Por volta do km 26 ou 27 dou comigo a soluçar e a „suar
dos olhos“ ... podem não acreditar, mas foi nesta fase da Maratona que eu tive
a certeza que iria fazer algo de extraordinário para o meu nível. Como é possível
ter a certeza quando ainda falta tanto e a parte mais difícil da Maratona? Não
faço ideia, é daquelas coisas que não se explicam, apenas se sentem.
Não sei se se lembram da “brincadeirinha” que foi este meu post, a prever o que seria a minha Maratona deste ano. Foi escrito com base
nas experiências que vivi nas 5 edições anteriores – em quase todas elas se
repetiram muitas destas situações. Este ano poucas ou quase nenhumas se deram.
Venham de lá comigo…
Entrei no zona A apenas uns 2 ou 3 minutos antes do tiro
de partida – tínhamos chegado cedo, por volta das 7.30h, mas como sempre,
ponho-me na conversa com este e com aquele e quando dou por ela está na hora. Até
foi bom, não houve tempo para ficar nervoso e já estava a partir …
A partida deu-se sem grandes problemas, bastante gente
que não deixou entrar logo no ritmo pretendido mas sempre fluente … não há
problema, é uma Maratona caraças, temos mais que tempo de entrar no ritmo.
Estava resolvido um dos problemas do ano anterior quando a partida foi dada no
Queimódromo. A subir a Avenida da Boavista já começo a aumentar o ritmo e
atingo o ritmo médio que pretendo por volta dos 5km. A minha intenção era
chegar à Meia-Maratona com 1h37 a 1h38. Senti-me bem desde o primeiro metro
percorrido, sempre controlado.
Na zona de Matosinhos, de ida e volta começo a
ver o “balão“ das 3h15, chego-me a 200m e estabilizo … decido que lhe vou fazer
a marcação ao longe, não me quero juntar, está muita gente e não gosto de confusões.
E assim foi durante muitos e muitos km, durante toda a Avenida Brasil, toda a
marginal do Douro, Ponte Arrábida, Ponte Luminosa onde um pouco antes estava o
Zé Alexandre e a Ana – vieram apoiar a malta – sabe tão bem ver caras
conhecidas e acreditem que fazem a diferença – pouco depois a Alfândega e aquela
maravilhosa incursão na parte velha da Ribeira, no Porto antigo património mundial,
cheio de gente a aplaudir que fez com que a subida ao tabuleiro inferior da
Ponte D.Luis fosse feito com uma perna às costas.
Tinham ficado para trás os primeiros 20km, sentia-me bem
e vinha a cumprir religiosamente o meu plano. Ritmo certo, gel de 7 em 7km e
hidratar bem … bebia uma garrafa de água de abastecimento em abastecimento e
fartei-me de refrescar cabeça e pescoço. O tempo estava excelente para correr,
temperatura amena e mesmo o sol que brilhava não se fazia sentir na pele – algumas
zonas com vento contra mas nada de especial. Excelente.
Atinjo a meia-maratona com 1h37m09s segundo o meu relógio
e boas sensações – melhor era impossível. Apenas o meu joelho direito começava
a queixar-se por causa do empedrado. O balão das 3h15 estava a uma centena de
metros, agora já com bem menos gente mas mesmo assim ainda gente a mais para o
meu gosto. E assim continuei agora na marginal do Douro, pelo lado de
Gaia … em frente às caves Ferreira o Joel e o Sérgio … mais festa J e sigaaaa … continuava a cumprir o plano, mais um gel,
beber, refrescar. Não tardou a chegar ao retorno na zona da Afurada … tudo bem,
menos o joelho que estava muito mal tratado e me prendia um pouco o movimento.
