Eu adoro provas diferentes, gosto de eventos que coloquem
a nossa resistência à prova … e se envolverem amigos & convívio então é
perfeito.
Foi o caso do XMas Trail – 3H Resistência organizado pela
Nonstop com o rei João Sousa à cabeça. E tendo o João à cabeça já sabemos que
vai dar empeno na certa … o conceito é simples e pelos vistos já é habitual na
malta das bicicletas. Como o próprio nome indica seriam 3h a correr (ou a
caminhar) num percurso circular de ca.4,2km com 130m D+ … isto na sua grande
maioria por trilhos…. ganha quem fizer mais voltas. A zona escolhida foi ali na fronteira entre
Lobão e Sanguedo, trilhos que eu conheço minimamente bem pois já por ali passei
em treinos e até numa prova.
O evento nasceu há poucas semanas, e quando me apercebi
inscrevi-me logo e à Pikinita tb. Ainda por cima o speaker ia ser o Bruno …
Sousa, Bruno e Pernetas … fodeu-se 😉. Ainda tentei que a Pernetada fosse em maior número mas
anda tudo com medo 😉 … alinharam os velhotes … Lima e Fontes.
Não tenho treinado nada de especial … desde a Maratona do
Porto que tem sido um treino muito intermitente, com 2 ou 3 corridinhas de 10km
à semana e ao fim de semana a tentar ir até ao monte fazer mais alguns km. Por
isso, e mesmo sem conhecer bem o percurso (mas sabendo que ia ser um mói
pernas), coloquei um objectivo mínimo de 6 voltas, sendo muito bom fazer 7
voltas (quase 30km).
E no dia lá estávamos nós e mais umas dezenas de malucos
para mais esta aventura. Muita gente conhecida, um quadro competitivo para a
geral do melhor que temos aqui na zona, tanto nos homens como nas mulheres …
estavam cá os cavalos todos, alguns já com provas dadas a nível nacional …
depois havia o resto onde eu me incluía.
Eu estava com o “modo competitivo” on … do meu escalão
conhecia uns 2 ou 3, mas havia outros que eu pela pinta achava ser o suficiente
velhos para ter que ir à gadelha com eles. A verdade é que nestas coisas mais
“malucas” a grande maioria é velhadas … quer dizer … veteranos. Vamos indo
vamos vendo … se der para uma graçola não digo que não. A Pikinita estava na
mesma situação … o leque de moças era de topo … estavam cá quase todas as máquinas
dos arredores.
E deu-se a partida … na primeira volta o objectivo era correr sempre, de forma tranquila, fazendo o reconhecimento do percurso … o primeiro terço do pelotão desapareceu rapidamente e não é fácil manter o foco, refrear os cavalos, sem entrar em loucuras e ir “tentar” ir atrás deles … “calma que isto é como acaba e não como começa” ….
... umas poucas centenas de metros em single-track plano junto ao Rio
Uíma, seguido de uma primeira subidinha empedrada que nesta primeira volta
ainda se fez sem grande esforço a trote … foi nesta subidinha que passei
bastantes colegas de aventura… segue-se uma descida curta em estradão em terra
batida, depois a mesma distancia, tipo de piso e altimetria só que a subir até encontrarmos
os primeiros 200 metros em alcatrão antes de entrarmos à direita no monte e
começarmos a subir tudo o que faltava para ir buscar os tais 130mD+ anunciados em pouco mais que 1km…
o piso não apresentava muitas dificuldades, algumas pedras e raízes … uma ou
outra zona onde inclinava mais e automaticamente colocava as pernas a ganir e o
coração a bater mais forte. Era neste segmento a subir que teria oportunidade
de ganhar algum terreno aos meus “concorrentes” para compensar a falta de
destreza a descer … e como seriam as descidas?
Chegando ao topo havia um trilho com umas poucas centenas
de metros planos que dava para esticar as pernas e recuperar um pouco o fôlego antes
de enfrentar a descida de regresso à zona de partida … como esperava as
descidas eram bem mais inclinadas que as subidas … mas não eram muito técnicas,
alguma pedra apenas, o que me permitia correr também … aleluja!!!… mesmo assim
era vê-los a passar por mim tipo flechas por ali abaixo. Entre eles 2 que eu
não conhecia, mas que achava poderem ser do meu escalão. Como bem à minha
frente iam outros 2 que eu tinha a certeza serem do meu campeonato só me
restava tentar não deixar fugir muito estes últimos.
Depois da descida mais longa e difícil entramos pela 2ª
vez em alcatrão para fazer a ligação ao estradão em terra que nos leva
novamente ao trilho junto ao rio Inha, agora percorrido em sentido contrário
para completar a volta. É neste segmento e é nestes talvez 500/600m que vem à
tona o meu espírito mais “estradista”, aproveito para impor um ritmo um pouco
mais forte para passar um dos meus “concorrentes” ficando com o outro ali na
mira a menos de uma centena de metros … e é assim que passo a primeira volta …
23,18m foi o tempo que a demorei a fazer … sempre a correr.
