AVISO!!! O texto é integralmente da Pikinita - o aumento para qualidade literária extra neste tasco é apenas provisório - depois deste artigo voltamos ao nível rasca habitual. Temos pena. Aproveitem agora ...não pagam mais por isso.
Assinado: A Gerência
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São
3h20 da madrugada, toca o despertador… parece mentira… Já?! Dois minutos de
ronha, e volta a tocar… Oupas! Sigaaaaa!
Vestir,
colocar o que falta nas mochilas, comer qualquer coisa e arrancar em direção a
Cinfães do Douro. Caminho chatinho até porque é de noite e era curva e contracurva,
com pouca margem de tempo para qualquer falha. Finalmente estacionamos, eram
5h30 da manhã. Comer o reforço do pequeno-almoço, porque a “je” não se aguenta a ar e vento… pegar
em tudo e ir direitinhos ao Museu Serpa Pinto levantar os dorsais.
Apesar
da hora não motivar grandes simpatias, a verdade é que neste ambiente de
provas, é que fui me habituando sempre a muito boa onda entre o staff , atletas e
organização, ajudando todos nos pormenores de ultima hora. Neste caso, não senti simpatia nas equipas de
entrega de dorsais, diria até uma certa arrogância quando pedi ajuda com uma braçadeira
para segurar o Chip às minhas velhinhas sapatilhas que não são de atacadores, e
ajuda para furar o dorsal… lá arranjei
solução junto da malta simpática da Lap to Go!
Ida
à casa de banho, ultimar preparativos de mochila e afins e seguir para a
partida onde se revê as caras conhecidas destas andanças. Passamos o controlo
de equipamentos, e percebi que estava nervosa, muito nervosa mesmo naqueles
minutos que antecedem a partida. Ali estava o meu Perneta do lado de fora da
grade. Tinha ali os meus colegas de equipa mas sabia que não iria acompanhar o
ritmo deles e de repente vem tudo à cabeça… não queria partir sem o meu
companheiro de aventuras, e com quem planeei esta aventura. Não me senti
preparada nem segura para partir sem ele.
Sabia
que o Carlos estaria em todos os locais que fosse possível acompanhar, sabia
que iria acompanhar tudo MAS não estaria daquele lado, nas paisagens, nas fases
mais duras e nas alegrias, nas cantorias e nas fotografias… Neste rol de
pensamentos fui “empurrada” para a
frente e está a dar-se a contagem e tento olhar para trás mas deu a partida e
lá carreguei no botão do relógio que seria a presença Dele ali nesta minha
primeira lonnnngaaaa distância.
Começa
a subir pelas imediações da localidade e tenho a sensação de ser passada pela
maior parte do pelotão… não me preocupo, afinal tenho um longo dia pela frente.
Não estava frio nenhum e vou ali meio entretida a ver a luz do dia a chegar e a
observar alguns atletas que vão passando.
O
Américo, de vez em quando abrandava o seu ritmo para ver se me via, acenava e
tal e continuava… nitidamente pretendia que acelerasse um pouco e o
acompanhasse, mas ainda estava a digerir aquela sensação da partida e não tinha
força para mais e acabei por lhe dizer… “não
te preocupes comigo, quero gerir à minha maneira!” ele olhou atento e
entendeu perfeitamente que estava a falar a sério e seguiu tranquilo!
O
Sol aparece, um lindo nascer do dia, umas cores brutais e agradeci por aquele
espetáculo da natureza… pensei sacar do telemóvel para tirar foto… mas foi tão
rápido, que pensei “nahhh, aproveita
estes instante e guarda no rolo da memória!”
E
lá se entra mais a sério nos trilhos e começa por ser um verdadeiro “parte
pernas” nestes primeiros quilómetros. Aos 4km, temos um encontro imediato com
duas vacas bem chateadas com a vida, mas o dono lá as fez avançar dali a
rir-se. Pouco depois, torço o pé direito… foi mais susto e tal mas que doeu e me chateou também. Muito sobe e desce nesta fase inicial … bem
durinho.Perto dos 8km perco-me e não foi distração… numa bifurcação, penso que inconscientemente
o cérebro me conduziu para a esquerda, mas tinha fita, mais 20 m e tinha outra
fita e por isso confiei. Já descidos 200m percebo que não há mais fitas, volto
para trás, mais aborrecida porque estavam lá duas fitas que me fizeram perder
tempo (quando os cortes de prova eram tão apertados) e acima de tudo, me
fizeram perder energia, pois tive de subir o que tinha descido e continuar a
subir para a 1ª aldeia. Continuei para chegar ao 1º abastecimento em Marcelim
que seria aos 11,5kms. Nesta fase remoí tanto que dei comigo muito desmotivada.
