso e estavam a regressar – eles com 28km e nós com 16 J … ainda antes de cortar à esquerda e voltar aos terrenos irregulares vimos mais 2 ou 3 dos primeiros classificados mas já bastante distanciados dos primeiros.


Começava o martírio para os quadricípites … já não bastava a inclinação, agora era o terreno aos pequenos socalcos, cheio de pedra pequena fixa e vegetação rasteira. O meu “correr” por este tipo de sitio limita-se aos saltinhos pequenos aos solavancos, meio a mancar. Deve ser bonito de se ver … chego à conclusão que a caminhar não sou mais lento J … mas mesmo a caminhar obriga aos saltinhos, ao impacto constante e às travagens. Isto durante muito tempo foi um desgaste muito grande e comecei a sentir os músculos a arder pela primeira vez mais a sério.

Um alivio quando cortamos à direita e passamos a ter single-track em terra por entre um “ervado” e depois nos embrenhamos num bosque mágico. Aqui sim, deu para correr à vontade e a partir do momento em que deixas de ter que dar aqueles saltinhos de pedra em pedra os músculos descontraem e já não “ardem”.



Ó diabo …

Mas foi sol de pouca dura, para chegar a Lindoso voltam os trilhos com pedra, os saltinhos e é um alivio quando finalmente se vê a localidade onde teremos o próximo abastecimento. Lindoso assim visto de cima é mesmo lindo … ainda teremos de percorrer alguns trilhos e umas estradas empedradas antes de entrar pelas ruas estreitas da vila … é giro passar pelas casas típicas em pedra, os cheiros a bosta fazem  parte, há que ter cuidado em não calcar os montes que estão por todo o lado, nas estradas, nas serras … tb fazem parte e não me incomoda nada J




Ahhh … um tanque e uma fonte a brotar água fresquinha … tempo de refrescar novamente e meter conversa com uma velhota bem-disposta. Foi uma risota … “vocês ainda tem que voltar? Coitados” … “ó senhora, não tenha pena porque todos que aqui estamos vimos porque queremos, e ainda pagamos por isso” … “aiii, mas sobe tanto” … “eu gosto mais de subir” …. “Deus me livre, eu gosto mais de descer … boa sorte” J


Ainda antes de chegar ao abastecimento não podíamos deixar de passar em claro esta zona de espigueiros com o Castelo lá ao fundo … um ar medieval que como é óbvio deu aso a uma sessão fotográfica J … uns metros mais à frente, na Junta de Freguesia estava instalado mais um abastecimento. 22km feitos.





Provavelmente o sitio onde estivemos mais tempo parados … comemos bem, bebemos e reabastecemos de líquidos. Estava na hora de iniciar o retorno a Louriça. 


Voltar a Louriça pelo outro lado da Serra – 7km e mais 1000m D+
O percurso é diferente do que descemos, embora tecnicamente seja muito idêntico, só que é a subir. Eu e a Pikinita subimos bem, sempre a bom ritmo de tal forma que vamos passar uns 4 ou 5 companheiros até ao abastecimento da Louriça.



Enganamo-nos uma vez por irmos distraídos a olhar para as flores campestres em vez de estar atentos a fitas. Foram apenas 200 ou 300m … culpa nossa porque o percurso esteve impecavelmente mercado de principio ao fim. 


O calor voltou a apertar, talvez por ser em cotas mais baixas e neste lado da serra a brisa não ser tão forte. Voltamos a suar em bica e dei por mim a desejar “uma Coca Cola Zero gelada com gelo ou então uma fonte de água gelada” … podem não acreditar, mas a Pikinita não me deixa mentir … nem 5 minutos depois, ali no meio do nada uma Coca Cola Zero gelada J … brincadeira … é lógico que não, mas uma fonte a jorrar água gelada sim … coloquei a cabeça debaixo e foi tão mas tão bom J

