Saímos de casa ainda de noite, com frio e a chover ...
aquela chuva molha tolos, chata. Apanhamos o Américo e o Fontes e seguimos para
o Porto – chegamos um pouco antes da 7h e quase que pudemos escolher onde
estacionar. Nada a ver com a confusão habitual em dia de Maratona do Porto o
que fazia antever um número de participantes bem abaixo do habitual o que se veio a confirmar - menos que metade de finishers que o habitual.
Todo o ambiente habitual à volta do Queimódromo estava como
o tempo ... frio, molhado, ventoso. Fiquei a pensar para os meus botões „vai
ser uma Maratona tristonha e dificil“. O cafézinho onde costumávamos ir estava
fechado ... porra ... único remédio foi refugiar numa entrada de um prédio e
aguardar a hora da partida que este ano seria às 8 horas.
Com o aproximar da partida o tempo melhorou, parou de
chover, diminuiu o vento e abriu um pouco. Tb aumentou a azáfama pelas ruas,
conviveu-se um pouco e tirou-se as fotos de equipa da praxe. Faltam 5 minutos
... siga para as boxes.
Embora tivesse dorsal para o bloco A, enfiei-me no B com a Pikinita ... afinal ia fazer a prova com ela, tentar ajudar o que pudesse para um novo RP. Juntaram-se a nós o Fontes e o Américo.
Quase não tínhamos tempo de entrar na box, ainda deu para
uma última selfie já o pelotão avançava para o pórtico para iniciar mais uma
Maratona do Porto, a minha 10ª.
Os primeiros km eram muito importantes ... o que me preocupava era a Pikinita ... a juntar ao problema muscular que a impediu de treinar nas últimas 3 semanas ela carregava com ela uma forte dor abdominal que lhe tinha aparecido de véspera, combatida com medicação entrou em modo estável, mas incómoda. Estava combinado que se evoluísse alguma destas situações que seria para parar.
Se nada disso tivesse acontecido teríamos as 3h30 como
objectivo ... sendo assim era preciso reformular ... um recorde pessoal seria
3h45, 3h40 seria fantástico.
Os primeiros km foram para entrar no ritmo, ligeiramente acima dos 5min/km, sempre com a bandeira das 3h45 perto e que aproveitamos para ultrapassar na descida para voltar à Rotunda da Anémona ali por volta dos 3km. Agora era tentar colocar entre as bandeiras das 3h30 e das 3h45 e estabilizar.
E assim foi pelas ruas de Matosinhos, Porto de Leixões, até
ao retorno na marginal de Leça ... ali íamos os 4, bem-dispostos, frescos e
muitas vezes a andar rápido demais com aqui o velhote sempre a refrear os
ânimos. Mais importante ... a Pikinita, mesmo com algum desconforto, ia bem.
10km um pouquinho de nada acima dos 50min ... perfeito. Foi
a correr para sul na marginal de Leça a única vez que me lembro de ter sentido
um pouco o vento contra. Sigaaaa....
E foi por volta dos 14km a subir para a ponte em Leça que senti a Dora a arfar pela primeira vez 😉. Os ritmos mantinham-se estáveis embora continuasse a ter que travar a mota aos meus companheiros algumas vezes. Aquela voltinha em Matosinhos ao longo do Porto de Leixões é chata ... os paralelos, o facto de ser ligeiramente a subir não são agradáveis ... valha-nos a boa disposição do Fontes que via „primos“ em todo o lado e nos retornos haver sempre incentivos de um lado para o outro da malta conhecida ... sigaaa de volta à zona de partida ...
O tempo tinha aberto ainda mais e estava óptimo para correr ... a passagem pela zona das praias de Matosinhos é qualquer coisa e sem dúvida um dos pontos altos. Uma montanha de gente de ambos os lados a „carregar“ quem passa, então nós tivemos uma sorte do caraças com tanta gente a chamar pelos „pernetas“... aliás, isto foi uma constante durante toda a prova (Obrigado 😊)... as pernas ganham asas e é preciso muita cabecinha para não entrar em exageros.
Um pouco depois voltamos a passar na zona onde tínhamos
partido há ca. de 19km atrás, Castelo do Queijo e Avenida Brasil onde
sensivelmente a meio passamos a meia-maratona .... 1h47 e uns pózinhos ... x2
daria qualquer coisa como 3h35 ... mas sabemos perfeitamente que uma Maratona
não são 2 meias-Maratonas. Não é?