Já sentia as pernas pesadas e ainda era só o início. Não estava a ser
prazeroso… ponto!
Apareceu
o rio, uma das partes que seria maioritariamente dentro de água entre pedras e
pedrinhas. Estava gelada, ainda era muito cedo e apesar de sentir calor, não me
apetecia ainda. Foi sem dúvida bonito, mas para uma medricas de quedas e
friorenta, percorri aquela parte quase de gatas ou em modo aranhiço, ou seja,
com o apoio de braços para controlar os deslizes nas pedras. Sou pequenita e a água
acabaria por me chegar à cintura. Ultrapassada a sensação de dor provocada pelo
frio, dei comigo com o queixo a bater do frio. Lá se passou e siga em direção ao abastecimento.
Por essa altura, estava acompanhada por um rapaz que me vinha a contar que
tinha começado nas corridas há poucos meses e estava com duas amigas.
Aproxima-se
o abastecimento e vejo o meu Perneta em cima de umas pedras à espera de
telemóvel na mão, pronto a registar o momento. Percebeu que não vinha no meu
melhor. Pouco falei apesar de ficar super feliz de o ver. Mas deu-me a vontade
de ficar ali… não seguir.
Contornou
as pedras e veio ter comigo ao abastecimento. Eu era das últimas a chegar ali...
O Carlitos percebeu o desânimo e a desmotivação mas encorajou-me: “Falta 1h
para o 1º corte em Pedro. Tens 1h05m para fazer 4km e cumprir esta etapa… é na
boa!”
Um
olhar atento, um beijinho e parti… entro numa parte de trilho que me agrada,
corrível para desanuviar as pernas e sinto-me muito melhor ali, paisagem ampla,
sempre a alcançar gente e ir passando, e a sentir que finalmente tinha aquecido
a máquina. Acabo por me aproximar de um rapaz e mantenho-me atrás dele no
single track. Não observo médias, apenas os kms no relógio e percebo que o
Carlitos me dissera 4kms mas seria mais, eu tinha ideia de ser ao km 16 e o
mapa do dorsal assim confirma.
A
minha péssima respiração deve ter incomodado o moço da frente que vira-se pra
trás e pergunta
-“Olha,
queres passar?
-Não
não, estou bem assim, neste ritmo!” - E ele lá seguiu e eu sempre atrás.
Passado um bocado, volta-se de novo para trás por ter reparado na T-Shirt…
-“És
da equipa da Raquel e do Paulo e dos Andrades?
-
Sim!!! Sou sim!
-
Ah, bem me parecia. Conheço-os destas andanças…” - e lá continuamos, tendo chegado ao controlo
aos 16km muito mais rápido do que se previa tendo em conta o estado anímico que
trazia pouco tempo antes. Nesse abastecimento, trinco umas coisitas, vou a
casinha e percebo que ter companhia, por pouco tempo que fosse, poderia ajudar.
Estava mais receptiva à prova e iria tentar sair com o meu novo conhecido, que
nos apresentamos ali, e se chama Pedro.
Carlitos
super atento, lá estava à espera em S. Pedro. Ficou contente por me ver sorrir
e mais motivada. Dá-me força, controla se preciso de alguma coisa, prepara-me
uma bebida e incentiva-me a continuar. Avisa-me que são 9km até ao próximo
abastecimento.
Perguntei
como estava … sabia bem que não estava a ser fácil para ele e confirmou, o que
já sabia. Retoma o incentivo, sugere que mantenha o foco em chegar sempre ao
próximo abastecimento e manter a média dentro do que estava. Sorri, demos um
beijinho, agradeci e partilhei que queria sair com o Pedro, a companhia iria ajudar.
E
lá saímos. Estes 9kms foram em parte a subir para depois descer até Bustelo,
local do próximo abastecimento. O ritmo estava estável. Caminhada nas subidas
mais ingremes e corrida onde dava. Como a técnica de descida é péssima ou nula,
perco mais tempo nas descidas que nas subidas.
