segunda-feira

PT281+ Vilha Velha de Rodão a Montes da Senhora

Saímos eram ca.23h ... a temperatura estava agradável e mesmo cansados a moral estava em alta. Só faltavam 2 etapas, as mais curtas de todas e tínhamos 13 horas para fazer os 50km em falta – tudo sobre controle, é para gerir... ligeiramente à nossa frente 2 companheiros de viagem que ultrapassamos ainda dentro de Rodão ... diz um deles „não podemos descurar, esta etapa vai ser muito dura, o Miguel disse que as 13 horas vão ser curtas...“ ... sinceramente pensei ..“foda-se, 13 horas para 50km? Chega e sobra muito...“.

Pelo sim pelo não aproveitamos a energia que tínhamos e imprimimos um ritmo de caminhada bem forte a subir aqueles primeiros km para passar Rodão. Estava à espera que o percurso nos enfiasse pelos montes mas não ... continuamos por muitos km em alcatrão por estradas nacionais ... fez-me lembrar a ida a Fátima no outro dia mas sem transito. 

Aquela frase das 13h serem curtas deixou-me a matutar, olhei para o relógio e era perto da meia-noite ... o Paulinho ainda deve estar acordado ... toca a ligar para o gajo que mais me teve que aturar com perguntas sobre a PT281 ... o Paulinho tem duas no currículo e sabe o que a casa gasta. Queria perguntar-lhe se conhecia estas etapas e se seriam mesmo assim duras para que 13h fossem curtas para 50km. Ele atendeu e disse desconhecer a etapa que estávamos a fazer, que das duas vezes que fez os percursos eram outros mas que não deveria ser nada de especial em comparação com o que já fizemos. Fiquei mais descansado, mas mantivemos o ritmo forte a subir e deu para usar a táctica de sempre ... em plano e a descer corria-se.

Andamos de tal forma rápido que ainda nem 10km estavam feitos e já tínhamos passado alguns companheiros e colamos noutro grupo de 4 que ia à nossa frente. Foi com este grupinho que fizemos uma grande descida sempre em alcatrão em direcção a uma aldeia (lá está, não me lembro do nome nem me apetece ir pesquisar) ... o que sei é que a descida me massacrou completamente os músculos das coxas e me desfez o que ainda poderia restar dos pés ... foi um massacre de tal forma que quando me vi lá em baixo nem queria acreditar. Contornamos a aldeia e começamos a subir em estrada empedrada ... esta aldeia era super pitoresca, muitas casas em pedra recuperadas e transformadas em pequenos negócios, alojamentos locais e afins. Nessa subida voltamos a encontrar o Artur e a Rute ... a casinha que alugaram para estes dias ficava ali ... perguntaram se precisávamos de alguma coisa mas naquela altura estava-se bem. 




Seguimos, ao contrário dos 4 colegas que decidiram ali dormir 15 minutinhos ... num momento estavam de pé, no momento seguinte estava um para cada lado deitado onde calhou para ferrar uma soneca ... tudo malta habituada a estas coisas de muito longas distâncias. Nós seguimos ...

Agora era subir a sério ... primeiro para sair da aldeia, depois entramos à direita no monte. Um estradão em terra largo, com uma inclinação que deveria ter uns 8 a 10% de média, cheio de pó e pedrinhas soltas que me provocavam dores horríveis nos pés ... este estradão foi nossa companhia durante uns bons 5 ou 6 km ... aquilo foi horrível porque nunca mais acabava, até subíamos bem, ainda com energia, mas aquelas pedras, o pó no ar, o não ter nada de interessante para ver ali fez saltar o „Gru Maldisposto“ em mim e no Lima tb ... a mim pareceu-me percurso para „encher chouriços“, dava a sensação que andavas às voltas no mesmo sitio - pelos visto não é, mas na altura foi o que nos pareceu. Pelo meio uma aldeola com uma dúzia de casas ... tudo fechado, nem vivalma ... no centro uma caixa de esferovite com àguas frescas ... não pegamos porque nada dizia que era para a malta da PT281 ... soubemos mais tarde que todos os anos colocam ali líquidos e que podemos pegar ... azar.

Quando pensávamos que agora a coisa iria normalizar voltamos a entrar no monte para mais do mesmo. Foda-se ... esta merda não tem piada nenhuma. Fizemos alguns troços com inclinações brutais, subidas com 15 a 20%. Não estava fácil ... estava cansado e a ficar com muito sono ... era a 3ª noite e pouco havia dormido. Entrei em modo zombie o que até foi bom, porque nem sequer deu para resmungar muito ... enganamo-nos uma vez ... em vez de sair à direita continuamos em frente a subir ... foda-se ... subir não era fácil, mas descer era pior por causa dos pés, e do pó, e do caralho a sete ... 

