Trilhos do Perneta - até que correu bem (acho eu)

Quero começar, por onde normalmente se acaba….pelos agradecimentos.

Quero agradecer a todos os amigos, que me ajudaram a organizar este evento, e foram muitos….normalmente não se colocam nomes para não se esquecer nenhum, mas vou arriscar na esperança de que isso não me aconteça (se acontecer desculpem que não é por mal):

Samanta, Bruno Pinho, Zé Alexandre, Gil, Badolas, Filipe Fontes, Pedro Lino, Ricardo Pires, Américo, Zé Miguel, Nuno Lima, Helder Silva, Richard e Raúl Silva…..todos eles participaram activamente a correr, e de uma forma ou outra foram muito importantes para estes Trilhos do Perneta. Abastecimentos, logística, apoio durante o treino, reconhecimento dos percursos...vocês são um espectáculo!!!

Mas também houve pessoas que não correm e que ajudaram….obrigado à Ana, Isabel e João Pedro (esposa, filha e cunhado do Zé Alexandre – as espectaculares lembranças foram ideia e execução deles), à Isabel Castro (madrinha da minha Inês e grande amiga da família que nos presenteou com um bolo de canela e maça que estava delicioso), à Inês e à minha sogrinha Irene (pelo tb delicioso bolo de iogurte e por tomarem conta das meninas lá em casa para eu poder andar aí a correr)


Por fim o meu obrigado também a todos que se deslocaram ontem a Canedo para participar nos Trilhos do Perneta, e que fizeram com que passássemos uma manhã divertida, a correr e a caminhar no meio da natureza.

Pronto…espero mesmo não me ter esquecido de ninguém.

Agora, em relação aos Trilhos do Perneta….tenho que puxar a cassete atrás….à pouco menos de um mês, enviei um mail aos meus amigos corredores mais chegados, a convidá-los para um treininho aqui pelo meu quintal. As respostas positivas foram imediatas, e começaram as brincadeiras habituais, com uns a dizer que traziam as bolas de Berlim, outros o Vinho do Porto, outras ofereciam o sumo e por aí fora…a ideia inicial sempre foi um grupo restrito, tal como outros treininhos que vamos organizando.

Eu, na brincadeira, lá me pus a fazer uma espécie de cartaz alusivo ao evento e toca a colocar no blogue...

…daí a ir parar ao Facebook, começar a ser partilhado (inclusivamente pela Spiridon – embora aqui já haja “mãozinha” de um amigo que eu cá sei) foi um instantinho. Começaram a aparecer pessoas a contactar com interesse em participar e a coisa foi crescendo….eu assustei-me um pouco, porque não tenho experiência nenhuma em organizar este tipo de eventos e pouca experiência em trail…além disso, pouco mais de 3 semanas não dá para grandes organizações. Mas pronto, com a ajuda do pessoal (tão ou menos experiente do que eu) lá se organizou a coisa o melhor que se sabia – e quem dá o melhor, a mais não é obrigado.

Sei que chegamos a sábado passado com mais de 50 inscrições confirmadas, e a “sorte” é que no mesmo dia se realizou o Ultra Trail da Padela, uma prova de 10km em Aveiro, além de outros eventos aqui na zona…se não teria sido o “descalabro” pois houve muitas pessoas a dizer que gostariam de participar, mas que já estavam inscritos em outras provas. Ufa…

Do grupo faziam parte pessoas de níveis completamente diferentes. Tínhamos atletas que se estavam a estrear no Trail, pessoas que nunca tinham corrido mais que 7 ou 8 km em estrada, até atletas muito experientes, já com vasto currículo nestas andanças, atletas com participações no Campeonato Nacional de Corrida de Montanha e outros com Trails daqueles que todos nós sonhamos um dia ter no currículo. E como juntar isto num grupo só? Não sei…apenas sei, que iriamos ter 3 distâncias (dentro do mesmo percurso)…10km para os estreantes, 20km e 30km que seria a volta completa. Postos de abastecimentos e carros para trazer o pessoal de volta à casa partida aos 10 e 20km. Entre mortos e feridos, haveríamos de nos desenrascar J

No sábado ainda houve algumas desistências por vários motivos, e no domingo de manhã, à hora combinada juntou-se um grupo de ca.40 pessoas para “atacar” os Trilhos do Perneta.