Continuo
na companhia do Pedro que foi sem dúvida importante. Tínhamos os mesmos ritmos
e objectivos e por isso foi fácil seguir na sua companhia. Éramos dois
desconhecidos a partilhar experiências da corrida para descomprimir um pouco
dos kms que íamos trilhando. Conversa fácil e fluida, silêncios não incómodos.
Descobrimos as proximidades entre as pessoas que conhecemos que tocam as duas
equipas. E ambos estávamos a fazer pela 1ª vez uma distância tao longa. A minha
maior distancia tinham sido os 48km da serra Amarela e o Pedro 53 de Sicó, se
não me engano.
Chegamos
a Bustelo e lá estava o Carlos, desta vez, pareceu-me mais animado. As fotos da
praxe ao aproximar do abastecimento e duas de conversa. Soubemos até que tinha
estado por ali a réplica da Rainha de Inglaterra… ;) acontece cada uma nos
trails… J
“Que
vais precisar? Como estás?” Perguntei
pelos meus, e pelo Américo e fiquei contente por saber que estavam todos bem e
com muito tempo de avanço.
O
abastecimento era numa garagem. Aqui não havia tempo a perder… já apetecia
parar mais tempo, mas há tempos a cumprir e não podemos perder tempo quando
iremos precisar dele mais à frente.
Carlos
lembra-me que no próximo abastecimento, dai a 9/10 kms é um dos cortes, onde
temos de chegar até às 12h30. Tinha sensivelmente 3h para fazer aquela
distância que iria ser de um grande desnível.
Seguimos,
parti novamente com o Pedro e com o rapaz novato nas corridas de quem não me
lembro o nome.
A
subida faz-se bem. Gosto de subir… a minha única preocupação relativamente às
subidas, é deste género: “ O que sobe, mais cedo ou mais tarde, também desce…E
como será a descida? Que tipo de terreno me espera?”
Nesta
fase lidero o nosso ritmo. Continuamos a conversar de tudo um pouco, e a
encontrar brincadeiras para nos irmos distraindo. Começo a perceber que o ritmo
havia descido um pouco, andava por volta dos 10 e pouco de média, mas sabia que
estava muito dentro do que se pretendia para atingir os cortes previstos. E na
treta, de que somos os maiores na caminhada e que o mundo precisa é de
ultracaminheiros, começamos a fazer a mente ao próximo abastecimento que afinal
não era aos 34 kms como se via no mapa…
Continuamos
e sempre na expetativa que seria ao virar da próxima curva e nisto passaram-se
3km, sempre na expetativa do abastecimento. O Pedro começou na brincadeira… “… ver o Carlos é bom sinal. Nunca pensei
assim, mas nunca desejei tanto ver um homem!” Entre risos e brincadeira lá
aparece o abastecimento, mas também as primeiras dúvidas sobre o percurso e a
sua organização.
Carlos
assume o comando da minha mochila para ver o que preciso, e eu vou atacar o
abastecimento… porque como já referi … sou de alimento. Esparguete com carne
picada pareceu-me uma excelente ideia… estava apuradinho e soube pela vida. O
abastecimento encheu de repente com a malta da distância dos 44kms e ficou
muito confuso. Besuntei-me de protetor solar, troquei o lenço pelo boné e manifesto
a primeira maleita … uma dor no joelho mas nada de grave.
Carlos
deu-me força, muita força. Avisou que não deveríamos sair da média de 11 e tal
de ritmo mas que vinha uma parte dura.
“Tens agora 17km sem abastecimentos, o sol
abriu forte, e vais acumular pelo menos 1100m de desnível positivo. Estás a ir
muito bem! A rede é pouca, mas se te apetecer alguma coisa, nem que seja uma
sandes ou assim liga-me que tento levar para o próximo abastecimento. Vemo-nos
nos 51 kms “
Saímos
e percebi que as pernas acusavam cansaço. Relembrei-me que estávamos com 37 kms
que na verdade já é fora da minha zona de conforto. Começamos a subir e a
partir daqui fico mesmo atenta aos ritmos, que vou partilhando com o Pedro. A
esta altura, ambos tivemos um quebra … acho que ambos percebemos o corpo a reclamar,
pois não somos experientes nem habituados a atravessar distancia acima dos 30…
mas seguimos. O Pedro emprestou-me um dos bastões… não queria aceitar para não
o prejudicar, poderia fazer a diferença para a prova dele. Mas insistiu e lá
experimentei a ajuda do bastão no percurso que agora era sempre a subir.
