Vamos puxar o filme umas horitas atrás. Perto das 2h da
manhã estava a estacionar em frente ao meu prédio, o tempo estava fresco mas
seco. Eu e a Pikinita estavamos a chegar a casa depois de uma noite de farra
(não dessa farra, seus tarados ... ) ... tinhamos ida a Canedo ver o Toy com o
Fontes, Amércio, o Bruno e respectivas familias.
Não é que o Toy seja própriamente do meu gosto músical,
mas como era a convite do Bruno do Intermarché de Canedo e como se conseguiu
reunir um grupo divertido de Pernetas, porque não? Como é lógico e evidente
tinhamos que jantar antes ... como é lógico e evidente marcamos jantar em
Canedo ... como é lógico e evidente não era por termos uma prova no dia
seguinte que nos iamos poupar nos comes e bebes ... e assim foi ... começamos
com um fininho (ou dois) com as entradas, segui-se um vinho (tinto ou branco, ou
ambos os dois) com o jantar e um xiripiti caseiro bebido de penalti oferecido
pelo dono do tasco. Teve sorte que estavamos com pressa 😉
Chegamos em cima da hora ao pavilhão de Canedo ... mesmo a tempo de beber uma cervejita antes do arranque de um concerto que não defraudou as espectativas. Quer dizer ... a gente divertiu-se à brava ... dançou-se, cantou-se e não levamos na tromba de alguns senhores menos bem dispostos porque não calhou 😊 ... e como é lógico e evidente isto tudo dá cá uma sede que nem é bom... o concerto durou hora e meia ... não sei quantas bejecas foram, mas umas 4 ou 5 talvez... mas eram pequeninas 😉
O soninho foi curto, mas o suficiente ... levantamos um pouco antes das 7h. Quer dizer, a Pikinita já tinha andado a pé por volta das 5h com uns dessaranjos intestinais, problemas que se foram mantendo enquanto estivemos em casa, de forma que o pequeno-almoço dela foi uma chã, 2 bolachas e um imodium 😉 ... ahhh ... e pouco antes de sair „virou o barco“ o que aliviou, mas fez tomar uma decisão importante. Ia mudar dos 25 para os 15km e meter o „modo passeio“ on. Não estava em condições de se matar. Eu pelo contrário continuava com vontade de ir à „gadelha“... mesmo com a boca seca que nem um cortiço.
O tempo ainda estava seco. Previa-se chuva forte, S.Pedro até foi amigo e deixou-nos sequinhos durante o tempo que antecedeu a partida e até quase meio da prova. 13 calenses Pernetas em prova ... jasus ...
E lá se deu a partida ... saí forte .. sabia que este percurso é na sua grande maioria em single tracks ... tinha que ganhar o máximo de lugares ao início para evitar o máximo de aglomerados nos primeiros km. Tinha uma noção do que me esperava ... já fiz treinos abertos com a malta que organiza e sei que o Agostinho não faz prisioneiros com os seus percursos ... mais de 1000m D+ em 23km, em pequenas serras que vão pouco acima dos 400m ... um mói pernas daqueles. Também sabia que tinha zonas com bastante tecnicidade e inclinações fortes, a subir e a descer ... o que me preocupava eram as descidas, como sempre.
Ao meu nivel, o ponto forte são as subidas ... a minha intenção era ganhar o máximo de terreno a subir para compensar o que perco nas descidas. Nos planos era imprimir um ritmo forte mas controlado. Simples.
Vamos lá então .... tinha percorrido uns 500m e estava com os bofes de fora e
o coração a querer sair-me pela boca ... olhei para o relógio ... 4,25m/km ...
a sensação era de ir a 3,30 ... deve ser do arranque a frio, só pode ...
Primeiras partes mais onduladas ... corro nas subidas mas sinto as pernas muito cansadas, a coisa não ia. Fonix!!! Nos primeiros km vou insistir na táctica pré-definida ... chateia-me não conseguir fazer algumas subidas a corrinhar ... chateia-me ainda mais fazer as descidas mais técnicas a passo e ser ultrapassado constantemente pela malta que tanto me custou deixar para trás ... ó Toy!!! A culpa é tua ...
Ainda nem 1/3 da prova tinha feito e já ia em modo Gru
Maldisposto ... não me sentia cansado, não me faltava energia, pura e
simplesmente as pernas não queriam andar nas subidas. Faz uma semana tinha feito
umas rampas bem mais longas e difíceis em treino, sempre a correr, e sempre controlado.
A culpa era do Toy, só podia!!
Mais uma descida daquelas, mais 3 ou 4 a passar por mim a grande velocidade e a desaparecer ... ta que pareu páh, desisto de andar à „gadelha“, assim não dá ... finalmente um estradão com piso onde posso dar corda às sapatilhas ... e é o que faço, recupero bastante ... hmmm, já me sinto melhorzinho ... temos de contornar um campo de mirtilos numa colina ... uma subida bem acentuada do lado direito ... olho para cima e vejo meia dúzia de companheiros a caminhar lá no alto ... „é agora“ ... e meto o modo corrinhanço pela colina acima ... o aproximar dos companheiros dá aquela motivaçãozinha extra ... lá em cima vejo-os a cortar à esquerda e a começar a correr, sinal de que o terreno ficou mais plano ou a descer ... e era mesmo, e em estradão ... toca a abrir a passada ... tenho que apanhar aquela malta ... ia de tal forma distraído que falhei um corte à direita ... desci toda a colina dos Mirtilos até quase à parte em que tinha começado e só dei por ela bem lá em baixo ... foda-se ... tenho que voltar para trás ....