Na meta levo com o Bruno … tem que ser 😉 … mal ele
deslumbra a minha camisola ao longe lá vem o desfilar de “incentivos” fofinhos,
as piadas com a minha idade, com o meu joelho e claro, pondo em causa a minha
sexualidade … e eu gosto!! O Bruno é um dos meus meninos 😉
Na meta não falta nada … um abastecimento farto e
bastante gente que veio assistir à maluquice … eu não paro nesta volta, ainda
não tenho sede nem fome e não quero perder tempo para os meus adversários que
tb não param… … siga para a volta nr.2 …
A minha intenção é apanhar o meu adversário da frente sem
deixar que os 2 que vem atrás de mim me apanhem … aquele trilho de ida e volta
junto ao rio faz com que possamos cruzar com muitos dos outros atletas em
prova. Consegui ver o atraso ou avanço que levava em relação a outros, vi o
Fontes tb … ali vem a Pikinita … é a 5ª na geral, digo-lhe “vais muito bem …”
…. a resposta é em forma de rosnanço “só não desisto por vergonha …” … isto faz
com que me vá a rir na primeira subidinha da 2ª volta … a Pikinita quando entra
em modo de gru maldisposto é assim … e hoje acordou sem vontade de vir correr,
com sono, tinha frio e ela não gosta de frio …lololol … mas tb sei que reclama
reclama mas anda da perna 😉
Eu na primeira subida cheguei mais perto do meu
adversário … e é nesta luta que apanho o Paulo Oliveira, conhecido das corridas
de estrada … o que começou numa breve troca de palavras transformou-se numa
companhia para o resto da prova (bem, quase …) … . na subida mais longa encosto
e depois ultrapasso o meu “adversário” … quero ganhar alguma vantagem para a
descida que aí vem … na descida a vantagem encurta mas saio na frente para a
zona plana antes de descer para a meta … e ali consigo aumentar novamente um pouco
a distancia …
Chego à zona de meta e lá vem as bocas do Speaker Bruno …
se tivesses mas é uma mini fresca preparada. Agora parei no abastecimento … bebi
e enchi o flask que levava comigo a mão … ainda esperei um pouco pelo Paulo e
seguimos juntos. O meu “adversário” não parou e ganhou assim novamente vantagem…
na 2ª volta gastei 23,48minutos … vamos lá para a 3ª …
As pernas estão bem, a respiração está controlada e sinto-me
com energia … ainda falta muito, vamos manter a calma … e assim foi … aproveitava
a companhia do Paulo e íamos na converseta … ele é moço da estrada, muito
melhor que eu, mas não tem experiência de trilhos … eu nas subidas fugia um
pouco e ele nos planos apanhava-me facilmente. Lembram-se do “adversário” que
me tinha voltado a passar na viragem da última volta … voltei a passar por ele na
subida ao ponto mais alto e nunca mais o viria a sentir por perto … passei a
meta com 25,33minutos gastos … a volta mais lenta, muito por ter parado no abastecimento
mas tb por ter sido um pouco mais contido e caminhado pela primeira vez um bocadinho numa das
subidas …
Sem parar (ainda tinha meio flask de isotónico) segui …
não queria perder tempo nem dar sinal de fraqueza a quem vinha atrás de mim … o
Paulo ficou no abastecimento, mas viria a apanhar-me um pouco mais à frente
novamente … foi a partir desta volta que começamos a ultrapassar alguns atletas
mais atrasados em voltas … houve sempre espaço para palavras de incentivo, para
umas brincadeiras … o mesmo com a malta da organização que estava nos pontos
mais críticos a controlar … excelente ambiente que criamos, todos juntos … mais rápidos, menos rápidos, malta da
organização … 4ª volta em 25,03minutos … excelente ..
No meu campeonato continuava muito distante da luta pelo
1º lugar … o Paulo Bandalho estava forte e não dava sinais de fraqueza … mas
ainda íamos a pouco mais de meio … ia tentar manter o ritmo e depois logo se
via. Voltei a parar para encher o flask e comer um bocado de banana. Já tinha
metido meio gel no bucho a meio da volta anterior… sigaaa que a concorrência
perseguidora não está a aproximar mas tb não está a perder terreno … a 5ª volta
continua a ser na companhia do Paulo … as pernas já pesam, especialmente nas
subidas onde nas partes mais inclinadas já caminho … começou a aparecer o
desgaste … diz-me o Paulo “olha que se mantivermos este ritmo ainda deve dar
para a oitava volta” … veremos … volta nr.5 em 25,36min … um reloginho suíço …
siga para a nr.6 sem parar na box …
… entramos na parte decisiva … durante todas as voltas
existiam zonas onde íamos cruzando com outros atletas em sentido contrário … durante
essas voltas fui tendo oportunidade de ver o grupo da frente, 5 ou 6 atletas
sempre muito juntos … quando arrancamos para a 6ª volta tinha noção que iriamos
ser dobrados o que achei iria acontecer na parte da subida a meio do percurso …
não foi … tb não foi na descida … foi apenas na zona de meta, onde chegaram
logo após eu ter chegado… tive oportunidade de ver as várias táticas … uns
seguiram a grande velocidade, um ou outro optou por abastecer qualquer coisa …
eu saí a ferrar os calcanhares ao Daniel da EDV Viana Trail que viria a ganhar
esta prova com categoria… por brincadeira tentei acompanhar o ritmo que digamos
durou uns míseros 30 ou 40 metros 😉 … fonix … a volta
nr.6 tinha sido feita em 26,37min … o desgaste a fazer das suas em modo galopante…
Quando saí para a 7ª volta o relógio estaria ali por volta das 2h32 de prova … se mantivesse a média teria hipótese de chegar antes das 3h o que me daria o direito de fazer mais uma volta… ca.28min parece muito tempo … mas no estado em que estavam as minhas pernas não iria ser, o desgaste geral já era mesmo muito … mas ia tentar …. meia banana e sigaaa … saí com a Liliana (a vencedora das mulheres) que logo na primeira subida começou a caminhar … tenho que forçar e subi aquela rampa que nas outras voltas se fazia benzinho a trote mas apenas até meio … não deu para mais … caminhava o mais rapidamente que conseguia a subir … olhei várias vezes para trás para ver onde parava o Paulo … ele como nas outras voltas terá parado no abastecimento e costumava-me apanhar-me na zona plana em alcatrão antes de atacar a subida grande … desta vez nem sinais dele … terá ficado?