Até ali, tirando os primeiros 6km que foram lentos ao início e depois rápidos para estabilizar, todos os outros km foram corridos entre os 4,58 e os 5,07m/km.
„como estás? “ .... „com as pernas pesadas e algum
desconforto, e doí-me as costelas...“ responde a Pikinita.... „aguenta até aos
25km e depois baixamos um pouco“... aos 25km teríamos a nossa claque e o Bruno
com a garrafinha com bebida energética à espera ... já se
notava cansaço em todos nós ... o Fontes dizia que já estava a ficar
„fodido“ 😉, o Américo mais calado o que tb
era sinal de desgaste, e eu tb já sentia as pernas a ficar pesadotas.
Por volta dos 24km o Fontes diz que vai ficar por ali e que esperava por nós na meta. O Fontes não treinou para a Maratona, na semana
passada ofereceram-lhe um dorsal e ele veio até ao Porto – ele tem algumas
Maratonas no CV, tempos ali à volta das 3h ... sentiu que não fazia sentido ir
até ao fim e fez o que achou melhor. E está muito bem assim.
E passamos a ser 3 no nosso grupo. Um pouco mais à frente lá estava a nossa claque .... que maravilha, que bem que sabe ter ali a nossa familia no apoio ... não dá é para grandes convívios, uns high-fives e siga a camioneta ... entre a meia Maratona e o km 26 mantivemos o ritmo entre os 5,01 e os 5,08m/km.
Mas vendo que a Dora já estava a entrar naquela luta da
Maratona, e lembrando-me do que me aconteceu exactamente na mesma zona no anopassado, estava na hora de reduzir um pouco o andamento. Estávamos
perfeitamente dentro do objectivo, havia que gerir o máximo possível.
Os ritmos baixaram ... não apenas pelo desgaste, mas também
porque o percurso agora entrava na Ribeira, com piso irregular e com aquela
subidinha para o tabuleiro da Ponte D.Luis que é bem durinha nesta fase e para
finalmente chegarmos ao Freixo que para mim é sempre das zonas psicologicamente
mais difíceis.
KM 27 – 5,15
KM 28 – 5,21
KM 29 – 5,19
KM 30 – 5,05
Chegamos aos 30km com 2h33min ... na teoria, agora era fazer os 12k finais numa hora e pronto 😉 ... mas é agora que a Maratona normalmente começa e hoje, para nós, já tinha começado há 5 km atrás.
No retorno do Freixo o Américo ficou para trás ... apareceram as cãibras ... e assim fiquei sozinho com a Pikinita que estava mesmo com muitas dificuldades...“como estás? “ ... „doí-me tudo...“ .... „a barriga? “ ... „o desconforto continua aqui, mas não aumentou...“ ... ainda faltava tanto ... olhando para a Pikinita só me apetecia dizer para caminharmos um pouco, que se fodesse o rp ... era o mais fácil ... mas ao mesmo tempo eu conheço a raça da minha moça e sabia do que ela é capaz. Vamos indo e vamos vendo ...
Ainda antes do km 31 passamos pelo abastecimento da Lina e
dos seus escuteiros ... a Lina é uma grande amiga nossa e fez a festa à nossa
passagem 😊 ... quem corre a maratona sabe
o boost que estes gestos dão ...
... o problema é que tão depressa nos abstraímos como depressa voltamos a sentir as dores da Maratona. Próximo objectivo aguentar até aos 35km ... nova passagem pela Ponte D.Luis, Túnel da Ribeira, os terríveis paralelos desde a saída do túnel até à Igreja de S.Francisco ... vão valendo os incentivos do público, em especial de muita gente que não reconheço e gritam „Vamos Perneta“ou „ Vamos Pikinita“ ... e houve tantos ... depois o piso melhora ...
KM 31 – 5,18
KM 32 – 5,18
KM 33 – 5,20
KM 34 – 5,17
KM 35 – 5,28
Como podem ver, o objectivo de não baixar ritmo até ao km 35 foi conseguido ... aqui
foi a primeira vez que a Pikinita me disse que „só me apetece caminhar“... eu
ignorei, custou-me, sou sincero ... ninguém gosta de ver os seus a sofrer e ela
estava a passar mesmo um mau bocado ... „baixamos um pouco o ritmo, estás a
fazer uma prova excelente, dentro do tempo ...“ ... foi o que fizemos.