... acabou-se ali a „gadelha“ definitivamente ... conformado, saquei meio
gel que me tinha sobrado da maratona do porto, bebi um pouco de água, mudei
a água às azeitonas, respirei fundo e voltei para trás a caminhar colina acima, à procura do
corte que tinha falhado por falta de atenção minha. Ali estava ele, o tal corte
... estaríamos talvez com ca 10km .. aproveitei a boleia de uma atleta do
feirense ... viríamos a passar-nos um ao outro durante quase todo o resto da
prova ... eu fugia nas subidas e nos planos e ela davam-me uma abada nas
descidas ...
Foi assim também com um grupo de meia dúzia de atletas de várias equipas, entre os quais tb o Vitor e o Jorge dos Outlaws ... alguns troços juntos, alguma converseta ... curiosamente senti-me bem melhor na segunda parte da prova e nem reduzi muito o ritmo ... continuava a aproveitar para ganhar algum terreno a subir (embora já caminhasse em boa parte) para voltar a perder esse terreno nas descidas.
Perto dos 15km a subida da escadaria do S.Marcos, com um
abastecimento no topo ... vinha com um grupinho e um deles desafiou-me a subir
a escadaria a trote ... ele desistiu a meio e eu logo de seguida ... fiquei com
as pernas a tremer ... no abastecimento apenas enchi o flask e comi meia banana
... já chovia bem há algum tempo e estava vento ... sigaaa ...
Uma última grande e ingreme subida que reconheci de
outros treinos ... forcei um bocadinho ... depois aproveitei uma das poucas
descidas em estradão para correr o máximo que consegui, antes de entrar novamente em single
tracks até ao rio ... estes foram os mais escorregadios que apanhei e os
cuidados foram redobrados ... quando parecia que a prova estava feita, mesmo a
chegar ao rio, escorrego e dou o único tralho de toda a prova ... um bate-cu daqueles ... ao tentar segurar-me torci o braço esquerdo e tenho a noção que o
podia ter partido ... o dedo indicador da mão esquerda tb sofreu ali qualquer
coisa ... não me apercebi o que provocou ao certo, mas a verdade é que ainda
hoje está um pouco inchado e dorido. Mas não há-de ser nada....
... ali estava a praia fluvial da Mâmoa ... continuava a
chover intensamente, e ali estava o Bruno Gonçalves, speaker de serviço e tal
como eu administrador da página Trail Runners pela Verdade ... tinha dito que
quando o visse na meta que dava a volta e ia para trás para não o aturar… só ameacei 😉 … cheguei 3h16 depois de
ter partido, 23km e mais de 1200m D+ feitos ... molhado, cheio de lama, com
frio … banho quente? Mudar de roupa? Náhhhh … beber uma cervejinha com o meu
menino Bruno que esteve firme e hirto durante toda a manhã a acompanhar a
malta.
Parabéns à malta que organiza o Mâmoa River Trail, especialmente
ao Agostinho que consegue retirar todo o “sumo” desta zona … trilhos muito desafiantes que nos levam pelas serras da redondeza (Milheirós e Romariz), ligando praticamente
todos os pontos de interesse que existem por aqui (destaco a nascente e o próprio rio Úl, a Capela de S.Marcos e aquela colina dos Mirtilos que quando passei estava com uma luz fantástica). No mínimo 70 ou 80% são
em single track e muitas partes bem técnicas … os 2400m de desnível acumulado são
conseguidos pelo constante sobe desce num autêntico parte pernas com muito poucas
zonas onde se pode esticar o andamento. Como já referi, não é propriamente um percurso ao meu
gosto e para as minhas características, mas não é por isso que não tenha sido organizado de forma impecável, não
falhando em nada, muito menos no essencial como marcações impecáveis e
abastecimentos nos sítios certos.
De referir ainda que na semana passada comprei umas Asics
Fuji Trabucco Terra por 53 euros… tinha experimentado no treino molhado de há uma semana atrás com umas excelentes primeiras impressões. Na Mâmoa foi a prova dos nove,
pois teve lama, pedra, muita água, pisos irregulares, inclinações curtas mas brutas que não
constituíram qualquer problema de maior. Excelente conforto e muito boa
tracção. Falta saber como se comportam em provas ou treinos mais longos e ver
tb qual a durabilidade (à primeira vista parecem ter alguns materiais menos duráveis). Uma coisa é certa … excelente relação qualidade/preço.
Próxima paragem … treino de Natal Perneta!!! Até a
barraca abana 😉
Ahhh … Toy, se me estiveres a ler … vai pró carlhes, que
por tua causa não ganhei páh …