quarta-feira

Corrida Urbana 2025 - no lugar do morto

 

No último sábado à noite voltei à Corrida Urbana com um objectivo muito claro … fazer melhor que no ano passado.

Em 2024 tinha feito uma boaprova, acabando com uma média de 4,46m/km. Queria baixar essa média, bastante se possível … bastante seria entrar nos quatro e trintas, uns 10s por km a menos, ou seja, menos minuto e meio. Por aí seria muito bom…

Durante a semana gostava de ter ido fazer partes do percurso, mas não consegui … queria “sentir” as subidas, tirar-lhes as medidas para tentar planear a melhor gestão de esforço possível. Ainda consegui ir ver a média que fiz em cada km para servir como bitola … mas nem isso consegui estudar … foi mais uma semana bastante ocupada. Não faz mal …

A minha táctica … tentar não ficar muito longe da linha de partida, fazer o primeiro km o mais rapidamente possível, fazer a primeira subida a forçar, não baixar o andamento no 2º km para tentar chegar aos escadórios das grutas e do Castelo o mais à frente possível, evitar ficar muito encurralado e ter que caminhar nas escadas … depois olha, aguenta … fácil!!!

No sábado saí de casa equipado e aproveitei para fazer o aquecimento até a linha de partida … até que me estava a sentir bem … entrei no Bloco A e chegar à frente foi fácil … fiquei numa 3ª linha de forma muito tranquila … ainda deu para as habituais conversetas com a malta conhecida … tb espreitei para ver se via os habituais velhos do meu escalão … no ano passado tinha sido 7º … vi o Orlando (vencedor de o ano passado) que veio ter comigo … “então Orlando, já fizeste 60?” … 😉😉😊 … “eu não …” … “foda-se lá a minha sorte, nunca mais faz 60 este gajo ... bem, vou ter que ir atrás de ti mas quando começar a subir já fui … uma coisa é puxar 80kg, outra é puxar um saco de cimento…” …

já bolto...

o que se há-de fazer???

muito natural ... completamente desprevenidos ...

a combinar a táctica ...

E às 21h30 lá se deu o tiro de partida … já estava lusco-fusco e o frontal já ia na testa, ainda desligado. Avenida da Biblioteca é larga e como era a descer cumpri o meu “plano” na perfeição … vrrruuummm … corte à esquerda, Pavilhão da Lavandeira a olhar para o relógio que mostrava ritmos na casa dos 3,30m/km confirmados pelo coração a bater descontrolado e o pulmão esquerdo a querer sair pela boca. Mesmo assim era ultrapassado … fonix.

E lá vem a primeira subida até à estação do Vouginha de Santa Maria da Feira … é das duras … agora é forçar … mas não dava … ali uns 10 metros à minha frente ia um grupo com o Orlando e eu mesmo “lento” não perdia terreno … afinal não vou assim tão mal.

Chegamos cá acima e a montanha russa continua, agora a descer de volta à avenida da biblioteca … altura de tentar aumentar o ritmo e estabilizar a respiração ao mesmo tempo … parece incompatível mas consigo … passagem pela parte velha de Santa Maria da Feira para depois enfrentar o km mais difícil de todo o percurso … da zona do Rossio até ao alto do Castelo da Feira, com passagem por dentro do Convento dos Loios, pelo Jardim do Castelo com as suas grutas e rampas super inclinadas, este ano com passagem pelo Inatel para finalmente chegar ao Castelo da Feira. Isto implica escadórios, escadas, caminhos, caminhinhos, e praticamente sempre a subir. Era neste segmento onde eu pensava que poderia ganhar bastante tempo em relação ao ano anterior onde tinha sido encurralado nas escadas das grutas.

