quinta-feira

Maratona do Porto 2026 - saiu furada


Começo este post por dizer que acabei a minha 12ª Maratona do Porto, a minha 20ª Maratona de estrada (sem contar a de Roma 😉) e que as 3h20 e 37 segundos que demorei a chegar à meta correspondem ao meu 3º melhor tempo de sempre. Nada mau, não é?

Não, não é … fiquei muito longe do que pretendia. Mas vamos aos pormenores …

Sábado foi dia de manter a tradição e foi a família quase toda … levantar dorsal, espreitar as cenas de corrida à venda (sem comprar nada) e participar na Pasta Party … e tal como nos últimos tempos, portei-me muito bem … não toquei na cerveja por exemplo ☹ … a tarde foi tranquila e a noite tb, dentro do possível.


olha quem ele é ...

Meu Deus ... casava-me

Levantei-me às 5h para tomar o pequeno almoço a tempo e horas de fazer a digestão … tentei fazer tudo conforme mandam as regras. Deixamos a miúdas em casa dos meus pais (coitadas, terem que acordar tão cedo por causa das maluquices dos pais) e fomos encontrar o Bruno e tomar um cafezinho ao Beto antes de zarparmos para o Porto, onde chegamos bem a horas.

O que nos atrasou um pouco foi a procura de uma casa de banho, mas a tropa manda desenrascar, não é?

Mantivemos a tradição da foto de grupo na rotunda da Anémona e o grupo separou-se … Americo, Leandro e Lima para um lado, Pikinita (que ia aos 10 com a Barbara) para outro e eu e o Bruno ainda fomos fazer um pequeno aquecimento que me deu bons sinais … estava levezinho 😉

Não conseguimos foi chegar a tempo ao bloco A (o das 3h15) pois as laterias estavam cheias de pessoal, atletas e gente que ia assistir. Não nos restou outro remédio de saltar as grades e entrar no bloco B quando a partida se deu … não foi por aí, 1 minuto depois estava a passar o pórtico … se calhar até foi melhor, pois nem deu para ficar ali muito tempo a pensar no que aí vinha …

Único problema é que o meu balão, o das 3h, já ia longe … sem stress … a minha táctica hoje era entrar no ritmo que precisava (ca.4,15m/km) ou um pouco acima até aos 30/32km e depois logo se via.

A subida da Boavista é o costume … muita gente … e mais uma vez muita gente que está deslocada, que parte em blocos que não são para os tempos que fazem, mas prontos … querem ir ali e depois é um problema para quem como eu quer entrar no ritmo. Até um senhor em cadeira de rodas a ser empurrado/puxado estava ali pelo meio naquela confusão … acho a ideia nobre e apoio como é lógico todas estas iniciativas … mas qual seria a diferença para eles partirem num bloco mais atrás? Talvez até fosse muito melhor, muito menos confuso … mas prontos …

1º km a 4,33, com alguns sprints pelos passeios … bem bom. O 2º km foi um pouco mais rápido para entrar na média … e estabilizei pelas ruas e ruelas de Matosinhos com o primeiro retorno aos ca.3km onde consegui ver que tinha ca. 1 min de atraso para o “meu balão” e mais importante, ver que os meus compinchas iam já todos bem colocados dentro do que era o objectivo de cada um.

Tal como eu … voltamos a passar junto à anémona com muito público … de lá pelo meio lá se ouvia de vez em quando uma “força Perneta” … eu não conseguia ver ninguém … ia concentrado … ia trocando algumas palavras com um ou outro companheiro de luta, era só … a chegar ao ao Porto de Leixões lembro-me de pensar que ia mesmo bem … ritmo e bpm controlados, a disposição excelente, o tempo ajudava … será hoje? … não me deslumbrei, já tenho experiência suficiente para saber que isto é como acaba e não como começa … mas era preciso começar bem e isso estava a ser conseguido …

A subida para a ponte do Porto de Leixões relembrou-me que a Maratona do Porto não é ideal para tempos … aquela merda é inclinada e em paralelos … se fosse só esta parte estávamos bem. Subi controlado e sem exagerar … atrás de mim uma voz conhecida grita “ahhh …desta vez treinaste….” … era o Fumo que com uma mochila às costas vinha a ultrapassar toda a gente … ele conhece bem aqui o ex-pupilo, deve ter tirado pela pinta que desta vez me tinha preparado para a luta … ao contrário de muitas outras vezes 😉