Estava
calor, paisagem mais árida mas bonita. As eólicas como cenário davam vida
aquela zona mais árida. O trilho até era corrível, mas não estávamos com
vontade de correr e fomos seguindo a partilhar as dúvidas que surgiram pelo
facto do abastecimento ter sido 3kms e tal depois do esperado. Será que vao dar algum bónus no tempo de
corte? Caramba, 3 kms são sempre três kilometros… ou então será que em vez de
17kms agora o percurso encurtou e só fazemos 13 a 14 até às portas de
Montemuro?
Por
esta altura passa por nós o Silvério com outro companheiro de corrida. Íamos a
caminhar e logo os perdemos de vista na imensidão daquela paisagem. Pouco
depois aproximou-se outra dupla de nós e foi bom. Estávamos quase em silêncio
por volta dos 40 kms e eram conhecidos do Pedro, pai e filho que vinham muito
bem. Falou-se das mesmas questões e disseram-lhes a eles que a organização iria
dar um bónus de 1h no tempo do corte em Covelas. Mas na verdade não era nada
oficial, pois uns diziam 30m, outros 1h e valia o que valia. Eles estavam bem,
mas eu e o Pedro estávamos a precisar de energia. Paramos, o Pedro tomou uma
mistura de sais que lhe ofereci, eu tomei um gel e retomamos. Apesar da paragem
ter sido muito breve, os companheiros avançaram muito e deixamo-los ir…
Percebemos que deveríamos acelerar um pouco e decidimos testar a corrida…
primeiros parecia que tinha barrotes no lugar das pernas, depois foram soltando e
de repente estou super motivada para continuar a correr. O Pedro partilha que os
sais tinham feito magia e ficamos contentes com o renascimento por volta dos
41km de prova. Chego a comentar que se o trilho se mantivesse assim, apesar de
subir, correria até ao próximo abastecimento, ou seja mais 9 a 10kms.
Estava
muito bom, mas aparece uma descida e que descida manhosa… era técnica, muito
técnica. Tive de recorrer à técnica do aranhiço e ir descendo muito gradualmente.
Cada impato nas rochas trazia de volta a moinha ao joelho esquerdo e voltamos a
perder muito ritmo. O pouco que dava para correr dava para sentir as mazelas
que a descida iria deixar… mas não é para pensar nisso agora. Nesta fase somos
apanhados por mais uma dupla de rapazes. De lá se vislumbra um abrandar da parte
mais ingreme da serra, mas continuará a descer mais um pedaço chegando a uma
zona muito verde de campos, vacas, retalhos de terrenos e cercas de pedra
granítica ou madeiras. Parte bonita, seguíamos os quatro e juntou-se a nós a
Cátia Santos, que era uma das amigas do rapaz novato nas corridas. A Cátia é de
Lisboa e tem a pronuncia muito lisboeta, foi giro reparar, que eu sendo de
Lisboa consegui perceber o que dizem do sotaque lisboeta… o comboio tinha agora 5 passageiros que
olhando para o relógio atingiam os 48 kms… começávamos a observar a subida que
se aproximava e ansiosos, pois seria a meio da subida que chegaria o próximo
abastecimento. Enquanto desbravávamos
caminho a corrinhar os 5 falávamos daquilo que desejávamos encontrar no próximo
abastecimento. Foi unânime: sopa! Todos queríamos uma sopa dalia a pouco mais
de 2kms.
Inicia-se
a subida e como sempre … animam-me as subidas e imprimo um ritmo um pouco mais
alto para puxar o comboio que acabou por se partir. Pedro segue comigo na
carruagem da frente. Tentávamos, nesta altura era importante manter o animo que
os suplementos nos tinham dado mas a descida técnica quebrou bastante,
deixando-nos com dores musculares normais de cansaço. Dizemos que estamos bem, pois queríamos muito
chegar às famosas portas de Montemuro. Damos algum espaço entre nós e fui à
mochila buscar um Boost de energia num bilhetinho especial que lá tinha para
quando precisasse!
