O Bininho deixou-nos, assim de repente sem avisar. Já foi no domingo mas só ontem ao fim da tarde é que fomos abalroados pela maldita noticia da sua morte. O que aconteceu de concreto não sabemos.
Uma noite mal dormida depois ainda é difícil de acreditar - tinha 52 anos apenas e não lhe conhecíamos nenhuma doença. O Bininho foi (e continua a ser) uma figura incontornável dos Pernetas - são incontáveis os episódios de brincadeira e boa disposição em que ele entrou connosco, sempre na boa. Quando nos encontrávamos por Parada (lugar onde nasceu e vivia com a mãe) era sempre uma festa de parte a parte - gostava de nós e nós gostávamos dele, e muito. Era mesmo um dos nossos!!!
Não me lembro da altura em que nos cruzamos pela primeira vez, talvez tenha sido logo quando descobrimos o tasquinho da D.Alice, as famosas sandes de presunto com ovo e as minis frescas. Só pode ter sido, porque ele estava sempre lá … quando chegávamos ou já lá estava ou aparecia pouco depois atraído pelo barulho da nossa malta no tasco. E lá "sacava" sempre uma ou outra "receita" da malta e só não comia connosco porque não era muito de comer - raras vezes o vi a comer. Já a fazer desaparecer "receitas" era com ele - demoramos anos a tentar perceber como é que ele desvaziava um copo com uma golada sem pestanejar - era um mimo vê-lo a limpar a boca húmida com a parte de trás da mão sempre que metia um copito de penalty.
O Bininho era um homem bom, simples, afável e malandrote em todos os sentidos. Trabalhar está quieto, só o essencial para ganhar uns troquitos para o tabaco e um copito ou outro. E as artimanhas para nos apanhar uma moedita? Chegou a fazer anos mais do que uma vez ao ano, a vender-nos um saco de castanhas (daqueles de supermercado, 1/3 de cheio) a dizer que tinha 12kg - alinhamos na brincadeira e compramos as castanhas que eram uma porcaria - eram aquelas últimas que ficam pelo chão. Passado umas semanas eram kiwis, depois maracujás … o que ele arranjava à mão para transformar em trocos. Em todas as tainadas épicas na D.Alice o Bininho esteve presente … não falhou uma … e existem montes de registos dos momentos divertidos que passamos por lá com ele … alinhava nos vídeos dos Pernetas e era o nosso "árbitro" oficial das futeboladas pós tainadas que fazíamos no campo ervado de Parada - tudo bêbado, jogadores, árbitro e assistência.
O Bininho tinha telemóvel e dava-nos o nr escrevinhado em letras de primária num bocado de cartão - mas dizia sempre - "se me ligares não te atendo. Sabes porquê?" … "para não gastares dinheiro" … grande o nosso Bino. Um dia deu o nr. de telefone à minha Maria - sim, porque o Bininho conheceu as nossas famílias e as nossas famílias conheceram o Bininho. Por falar nisso … tenho que arranjar forma de contar à Maria e à Isabel - só estiveram com ele umas 3 ou 4 vezes, mas marcou-as. Sei que vão ficar tristes.
Também era o nosso mestre "curandeiro" … era normal chegarmos lá arranhados nas pernas ou com alguma dor. E se não tínhamos nada, inventava-se. O Bininho tinha sempre uma solução miraculosa e caseira, umas mezinhas para nos ajudar. Se não tinha, o malandrote inventava - e ficava barato, uma ou duas "receitas" pagavam a consulta.
Outra coisa que me impressionava nele era a boa educação. Homem de uma aldeia remota, enfiada nos montes, rodeado de gente simples que vivem da agricultura e da madeira e que naturalmente exageram no uso de impropérios, dos palavrões. Ao contrário de nós, que me lembre, do Bininho nunca lhe ouvi um "foda-se", um "caralho" ou mesmo um simples "merda", mas ouvi muitas vezes um obrigado, um cumprimento ou uma despedida simpática.
Era analfabeto … segundo a D.Alice que andou com ele na escola, o Bininho não queria aprender. E não aprendeu. O que não o impediu de "assinar" contrato com o CAL, contrato vitalício selado com um rascunho e um brinde claro.
