1ª São Silvestre de Mozelos - obra do diabo

Sábado passado foi dia de voltar à “competição”. Depois de Aveiro no dia 1, ter falhado Paranhos no dia 8 chegou a vez da São Silvestre de Mozelos na sua primeira edição.

Inscrevi-me nesta prova dos nossos vizinhos Mozelenses porque o nosso calense Paulo Fortunato nos desafiou a proporcionar um início da noite diferente à Leonor, uma menina que está confinada a uma cadeira de rodas. Sendo a Leonor de Mozelos e conhecida do Paulo surgiu a ideia de a levarmos a “correr” a São Silvestre pelas ruas da terra dela. Desafio que pelos vistos aceitou com grande entusiasmo. 

Mas S.Pedro não quis colaborar com esta nossa missão e fez o desfavor de enviar um dilúvio durante a tarde e noite toda de sábado. Não havia condições para a Leonor participar em segurança – mas esteve lá presente na partida, sempre bem disposta … grande Leonor. 

Fica para a próxima. São Pedro, és um desmancha-prazeres!!!

E eu já que lá estava participei na prova normalmente. Não iam ser uns baldes de água atirados com violência do céu e umas rajadas de vento, misturadas com umas temperaturas no mínimo frescas que me iam impedir J Resumindo estava horrível!!! 

são os tempos modernos …

A entrega dos dorsais foi feito dentro de uma loja na zona da partida. O convívio tb foi por ali quase até à hora da partida. Digo quase, porque ao contrário de muitos, eu decidi ir fazer uma aquecimento de 10 minutos. Praticamente era só eu e as “trutas” – já sabem como é, quando envolve prémios monetários os melhores aqui da zona aparecem quase todos. O aquecimento resumiu-se a correr sem parar … mentira … parei para mudar a água às azeitonas J … havia algumas pessoas junto à entrada de um café e ouvi um “é preciso ser muito tolinho para andar a correr com este tempo” (acho que meteu um foda-se antes mas como há famílias inteiras a ler estas coisas eu evito escrever foda-se por aqui) … era verdade … era preciso ser maluco e gostar muito de correr. Foram 101 desses tolinhos a acabar esta São Silvestre!!!

Faltava um minuto para a partida e coloquei-me na parte de trás do pelotão - barbatanas e braçadeiras colocadas!!! Estou pronto …

sim .. sou um gato …

Quando se deu o tiro não houve grande dificuldade em começar logo a abrir à grande. A avenida é larga, o pelotão era na grande maioria constituído por gente que corre há muitos anos – foi fácil entrar no ritmo. 

Não conhecendo o percurso sabia que não era plano e já tinha sido avisado que tinha um subida “jeitosa”. E eram 3 voltas iguais para um total de pouco mais de 8km. Era para fazer em “red line”, o treino de ritmo que me faltava esta semana.

E fiz um primeiro km num ritmo diabólico aproveitando a boleia do pelotão e o facto de ser uma descida prolongada com um piso bom – 3,39m/km. Único problema era a chuva intensa, que empurrada pelo vento nos batia na cara com força e obrigava a correr de olhos semi-cerrados .. fez falta um chapéu. 

Pouco depois do primeiro km temos uns 200m em que passa de plano para uma ligeira inclinação a subir … chamemos-lhe a fase de transição da descida para a dita subida “jeitosa” … cum caralho (não posso escrever caralho mas escrevo) … são 500m com 30m D+ … antes de entrar nessa subida levava 3,40m/km de média. Quando cheguei lá acima já ia em 4min/km e tinha-me ferrado todo para o conseguir – estava literalmente com os bofes de fora a arfar como um cavalo. 

era isto com chuva ...

Ahhhh bom … voltou o plano … as pernas falham um pouco e tento forçar para voltar ao ritmo que quero fazer (abaixo dos 4,05 no total) … ia eu a pensar que a primeira volta estava quase e que já “só” faltavam 2 voltas quando vejo o moço à minha frente a cortar à esquerda … mas??? Que puta de rampa minhas senhoras (eu sei que não posso escrever “puta” neste tasquinho mas não me ocorre outro termo melhor) … é curta, uma centena e meia de metros … mas sobe 15mD+ (10%) … decido atacar com força, mas ao fim de 10 ou 15 metros fico sem força nas pernas … só consigo subir a trote … nem acredito quando chego cá acima … 

era isto mesmo … igualzinho

...agora sim … é descer até à zona da meta sempre a descer ligeiramente com um piso bom. Passo embalado na meta … vou a forçar e a tentar recuperar o fôlego ao mesmo tempo … duas coisas que parecem impossíveis fazer ao mesmo tempo!!! Primeira volta com média de 4min/km. Muito bom. Difícil se não impossível de manter. Veremos …

A segunda volta tem a vantagem de já sabermos o que nos espera … fui bem mais comedido na descida de pouco mais de 1km antes de enfrentar novamente as subidas. O que não quer dizer que fosse lento … sempre abaixo dos 4m/km … nesta fase já vai cada um mais ou menos no “seu” lugar … já é uma prova mais solitária e poucos são os que me passam ou são passados por mim.

