Maratona do Porto 2025 - o experiência é um posto

Este ano o CAL está completamente desfalcado no que a Maratona do Porto diz respeito. Estou sozinho nesta … a última vez que tinha participado “sozinho” foi na minha primeira Maratona de todo o sempre, no longínquo ano de 2011 … é o que é … a verdade é que não é a mesma coisa.

Já vinha a sentir isso nos dias anteriores … não havia aquele frenesim típico no nosso grupo whatsapp de uma Maratona a aproximar, a apreensão dos estreantes ou o nervosismo dos que tinham pela frente uma tentativa de recorde pessoal … zero … apenas eu ia alimentando o grupo com fotos do “antigamente”, picando a malta … pode ser ganhem vergonha e para o ano voltemos outra vez em grande. Mas é o que é.

Tambem o levantamento dos dorsais foi diferente este ano … acompanharam-me a Pikinita, a Bé e a Sara que se estreou nestas coisas de Maratona. O ano passado já cá tinha vindo, mas como passageira na barriga da Dora. E até foi engraçado … mas faltou aquele espirito de grupo. Que se lixe …. este ano tb não ficamos para a Pasta Party … de ano para ano fica bem mais caro, já nem para os atletas é de borla e 9 euros para acompanhante é um exagero na minha opinião. Por pouco mais fomos comer uma bela Pizza …

Escrevi que estava sozinho nesta? Só é verdade em termos de participação na corrida … porque o meu compincha Bruno (não lhe posso chamar gordo agora, não que ele não esteja … já vão perceber porquê 😉) decidiu que me iria acompanhar durante a prova… dar apoio, servir de aguadeiro, mandar umas bocas foleiras, ir comer a francesinha no fim, etc, etc, etc … estão a ver o filme 😉

No sábado à noite envie-lhe a seguinte foto do percurso … com mais ou menos 3 pontos onde queria que ele me entregasse a minha garrafinha com hidratos … como já conheço este meu “aguadeiro”, levei na mesmo comigo uns géis .. “just in case” 😉

13, 24 e 33km...

No domingo apanhou-me em casa e siga até Matosinhos. Ele sacou da bicicleta e lá fomos nas calminhas até à retunda da anémona, encontrar amigos das corridas, mandar bocas foleiras, receber o troco … enfim, nada de novo 😉

sigaaaa...

que dupla...

Paulinha ... grande prova e saiu RP

eles andem aí ...

os primos e a malta do Boavista

E com isto, a hora de ir para a partida chegou rapidamente … despedida do meu menino e siga para o bloco A … sim bloco A. Quando me inscrevi, em Dezembro de 2023, a ideia era outra … e sim, por incrível que às vezes possa parecer, eu tenho tempo à Maratona que me permitem estar ali, ao contrário de muita gente que ali estava completamente fora do lugar. A mim não me iria fazer diferença, eu não ia para tempos, mas não faz sentido haver gente que faz 4h ou mais e estar ali no sítio de onde parte a malta entre as 3h e 3h15. Acho que a organização poderia, tal como se faz em muitos sítios, exigir um comprovativo de tempo anterior, para um atleta ter acesso ao bloco certo.

O que é que eu vou fazer hoje? Uma pergunta que já me andava a assolar a mente há algumas semanas. Não tinha treinos longos, apenas 2 meias e um treino de 20km muito sofrido … uma semana antes da Maratona ainda fui fazer 30km só para ver como é que o corpo reagia … até se fez razoavelmente bem, a uns calmos 5,19min/km mas fiquei com as virilhas e algumas articulações bastante mal tratadas.

Decidi aí, que a Maratona iria ser encarada como um treino longo. O foco era em não me entusiasmar e fazer a primeira meia-maratona num ritmo tranquilo. Depois logo veria e iria adaptando o ritmo conforme me fosse sentindo, puxando pela experiência que tenho nestas andanças. Objectivo era correr durante todo o percurso sem caminhar!!!