Cada km agora era uma eternidade com os olhos sempre à procura da próxima placa ... já se apanhava muita gente a caminhar ... mas tb começamos a ser ultrapassados por colegas que iam bastante bem. Neste troço apareceu o nosso Nuno Silva que acompanhou um pouco de bicicleta e devido ao nosso ritmo „fortíssimo“ se viu grego para nos tirar uma foto ... ou foi isso, ou a falta de jeito ou então o telefone que não vale um caracol, ou tudo junto 😊 ... lá fomos andando assim até à entrada da Foz onde sabia que iriamos ter uma zona critica ... estão a ver aquela subidinha ligeira em paralelos junto ao Forte na Foz? Doi não dói? ... aquilo tem umas guias em granito na berma ... passei para a frente da Pikinita e mantive o passo de corrida em cima dessas guias ... e ela manteve-se firme atrás de mim ...
KM 36 – 5,32
KM 37 – 5,38
KM 38 – 5,42
KM 39 – 6,01
O KM 39 coincide com o final desta subida e com a chegada à Foz, foi o único km acima dos 6min/km ... „tenho que caminhar um pouco“... nem tive tempo de reagir, paramos e caminhamos ... foram apenas uns 20 ou 30 metros, para tomar um gel e beber um gole de água ... „vamos, estás perfeitamente dentro para um excelente tempo“... pelas minhas contas entre 3h42 e 3h43 se conseguíssemos manter os ritmos ... mas todos sabemos o que pode acontecer nestes últimos km. Nada é garantido ...
Voltamos a correr ... a minha dúvida era saber como iriamos reagir após paragem ... mas voltamos aos ritmos com que vínhamos ... a infindável Avenida Brasil que coincide com a chegada dos 40km ... já nem peguei em água no abastecimento ... usamos o resto da água que traziamos para beber e despejar o resto pela cabeça para tentar refrescar um pouco. O tempo tinha aberto, o céu estava azul e o sol já fazia mossa tb ...
KM 40 – 5,29
Agora era subir um pouco a Avenida da Boavista .... „vamos,
agora é aguentar até ao retorno, depois descansamos na descida“... e assim
foi, a moça arfava e cerrava os dentes, mas venceu aquela subida terrível com
mestria (num treininho qualquer aquela subida parece uma descida 😉) .... aqueles 500m a descer
souberam que nem ginjas ...
KM 41 – 5,42
Foi feito com tranquilidade ... não é para estragar agora
... muita gente a caminhar, muita gente com espasmos musculares nas bermas ...
não vamos arriscar ... já no fim do edifício transparente, antes de iniciar a
subida para a zona da meta, uma surpresa enorme ... ali estava o Afonso (um miúdo de quem a Dora cuidou desde muito pequeno) juntamente com os pais, Francisco &
Márcia ... fizeram-nos uma enorme festa (Obrigado 😊) ... o Afonso correu uns metros connosco
e entregou isto à Dora ....
... ó páh ... fico a suar dos olhinhos com isto ... a sério
... agora era „só“subir para a meta ... ali estava o nosso Presidente, o Xô
Dias ... já o tinha visto logo no início da prova no Castelo do Queijo ... ali
com a malta desde o início ... um exemplo!!!
Naqueles últimos centenas de metros e embora seja a subir o ritmo aumenta por vários factores ... já sentes a meta, e a ajuda das pessoas que estão ali a dar-nos aquela forcinha final ... montes de „Anda Perneta“... „ Anda Pikinita“ ... oh páh ... peço desculpa por não dar aquela atenção, muitas vezes só ouço, nem vejo quem foi, de onde veio ... mas adoro, mesmo ... obrigado!!
KM 42 – 5,22
Aqueles pórticos, aquela curva à direita para entrar no Queimódromo ... ali está a claque do CAL/Pernetas com o meu menino Bruno de megafone em punho a receber-nos ... que orgulho nesta família 😊
... o que se sente nestes
últimos metros? Não sei descrever por palavras, quem corre a Maratona sabe .... mas desta vez tenho um vídeo que fiz questão de fazer ... vejam e
sintam ...
