segunda-feira

Caminhos de Santiago - Etapa 2 (22km) ou "não é como se quer"




Acordamos pelas 5h da manhã … a Ana tb. Embora tivéssemos insistido para que ficasse a dormir, que a gente se desenrascava e tentava fazer o mínimo de barulho antes de sair de casa, a moça fez questão de nos preparar o pequeno-almoço. Que categoria!!!
Ana – depois disto é como dizes, vais ser só gente a bater à tua porta para serem albergados JJJ 
Os meus pezinhos estavam na mesma … em “Bolhas Alert” máximo em algumas zonas. Desta vez não os descurei … hidratei-os bem, coloquei uma bela camada de Halibut e umas meias em condições antes de os enfiar nas minhas Nimbus 20 de corrida – único calçado que levei comigo além de uns chinelos de dedo J Estava receoso e nada convencido que ainda poderia evitar as tão temidas bolhas – e não me iria enganar.
Despedidas feitas – nunca é demais agradecer à Ana Barroso – sei que o fez com gosto e adoramos tudo, especialmente a companhia. E o “carimbo” que comprova a passagem por Lavra? Não sei se já tinha mencionado – já??? Ok … mas menciono novamente … cá lindo!!!

Pelas 6 da manhã ainda não havia verdadeiramente luz do dia mas já havia aquelas primeiras claridades a iluminar o nosso caminho. Sentia que estava verdadeiramente a começar a aventura, talvez por no dia anterior ir menos atento por onde passava por já conhecer a zona.
sigaaa….

Na noite anterior, antes de adormecer tínhamos estado a analisar os mapas para planear mais ou menos a caminhada de hoje. A ideia era fazer perto dos 30km o que correspondia ficar a uns poucos km da Apúlia/Fão. As etapas clássicas para este caminho são 12 … como só tínhamos 10 dias era preciso “ganhar” alguns km todos os dias. 
E lá seguimos alegremente junto à Costa, na grande maioria em passadiço de madeira, que só “largávamos” para passar por entre pequenas localidades. 
 


Maravilha aquele sentimento de liberdade, o amanhecer com umas vistas esplendorosas dos areais de diferentes tons de beige e do mar a perder de vista. Os sons de um mar calmo misturavam-se com o som característico das gaivotas e das nossas risadas, porque se acham que eu sou “parvo” não estão bem a ver a aventureira que ia comigo J … além das gaivotas e de alguns cães vadios a aproveitar a “liberdade” tal como nós, apenas mais um ou outro aventureiro que também seguem em direcção a Santiago de Compostela. Uns mais novos, outros bem mais velhos, cada um a seu ritmo e a gerir a sua etapa. 

“Bom caminho” … a maior parte das respostas eram com sotaque … começa o jogo de tentar descobrir de que país seriam … nesta fase ainda não existe a “coragem” (leia-se vontade) de meter conversa com os companheiros de viagem. Ainda estamos numa fase de deslumbre que queremos só para nós … e estão a ver aqui o maluquinho das fotos? Pois … bem dizia a Ana ontem, ao fim de umas poucas centenas de metros do inicio da empreitada … “estes assim não chegam lá” J 

2º pequeno-almoço do dia…

Mas nem tudo são rosas … ao fim de pouco tempo já noto que vou a fazer bolha no direito e defendo com uma passada anti-natural. Também não vou confortável com a mochila, por falta de hábito penso eu – é pesada, e incomoda – vou alterando a posição de x em x tempo, o que alivia durante algum tempo. 
A sorte é que me vou focando pelo que vamos vendo e nas conversas que vamos tendo. 
 

A ideia era caminhar a maior parte do percurso da parte da manhã, deixar pouco para depois do almoço. Além de evitar o calor da tarde, seria a forma de ter tempo para aqueles afazeres típicos neste tipo de aventura. Arranjar albergue, lavar roupa, tratar dos pés (leia-se bolhas L), descansar ou ir visitar a zona onde se fica.
Apesar de algumas paragens (2º pequeno almoço), cafezinho, outro cafezinho, muitas fotos, algumas saídas do percurso para ir espreitar uma igreja, uma casa, uma flor, um gato, uma janela ou porta, mais umas fotos, ou seja o que nos desse na real gana, até que progredíamos bem … tínhamos uma passada certinha comparado com a maior parte dos peregrinos com quem nos cruzávamos, mas como tb estávamos constantemente a parar seja lá pelo motivo que fosse, passávamos muitas vezes uns pelos outros J 


Chegamos a Vila do Conde antes do meio dia e deu a fomeca … mas só à saída da Póvoa (A-ver-o-Mar) é que encontramos aquele tasquinho junto ao mar onde alapamos para comer uma bucha e beber umas mines frescas.

Xô Guarda, pra Santiago é por aqui ou por acolá???

ok, ok … brincadeirinha de mau gosto .. 

Sacamos do mapa para ver onde poderíamos ficar … não havendo nesse troço Albergues para Peregrinos (penso que o próximo seria já em Fão o que já seria longe demais para estar a horas decentes). Estes Albergues não aceitam reservas, são exclusivos para Peregrinos e são ocupados por ordem de chegada quando abrem – normalmente a partir das 15h (uns um pouco mais cedo). Chegar a Fão era possível, mas em horários que nos permitissem ter uma cama é que não.