Parti na parte de trás do Bloco A … e mesmo fazendo o primeiro km a 5,20min ultrapassei muita gente o que prova o que escrevi mais acima relativamente a uma boa parte de malta que estava no primeiro bloco. Por mim tudo tranquilo … ainda estaríamos a subir a Boavista e começa a vir malta de trás … talvez dos 10km, não sei … o que sei é que a velocidade aumentou e só me apercebi quase aos 5km … dos 2 aos 5km fiz os 3 km mais rápidos de toda a Maratona … bem abaixo dos 5m/km. Mesmo me sentindo bem, travei a mota …

a subir na Boavista uma provocação ...

Entretanto ouço atrás de mim “marrraquexxeee …” …era o grande Pedro Vicente, o único Streak Runner que eu conheço pessoalmente, desde a Maratona de Marraquexe. Streak Running consiste em correr todos os dias (penso que o mínimo é uma milha) sem falhar um único dia …acho que o Pedro já leva mais de 4 anos seguidos a correr sem falhar um único dia … imaginem… além disso é um Globetrotter fazendo provas em todo o mundo e tem um monte de histórias que partilha na sua página do Facebook … já o desafiei a escrever um livro … eu comprava … um gajo à maneira, gente boa … mas voltemos à minha Maratona.

grande Pedro Vicente ...

O Pedro fez-me companhia durante os km seguintes … além de dar às pernas, demos à língua … de vez em quando lá aparecia alguém conhecido e a nossa parelha era desfeita, ora ficando para trás ou avançando …. foi assim por volta dos 7km, quando vi o meu amigo Luis Trigo na berma da estrada em Matosinhos … estava equipado, ia fazer um treino longo e fez-me companhia durante quase 2km ...

grande Luis

Passamos para o lado de Leça da Palmeira e lá estava novamente o Pedro Vicente para fazermos mais uns km juntos …. viragem aos 10km … os últimos km foram muito certinhos entre os 5,02 e os 5,09m/km.

Estava na hora de voltar a Matosinhos e continuava com o Pedro … só aos 12km é que me deixei ficar um pouco para trás e o Pedro arrancou … quando iniciei a subida para a ponte de Leça toca o telefone … é o Bruno a perguntar onde andava … ele estava à entrada da ponte, por volta dos 14km para me entregar a primeira garrafa. Esta parte correu bem …

Estava de volta a Matosinhos, primeiro para ir fazer o retorno para quem vai para fora da cidade e depois voltar ao centro de Matosinhos … perto dos 17km aparece o Bruno de bicicleta para fazer algumas centenas de metros e me encher de incentivos 😉 … ora vejam …

ca gordo que eu estou!!!

A sorte é que a policia, numa das rotundas, não o deixei seguir junto à malta que corre e ele se viu obrigado a ir dar uma volta ao bilhar grande … “vou ao carro buscar as outras garrafas e já nos encontramos mais à frente” … pois pois …

Lá estava de novo a rotunda da Anémona e como sempre, uma multidão … o ritmo aumenta sempre nesta zona … volto a passar junto à zona de onde parti há pouco mais de 1h30m e já levo 19km feitos.

Rotunda do Castelo do Queijo e agora vem a longa Avenida Brasília onde a meio passámos metade da prova … a primeira meia foi feita um pouco acima da 1h47 … já sinto as pernas a ficar pesadas, mas sinto-me bastante bem de uma forma geral  … o que faço?

Decido manter o mesmo ritmo até onde der … se conseguisse chegar aos 30km assim seria muito bom.