O escadório do Convento foi feito a saltar 2 degraus de cada vez, tentado manter uma cadência forte sem exagerar. Consegui mas entrei no Convento já com as pernas bambas … a saída novamente pelas escadas foi feito com o coração na boca … sigaaa 

… agora a parte pior … o Jardim do Castelo tem uma inclinação brutal … uma coisa é subir a correr num treino, outra é em prova onde ainda não temos 3km feitos mas já levamos uma coça do caraças … vou ali num grupinho de 5 ou 6 a aproveitar a corda … nas grutas o que vai à minha frente caminha nas escadas … não tenho hipótese, tenho que caminhar tb … aproveito para recuperar um pouco … no bocado do Inatel ao Castelo (que foi novo em parte) houve muita hesitação com o percurso, inclusivamente alguns enganos … as fitas estavam lá com os reflectores, mas deveria ter mais algumas e houve uma ou outra mal colocadas na minha opinião…

… e houve um episódio chato … um dos que vinha comigo no grupo reclamou (até de forma bastante cordial e sem faltar ao respeito) com um membro da organização que lhe disse “abram os olhos” de uma forma pouco simpática …. não caiu muito bem …. já tenho uns anitos disto e sou supertranquilo porque sei perfeitamente que só não erra quem nada faz … ali tenho a certeza que havia uma ou outra fita a menos e pelo menos duas mal colocadas pois poderiam induzir em seguir caminhos errados o que foi o que aconteceu comigo quando tomei a frente do grupo e os levei por um trilho errado por uns 20 metros … lembro que ali é noite cerrada … isto tudo fez com que se perdesse ritmo como é evidente …

A passagem pelo Castelo também foi diferente do ano passado … a saída foi pela porta principal …  e estava na hora de descer ao Rossio … o ritmo  aumentou por aquela estrada empedrada abaixo … ainda não tinha 4km feitos e estava “sozinho” com um atleta uns metros à minha frente e uns dois ou três uns metros atrás de mim.

Eu ainda não sabia, mas iria ficar assim. Não iria passar mais ninguém nem ser ultrapassado até ao fim. No ano passado lembro-me de ter tido vários grupos com quem “lutar” e motivar nesta fase da corrida e até ao fim  … este ano não.

A passagem pelas Piscinas Municipais foi igualmente um pouco confusa … mais escadas ora a subir mas também a descer … um quebra pernas, mais um … finalmente a saída da piscina … agora teremos uns bons km para abrir a passada e correr mais rápido … haja pernas … primeiro pelo parque onde se realizam as nossas 24h de P (por falar nisso, já se inscreveram? Não? O que estão à espera?  aqui o link … ) … depois a passagem pelos pátios da  Escola Fernando Pessoa que à saída tem mais um escadório para interromper o ritmo da corrida … atacava sempre forte as escadas com dois degraus de cada vez, depois a meio passava a um de cada vez … chegava sempre ao cimo quase a caminhar, com as pernas a abanar, a respiração descontrolada e custava voltar a arrancar, a entrar no ritmo …

Agora era estrada pura … primeiro até ao Pingo Doce a subir para fazer o retorno … tentei manter um ritmo vivo e ia me mantendo distraído com a malta que vinha à minha frente … não vou muito mal classificado 😉 e a média estava em 4,40m/km … boa … dentro do objectivo … estava bastante cansado mas agora faltavam apenas pouco mais de 2km … o regresso à Fernando Pessoa é quase sempre a descer e quando achava que ia conseguir acelerar um pouco mais não consegui … à minha frente uns 20m continuava o mesmo atleta de sempre, de azul, e um pouco mais à frente ia um vestido de preto a quem estávamos a ganhar alguns poucos metros …. atrás de mim ninguém, o próximo devia estar já a mais de 100m …

Vinha agora uma rampa com uns 300 a 400m para subir, rampa essa que poderia fazer a diferença e ainda tentar ir buscar os dois à minha frente … mas não tive pernas, em vez de encurtar a distância aumentou um pouco … parecia que tinha uma corda a puxar-me para trás … que martírio chegar lá acima  …. depois é um sobe e desce ligeiro durante uns bons 500m onde tentei reduzir a diferença o que consegui … mas sem nunca chegar a encostar … faltava pouco, mas esse pouco era difícil …

… andamos pelas traseiras de uns prédios … para chegar ao estádio foi preciso vencer mais uma enorme escadaria inclinada … voltei a não caminhar, mas com muito esforço … o atleta de azul à minha frente volta a fugir um pouco mais nas escadas de acesso ao estádio Marcolino de Castro do Feirense … tem uns 30m de avanço enquanto que o de preto um pouco mais à frente está a perder e está agora a apenas uns 50m de mim …

A volta ao estádio é feita pela bancada … tento acelerar mas escorrego numa parte molhada …. devem ter andado a lavar a bancada e onde está húmido não tenho aderência … toca a refrear os ânimos mas é … calmex … estão algumas pessoas dentro do estádio a aplaudir, dou uns high-five as uns miúdos  ….