Passamos
os 51 kms e nada de abastecimento… começamos a tentar ver em tudo uma
possibilidade de abastecimento… “ali ao
fundo vejo uma casa abrigo, deve ser ali… estás a ver Pedro?” - E ele… “Quero
muito ver o Carlos. Ele é que simboliza abastecimento!”… Riamos mas já
estávamos com 52,5kms e nada de abastecimento… percebemos que seriamos
novamente enganados pelo mapa da organização e que seria uma surpresa,
provavelmente só aos 54 kms… e assim foi. Perdemos a motivação e só caminhamos.
Que cena é esta de ser novamente 4kms depois o abastecimento?! O que vale é que
vou comer e isso acalma-me os azedumes.
Estava
frio e vazio o local do abastecimento. Olho para a mesa e não vejo nada de
diferente no abastecimento… e fiquei indignada. Não consegui disfarçar o
desalento de chegar ali, 4kms depois do esperado e não ter nada quente para
tomar…
Valeu-nos
o Super Carlitos que sabe melhor que ninguém o que se sente nestas alturas… e
pumbas sacou de uma sandes de presunto e queijo para cada um de nós. Estava um
pouco inquieto com a barreira horária, mas eu tinha de saborear aquele manjar
dos Deuses preparado por ele. Rapidamente chegaram os outros dois rapazes e um
deles arrancou rápido por sentir frio. Chegou ainda a Cátia de Lisboa que
também ficou desapontada com o abastecimento e a falta de informação. Não
tínhamos ideia para o que lutar e o que teríamos de gerir. O corte é às 19h e segundo o mapa aos 64km. Tínhamos menos de 2h para lá
chegar. Apertado? Sim… mas o pior é que
não sabíamos se seria aos 64kms ou ao 67/68 por estarem sempre a alargar para mais 4 kms desde o meio da prova.
Carlos
tratou de nós. Pedimos desculpa ao rapaz do abastecimento, que no fim de
contas, foi saco de encher, mas não tinha qualquer responsabilidade.
Já
íamos partir e faltava a foto. Por segundos lembramo-nos de festejar o feito de
ambos, eu e o Pedro tínhamos superado a nossa maior distância em prova e
tiramos a foto da celebração. Beijinho ao maridão, e arrancamos.
Mas
saio apreensiva… hummm será que vou conseguir?
O
comboio arrancou com 4 desta vez!.
Subimos
a caminhar e a conversar entre todos. Estávamos um pouco melhor, mas todos com
muitas dúvidas quanto ao tempo de corte…
Chegamos
a uma aldeia catita, casas em pedra, tudo muito rustico e rural, galinhas à
solta, palha por todo o lado, forno comunitário, vacas e mais galinhas… as ruas
começam a descer e foi automático, começamos todos a correr meio incrédulos do
ritmo a que seguíamos quando achávamos que não poderíamos correr mais. Tínhamos
55kms e queríamos tentar chegar ao corte a tempo… era quase impossível, mas vamos tentar. Foi
unanime entre todos que queríamos continuar a correr enquanto desse. Chegamos a
um pico, por volta dos 58,50 onde a descida se torna mais chata para mim,
descer em pedra… não era muito técnica, mas a destreza já era pouca o joelho e os pés já estavam muito
massacrados.
Fui
controlando o ritmo, estávamos a fazer, ainda assim, uma recuperação incrível mas
ainda na casa dos 12 e pouco. Vinha tudo à cabeça. Nesta fase, sei que passamos
zonas bonitas, cortes de água, campos de milho e afins, mas pouco tenho
registado por estar tão empenhada em chegar aos 64kms antes das 19h.
O
tempo passava e os kms pareciam ter desacelerado em relação ao tempo. O relógio
acusava pouca bateria e nós todos na luta. A luz estava linda mas não poderia
parar agora e afinal até estava orgulhosa do facto de estar na luta naquela
altura da prova…
“Estamos com 60 kms pessoal!!”… o rapaz
que não cheguei a perguntar o nome acelerou mais um pouco e distanciou-se na
sua luta. Estava determinado. Nós também… mas não tínhamos tanta forma de
pernas. A Cátia sentia-se bem fisicamente, mas estava bastante rezingas sobre a organização… e o Pedro e eu, seguíamos
os passos um do outro… mas sabíamos que não esperaríamos um pelo outro se
tivesse de ser… sobe um pouco e eu aguento a subida em pequenas tentativas de
ir mantendo o objetivo. Faço contas e acredito que consigo chegar aos 64kms
mesmo em cima da hora e por isso, faço das tripas coração e mantenho-me na
luta. Deixo-os para trás, sinto a luz do fim de tarde a bater e vou indo…
Controlo
de minuto a minuto e chega o km 64 e nada… mesmo nada… continuava ser trilho
sem qualquer vestígio de chegar abastecimento.
