Acordamos por volta das 5.30h e apetecia dormir mais.
Tínhamos tudo preparado do dia anterior, até tinha dormido com a roupa que ia
usar hoje. No fundo foi tratar dos pés, calçar e siga.
Bom dia alegria!!! Motivação em alta …
Em relação aos pés a coisa continuava muito sensível e
presa por arames … no dia anterior tinha conseguido evitar fazer bolha no
calcanhar, mas na “almofadinha” do pé direito já havia bolha, pequena e ainda
demasiado funda para poder ser furada e tratada, mas estava lá. E é um sitio incómodo,
impossível de evitar de massacrar ao caminhar. A minha enfermeira pessoal lá
fez o melhor que pode, colocou uma protecção com gaze para ver se pelo menos sentisse menos os impactos das passadas.
O problema pior neste caso não são as bolhas em si … dói
e muito, mas cerram-se os dentes e aguenta-se. O problema maior era o
facto de estar a caminhar na “defensiva” sempre que coloco o pé direito no
chão, de uma forma não natural o que me estava a provocar problemas no aquiles
e gémeo da perna direita. E isso preocupava-me mais do que umas simples bolhas
…
Xixizinho e escovar os dentes … depois do festival da
noite anterior, de um dos miúdos ter estado a vomitar na casa de banho de uma
forma que parecia ter deixado por ali não só o estômago, os intestinos mas tb
os pulmões (pelo menos era como soava), posso afirmar categoricamente que a
casa de banho até estava em excelente estado. A “rosnadela” tinha surtido mesmo
efeito J
Acabamos de equipar no jardim para não acordar ninguém e
siga ainda com ares de noite.
Soninho?? Nahh… que ideia ...
Mal arrancamos sinto um “pikinho” ao fundo das costas …
“óh diabo” … não volto para trás, logo que arranje um cantinho trato dele. Não
foi preciso muito … uns 200m à frente uma casa de banho pública aberta.
Soltem-se os javalis!!!
Hoje havia um objectivo a cumprir … queríamos chegar a
Moldes (Castelo do Neiva) e ficar no Albergue de Peregrinos de lá. São apenas
20 lugares e abria às 15h. O nosso objectivo era chegar lá a essa hora. Pelos
meus cálculos seriam uns 30km.
Nos primeiros km voltaram os passadiços de madeira, as
praias, as gaivotas, os cães vadios e alguns peregrinos. Tudo muito parecido
com o dia anterior. De diferente o pequeno-almoço improvisado comprado de
véspera – umas bolachas marinheiras, uns queijinhos Babybel, uma fruta … só
para desenrascar até encontrar um tasco para comer mais à séria. Pois …
Gooooloooooo :P
O problema é que o percurso, após uns poucos km junto à
praia, nos levou um bocadinho mais para o interior, a percorrer uma extensão
longa em alcatrão ou terra batida onde durante muitos km tínhamos por companhia
apenas terrenos agrícolas e estufas … ao inicio teve piada tentar deslumbrar o
que plantavam por ali … muita alface, couves de diferentes qualidades, milho
entre outros. Foi também a partir daqui que as amoras silvestres começaram a
fazer-nos companhia (e seria quase até Santiago) e com isso um de nós os dois começou
a arranjar mais um divertimento que nos “custou” no mínimo 3 dias de viagem J (e não vou dizer quem, apenas digo que é o ser humano
mais baixo de nós os dois, e que com sono se transforma e fica no mínimo com 3m
de altura J).
não … assim não chegamos lá …
técnicas avançadas de como "secar uns boxers em movimento"
Com o passar do tempo começou a dar fome mais a sério e a
faltar o café. Passamos por uma ou outra localidade pequena sem um café por
perto, mesmo na Apúlia os Caminhos de Santiago passam pela periferia e não quisemos sair do caminho para não perder muito tempo. Ainda foram
uns longos quase 4 km para chegarmos finalmente ao centro de Fão onde alapamos
no primeiro café que encontramos – e não fomos os únicos. Acertamos em cheio …
o pão com queijo, o croissant estavam uma delicia, sem falar no café que era
divinal. E tudo super barato.