Ao sair do estádio vejo os dois è minha frente já praticamente colados um ao outro, eu continuava a 50m, ou seja, já não iria dar … faltariam uns 500 ou 600m e já nem tinha força para tentar ...

Desço mais umas escadas por trás do prédio para chegar à Igreja da Misericórdia onde vamos subir as escadas por um lado e descer pelo outro …. mesmo em frente está uma pequena multidão a "divertir-se" com o sofrimento de quem está a acabar e tem mais um escadório para subir e descer … "ó Perneta, queres uma cerveja?" ... eu respondia, mas não consigo ;)

No ano passado vinha na luta num grupo de 4 ou 5, luta que ganhei porque fugi na última subidinha e ganhei uns 10 metros, suficientes para manter o lugar no sprint final. Desta vez não tinha possibilidade de apanhar ninguém … quando saí do escadório olhei para o relógio … 4,44m/km de média …. uns poucos metros atrás de mim um atleta … de onde é que este apareceu??? … e acelero até à meta … o atleta de azul que andou mais de metade da prova à minha frente ainda tinha conseguido passar o outro de preto …. eu cheguei perto (fiquei a 3 segundos) mas vindo do nada quase que era apanhado por um outro que vindo de trás terá recuperado uns bons 100-150m no último km … ficou apenas a 1 segundo.

Na meta à minha espera a Dora, com a Bé e a Sara … e o meu menino, o Bruno. Se calhar dá para pódio …. Não deu … 4º lugar … o lugar do morto.

o Ricardo diz que fica sempre de olhos fechados nas fotos ... confere ...

as minhas miúdas ...

Fiz uma boa prova mas volto a não ficar satisfeito comigo mesmo. Melhorei 3s por km em relação ao ano anterior mas acho que consigo melhor … senti muitas dificuldades a subir, onde normalmente era mais forte … nos últimos 3km faltaram as forças … mas dei o que tinha!!! A verdade é que ando a treinar mais em plano, evitando muitas subidas .. trail não tenho feito ... pode ser por isso.

38º na geral não é mau, e 4º no escalão (em 65 velhotes como eu) é bem bom. Não há que lamentar não chegar ao pódio … fiquei a mais de 1min do 3º, ou seja, muito longe, nem luta dei .....

Fiz um pequeno mapa comparativo entre a minha prova de 2024 e a de 2025, km a km para ver as diferenças. Os km não são totalmente comparáveis porque o percurso deste ano teve ligeiras alterações (e mais 500m) mas dá para ter uma ideia … melhorei 3s por km em média o que dá ca.28 segundos de melhoria em tempo…

Quanto à prova em si voltou a estar uma um excelente nível. Muita gente, boa disposição, um percurso que é uma autêntica viagem pelo que melhor Santa Maria da Feira oferece … o preço a pagar é um autêntico carrossel que nos parte todo com um cardápio que inclui não só sobe e desce, mas muitos degraus, partes em trilhos, zonas empedradas … quem pensa que vai fazer uma provinha tranquila de estrada terá uma bela surpresa. Mas é mesmo por isso que eu gosto de participar … é uma prova diferente … e perto de casa … e tem uma medalha bonita … e tens sempre umas fotos fixes e de borla (embora este ano em 3 spots quando eu passei não me tiraram foto ... no estádio, no escadório da Igreja e na meta ... deve ter sido muita velocidade ...hehehehe) .... uma cervejinha no fim e era PERFEITO 😉 … fica a dica Lopes 😊 … Parabéns malta por mais esta edição de sucesso!!!

Agora é continuar a treinar … o grande objectivo deste 2025 é mais lá para o fim. Entretanto estamos a organizar a Corrida de Santa Maria e se houver oportunidade, além de ajudar na organização, vou fazer uma perninha. É dia 12/07 em Lamas … inscreve-te … é uma prova de estrada daquelas caseirinhas, com 8,7km … aqui o link para a inscrição

E depois, em início de agosto vou partir para mais uma aventura longa com uma malta amiga … eu tinha dito que tão cedo não me metia em cenas assim longas, não tinha? 240km é longo???? Arranjei lenha para me queimar … um dia destes conto mais sobre isto …

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