Caio
no desânimo, pois percebo que o local da
barreira também deslocou 4kms à frente… “Já fui!” Dou os parabéns a mim mesma…
afinal consegui chegar ao que me tinha proposto e que era a informação dada pela
organização até hoje. Se mudaram as regras a meio jogo, não fui eu que não
consegui… tiro o telefone e ligo ao meu Carlitos. São agora 19h e eu cheguei
aos 64kms há 3 minutos e não está aqui ninguém… a minha prova terminou! “ Anda, estou a 4kms à tua espera…”
Enquanto
arrumo telefone e tiro uma barrita, chegam o Pedro e a Cátia e vamos seguindo a
caminhar. O pedro está todo roto. A Cátia refere sentir-se bem, mas não está
preparada para desistir da prova e vai contestando a organização enquanto
caminha. Um amigo do Pedro tinha ligado e informado que a prova não teria 73
kms mas sim 81 kms …
O
trilho é feito a caminhar desde então, vinha a arrumar as ideias e estava de
bem comigo enquanto a Cátia falava e confesso que em parte não a ouvi…
Chegar
aos 68 kms é terminar a prova, afinal foi nessa distância que inicialmente me
inscrevi… e isso ia-me dando paz, pois sabia que não tinha pernas e acima de
tudo cabeça para fazer o que faltava com a noite a aproximar-se. Nestas
reflexões deixo o Pedro para trás… um colega da prova que passou disse que ele
se tinha sentado um bocado a descansar e disse estar bem. Ponderei voltar a
trás, mas tínhamos um acordo e continuei descansada. Dali a 2kms aparece o
Carlos com um senhor… o meu relógio já tinha apagado, mas o da Cátia marcava 68
.
Fomos
partilhando o descontentamento com a organização e lá chegamos a Covelas.
Apenas algumas pessoas por ali, que esperavam pelos seus.
Acabou
por chegar o Pedro com o relógio a marcar 70kms. Tive ali a certeza que tinha
superado as minhas expectativas e fiquei contente por mim e também pelo Pedro e
a distância alcançada.
Percebi
nas conversas partilhadas entre mim e o Pedro da importância que é ter uma
equipa onde nos sentimos em família. O quanto nos motiva e o quanto igualmente
nos desafia. Não estávamos juntos, mas sabia que os tinha a torcer por nós e
foi muito bom encontrá-los reunidos em Cinfães a juntar os retalhos da aventura
de cada um. Parabéns a cada um deles que se aventurou nesta prova, mas um
Parabéns especial à Raquel que também completou a sua distância mais longa em
Trail e arrecadou mais um pódio.
Foi
uma excelente surpresa saber do apoio da família Calense que torceram por mim o
tempo todo e foi uma super surpresa ver ali o Flávio e a Teresa que trocaram o
sofá domingueiro por um final de tarde a apoiar a chegada dos seus conhecidos e
que ainda ficaram para uma mini de celebração no fim.
Muito
grata a todas as pessoas que através do Carlos foram dando força e apoio e
demonstraram o carinho que tem por nós.
Importantíssima
foi sem dúvida a companhia do Pedro Domingues. Dois desconhecidos que passaram
a ser amigos pelas cerca de 12h que passaram nos trilhos. Foi um prazer
partilhar o caminho e sem dúvida que nos encontraremos por outros trilhos.
Muito muito obrigada pela simpatia, boa disposição que amainou a dureza da
prova. Este foi um dos ganhos deste dia!
E
não podia ser melhor o apoio do meu Perneta. Foi uma prova de fogo ficar de
fora! Não imagino bem o que possas ter vivido ao longo de tanta hora à espera,
mas estou super mega híper feliz por te ter ali a cada chegada, por todo o
carinho, por todo o incentivo, pelas fotos (já que a prova longa não teve
direito a fotografo), pela dedicação e acima de tudo por acreditares ainda mais
que eu chegaria até ali! Não há palavras que cheguem para ti!
Quanto
à organização… as observações espero que sirvam para alguma coisa… Foi uma
desilusão, por se tratar de uma prova com várias edições, a margem para
determinadas falhas é sem dúvida menor.