já cheira a cafezinho ….
olhó meu "mantorras" … portou-se bem a viagem toda
Retemperados lá atravessamos o rio Cávado (pela ponte,
evidentemente) e seguimos pela linha de costa de Esposende … muita gente a
passear, a aproveitar o sol e as férias … bonita esta zona, onde apenas não
espreitamos as praias que se escondiam atrás de umas valentes dunas. Á saída de
Esposende voltamos a encontrar uns passadiços de madeira que nos levaram entre
floresta e dunas por mais alguns km para depois uns caminhos em paralelo no desviar
para zonas mais interiores, mais longe do mar.
e prontos … eles a darem-lhe …
Hoje o caminho não mais nos levaria para junto da costa …
fizemos uma paragem já depois de Marinhas, num café junto a uma estrada
nacional. Tínhamos “perdido” o Caminho. Apetecia uma sopa, mas como não tinham
e a fome não apertava assim muito almoçamos mais umas bejecas, uns tremoços e
uns amendoins.
no meio do nada o que parecia uma maquina de finos … seria miragem?? ... era água com gelo para os peregrinos … e soube muito bem …
cum caraças … já chegava não?
aqui havia uma maquina de tirar finos à séria, o problema é que eram pagos :)
E perguntamos pelo “Caminho” que estava uns 500m acima … foi
fácil encontrá-lo. O problema era o calor infernal que fazia – mais de 30 graus
e afastados do bem bom ar da costa foi algo penoso fazer aqueles últimos km,
por entre aldeias onde predominava o granito, casas grandes, os carros topo de
gama de matricula estrangeira e o francês que ouvíamos de dentro das casas que
tinham as portas abertas e as gentes descansavam à sombra.
Nós não … nós tínhamos um objectivo para cumprir. Eu nem
sei bem o que era pior, se o calor, se o arrastar da perna direita por causa
das dores provocadas pelas bolhas e o incómodo no gémeo.
Os últimos 3km para chegar ao Albergue são feitos por
trilhos pela floresta com algum desnível (a subir e a descer). Muito daquilo
que gostamos quando fazemos trails encontramos aqui … os pisos irregulares em
pedra, às vezes solta, eram bonitos mas desnecessários nesta fase com os pés a
arder.
gostei muito desta parte … mesmo estando já bastante cansado
travessia do Rio Neiva … tá quase
Para chegar ao Albergue ainda tivemos que fazer uma bela
de uma picada em estradão de terra, completamente expostos ao sol das 15h. E
com aquela incerteza de querer saber se iriamos ter lugar no albergue ou não.
Chegamos perto das 15.30h e fomos os primeiros … embora
fosse confiante foi um alivio saber que havia lugar para nós. 6 € por pessoa
(demos mais qualquer coisita) e direito a escolher a cama – naturalmente que
escolhemos as de baixo dos beliches J - já não tenho
idade para andar a subir a descer aquelas coisas.
Maravilha … chegamos caraigo!!! 32km depois ...
Tentei fazer amizade com esta moça mas não me ligou nenhuma …
Acreditem que demorou menos de uma hora e estava repleto,
com as 20 vagas preenchidas. Alemanha, Brasil, Itália, Australia, Polónia,
Espanha e Portugal estavam representados – mais numerosos os alemães, tugas
apenas 4. E começa a confusão – banhos, lavar roupa, colocar roupa a secar,
lanchar … a tropa manda desenrascar J … fazem-se “amizades”
de circunstância, ouvem-se histórias … o casal de reformados que vieram da
Austrália de propósito para fazer os caminhos de Santiago, a senhora Brasileira
que veio 3 semanas para Rio Maior com o marido estagiar com uma selecção
brasileira de trail e se lembrou de vir fazer os Caminhos de um dia para o
outro, entre outros.
o menu do peregrino servido num tasquinho ali ao lado era bem bom .. inclui sopa, prato e um jarrinho de vinho - tudo por 6 €
O meu pé direito estava uma lástima … a bolha cresceu e ficou ali à mercê de ser tratada. A enfermeira Dora furou a dita cuja, limpou, secou e enfardou-a com Betadine … até saltei, então não era suposto o Betadine não arder??? Chinelinho de dedo o resto do dia e esperar que amanhã de manhã bem cedo esteja em condições de calçar umas sapatilhas.