Zona da Foz do Douro, depois marginal do Douro, Ponte da Arrábida … continuo a fazer uma prova de trás para a frente … o pelotão está já bastante esticado, mas arranjo sempre alguém onde encostar para não ir sozinho …

Do lado contrário já vem os primeiros .. os dois primeiros vem juntos, são africanos como é lógico … o 3º já vem algo distanciado, assim como o 4º  e o 5º … um pouco depois o primeiro branco … vou-me distraindo com a malta que vem diferente e à procura de gente conhecida … vem ali o Daniel Santos … este moço da nossa zona corre tanto meu Deus, e é um moço 5 estrelas … mesmo sem experiência na Maratona vai fazer 20º na geral, pouco acima das 2h30 … maquinão …. um pouco depois um pequeno grupo cheio de gente minha conhecida … o Fabinho, outro, que tal como o Daniel, admiro pelo muito que corre mas mais ainda pelo simples e humilde que é … no mesmo grupo o Hélio Fumo a correr a primeira maratona da vida dele … ambos iriam fazer um tempo ali por volta das 2h42/2h43 …

Eu continuava a manter o ritmo com maior ou menor dificuldade … o vento de frente sabia bem, pois refrescava … onde anda o meu aguadeiro? Tínhamos combinado outra garrafita por volta dos 24km … já ia nos 27km e nada de Bruno!!! 😉 … sem problema … tenho géis comigo e água de 5 em 5km por parte da organização. Para hoje chega e sobra. Nesta fase tive a surpresa de ter o Sr.Dias, o nosso presidente, a incentivar na berma da estrada …sabe tão bem…

Alfândega e pouco depois vamos fazer a incursão nas profundezas da Ribeira … são paralelos que massacram as pernas já de si massacradas. Uso as guias de granito no centro das ruas, pois sempre protege um pouco mais … a passagem lá em baixo junto ao rio é fantástica pelo muito público, maioria turistas … sabe bem os incentivos … lá ao fundo aquela rampa que a gente sabe, para subir para o primeiro patamar da ponte D.Luis … decido não baixar o ritmo e até a fiz bem …

Chegado cá acima, continua o muito público entusiasta … a subida deu-me cabo das pernas 😉 … agora vem a parte que menos gosto … ir ao Freixo e voltar … a meio, junto à ponta D.Maria duas caras conhecidas na berma à minha espera... mais uma supresa … o Joel e o Jorge … juntam-se a mim para me fazer um pouco de companhia … ali está a mítica placa dos 30km … os últimos 9km foram certinhos, entre os 5,02 e os 5,10m/km … média continuava nos 5,06m/km … com o desfasamento de 300m que tinha nesta altura, a continuar assim daria um tempo por volta das 3h35-3h37 … muito bom.

grande Joel e Jorge

Mas a Maratona só ia começar agora … e começou logo mal … após fazer o retorno, já no regresso o vento ficou nas costas … o que pode parecer um ajuda não o foi … é que o sol que estava forte deixou de ter barreira e começou a bater-nos forte e feio … decidi quase de imediato reduzir um pouco o andamento, adaptar-me às condições … refrescar-me deitando água pela cabeça e bebendo mais …

O Joel e o Jorge fizeram-me companhia até à passagem do túnel da Ribeira … no fim do túnel, mesmo à saída, uma camisola do CAL … ali está o Bruno … agarro na minha garrafinha e sigo, agora sozinho novamente …

Até aos 36km a minha condição física vai-se deteriorando … especialmente a nível muscular. Nesta fase o Bruno volta a aparecer e vai-nos fazer companhia de bicicleta durante algum tempo … durante esse tempo chamou-me de tudo … destaco chamar-me “leitãozinho” e a pérola “quantos km levam?”  … “36!!” …. “txiiii … ainda falta tantooo” … cabrão 😊😊😊 … deviam ver a cara da malta que estava por ali, imaginam que a maioria vai já bem lixada e numa grande luta mental … ouvir “ainda falta tanto” é o melhor incentivo que podes ouvir nesta altura, certo? 😉 … a sorte dele é que a malta já não podia com uma gata pelo rabo e ele estava de bicicleta. Um pouco mais à frente lá estava novamente o Sr.Dias a incentivar o pessoal …pétaculo o nosso Presidente, a dar o exemplo … muito obrigado!!

um Bisonte!! Estão a ver pq não posso chamar gordo ao Bruno!!!

