quarta-feira

Caminhos de Santiago - Etapa 9 (35km) ou "já cheira a meta"


Com a chegada a Pontevedra a ideia inicial era entre hoje e amanhã fazer os km necessários para ficar às portas de Santiago, a uns 8 ou 10km no máximo., que seriam feitos depois na 4ª de manhã. Seriam etapas mais tranquilas mas daria menos tempo para ficar em Santiago, obrigava a regressar ao Porto no mesmo dia e bastante tarde – e na 5ª de manhã regressava ao trabalho.

Antes de adormecer e a olhar para os mapas mudamos de planos. Vamos tentar chegar a Santiago depois de amanhã – dormimos lá e regressamos ao Porto com mais calma. E para não voltar a mudar de ideias marcamos logo um quarto em Santiago – estava reservado e pago – não havia volta, agora só restava dar à perna J
A noite não foi muito longa mas o suficiente boa para nos encher um pouco as baterias. Depois de ontem ter sido um dia longo e difícil hoje no cardápio estava outro dia mais ou menos parecido – no mínimo esperavam-nos 35km.




E não tínhamos pernoita marcada … o plano era chegar ao Albergue de Peregrinos de Valga, uma pequena localidade que não era uma daquelas que os guias dão como fim de uma etapa clássica. Mais possibilidades de ter uma vaga … depois tinham 70 lugares o que é bastante e nos dava uma certa confiança para sermos uns dos felizes contemplados.  O pior que nos poderia acontecer seria ter que avançar mais um 7 ou 8km até Padrón.
Levantamos cedo, ainda de noite e depois de mais uma vez repetir as rotinas da manhã colocamos os pezinhos a caminho com os primeiros raios de luz por volta das 7h na esperança de encontrar um café aberto para tomar o pequeno-almoço o que aconteceu ainda durante o primeiro km.






Muitos peregrinos que apareciam de todos os lados e convergiam num caminho só que levava para fora de Pontevedra com destino a Caldas dos Reis (para muitos) e Valga para nós J … ouve-se alemão, espanhol, inglês, francês e italiano do casal Stefano&Elana com quem voltamos a cruzar … como sempre, estamos constantemente a ser ultrapassados ao inicio das caminhadas porque vamos atentos aos pormenores do caminho … uma flor, uma seta, uma mensagem, uma janela bonita, um gato à espreita, um cão refilão, um grafitti … tudo serve para parar, tirar uma foto … tenho centenas de fotos de todos os dias tal como a Dora que “sofre” do mesmo problema J. Começo por ter muitas das primeiras horas e vão diminuindo ao longo do dia, um fenómeno engraçado mas que se explica facilmente pelo cansaço se acumular e de muitas vezes ser preciso gerir a bateria do telemóvel até ao albergue.

este coração iria acompanhar-nos quase até Santiago, de x em x km lá aparecia … ia mantendo o desenho e o tamanho mas ia mudando de cor, talvez por os sprays irem acabando..


Elena e Stefano com quem íamos cruzando desde Portugal… 



Como respondi ao comentário do João no post da etapa 8, é com estas fotos que me consigo lembrar de muitos pormenores que aqui relato. Estão em forma sequencial o que ajuda naturalmente a encadear todos os episódios.

Com uns 4 km feitos, um pouco antes de Alba, surge uma bifurcação que indica uma variante deste caminho à esquerda … o chamado “caminho espiritual” que é um pouco mais longo e “religioso”. Decidimos pelo mais curto que já assim não vai ser nada fácil de cumprir dentro do tempo que temos.


Os primeiros km foram muito bonitos e diversificados entre florestas, pequenas localidades e campos com vinhas.  E tudo bastante plano ao contrário de etapas anteriores o que tb facilitava a progressão. 


 

 

Já não falta tudo ...


 

ca gajo lindo e bem disposto ...



Perneta … deixa os animais em paz ..