Aquela parte em Leça é um bocado chata, eu o chamado encher chouriços … muito pouca gente a apoiar, andas ali um bocado abandonado … ca. dos 9km o primeio gel (aliás, o 2º se contar o que tomei antes de arrancar) … o plano dizia mais ou menos de 40 em 40min e era para cumprir …

Recta do Farol de Leça para mais um retorno … 10km a 4,14m/km de média, 42m30s … e bom feeling … perfeito…

O regresso a Matosinhos correu igualmente bem … mais um retorno, mais uma rampa em paralelos para passar a ponte de novo para o lado de lá. Estas merdas quebram o ritmo e à medida que os km vão pesando nas pernas voltar ao ritmo torna-se mais difícil. Mas continuava bastante tranquilo …

Já do lado de lá, mais uma subidinha, prolongada e menos inclinada … do outro lado o Luis Trigo tinha abrandado e estava claramente à minha espera. Mais um retorno em que dava para ver que a distância para o “meu balão” estava igual e que o Bruno e o Leandro continuavam bem na luta … encosto ao Luis … então … “vou desistir … não estou com cabeça para isto” …. “tu é que sabes, não tens nada a provar e já tens as tuas sub 3h feitas” …

Fomos juntos até à rotunda da anémona, por volta dos 19km … um “boa prova” e high five fizeram as despedidas … e siga … novamente “sozinho” … esta parte é um perigo … muita gente, muito incentivo, muita gente a berrar por mim … e as pernas aceleram mesmo sem querer … procuro a Pikinita com o olhar, mas não a vejo … ainda deve estar a acabar a prova dela …

Não tarda muito entro na Avenida Brasil, novo gel e depois chego à meia-maratona com 1h30m40s … perfeitamente dentro do objectivo … excelente e excelente tb a forma como me estou a sentir … algum desgaste natural como é normal, mas bastante bem … será hoje? … já acredito mais … mas calmex que ainda nem começou mais a sério …

meia maratona ... tudo sobre controle ..

A parte que nos leva da Foz ao longo do Douro, até à Ribeira é bonita mas bastante solitária … já há muito menos atletas, já estás mais ou menos posicionado no teu lugar o que quer dizer que não ultrapassas nem és ultrapassado por muita gente … nas bermas das estradas lá vais encontrando algumas pessoas, mas poucas com algumas zonas que são excepções … vale a paisagem o que para mim já não é em assim pq conheço aquilo bem …

… os km passam bem, o ritmo está controlado e a minha mente vai distraída a pensar no retorno no Freixo por volta dos 30km … partindo do princípio que chego lá assim em razoável estado, ataco logo ou aguento e trato de recuperar o tempo mais tarde? … talvez não fosse má ideia ir ganhando algum tempo e tentar encostar ao balão ali pelos 35/36km e ir de boleia … isto prova que eu estava confiante, se fosse já a gerir ou a sofrer queria lá saber como seria daqui a 6 ou 7 km …

Perto dos 24/25km lembro-me de uma moça com um cartaz ao qual achei imensa piada … dizia “há 4 meses atrás isto parecia boa ideia” … fartei-me de rir … é verdade 😊 … já vou um pouco mais cansado, mas bem e controlado, e perfeitamente dentro do objectivo. Será hoje? … já faltou mais, mas calmex que isto está quase, quase a começar …

Uns 200 ou 300m mais à frente a minha Maratona vira completamente de rumo … eu vinha a sentir desde o início um pequeno desconforto na inserção do musculo posterior da coxa na nádega esquerda … mas nada demais, nada mais que uma daquelas dorzitas que nos aparecem de vez em quando e que tão depressa vem como vão. Mas de repente, e sem que nada o fizesse prever, senti uma espécie de choque eléctrico na nádega a irradiar pela coxa … “Óh diabo, o que é esta merda” … abrandei e rapidamente tentei voltar ao ritmo … a impressão (não lhe posso chamar dor) na nádega intensificou-se, mas não me impedia de correr …

… não demorou muito a levar novo choque … tentei alongar um pouco e voltar aos ritmos altos … agora já prendia um pouco … “caralho, agora não ….” … fiquei com receio, se por um lado queria aproveitar o bom momento por outro vieram-me à memória situações em que me lixei bem por causa de teimosias e faltas de respeito para com o corpo (como esta emViana que me arrumou durante muitos meses) … e agora?