... ao longe víamos o incendio em Oleiros, lavaredas enormes, luzes azuis, fumo. Finalmente vislumbramos umas luzes e uns telhados lá em baixo e a setinha do GPS começou a indicar para lá ... deve ser Senhora dos Montes ... embora eu achasse estranho que Montes de Senhora ficasse num vale ... a descida ainda foi longa e há alguns bocados que não me lembro ... desci autenticamente a dormir em pé em alguns bocados ... entramos na aldeia, tudo muito sossegadinho, tudo fechado, apenas ouvias os nossos bastões a bater no chão ... continuo meio a dormir e a caminhar ao mesmo tempo ... num cruzamento olho para a direita e vejo uns joelhos „agachados“ atrás de um poste de eletricidade e um telemóvel a „espreitar“ ... nem tive tempo de saber se estaria a alucinar ou que raio era aquilo ... vejam pelos próprios olhos, a mesma cena de dois ângulos diferentes ... 😊



Os Pernetas são os maiores caralho ... ali estava o Flávio, a Teresa, o Badolas e o Bruno ... tinham vindo dar apoio para a parte final desta empreitada ... espectáculo ... o nosso lema é „quando corre um corremos todos“ e ali estavam eles ... ainda lhes comemos o presunto e as batatas fritas que tinham trazido, descansamos um bocadinho e depois pusemos os pés ao caminho que segundo o Badolas ainda faltavam uns 3km.



E assim foi ... afinal tinha razão, Montes de Senhora fica mesmo num alto ... para lá chegar fomos pela estrada e tivemos que vencer mais uma subida brutal. Analisando a coisa até que fizemos esta etapa num bom tempo, mas tinha-me dado uma coça do caraças,  eu estava mesmo de rastos ... quando chegamos nem dei a devida atenção à família Perneta ... „ó homem, onde é que se pode dormir“ ... „ali ao lado“ ... e pumbas ... meia horita de sono profundo que pareceram 2 minutos ...




... nem queria acreditar quando o telemóvel me acordou, só me apetecia ficar a dormir para sempre ... mas não, não tinha chegado aqui para ficar pelo caminho. Levantei-me e fui até à zona dos comes e bebes tratar de vidas. A minha família Perneta continuava por ali e ajudou no que podia ...

O Lima estava chateado a reclamar comigo ... dizia ele que eu tinha fechado mal um bolso da mochila dele por caminho e que tinha perdido os cabos de carregar o telefone, do relógio e uma powerbank das novas. Eu cheio de sono nem sabia bem o que se estava a passar mas sinceramente não me lembrava de lhe ter mexido naquele bolso. Mas se ele o dizia e de forma tão convicta só podia ser não é?***

Bem .. lá juntamos as peças todas, compusemos o esqueleto da forma possível, despedimos da família Perneta e pusemos os pés ao caminho. Seriam mais ou menos 5 da manhã ... 24km para o sonho e 7 horas para o fazer. Vamos até Proença?

*** um dia e pouco depois, é 2ª feira, fim da manhã ... estou em casa e liga-me o Nuno Lima ... „então Perneta, como estás? Blá, blá, blá, blá .... blá, blá, blá, blá .... e por falar nisso, os cabos e a powerbank apareceram ... tinha-os despachado no saco em Vila Velha de Rodão...“ ????? E se fosses pró caralho, velhadas de merda ....

6 comentários:

  1. Quando a privação do sono aperta, o cérebro começa a ficar cheio de nós bem apertados e se entra na chamada piela de sono, nem consigo imaginar!

    No total, com enganos, desvios etc, quantos km a mais fizeram?

    Um abraço e venha a última!

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    1. Já passei noites em claro, a minha mais velha foi complicada no que diz respeito a dormir, mas assim como desta vez nunca tinha estado … não é só a falta de sono, é o acumular dos km, o calor que apanhamos, é o facto de estarmos tão perto … é um acumular de situações que nos leva a este estado.
      O meu relógio no fim apontou 295km … mas nunca o desliguei, e sei que quando dentro de uma casa ou zona fechada (como num abastecimento) ele começa a entrar em parafuso e conta mais qualquer coisa .. eu acho que devemos ter feito algo entre os 285 e 287, com os enganos e alguns desvios para ir a um café e assim.
      Vamos ver se é hoje a última :)

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  2. Epa, adoro a linguagem nua e crua. Assim, se vê o cansaço de uma pessoa =P
    Muito bom!

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    1. as coisas são como são … não há como "dourar a pilula" … :)

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