Destaco ainda a figurinha do dia … baptizei-o de “linguiças”
… estava eu de banho tomado deitado na minha cama a descansar um bocadinho e
reparo num personagem, alto, muito magro e branco. Era alemão e estava sozinho.
Ficou com uma cama na parte de cima de um beliche do outro lado do meu. O
lingrinhas não parava quieto … em 5 minutos subiu e desceu 5 vezes a escada do
beliche, abria mochila, tirava qualquer coisa, fechava mochila, abria mochila,
subia para a cama, descia da cama, desaparecia 1min e voltava… “ó Dora … olha
topa-me aquele lingrinhas … nada de lhe dar confiança se não estamos tramados” …
e foi isto o tempo todo. Além disso falava ao telefone na cozinha, alto e
ouvia-se em todo o lado. Não era problema se não o fizesse tb depois das 21h30
quando tudo já estava deitado a tentar descansar. Passou o tempo a falar com a
mãe, e o tema eram as bolhas dos pés … tinha várias e não sabia se as furava,
cortava ou deixava assim J … obrigou a mãe
a ligar não sei com quem, e quando pensamos que a novela tinha acabado, voltou
a ligar e a conversa continuou até que decidiu meter um dia de folga no dia seguinte para recuperar.
Quando depois de desligar veio para a recepção e
apanhou um outro casal que estava sossegadinho a fazer horas e voltou a fazer barulho foi um
italiano que se passou … ouviu-se um “shhhhhhiuuuuuuu” que estremeceu as
paredes do albergue todo mas funcionou. O moço sossegou e acabou por ter sorte … é que
eu já o estava a ver a “levar” com a rosnadela de uma baixinha que eu cá
sei J
Muito bom! Não querendo repetir-me mas estou a adorar fazer esta viagem convosco. E a descobrir uma fera chamada Dora :)
ResponderExcluirDe tanta coisa gira que me deu vontade de rir, o maior destaque vai para a 2a fotografia em que pareces um homem primitivo numa caverna evoluída pois tem uma lâmpada!
Um abraço e venha a 4a :)
Não te gabo o gosto :P
ExcluirOlha … é a cara que tenho, só tenho esta :) … e após uma noite muito curta e cheia de episódios até que estou muito bem :):):)
Abraço
Hmm, acho que me darei bem nesses albergues...ou não.
ResponderExcluirEssa zona perto do Castelo de Neiva tem paisagens giras mas acabo por não conhecer muito mais que o "perto da estrada".
À espera do próximo.
Abraço
PS: a rapariga é do Sul? Ahh, bem me parecia que é boa pessoa ;)
Lol … quando fores acho que o "linguiças" ainda vai lá estar … se tiver uma bolhita de certeza que não dará um passo a não ser que o despejem :)
ResponderExcluirAbraço
P.S. Hmmm … boa pessoa? Com ou sem sono?
Estou para ver onde vai parar a saga das bolhas... Sei bem o que isso é (ou sabia, quando corria...), e também costumava ter nesse sítio. É terrível!
ResponderExcluirA cada post que leio fico com ainda mais vontade de me meter numa aventura dessas... Deve ser mesmo incrível e as paisagens espectaculares :)
As estadias nos albergues devem ser toda uma experiência por si só! Ainda bem que levaste a Dora para as rosnadelas!
A Dora é que me levou a mim … mas está desgraçada que eu não sirvo para nada quando a "coisa" aperta :D
ExcluirA etapa seguinte já está publicada … e só te digo uma coisa, mete os pés a caminho quando tiveres oportunidade …
Beijinhos