Ao subir mais um socalco, agora numa zona de erva verde está um fotógrafo … “ó homem … vocês só se colocam em sítios onde não podemos correr J” … diz o fotógrafo “é para vos apanhar em esforço, mas já agora dou-vos os parabéns … são dos poucos que chegam aqui assim bem dispostos e a sorrir” … “é muito fácil, olhe à sua volta …” … agradeci e seguimos viagem … todos os fotógrafos que encontramos por caminho foram super simpáticos. Ainda não foram publicadas as fotos, mas olhando ao sítio onde eles se colocaram vão sair fotos brutais.
E chegamos ao estradão que nos levaria ao abastecimento. As pernas estavam pesadas mas a Pikinita queria experimentar correr por ali acima. Ainda tentei mas ao fim de 200m comecei a caminhar, tinha a musculatura presa … ela seguiu caminho. Apanhei-a um pouco antes do abastecimento. 29km feitos, quase 2400m D+ em 6h. Bem bom J

Acabaram as subidas, certo?
Foi a pergunta de um companheiro de viagem. O olhar e o sorriso malandro de um dos voluntários disse tudo … é preciso olhar para os pequenos pormenores do gráfico. Vamos sofrer J 


Louriça – Gemil – 9km muito mas muito brutos – 400 D+ e nem sei quantos de D- (1700, 1800??? … não deve ter andado longe)
Esta parte foi brutal em todos os aspectos. Massacrados pelas dificuldades nos 30km que tínhamos feitos enfrentamos agora um terreno ainda mais árido e bruto. Pedra, pedregulhos, calhaus, descidas vertiginosas intercaladas com algumas pequenas zonas planas e de vez em quando umas picadas para ir buscar o desnível positivo que ainda faltava para os 2800m D+ anunciados.


Eram curtas estas subidas mas com as maiores inclinações de toda a prova. Estamos a falar de escaladas, escalar de pedra em pedra usando também os braços além de ter que fazer força nas pernocas. A progressão é lenta e dura. Sorte o sol estar encoberto … o tempo parece estar a mudar, já se nota uma ténue neblina que não impede que possamos desfrutar das melhores vistas do percurso. Serras e Serras, puras e brutas J 









metem respeito, mas tem medo de nós e fogem

Antes de enfrentar mais uma curta escalada a Pikinita diz que precisa de comer qualquer coisa. "Subimos esta e sentamos lá em cima a comer… a vista deve ser mais bonita". Assim fazemos … foram 10 ou 15 minutinhos de puro prazer. Estar ali a contemplar as vistas, a recuperar um bocadinho.

 

Isso é tudo moreno???


Mais do mesmo … descidas ingremes, pedra, calhaus, grandes, médios e pequenos, saltos e saltinhos … um massacre … nunca mais acaba de descer … entretanto chegamos às zonas menos áridas, mais verdes e conseguimos correr porque o tipo de trilho, agora em single-track permite. 


Já se vê Gemil … muito bonito com aqueles socalcos verdes … faz lembrar Sistelo. Para lá chegar ainda penamos um bocado.



37,5km feitos … no abastecimento está a passar a música “Alegria” … meto-me com a senhora do abastecimento a perguntar se a intenção é deprimir ainda mais o pessoal que chega aqui derreado. É uma risota .. ela confessa que é grande fã de circo, e que o sonho dela é ir ver o “Cirque du Soleil” … aparece o marido e eu digo-lhe “ouve lá páh, toca a levar a tua mulher ao próximo Cirque du Soleil” … diz ele “ fodaice, eles só vão a Lisboa e são mais de 400km, e no dia seguinte é preciso trabalhar … eu já a quis levar ao Circo Cardinali que veio a Barcelos mas ela não quis ir” … JJJ foi a risota geral … uns bem dispostos aqueles dois.
Era o último abastecimento previsto … mas iriamos ter uma surpresa. Faltavam 10km para a meta. 