Como já é habitual, não me preocupei com isso … sei que posso forçar, que a
factura será uns dias valentes de joelho inchado, dores e falta de força. Um
preço que considero justo J
Pouco depois dá-se o episódio que relatei logo ao início …
nesta fase estava na cauda do pelotão do balão das 3h15 … uma confusão danada,
alguns apertos e até encontrões. A estrada é estreita e cruzam-se atletas em ambas
as direcções … mas até foi bom ir ali no meio … acho que ninguém se apercebeu
da “choradeira” … a chegar ao cais de Gaia está o Américo que tb veio apoiar a
malta, mais uma camisola do CAL, mais uns incentivos, mais um high-five e mais
uma injecção de moral …
Normalmente nesta fase já deveria estar com as pernas a
começar a pesar, mas não, nada de extraordinário para quem já levava quase 30km
a bom ritmo. Até a subida para voltar a passar a Ponte D.Luis de regresso ao
lado do Porto é feita sem perder ritmo e acho que é a primeira vez (em 6
participações) que chego “cá acima” sem os bofes de fora e sem estar a tremer
das pernas … tanta gente a aplaudir, até arrepia e as pernas andam mais rápido
do que deviam, de tal forma que quase passo o balão das 3h15 … fantástico …
agora é a parte que eu menos gosto, a ida e volta ao Freixo, zona onde sempre
mas sempre costumo quebrar … estranho, este ano não, não sei o que se passa mas
tenho que aproveitar a boa onda. Não tarda estou de volta à zona da Ponte e do
banho de multidão … que grande apoio … no meio daquela gente toda, novamente o
Zé Alexandre e a Ana … o Zé salta para a arena e corre ao meu lado durante o Túnel
da Ribeira …”vais bem?” … “tou fodido do joelho, mas de resto está tudo bem” … “anda,
vais muito bem, anda, passa o balão” … “não, não … ainda falta muito” … e tinha
passado o túnel, outro dos monstros que me costuma azucrinar a cabeça …
high-five ao Zé … “obrigado, agora é assim até ao fim” … muito importante este
bocadinho … grande Zé J
Mais uns paralelos e o joelho está pior que nunca … mas
eu aguento … mal entramos na zona asfaltada, um pouco antes da Alfândega decido
passar o balão das 3h15 … foi uma decisão tomada assim em cima do joelho …
levava a firme ideia de ir atrás dele até aos 37, 38km e depois logo se veria…
não sei porque alterei a táctica e decidi arriscar, ainda faltavam 8km o que é
muito.
Agora não havia volta a dar, tinha arriscado e o objectivo
passou a ser chegar antes do balão das 3h15 à meta … volto a passar por baixo
da Ponte Arrábida e agora as pernas já pesam, e pioram de passo a passo … 36/37km
chegou a fase que os maratonistas tão bem conhecem, a fase da luta … espectáculo,
nunca tinha chegado tão longe antes desta “luta” … um último gel para o bucho e
pouco depois estava a fazer aquela subidinha tramada antes da Foz e voltar a
entrar na Avenida Brasil … parecia que ia mais rápido, mas era só impressão
minha … de vez em quando olhava por cima do ombro esquerdo e o raio do balão não
descolava … mantinha-se teimosamente a menos de 100m de mim …
Faltavam 4 ou 5km, as pernas estavam uma lástima, mas não
me ia deixar vencer … hoje era o meu dia ... toca a arreganhar a tacha, faca nos dentes e siga … foi
uma luta terrível chegar ao Castelo do Queijo, que parecia estar tão perto mas
nunca mais chegava .. nem parei no abastecimento dos 40km, aquela bandeira
atrás de mim não dava abébias …
Edifício transparente, Rotunda da Anémona e corte à
direita … com um esforço enorme consegui ganhar alguma distância ao balão …
sinto que está feito …
... o muito público que se estende nas últimas centenas de
metros “carrega-nos” até à recta da meta, olho para relógio oficial … está no início
do minuto 14 … feito, os últimos 200m são já a descomprimir e a festejar uma
corrida de sonho … espectacular, quem já fez uma Maratona conhece o sentimento,
é sempre especial, então esta … meu Deus…
Depois de uns segundos a descansar logo após a meta,
avanço um pouco e refugio-me junto gradeamento do lado esquerdo, onde não tem
público e onde se pode estar sossegado …é nesta altura que vem tudo ao de cima,
uma mistura de sentimentos … não me consigo controlar … é um companheiro
maratonista que me “salva” ao vir falar comigo …
Levanto a medalha e vou ter com o Luis Lobo e o Filipe
para comemorar os nossos feitos com uma bejecas …
Finalmente uma marca na Maratona mais condizente com o
que eu acho que valho – modéstia à parte acho que mereci este “voo”.
Esta é a “minha” prova preferida … não é por acaso que a
Maratona é a distância rainha, é uma prova que não faz prisioneiros e não
existe o “renascer” para quem a quer fazer com um determinado objectivo. Na
minha opinião é uma prova onde a experiência tem um papel fundamental e com 9
no CV começo a saber gerir melhor a prova. A Maratona do Porto é uma festa e tem
o condão de agregar a malta da estrada com a do trail o que não é fácil. Para
mim é uma alegria ver tantos amigos juntos a festeja-la.