Também foi nesta fase que reencontrei o Pedro Vicente … ele estava com dor de burro … ainda fizemos mais umas centenas de metros juntos … eu estava a entrar numa fase mais difícil e não hesitei em baixar mais um pouco o ritmo … passei a fazer km entre 5,30 e 5,45m/km. Teve que ser …

Voltei à Foz, com aquela subidinha em paralelo junto ao forte, logo seguido de mais uma subida para entrar novamente na avenida Brasilia, que na volta é bem mais longa do que da primeira vez que ali passei há menos de 2 horas atrás 😉😉😉.

Finalmente o km 40 … agarro nova garrafa de água … não posso descurar a hidratação … Castelo do Queijo e uns 500m de subida no Avenida da Boavista em que tento não baixar ainda mais o ritmo. 41km tá quase … ali está a rotunda da Anémona pela última vez … agora é “só” subir para o Queimódromo e acabar com isto … os meus olhos procuram a Dora e as minhas filhotas … vejo o Bruno e ao lado dele está a Dora a filmar … a Bé está do lado de dentro com a Sara ao colo … vão cortar a meta comigo … faltam uns 300 ou 400m … não voltei a correr, com a Sara ao colo não dá …

… foi espectacular … a Sara ao inicio estranhou um pouco, mas depois começou a reagir, bateu palmas, tb fez a festa … a Bé queria correr, porque fartamo-nos de ser ultrapassados e aquilo estava-lhe a fazer “comichão” … lololol … como se fizesse alguma diferença uma dúzia de lugares acima ou abaixo …

Cortamos a meta e parei o relógio … 3h45m certinhos!! Bem bom … objectivo de correr sempre cumprido, quer dizer, excluindo os últimos 300m mas esses já não contam … e cheguei ao fim sem estar morto … muito bom!!!

Cervejinha da praxe e toca a sair do recinto para encontrar a Dora e o Bruno … ainda ficamos por ali um pouco, encontrei mais gente conhecida e estava na hora de cumprir mais uma tradição …

Francesinha no Requinte!!! Poucos mas bons …

nham nham

Adorei!!! Foi a minha 19ª Maratona de estrada concluída … a nível de tempo final foi das piores mas nas condições em que me apresentei correu muito bem. A minha experiência permitiu-me fazer estes 42,195km de forma tranquila e sem sofrer demasiado … foi o possível!!! A cereja em cima do bolo foi ter cortado a meta com as minhas filhotas … a estreia da Sara … um obrigado enorme à minha Pikinita que tornou este momento possível.

A organização esteve mais um vez impecável, nada de essencial falhou. Como habitual!!! O tempo esteve impecável e tb ajudou à festa ... 

Obrigado às muitas pessoas que pelo percurso foram chamando por mim, me incentivaram … sabe sempre muito muito bem.

Obrigado ao Joel, ao Jorge e ao Xô Presidente Dias por terem aparecido pelo percurso para dar aquela forcinha!!

Fica para o fim um obrigado especial ao meu menino Bruno …. Apanhou-me em casa às 6h30 e esteve lá o tempo todo. Quer dizer … quase 😉 … tou a brincar … tás cá dentro!!!

Para o ano não quero ir “sozinho” … para o ano vou desencaminhar o máximo de malta do CAL possível … com tempo vamos preparar a Maratona do Porto 2025 e bater o recorde de participantes do CAL na prova raínha!!!

E agora? Não tenho objectivos de momento … estou inscrito apenas na Volta a Paranhos e quero fazer uma ou outra S.Silvestre … entretanto começar a botar km nas pernas, que em fevereiro há 111km para se fazer ali para Sicó!!!