… não posso esperar, se quero chegar a tempo de mais uma volta tenho que ir à luta … a subida foi feita como pude … entre trote e caminhada … tomei o resto de gel e bebi o meio flask de isotónico que ainda tinha … é o tudo ou nada … quando cheguei lá acima achei que ia conseguir … na descida controlei para não ter nenhum percalço e no plano antes de atacar a meta imprimi um ritmo certo … tinha 11 minutos para ca. 1,5km … passei alguns colegas, avisei-os que estávamos perto do tempo limite e que com uma forcinha ainda íamos a nova volta … um deles disse-me que “para ele já chegava” …
Chego à recta da meta e ouço o Bruno “mais uma volta velhinho,
opa …” … 26,47min para esta última volta
… a mais lenta no relógio, a mais rápida se contasse o que nos esforçamos para a acabar … cheguei
a menos de 2min do limite … agora tinha tempo … comi e bebi e “botei pés ao
caminho” … ali vinha o Paulo Oliveira com a Liliana … “anda que ainda dá…”, viria a
saber mais tarde que já não deu porque não quis. Ainda não tinha 200m
percorridos e atrás de mim vem o Bruno e o Tozé para a 9ª volta deles, ou seja,
para me dar uma volta de avanço. Vem em amena cavaqueira … era uma espécie de
volta de consagração … o Bruno iria ganhar o escalão dos M40 e o Tozé era o 2º …
e dessa dupla fez-se uma tripla … fomos juntos até ao fim em amena cavaqueira …
nas subidas caminhou-se, nos planos e descidas trotou-se e ainda bem porque eu
já não dava mais … doía-me tudo, especialmente as virilhas de tal forma que a
perna direita já nem levantava bem. 32,50 minutos para a 8ª e última volta …. Espectáculo
…
..na recta da meta fui recebido pela Pikinita,
visivelmente satisfeita com a prova dela. 4ª na geral e 3ª M40 … fantástica prova
de trás para a frente. Desculpem o termo mas a Pikinita fez uma prova do
caralhão!!! 7 voltas, 30km … e não queria correr ...
Eu ao meu nível tb fiz uma prova do caralhão … estava mesmo muito satisfeito, para
a forma actual é muito bom mesmo … 8 voltas, 35km em ca.3h30 … e com mais de
1000mD+. E surpresa das surpresas era 2º no meu escalão. Um dos que eu pensava
que seria do meu escalão só tem 45 anos …ups 😉 … mas andou lá outro
que eu não tinha tido em conta por parecer um chavalito novo e afinal era M50
como eu … lembram-se de na final da volta 7 um moço dizer que para ele já chegava
… pois 😉 …
Adorei a prova, o João e a malta da organização estão muito
de parabéns. Tudo impecável, desde o percurso duro mas equilibrado, as
marcações, o controle do percurso nas partes mais criticas, os abastecimentos,
a cervejinha no final, a medalha de finisher e até os prémios monetários para
os primeiros 5 da geral que não tinham sido anunciados mas foram surpresa.
Impecável malta. Muitos parabéns a todos e já sabem, se houver próxima só não
apareço se não puder mesmo.
Obrigado ao Ivan pela excelente cobertura fotográfica.
Também todos os participantes e toda a gente que veio assistir está de parabéns. O ambiente criado entre atletas foi qualquer coisa de espectacular ... houve combate e gadelha, mas acima de tudo houve fair-play e incentivos uns aos outros para nos superarmos.
Um agradecimento especial ao Paulo Oliveira ... foi uma ajuda enorme ter a tua companhia durante a prova o que ajudou e muito a manter o ritmo e o foco.
Terá sido a última prova do ano para mim, um ano que começou e acabou em beleza. Pelo meio foi mauzinho para mim, mas isso já passou. Próxima semana aqui neste cantinho o habitual resumo do ano.
ò pra isto ...
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