A
prova é muito bonita mas fica completamente comprometida com a falta de
presença da organização. Sabiam, como é óbvio, há muito que a prova não tinha
73 mas muitos mais kms e preferiram arriscar que remediar…
Felizmente
o clima foi muito favorável, se não, tenho a certeza que muitos atletas teriam
passado muito muito mal com o adiamento de 4kms nos abastecimentos.
Não
há nenhuma explicação plausível que me ocorra para o facto de não servirem algo
quente no abastecimento da porta de Montemuro, depois de uma etapa tão longa e
dura.
E
a meu ver, o mais grave de tudo, é a falta de informação ao longo da prova,
pois não sabíamos o que nos esperava e como gerir… e a falta de representação
da organização nos PA.
Fico com contas por ajustar… mas não
com a serra e muito menos comigo! Afinal cheguei lá!
E ganhei um super empeno! ;)
E ganhei um super empeno! ;)
Absolutamente viciante. Adorei Dora Dias. Muitos muitos parabéns aos dois por mais uma meta atingida com esforço e dedicação. Maravilhoso!!!!!
ResponderExcluirMuitos parabéns pelo enorme esforço! E sim, conseguiste aquilo para que te inscreveste. Infelizmente a organização não respeitou o enorme esforço de cada um...
ResponderExcluirUm beijinho. És grande!!! :)
Isto assim na primeira pessoa é diferente ;) Perneta, estás dispensado! Ahahah
ResponderExcluirDora, já disse no post anterior e já te disse a ti também: és gigante! És mais uma prova de que as mulheres não se medem aos palmos ;)
Tiveste de gerir a não ida do Perneta, naquilo que era para ser uma viagem a dois, e, sobretudo, tiveste de gerir uma má organização naquilo que foi a tua estreia na tua maior distância de sempre. Não é para qualquer um!
É preciso muita cabeça, coragem e determinação, para conseguir ultrapassar a frustração de uma prova que não nos respeita. É fácil pensar que não foi para aquilo que nos inscrevemos e baixar os braços. Mas tu lutaste até ao fim e fizeste aquilo com que te tinhas comprometido e ainda mais um bocadinho! Só podes estar de parabéns e super orgulhosa :)
As corridas têm esse dom de aproximar as pessoas e de nos trazer amigos inesperados :)
Um beijinho e boa recuperação!
Pois, depois desta descrição super de uma super Pikinita (desculpa lá esta "confiança"), o que dizer?
ResponderExcluirPerneta, tens de te esforçar muito mais para chegares aos calcanhares desta super atleta :)
Muitos parabéns pela extraordinária e não menos extraordinário texto.
MIKE
Happyrun
Agora sim, a elevação do quiosque! (também conhecido por ex-tasco!)
ResponderExcluirComo já escrevi antes é mesmo uma pena que devido a estas questões da organização o esforço efectuado não fosse o único protagonista.
Mas tu deste a volta e é isso que fica na memória!
Deixar dois aspetos negativos.
ResponderExcluirUma pena que a distância não tenha sido a dois, taco a taco na serra como planeado. Um dia destes voltará a haver oportunidade, de certeza.
O outro aspeto é a organização, inqualificável. Eu “matava" alguém por muito menos.
Agora a parte que realmente interessa.
Muitos e muitos parabéns pela prova.
Não é fácil, pelas contrariedades apontadas, resistir a desistir. Não é nada fácil. Isso é mesmo a maior conquista. E não é para todos, garanto!
Muito contente pela cumplicidade da equipa. Imagino o Perneta de posto de abastecimento em posto de abastecimento, a sofrer o dobro do que se fosse ele a correr, de certeza.
Mais uma vez, muitos parabéns pela prova e um grande beijinho. Um forte abraço ao Perneta.
Ja tinha ouvido falar da piqinita... mad de quem vinha sempre pensei que fosse uma metáfora... e afinal ate era... a catraia até parece de estatura reduzida. mas vendo bem tem muita fibra!
ResponderExcluirFoi pena nao teres conseguido ser finicher, mas não fiques triste. Toda a gente sabe que esta é uma das mais difíceis nesta distância. Tão difícil que apenas meia dúzia de senhoras se atreveu a tentar fazê-la e tu foste uma delas e quase conseguias fazer um brilharete.
Eu, que já tinha feito a prova 2 vezes, contava terminar na primeira metade da classificacao e.. fiqui em penúltimo. Por isso muitos parabéns