Paradela – Entre-Ambos-os Rios – 6km para correr
Voltam logo as descidas, em estrada empedrada para o Fundo da Villa. Estão 4 velhotas e um velhote a conversa à sombra.
“Boa tarde … sabem me dizer se o primeiro já passou há muito?” … “ó rapaz, já passou de manhã” … “caraças páh, que eu ainda estava a pensar em ganhar isto :”
Fartaram-se de rir e se lhe tivesse dado conversa ainda hoje lá estava J
Mas agora só queríamos acabar. A Pikinita dizia que as pernas dela já tinham vida própria. Eu sentia as pernas cansadas mas ainda davam para correr se quisesse e o piso o permitisse, o que não era o caso.
Mais uma descida bastante técnica para passar um ribeiro, novamente a saltar de pedra em pedra. Mal passamos o ribeiro, passamos pelo meio de dois muros em pedra e logo de seguida mais uma picada daquelas … cum caraças páh. Esta doeu …

Nós a subir e um casal a treinar a descer … dizem que já falta pouco ... "depois de subir descem pelo outro lado … a 1km vão ter um abastecimento em Paradela, que foi montado para a malta dos 23km mas que deixaram ficar para vocês usufruírem."
foi a última "picada" a sério

visto de cima para baixo ...

Começamos a ouvir água, um ribeiro … passamos o ribeiro a saltar por umas pedras numa pequena garganta de calhaus … escalada, misturada com equilíbrio … ver aqui o vosso amigo, com a flexibilidade natural de um garfo aliado ao facto de as pernas já não reagirem a 100% deve valer a pena … acho que até pagar 1 € para um espectáculo destes era barato J … a senhora do abastecimento tinha aqui uma bela hipótese de assistir a um circo, podia não ser o Cirque de Soleil mas acho que ia ter uma bela barrigada de riso J
Continua a descer … agora a água é em parte encaminhada serra abaixo por uns canos de onde sai com considerável pressão …

Lá esta uma pequena localidade … é Paradela e tal como o homem tinha dito um abastecimento que não estava na ementa. 
Tinha dito à Pikinita que só enchia a garrafa de água e seguíamos … mas tb comi mais um pouco de fruta, laranja, melancia, ananás … “quantos km faltam?” … “4,5 … agora é só mais um bocadinho a descer e depois é tudo plano junto ao rio.
Será?
Confirmo que a senhora estava bem informada. Pelas contas no meu relógio ia ter um bocadinho menos que 48km. 
(a partir daqui não tenho fotos … quer dizer, eu tirei … o telefone ficou sem memória e guardou-as em algum sitio que eu ainda não descobri .. sou muito azelha nestas coisas de high-tech)
Finalmente chegamos ao rio … temos que o atravessar agarrado a cordas. Está lá um membro da organização que diz que agora é sempre junto ao rio e que dá para correr até ao fim.
Não foi bem assim … ainda houve uma outra parte digamos que mais técnica, umas travessias de rio, uma ou outro socalco que era preciso escalar, mas de uma forma geral daria efectivamente para correr se houvesse pernas para isso. A Pikinita estava com as pernas desfeitas mas mesmo assim ainda fizemos uma grande parte destes últimos 3km a trotar.
E chegamos à periferia de Entre-Ambos-os Rios … faltava uma subidinha em paralelos que fizemos a correr … a Pikinita “simulou” a entrada de um mosquito no olho para que se chorasse a cortar a meta tivesse aquela desculpa J .
E ali estava a meta … 9h52min depois … 
fotos tiradas pela Agridoce ...

obrigado Agridoce 

Cumprimos todos os objectivos!!!


Foi brutalmente brutal em todos os aspectos. Foi brutal ao desfiar-nos fisicamente e foi brutal a nível de beleza. Deu-nos tareia quase de principio ao fim, mas dava-nos energia e alento a cada espreitadela para o que nos rodeava, fazia-nos querer ver mais e mais.
A organização esteve impecável – as provas do Carlos Sá são caras? Diz que sim, mas normalmente são uma garantia de qualidade. Nas poucas onde participei não notei falhas. Nota-se o saber nos pormenores, nos pontos onde instala os abastecimentos, na qualidade dos abastecimentos onde tem tudo o que precisei (levei géis, levei barras … não usei nada meu), no reforço oferecido no fim (3 pratadas de massaroca bem boa enfardou aqui o vosso amigo) J ou na bela da camisola, diferente das que se oferecem por aí.
a medalha tb é gira, é de cortiça

Eu adorei, mesmo que, olhando aos cepos que tenho no lugar das pernas, só volto a correr daqui a uns dias … espero que a tempo de participar no UTDP que foi para treinar para esse que me inscrevi neste J
ahhh … lembram-se do meu gráfico no inicio deste texto … a realidade foi um bocadinho difente..