Lá está outra vez a besta da subida “jeitosa” … não tenho forças para a atacar com determinação pelo que decido fazer num ritmo mais comedido mas certo … funciona … vamos à “puta” … o espaço para recuperar entre as duas parece-me bem mais curto. Não porque vou mais rápido mas porque agora sei que ela está ali ao virar da esquina. Sou apanhado pelo Tozé do Fiães … ele só vem ali naquela posição porque de manhã tinha ido fazer os Trilhos da Raposa (6ª na geral e 1ª no velhotes da minha idade) - é outro nível) … vem a rebocar a primeira das mulheres e tenta “puxar” por mim. Disse-lhe que já estava arrebentado e estava mesmo … a gripe da semana passada e alguma tosse, os muitos treinos desta semana … tudo desculpas para deitar a toalha ao chão.

Mas tão depressa ia debitando as desculpas pela boca para fora como me decido a ir de reboque também - pelo menos tentar. A subida até a fiz melhor do que esperava … diz-me o Tozé “passos pequenos” … e assim fiz … isto é para quem sabe J e lá vamos nós para passar a meta pela segunda vez e entrar na última volta. Sabe bem ouvir o meu presidente Xô Dias cada vez que passo na meta “… boa Carlos, vais muito bem”. Olho para o relógio: 4,10m/km de média. Pois .. querias milagres não?

Por acaso vou é muito mal, um pulmão já não deve funcionar, o outro deve estar a rebentar, o oxigénio todo deste mundo não me chega, o coração enche-me a boca J … mas pronto, é para morrer que seja a correr. Alguém grita “ó Tozé … vocês são 3º e 4º M40” … não acredito nisso, com tantas “trutas” que vi por aí … diz o Tozé “brincalhões … eles querem uma disputa entre nós os dois” … penso eu para os meus botões “devem querer é que eu morra mesmo aqui” … decido aproveitar a última descida prolongada para ir com o Tozé … agora somos 5 … 4 homens e a primeira mulher. O ritmo chega aos 3,35m/km em algumas partes… 

Cá está a “jeitosa” pela última vez … é aqui que perco o contacto com o Tozé e com o outro colega de equipa dele. Ainda o ouvi dizer “anda, não descola” mas não tive força (ou coragem) para o fazer. Fiquei para trás com a Helena Sampaio do Ovar que era (e foi..) a primeira mulher e fiz das tripas coração para perder o mínimo de tempo possível … no final da subida apanho novamente o 3º homem do grupo e deixo a Helena para trás … aproveito a fase plana antes da “puta” para ganhar terreno e faço esta última rampa a olhar para o chão e a dar passos pequenos como me tinham ensinado na volta anterior. Nem acreditei quando cheguei "cá acima” … agora era só ir até à meta, coisa que fiz a dar o máximo cortando a meta com 33,43m para 8,15km e a média em 4,10m/km – consegui manter na última volta o que é excelente.

Deu direito a um excelente 26º lugar na geral e 6º no escalão – vale o que vale, mas fiquei muito satisfeito com a prestação. Foi um belo treino de ritmo. Agradeço ao Tozé ter puxado por mim, fez com que fosse buscar aquele bocadinho dentro de mim que estava lá mas eu já não estava a ver J

De resto dizer que gostei muito … aliás, gosto muito destas organizações caseiras. Azar pelo facto do S.Pedro não ter colaborado. Parabéns à organização!!! É preciso coragem para organizar uma São Silvestre numa terra pequena quando existe tanta oferta nas grandes cidade nas mesmas datas (era Gondomar, Coimbra e Braga este fim de semana – só aqui por perto). Por 8 euros tivemos direito a uma camisola catita e à bela da bifana no fim. 

Leonor – haverá uma próxima oportunidade J

É por isto tudo que este tipo de provas mais curtas são obra do diabo J