Antes de iniciar, uma surpresa para todos os participantes…uma lembrança alusiva ao evento…todos os créditos, desde a ideia até à  execução foram do Zé Alexandre e da Ana (e familiares que deram uma mãozinha)….além deles só eu é que sabia disto…eu sou suspeito, mas acho que ficou fantástico, acho mesmo que melhor era impossível…tudo manufactura, cada exemplar é único….obrigado Zé, Ana e família J

 O tiro de partida foi dado às 7.40min, com 10 minutos de atraso, uma espécie de desconto de tempo para algum atleta atrasado.

Desta vez, não tenho muito para contar no que diz respeito à minha corrida …estava um pouco apreensivo, e a minha preocupação durante todo o percurso foi com o pessoal, com o percurso…queria que tudo corresse o melhor possível. Com isso não desfrutei da corrida como o faço quando vou apenas participar, o que não quer dizer que não tenha adorado a experiência.

Posso tentar dar uma ideia do percurso, com a ajuda das fotos pode ser que quem não esteve presente possa “sentir” um pouco o que vivemos ontem.

Até aos 10km – um percurso que incluía um pouco de tudo o que encontramos nas provas de trail, evidentemente em escala mais reduzida, mas tinha subidas curtas e duras, escalada, descidas acentuadas, molhar os pés….

Saídos do largo da Capela da Sra.da Piedade (Canedo), descemos pelo cruzeiro, passamos por entre umas casas e enfiamo-nos no mato para subir uma encosta de “calhaus”….parece mais difícil do que é na realidade, mas além de ser divertido coloca-nos o coração a mil….pior são os 200m que temos de correr até voltar ao alcatrão, pois é um terreno remexido, de terra muito solta e empapada da água, que cansa para caraças…

 …depois de um pouco de estrada, entramos nuns trilhos mesmo por trás de minha casa, para descer até junto a um riacho, e enfrentar a primeira subida em trilho de terra, daqueles para caminhar….curta mas ingreme…tb é aqui que se dá o meu primeiro engano…parei para tirar umas fotos e quando dei por ela, o pessoal já tinha subido o trilho até ao fim em vez de cortar à esquerda….à valentes, 200m assim a subir…estavam cheios de vontade …. Sorry J

 

…cortando à esquerda, passamos num trilho muito estreito, com mato tão denso, que nos arranhava as pernocas….tínhamos apenas 1km feitos mas já havia gente a reclamar que precisavam de levar pontos…agora, que já passou, posso confessar que me enganei e usei o trilho errado…o certo não tinha vegetação e era paralelo a este, uns 10 metros mais abaixo J

Estava na hora de descer até à ETAR de Canedo…mais um engano meu….na descida falhei um trilho…a vegetação cresceu nas últimas duas semanas…o que vale é que a malta era porreira e não levou a mal….começa bem, que vergonha, e logo mesmo atrás de minha casa J 

Chegados à ETAR estava na hora de molhar os pezinhos para atravessar um afluente do rio Inha....nada de especial para quem faz trail regularmente, mas é giro ver o pessoal  habituado à estrada ou que se está a estrear nisto do trail a pensar “WTF???”….pois é….faz parte…e estavam com sorte porque o tempo estava excelente, e molhar os pezinhos até ajudava a refrescar….haviam de fazer isso no inverno, com chuva e frio. Foi uma parte divertida.

…depois uma estrada florestal e voltamos ao alcatrão para enfrentar uma subida dura de uns 400m, que obriga a maior parte a caminhar….escusado dizer, que o grupo já ia muito partido nesta altura. Eu ia mais na frente, mas tinha o Bruno a fechar o pelotão. Depois dessa subida, voltamos a entrar num trilho, desta vez a descer até junto ao rio, para um dos pontos mais importantes do percurso

….a ponte que serviu de inspiração ao Zé Alexandre e à Ana para a nossa lembrança dos Trilhos do Perneta, numa envolvente mística e lindissima…esta ponte já teve corrimão, mas da última vez que lá tinha passado (à duas semanas atrás) estava sem corrimão, e a escorregar pra caraças…só existe uma solução segura de a passar….de quatro….foi talvez o momento mais divertido de todo o percurso…