 

Um pouco antes de Caldas dos Reis paramos para almoçar um bocadillo e beber uma bejeca num tasquinho que nos foi aconselhado pelo meu amigo Ricardo, que tinha cá passado há uns poucos meses atrás e tinha sido muito bem recebido. “Entra como peregrino e sai como amigo” era o lema do Albergue Catro Canos  e foi isso que fizemos J


nham …. 

hidratar sempre … muito importante

este era chato e atrevido … 

Depois de um bom reabastecimento e um descanso estava na hora de seguir viagem. O calor já apertava e o caminho ainda era longo. Por isso Caldas dos Reis e as suas termas não tiveram a devida atenção da nossa parte – o que não quer dizer que não olhássemos com olhos de ver J … não exploramos é as ruas paralelas e outros pontos de interesse como fizemos em muitas outras localidade por onde íamos passando. Queriamos garantir um lugar no Albergue de Valga.


Caldas dos Reis no pico do calor


Ainda foram uns bons 12 ou 13km para lá chegar … um percurso que continuou muito bonito e diversificado. Sol quente que fazia das zonas expostas e sem sombra autênticas saunas. Foi um percurso a dois … durante as horas que demoramos a fazer esta distância não me lembro de ver mais nenhum peregrino na nossa direcção … em sentido contrário lembro-me de um maluco como nós, todo suado e de pele queimada, mas de sorriso nos lábios todo feliz da vida.



uma grande verdade ...

outra grande verdade…

Há algo que eu sempre digo que é preciso ter quando fazemos ultra-distâncias … paciência … sem paciência as jornadas são tão mas tão mais complicadas. Não é fácil, e também nós andamos muito tempo em que não apetece dizer nada, apenas colocar um pé à frente do outro para chegar à meta. E engane-se quem acha que aqui o vosso amigo anda sempre bem disposto … tenho um Gru Maldisposto dentro de mim, que às vezes sai e não é agradável J … a sorte é que não sai assim tantas vezes J … tivemos sorte que tanto eu como a Dora passamos estas fases em alturas distintas. E quando um ficava assim para o “Gru Maldisposto” o outro calava-se caladinho e dava espaço ou então aparvalhava a coisa de modo a que a coisa ia andando … cantou-se, houve calão, parvoíces de toda a espécie e os metros iam passando.






 

E lá estava o Albergue de Valga já com algum movimento à volta … há espaço para nós, uffaa … não me estava a ver a fazer mais 8km para arranjar uma alternativa .. só queria um banho J




Feita e bem feita …. 

Tal e qual … 

A senhora que geria o albergue simpatizou connosco … eramos o 31 e 32, e que se viesse mais alguém iria abrir a outra sala e nos deixava escolher os beliches de baixo. Quando saí do banho fui ter com ela para perguntar se já dava para abrir uma sala nova … sussurrou.me “siga-me” … e mostrou-me um quarto com 2 beliches, para 4 pessoas que só tinha uma cama ocupada. “Se quiseres podem ficar aqui” …. Nem pensei duas vezes … entre ficar num quarto com 20 pessoas e ali qual a dúvida J … é o que faz ser um gajo simpático J



Albergue excelente … ainda deu para lavar a roupa suja toda, descansar um pouco deitados no jardim antes de ir jantar a um snack-bar à face da estrada nacional. E que surpresa agradável foi. Uns calamares fritos e a melhor salada mista do mundo … alface, tomate e cebola com um molho que era uma delicia … tão boooom J … e ainda provamos o doce típico da região, a tarte de amêndoa J





melhor salada do mundo … e de Lourosa também… 


Xixi e cama que amanhã é dia de levantar cedo … amanhã é o grande dia J 

4 comentários:

  1. OOOhhhhh, mas???? Quero mais!!!!

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  2. Essa estátua do peregrino a controlar os pés é mesmo a indicada.

    Não tinha noção que acabavam a peregrinação um dia e no outro iam trabalhar, sem direito a pelo menos um dia de ronha!

    Venha a etapa final :)

    Um abraço

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    1. :) … andamos na ronha os primeiros dias e depois olha, tivemos que dar ao pedal :)
      Abraço

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