Baixei o ritmo para ver se a coisa passava … e descobri que ali entre os 4,45 e os 5m/km a coisa andava bem. Mas era uma merda, porque com esse ritmo ficava completamente fora dos meus objectivos para hoje. Mas não tive outra alternativa … ainda tentei várias vezes acelerar com a esperança que a coisa tivesse desaparecido, mas o prender da perna e uns choquezinhos eléctricos avisavam que não dava.

Fazer o quê? Desistir? Não … seria apenas estúpido, estava na ponta mais longe do percurso, teria que voltar e tinha. Além disso dava para correr, só que não ao ritmo que queria …

Foram 17km muito penosos para mim … já não podia lutar pelo objectivo de tempo, estava fora dessa luta …. sobrava o chegar ao fim …. dos 25 aos 27km os km foram feitos entre os 4,40 e 5m/km … dependia se a coxa prendia mais ou menos … nem a sempre espectacular passagem pela Ribeira, a subida à Ponte e o tabuleiro inferior da Ponte D.Luis me animou … cheio de gente, muita dela conhecida a berrar por mim … e eu ali apenas a meter um pé à frente do outro, resignado …

… os Run&Fun, o Pires e a família, o Álvaro, o Pedro Bastos e muitos outros … queria ter passado ali a voar e aproveitar o embalo deles … paciência …

Resignado é a palavra certa!!! Nunca fiquei chateado, ou revoltado com isto tudo durante a corrida … faz parte, qualquer prova é assim, mas a Maratona muito mais … a preparação é fulcral, mas no dia tudo tem que bater certo e nem sempre é assim. Há que saber aceitar …

Depois do retorno no Freixo lá estava o Fumo a incentivar a malta … “então Perneta, o muro dos 30km é lixado” … por acaso é, mas ali não era esse o caso … não cheguei a bater nesse muro …

O que me deixou contente foi ver o Bruno certinho e com “boa cara” (como se isso fosse possível 😉) já nos 30km …. um pouco mais preocupado fiquei com o Leandro que vinha perfeitamente dentro do que queria fazer, mas um pouco pálido e a bufar … será que se vai aguentar das canetas?

Eu lá continuei no meu ram ram … fiz asneira em ter descurado a alimentação, deveria ter continuado a tomar os meus géis, mas já nem sei se não me lembrei ou se não quis porque achei que não valia a pena … ia arrepender-me …

Por volta dos 35km apareceu-me o Francisco que vive em Matosinhos … andava a fazer um treininho pela marginal e quando me viu decidiu fazer-me companhia até ao Castelo do Queijo …. e foi bom pq lá me foi distraindo um pouco e ajudou a que os km não custassem tanto. A partir dos 38km a coisa começou a apertar, comecei a sentir-me mais cansado e mesmo a coxa já me dava mais que fazer, mesmo a ritmos mais lentos … a solução era ir parando e caminhando um pouco …

Ainda encontrei o Xico Rebelo e a Marta … e pouco depois voltava à Avenida Brasil … 40km … faltam dois … aquela subidinha na Boavista para mais um retorno é lixada …. Tinha-me imaginado ali nas lonas a tentar não perder o comboio … mais à frente vinha a última subida para a meta … estes 2 últimos km da Maratona do Porto são do caralho …

tem dói dói, tem?

vá ... já não falta tudo

… quando entrei no Queimódromo vi a Pikinita (e a Bárbara) e mais à frente a Flávia  … em condições normais tinha as visto, ignorado e “sprintado” até à meta … infelizmente deu para parar, cumprimentar e seguir … na recta da meta vi que dava para ficar nas 3h20 e dei um bocadinho à sola, não muito …. Feita!!!

… passar aquela meta teve um sabor agridoce … é sempre aquele cortar de meta especial que não se explica, mas por outro lado queria muito ter chegado ali uns 15 a 20min antes … não deu … a Maratona mais uma vez fez das suas …


feito ...