…siga que se faz tarde, novamente a subir, por trilhos sobre pedras, algo escorregadio que iam ter novamente à ETAR, para voltarmos à estrada (todas secundárias sem transito nenhum) e enfrentar mais uma subida curta mas dura....antes de voltarmos aos trilhos, existe uma fase plana, uns 500m em que corremos por entre umas casas circundadas por campos…

...casas antigas de gente mais velha que vive do cultivo desses campos…foi nesta fase que tive uma experiência engraçada…estava eu à espera do pessoal mais atrasado, ao passar numa casa, está uma senhora agarrada à vassoura à porta da sua casa…eu vou a passo, e ouço-a a incentivar o pessoal, antes de reparar em mim…meteu conversa comigo…foi mais ou menos isto…

Ela – “isto sim, faz bem….se eu fosse mais nova!!!”

Eu – “ó senhora, nunca é tarde para começar”

Ela – “isto é uma corrida? De onde é que vocês são?”

Eu – “não…é um passeio, e somos de muitos sítios diferentes..olhe, eu sou daqui de Canedo”

A mulher larga a vassoura, vem ter comigo ao portão e dispara…

“de Canedo? De onde? Que família? Casado? Tem filhos? Vai à missa?”…pronto exagerei, mais só um bocadinho

Eu – “só estou aqui emprestado….deixe-se de conversas e venha cá mas é tirar um foto comigo”

Digam lá se eu não sou um sortudo com o mulherio. Tb não é de estranhar, bonito e simpático só podia dar em sucesso J

…pouco depois estávamos a enfrentar nova subida ingreme em terra, que obriga a caminhar, antes de fazermos uma estrada florestal que desagua em frente ao antigo infantário onde a minha Maria andou.

 Uma descida em alcatrão, e voltamos a trilhos em terra, tudo plano agora, passamos por baixo de um pontão da A32, um descampado e voltamos a uns trilhos plano que serpenteam por um floresta antes de chegar a Gião, junto à Igreja onde tem um parque onde terminava o primeiro percurso e estava instalado o primeiro abastecimento – tivemos bolas de Berlim, bolo de maça e canela, bolo de iogurte, bananas e laranjas, barras energéticas, batatas fritas, amendoins salgados, isotónico, sumos, água e vinho do Porto….neste aspecto acho que não falhou nada, ninguém se pode queixar que passou fome ou sede J

Nesta fase ficaram 9 atletas…foram quase 10km com 400m D+, que demoramos ca.1h40min a fazer…muito bom e puxadinho para quem não está habituado. Parabéns!!!

Dos 10 aos 21km – uma fase de “descanso” ao início, muito corrivel, que incluí estradas secundários para fazer ligações, passadiço ao longo do rio Uíma e uma subida dura no fim.

…foi a parte em que aconteceram alguns imprevistos.

Depois de termos saído do abastecimento 1, logo entramos em trilhos florestais, sempre plano….1,5km depois entramos na civilização em Lobão, para fazer a ligação aos Trilhos de Vila Maior…

...ritmo já bem mais certinho, sempre a correr…ca.13km, olho para trás e não vejo o pessoal que fecha o pelotão…paramos mas não havia forma de eles aparecerem…telefonema….um atleta torceu o pé e não consegue continuar….valeu-nos o Raúl, atleta de BTT que conhece aqueles trilhos…pedi-lhe que levasse o grupo até ao passadiço em Fiães, que mais tarde nos juntaríamos a eles.

Voltei para trás e não demorei muito a encontrar o resto do pessoal….o “lesionado” efectivamente estava com muitas dificuldades em pousar o pé…estávamos no meio do mato e não havia hipótese de vir ali de carro…o abastecimento 2 dois estava apenas a ca.500m, e o Helder ofereceu-se para ir com eles (o atleta lesionado e mais um amigo) até ao carro que estava no abastecimento e leva-los ao ponto de partida. Grande Hélder. O resto do pessoal que tinha ficado para trás lá seguio  viagem comigo até ao tal passadiço, onde encontramos o resto do grupo que já vinha de regresso e ao qual nos juntamos.

Esta zona do passadiço é muito bonita, sempre ao longo do rio Uíma, vai de Lobão, passando por Fiães até Sanguedo neste momento (talvez 3km???). O projecto é para continuar, ligando mais freguesias do concelho da Feira. É um investimento que vale a pena, pois dá gosto ver as pessoas que se deslocam ali para fazerem desporto…correr, caminhar….espero que continue a crescer.