Nas duas edições oficiais dos Trilhos dos Pernetas esteve presente como convidado - acedeu logo, só o tínhamos que ir buscar e levar ao fim. Na primeira edição, com o stress, esqueci-me de o ir buscar - só me lembrei perto do meio dia - quando um dos nossos o foi buscar, ele lá estava no sitio combinado à espera (desde as 8.30h, hora combinada). No fim do dia fui leva-lo a casa, e conversamos no caminho - não tinha televisão, passava o tempo dormir, a passear, a conversar com quem aparecia por lá e a ouvir rádio (dizia ele que nunca o vi com um radio) - uma desgraça para mim, normal para ele - nunca me pareceu infeliz, pareceu-me sempre de bem com a vida. Este ano nos Pernetas já não nos esquecemos dele - o "cachet" do Bininho eram um garrafão de 5ltr de branco e um maço de tabaco - e lá andava ele todo contente entre a zona de partida e o bar durante o dia todo - não se metia com ninguém, comia, bebia, fumava e dançava. E este ano deu a partida da prova mais curta.
Estas são apenas umas poucas histórias do legado que o Bininho nos deixa. Muitas outras houve - sem dúvida que nos enriqueceu com a sua presença.
Amigo Bininho … vamos sentir a tua falta!!! Será sempre um Perneta!!! Descansa em paz!!!
Oh, Há algum tempo que não passava por aqui. E hoje que vim cá "levo" com esta notícia. :(:(:(
ResponderExcluirGuarda do Bininho o melhor.
Sinceras condolências
Pois, chegaste em má altura :(
ExcluirObrigado
Um abraço Carlos.
ResponderExcluirSó temos a aprender com pessoas assim. Simples e felizes com o que têm!
Sem duvida nenhuma … era feliz à sua maneira.
ExcluirAbraço
Que notícia tão triste!!! Sem o conhecer pessoalmente, gostava dele pelo que via nos vídeos. E recordo-me bem como ele ficou quando o convidaram para a edição deste ano. Um grande abraço a todos vós, seus amigos, com a certeza que ele vos enriqueceu como pessoas!
ResponderExcluirSem qualquer dúvida. Era impossível não gostar do Bininho. Abraço
ExcluirEsta semana ando de noticias tristes e noticias tristes.
ResponderExcluirDomingo foi um dia muito negro.
Paz à sua alma, assim como a da minha tia.
Sentido o teu texto.
Uma Abraço,
É a vida. Obrigado e os meus sentimentos pela tua perda.
ExcluirAbraço
Que triste.. :( Tantas fotos e histórias que fui lendo por aqui, já o sentia como amigo mesmo nunca o tendo conhecido. Um abraço, perneta. Apesar de tudo gostei muito deste teu post/homenagem.
ResponderExcluirObrigado Filipe. Vamos tentar homenagear o Bininho de alguma forma … se o tivesses conhecido terias gostado do homem, impossível não gostar. Aquele abraço
ExcluirLamento profundamente, Carlos.
ResponderExcluirUm abraço de conforto para ti e todos os Pernetas.
Obrigado Anabela. Beijinhos e abraços aí para casa
ExcluirLamento muito, Carlos. Pela homenagem que aqui lhe deixaste era, de facto, alguém especial e que nos deixa a pensar sobre quão simples a vida pode ser. Que sirva o consolo de acreditar que ele foi feliz enquanto cá andou!
ResponderExcluirUm abraço
Sem dúvida. E acho que era feliz à sua maneira. Beijinhos
ExcluirCarlos , ao ler esta triste ocorrência lembrei me de um caso mais ou menos igual que também faleceu o ano passado atropelado a 100 metros casa...são estes seres humanos que eu mais admiro neste mundo , nem imaginas como gosto destes "Bininhos" ou Maravilhas" (..assim se chamava o outro amigo) é gente pura , amiga e de grande coração.Um grande abraço e continua a dar importância a estes seres genuínos .
ResponderExcluirObrigado Joaquim. Abraço
ExcluirLamento. Ficam as histórias e os momentos passados com ele que imagino que todos vocês farão por relembrar para a eternidade. Forte abraço!
ResponderExcluirObrigado. Abraço
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