... espetáculo de Maratona ... espetáculo de Pikinita
guerreira de raça. Aquele abraço longo depois de cortar a meta soube tão, mas
tão bem e disse mais que um milhão de palavras. Só nós sabemos 😉
3.41,54 ... ca. 5 minutos abaixo do recorde anterior e nas condições em que estava. Muito, muito bom ... Parabéns Pikinita ... agora é desfrutar do resultado e recuperar bem.
Quem diria que um dia que começou tão tristonho iria acabar desta forma? Fantástico ...
Cervejinha, receber a medalha e ir ter com os nossos,
encontrar quem já tinha chegado, esperar e apoiar quem ainda faltava chegar.
Maravilha!!! Parabéns a todos!!!
Gostaria de destacar aqui os dois estreantes e agora
oficialmente Maratonistas!!! O Álvaro, meu companheiro de treinos para esta
aventura e que se estreou com um tempo fantástico, ainda por cima para primeira (3h26) e o
Ricardo que vem do andebol e corre apenas de vez em quando. Bem-vindos ao
clube!!!
Agradecer a todos o apoio que nos deram antes e durante a
prova, fosse de que forma fosse ... é mesmo impressionante a quantidade de
gente que tem a amabilidade de chamar por nós durante a prova.
Família CAL ... obrigado ... nunca falham ... e não foi
pela francesinha que fomos morfar no final 😉 Pode haver igual, mas melhor não
existe mesmo!!!
Dizer tb que mais uma vez a organização esteve em grande nível. Ainda não esqueci as garrafinhas de vinho do Porto que ofereciam há uns anos atrás, que eram abertas e partilhadas nuns treinos com amigos, mas pronto. No essencial nunca falham. A verdade é que a Maratona do Porto é de grande nível e oferece muito a um custo baixo. Parabéns Runporto!!!
Quanto a mim ... foi a minha 16ª Maratona de estrada (com a
de 11km de Roma são 17 😉) ... com tanta atenção focada
na Pikinita ajudou a abstrair-me das minhas „dores“... lembro-me de começar a
sentir as pernas pesadas antes da meia-maratona, algo que nunca foi deteriorando
demasiado ao longo da prova como muitas vezes acontece. Isso não quer dizer que
não tenha empenado ... empenei e bem. Vamos ver como corre a recuperação nos próximos dias ... se
tudo correr bem regresso aos trilhos e às S.Silvestres até final do ano.
Por fim uma dedicatória ... esta Maratona é para o meu
menino Bruno ... nunca mais, mas mesmo nunca mais nos faças isso, ouviste?
Estás proibido ... está dito e quem manda sou eu!!!
Brutal!
ResponderExcluirParabéns aos dois, em especial à Pikena pela conquista de novo RP!
Mais um belo relato, como habitual!
Bjs e bagaços!
Olhó Luis :) ... muito obrigado. Aquele abraço
ExcluirUi...no escritório (enquanto leio isto), a disfarçar um nózinho na garganta pelo que leio. Ai...que saudades de sentir ISSO TUDO, passito a passito durante os 42.195 m...
ResponderExcluirA Pikinita foi fantástica, vocês foram fantásticos. Muitos Parabéns e ...Obrigada por desta forma me levarem lá, aos mágicos 42.195 m...
Obrigado Ana ... vamos acreditar que um dia voltes a sentir isto tudo lá dentro. Faço figas para que isso aconteça. Beijinhos
ExcluirImpossível não ficar arrepiada com aquele vídeo! Muitos parabéns aos dois mas, sobretudo, à Pikinita pela superação :) Vocês são grandes! Beijinhos aos dois!
ResponderExcluirObrigadoooo. Beijinhos para as meninas e um abraço ao louco mais louco
ExcluirUi... o que dizer?!? Estes relatos dão cabo de mim... :)
ResponderExcluirE se já achava ser um grande feito o que a Dora fez, ignorava todos os problemas por que passou, o que mais engrandece o ENORME feito!
Não sei que dizer mais... são GRANDES!
Forte abraço, Carlos, grande beijinho, Dora!
É verdade, se já teve dúvidas até ao dia só faltava mesmo acordar da forma como acordou no sábado. Mas conseguiu :) ... obrigado por todo o incentivo João. Grande abraço. Manda um beijinho à Mafalda.
ExcluirSois uns campeões, todos!
ResponderExcluir( até o Badolas, claro!)
Só é uma pena o Bruno se ter lesionado mas acontece.
Grande Abraço!
Obrigado!! Abraço Helder
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