Voltando aos Trilhos do Perneta, percorremos todo o passadiço até Sanguedo, para depois voltarmos aos Trilhos florestais, agora sempre a subir durante 1,5km…durinha esta parte…..antes de descer até à fonte onde estava instalado o abastecimento 2 com ca.21,5km feitos.

Aqui ficaram mais 12 atletas.

Dos 21km até aos 30km – esta fase inclui a “Dª Amelia” e é quase sempre a subir….tudo o que desce sobe, por isso…

Esta última fase começa com a Dª Amélia….quem gosta de trail, gosta deste bocadinho….são ca.900m de distância, sempre em trilho de terra batida, num estradão que foi aberto para passagem de condutas de gás….uma primeira descida muito acentuada, bastante técnica, ideal para quem gosta de “destravar” a mota…passar um riacho, engatar logo numa subida ingreme pa caraças, voltando a uma descida ao fundo da qual se enterram os pés em lama coberta por relva…quem for demasiado rápido arrisca-se a ficar sem as sapatilhas….para voltar a enfrentar uma subida ingreme, curta mas dura até uma central eléctrica…a Dª Amélia tira o fôlego a qualquer um….

….depois foi fazer ligações por trilhos e alguma estrada secundária por Vila Maior até voltar a Canedo…quase sempre a subir. Aqui lembro-me das de já levar as pernas pesadas…no sábado anterior tinha andado a fazer a última parte do percurso 2 e todo o percurso 3…15km e quase 600 D+….agora sentia o esforço nas pernas…mas sem problema de maior.

O ritmo era lento, mas sempre a correr e certinho. Zona desportiva de Vila Maior, A32, Zona Industrial de Canedo…chegamos à entrada da portagem da A32 e logo de seguida mais trilhos florestais, mais 1,5km a subir….até chegarmos a uma fonte (que é do ano de 1900)….tava quase…com as confusões da etapa 2, a maior parte do pessoal já levava mais km do que o previsto, pelo que decidi encurtar ligeiramente o último percurso, evitando a parte final que tinha preparado, e que incluía uma última bela subida mesmo por trás de minha casa…acho que o pessoal ia gostar, mas também não fiquei triste por não a fazer naquele momento J

Os últimos 500m são em estrada, e estavam concluídos os Trilhos do Perneta…ca.30km e 1000m D+…uns fizeram um pouco mais, outros um pouco menos, mas isso não interessa nada. Demoramos pouca mais de 4 horas.

Ao chegar à Capela fiquei contente por ver o atleta que se tinha lesionado e o seu amigo. Já estava melhor, e parecia que afinal não seria tão grave como se pensava. Espero bem que sim.

Ainda houve um 3º e último abastecimento, mais umas conversas, e para constatar que parece que a coisa tinha agradado ao pessoal. O pessoal ia desmobilizando, e antes de regressar  a casa ainda tivemos tempo para um último brinde com vinho do Porto.

Por falar em Vinho do Porto, decidi oferecer as 3 garrafas que ganhei na 3 Maratonas do Porto em que participei (8ª, 9ª e 10ª edição) – uma para cada abastecimento – achei que seria a altura ideal para as beber, e não haveria malta melhor do que esta com quem as partilhar.  A 8ª foi toda, a 10ª quase toda e a 9ª não se abriu pq ficou esquecida na mala do meu carro J…..o pessoal além de gostar de correr, tb gosta da pinga….cambada de borracholas é o que é J Confesso que contribuí com a minha parte…1 copito em cada abastecimento….pimba…vai buscar J 

Por fim, este treino foi gratuito (evidentemente), mas pensamos em pedir aos participantes para oferecerem bens alimentares, se pudessem e quisessem, que serviriam para distribuir por famílias necessitadas aqui de Canedo….o resultado foi este….

Espectáculo esta malta da corrida. Obrigado a todos os que contribuíram….solidariedade e corrida mais uma vez unidas.

Resumindo…e olhando ao feedback que fui tendo, parece que o pessoal ficou satisfeito com os Trilhos do Perneta. Espero mesmo que tenham gostado (que não tenham dito isso só para me ver feliz) e desculpem lá qualquer coisinha que tenha corrido menos bem.


Adorei esta experiência!!! Com certeza haverá mais Trilhos do Perneta.