Ainda tenho muito para contar, para agradecer … fica para
os próximos dias, merece um post à parte.
Pois é meu caro, como o vinho, mesmo do Porto!
ResponderExcluirAbraço
Um Vintage ;) ...obrigado. Abraço
ExcluirTão e tão merecido este voo!!!!!!
ResponderExcluirMuitos parabéns!!!!
Fiquei muito feliz e orgulhoso por ti.
E só quem anda lá dentro compreende essas sensações.
Uma excelente recuperação!
Grande abraço
Obrigado João. O mesmo digo da tua Maratona, excelente e mais que merecida.
ExcluirAbraço
Grande! Parabéns uma vez mais! Prémio merecido!
ResponderExcluirAbração
Obrigado Paulo. Forte Abraço
ExcluirProva fantástica, não é qualquer um que pode dizer que teve uma maratona a sentir-se tão bem.
ResponderExcluirParabéns pelo teu recorde pessoal! Agora é bater este na próxima :p
Um abraço
É verdade. Raramente acontece. E sim, acho que ainda consigo melhor ;)
ExcluirObrigado. Abraço
Mt bom!!! Parabéns.
ResponderExcluirObrigado Mauro e parabéns tb pela tua Maratona.
ExcluirAbraço
PARABÉNS!
ResponderExcluirGrande marca e grande relato!
MAGISTRAL!
Esse incentivo de fugir do balão das 3:15 um espectáculo!
Não pude deixar de pensar quando fiz o meu melhor tempo na maratona (na década de 80 ) e na actualidade. No meu caso foi quase um contra relógio no "deserto" e abastecimento só liquido que mais não havia na época! Mas agora como na altura é tudo igual ou seja a maratona é uma prova de cabeça, estratégia e inteligência! E foi com tudo isso que tu fizeste uma maratona excelente! Mas olha que acredito que és rapaz para ainda fazer bem melhor! E vais para os Aplauso lá no UK! Grande abraço.
Obrigado Jorge. Destaque no UK é uma enorme honra.
ExcluirNo teu tempo de Maratonista as condições eram muito mais dificieis, hoje temos a "paparoca" toda prontinha .. mas são precisas as pernas e a cabeça na mesma. Eu tb acho que ainda tenho alguma margem, mas devia-me dedicar uns 3 meses só a pensar na Maratona ;)
Grande abraço e mais uma vez obrigado
Parabéns, Carlos! Foi, sem dúvida, merecido!
ResponderExcluirE, de facto, devias ir a voar, porque não te consegui ver uma única vez ao longo da prova! :) (E nem viste O ROCKY!! Imperdoável...) ;)
Beijinhos e boa recuperação
Eu andava a esconder-me da malta :) ... não vi o Rocky no domingo, mas vi-o ontem em Dresden :)
ExcluirBeijinhos e boa recuperação para ti tb
Estiveste mega brutal no domingo! Ca ganda tempo!
ResponderExcluirMuitos parabéns Carlos!
Quando passávamos por ti percebíamos que ias mesmo a dar o teu melhor, mereceste esse resultado :)
E estou como tu, não há prova como a maratona, é mesmo algo de mágico.
Beijinhos e boa recuperação
Obrigado Isa. Tb vocês estiveram em grande, parabéns.
ExcluirBeijinhos e boa recuperação tb para vocês
Grande Carlos!
ResponderExcluirFoi um grande voo, mas não tenho dúvidas que ainda consegues voar mais alto.
Estiveste muito bem e mereceste as bejecas no final:)
Obrigado por tudo!
Grande abraço
Obrigado Vitor. Tb acho que ainda tenho alguma margem de progressão na Maratona ... vamos a ver, ainda sou um puto e tenho tempo ;)
ExcluirGrande abraço
Parabéns Carlos pelo excelente voo!
ResponderExcluirObrigado. Abraço
ExcluirA voar também eu :-P
ResponderExcluirSe a organização sabe...
Muitos parabéns grande tempo!
Abraço
Xiuuu ... tá calado páh, olha que eles ouvem ;)
ExcluirMuito obrigado.
Grande Abraço
Muitos parabéns, é efetivamente uma excelente marca! Mais um grande relato, como sempre, abraço!
ResponderExcluirObrigado. Aquele abraço
ExcluirSimplesmente fantástico !!!!
ResponderExcluirMuitos parabéns .
Obrigado Joaquim, e parabéns por mais uma. Abraço
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