Foi aqui que deparamos com a primeira grande dificuldade nesta aventura. Arranjar sitio onde pernoitar. O caminho da costa portuguesa é relativamente recente e tem poucos Albergues de Peregrinos. Alternativas são as pensões, hósteis ou Alojamentos locais privados que não são exclusivos a peregrinos. Mas o problema é que é verão, junta às praias … uns telefonemas e confirmei o que já estava a ver no Booking e outros sites que consultei. Poucas ou nenhumas vagas, e o pouco que existia a preços exorbitantes – querem um exemplo – uma roulotte para 2 pessoas num parque de Campismo a 170 € para uma noite. Nem pensar. 
Quando já falávamos na hipótese de dormir na praia, vestindo toda a roupa que trazíamos e enfiados nos sacos cama, aparece-nos uma possibilidade em Alojamento Local num  dormitório de 9 camas numa localidade que eu achava ser a 3 ou 4 km a norte. 20 € por pessoa – não é barato mas lá terá que ser. Não vamos fazer os tais 8 a 10km que ainda queríamos, mas prontos… pelo menos parece ficar a caminho. E conseguimos reservar J
nham nham … francesinha poveira … à noite compenso com um peixinho grelhado.. 


Acabamos as mines, com a firme ideia de acabar a empreitada rápido e ir aproveitar uma tarde de praia. Ligo o Google Maps para ter um ideia a que distância estamos e dá-me … “30 metros, 2 min…” ????????? … acreditam que o tasquinho era do outro lado da rua? JJJ … a solução para hoje estava mesmo em frente e nós não vimos. Por um lado fiquei contente, por outro gostava de ter feito mais alguns km. Que se lixe … vamos aproveitar a tarde.
Fizemos praia, demos uns belos mergulhos numa água tão mas tão gelada mas que soube pela vida pois estava muito calor. Não descansamos muito … fomos conhecer a zona circundante que além das praias não tinha nada de especial. E à noite a ideia era de comer um peixinho grelhado mas acreditam que não encontramos um restaurante que o fizesse. Deve ser a única zona que eu conheço, que com uma larga costa de praia não tem restaurantes ao longo da esplanada (excluindo os bares de praia) com uns grelhadores na rua a assar peixe. Fomos comer uns hambúrgueres e também não ficamos mal servidos.

Pernetas estão em todo o lado … 

para começar a habituar ao que nos espera daqui a uns dias … e não é que é mesmo boa.. 

e o peixinho grelhado lá terá que ficar para outro dia … francesinha e hambúrguer no mesmo dia … tá bonito … 

Pouco passava das 21h e estava na hora de recolher – mal sabíamos nós o que nos esperava. 
ainda deu tempo para ver um bonito pôr-do-sol …mais um :)

O dormitório tinha 9 camas … as condições eram muito boas, tudo limpo, alguma privacidade, os donos simpáticos. Estava cheio … dividíamos as instalações com outro casal e um grupo de chavalos (uns 20 anitos) que estavam ali de férias … durante a tarde não houve stresses, muito educados sempre. Saíram para jantar e voltaram tarde … tudo bem e normal … o que já não foi normal foi o barulho que fizeram ao chegar, entra e sai constante, falar alto, acende luz, apaga luz … estavam bem bebidos no mínimo e já começava a incomodar porque interromperam o primeiro sono. As regras da casa falavam em recolher às 22h … não somos rígidos e é normal que a malta se queira divertir, mas aquilo estava a ser demais. Depois de muito rebolar de um lado para o outro e a pensar em levantar-me e ir falar com eles, a Dora salta da cama dela, e do alto do seu 1,60cm deu-lhes uma “rosnadela” que os colocou todos em sentido … fica no goto a última frase … “ e se me apetecer ir à casa de banho durante a noite espero bem que esteja limpa!!!” … remédio santo J … acalmaram, ainda houve entra e sai mas apenas o normal … pouco depois estava tudo deitado e a casa de banho limpa JJJ … 
Foi aqui … as condições são boas, a localização excelente … tivemos azar com os "vizinhos" mas tb falharam os donos, que deviam ter imposto as regras da casa

Moral da história: muito cuidado com as mulheres baixinhas com sono!!!

10 comentários:

  1. ahahah muito bom, esse episodio no hostel. Muito boa também, esta descrição. Aguardo ansiosamente pelos proximos troços!

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    1. O próximo já está no forno … só falta "alourar" ;)

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  2. Eh eh, muito me ri com a última cena. Não se metam com a Dora!!! :)

    Está a ser muito giro fazer esta viagem convosco. Venha o terceiro dia

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    1. Ui ui … então com o toco do sono cuidado!!! :)
      Tá quase …
      Abraço

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  3. Epah sei bem do que falas. Está uma aqui ao lado a dormir, e quando está com sono fica com uma neura... nem pensar em acorda-la :))
    Siga o caminho e venha o próximo capítulo

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    1. Lol … se calhar são todas iguais :)
      Já tá quase …
      Abraço

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  4. Ahahahah! Não sei porquê, mas identifico-me inteiramente com a última frase :D O meu sono é sagrado :)

    Que bom que é poder fazer esta viagem convosco! Fico à espera do resto :)

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    1. Pois … parece ser geral :)
      A etapa 3 tá no forno …

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  5. Mulheres do Norte, carago!

    Abraço

    PS: em vez de Halibut, muito gorduroso e com um cheiro da treta, experimenta Biafine (não, não recebo nada...) para as bolhas e mesmo para ir hidratando, embora aí não seja o forte dele para mim.

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    1. Por acaso é do sul mas prontos :) Um dia destes experimento o Biafine … agora tenho que gastar o Halibut xxxxxxl que comprei :)
      Abraço

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