Fui buscar a minha medalha, camisola finisher e a tradicional cervejinha e fui ter com a Dora … soube tão bem aquele abraço, um conforto que estava mesmo a precisar … a Dora sabe bem o quanto me esforcei para outro resultado …


por acaso acho que é a pior medalha das 12 que tenho da Maratona do Porto


A minha preocupação estava agora para saber dos meus meninos … “O Bruno fez uma prova do caraças, chegou logo depois de ti” …. 3h24 … Espectáculo …

Um pouco mais tarde lá vem o Leandro com um sorriso de orelha a orelha …”então?” …. “3h36” … espectáculo

Fiquei mesmo muito feliz pelo resultado destes dois meninos … já de há uns 3 ou 4 anos para cá, que criamos um grupo de treino para a Maratona no whatsapp … cada um tem os seus objectivos e respectivos ritmos … o grupo tem o objectivo de motivar, de trocar ideias e às vezes até de treinar juntos … o Bruno queria fazer 3h30 e o Leandro apontou para as 3h40 … em ambos os casos seriam recorde pessoais por muitos minutos … superaram e muito e foi tão mas tão merecido pela preparação que fizeram … a verdade é que senti aqueles resultados como se tivesse sido eu, e dava gosto ver aqueles gajos meios mortos mas ao mesmo tempo cheios de vida 😊 … grandes maquinas!!!

olha a alegria deste

caputa ....

Os outros dois deste grupinho são raposas velhas e estiveram como eu… aquém …lolol … mas tb acabaram e agora tem mais uma no CV.

beber ok, já correr tá quieto...

Depois da Maratona ainda fomos cumprir outra tradição … fomos comer a francesinha, depois a ideia era ir até casa, banho e dormir um pouco.


sim ... Cola Zero ... e que?

Mas a minha Sara tinha outros planos … ela que dorme todas as tardes entre 2 a 3h, desta vez estava com a pica toda … foda-se!! Lol

Ó fodaice ...

Durante a tarde e noite tive um pouco mais tempo para pensar nesta Maratona … e fiquei um bocado aziado, confesso. Eu sabia que baixar as 3h seria muito difícil, mas um recorde pessoal acho que estava ao alcance. E da forma como me correu nos primeiros 25km tinha boas hipóteses … não deu desta vez.

Na 2ª feira já estava a pesquisar maratonas ali para a Primavera … já tenho umas opções em cima da mesa. Isto não fica assim … quero voltar a tentar, voltar a preparar-me bem, talvez corrigir um ou outro erro que possa ter cometido para ir à luta. Nada tenho a perder, muito menos a provar …

Por fim queria agradecer todo o apoio durante a preparação e durante a maratona de domingo. Sei que tenho muita gente a torcer por mim … é espantoso ver a quantidade de gente que no domingo me incentivou, pessoas que eu não conheço pessoalmente a incentivar, muitas pessoas a dizer “é hoje que baixas as 3h” … “estás atrasado para o objectivo” … e outras deste tipo de pérolas … oh páh … obrigado …

Obrigado à malta do meu grupinho de treino do whatsapp … além de motivador, o grupinho é muito divertido … para o ano há mais e estamos sempre abertos a gente que queira entrar no espirito.

Por fim queria agradecer aqui a duas pessoas que foram e são muito importantes neste processo.

Ao João Sousa por me “guiar” neste caminho, por aturar as dúvidas e o caos deste velhote, e encontrar o plano certo dentro da desorganização e falta de tempo que é a minha vida. Foste tu que conseguiste que eu voltasse a ter rotina de treino sem que desmotivasse e me mantiveste viva a esperança e convencido que eu sou capaz. Gostava de te ter “oferecido” um tempo muito diferente, mas considera um passo atrás para tomar lanço. Isto não acaba aqui. Ainda vais ter orgulho aqui do velhote. Escreve …

Por fim à minha Pikinita … sem ti seria impossível. Dizes que muitas vezes não sabes como conseguimos fazer tanta coisa … nem eu, mas a verdade é que conseguimos. Chama-se trabalho de equipa. Neste caso a tua parte foi aguentar as coisas por casa 😉 para que eu pudesse treinar, e mais que isso, muitas vezes a incentivar-me a ir. Tentei tirar o mínimo de tempo à família, muitas vezes treinando de noite mas a verdade é que tira sempre. Tive muita pena que te tenhas lesionado pois estavas a voltar a ter aquela motivação em correr – é resolver isso para voltar. Obrigado por tudo!!!

Esta coisa já vai demasiado longa … até ao fim do ano vou fazer umas paragens por algumas São Silvestres, em janeiro talvez ataque a Meia Maratona em Viana para depois me dedicar novamente à Rainha das Provas de estrada, para ver se lá para Abril cumpro o que falhei no domingo passado.

Vamos falando…