Toca o despertador do
telemóvel, são 6 da manhã de Domingo, dia 20 de Janeiro 2013. Após 4 semanas de
treinos específicos tinha chegado o dia D, o dia em que tinha como objectivo bater
o meu recorde da Meia Maratona.
A minha primeira
reacção ao acordar, foi tentar ouvir o tempo lá fora…..hmmm, nada de vento e
parece que não chove….porreiro pá…é que os últimos dias tinham sido uma
catástrofe por todo o país, como todos sabemos.
Como sempre tinha já
tudo preparado de véspera, pelo que não demorei muito a sair de casa em
direcção ao ponto de encontro habitual. Quando cheguei cá fora vi que afinal
chovia, não muito, mas o suficiente para que, aliada ao frio, a madrugada
estivesse bem desagradável.
Embora o ponto de
encontro seja sempre o mesmo (Pastelaria Laurita em Fiães, “Beto” para os
amigos – por incrível que pareça tem das melhores “natas” (sou do norte,
carago) que eu conheço), desta vez, havia a particularidade de todo o CAL vir
ter connosco – eramos 9 inscritos – O presidente Lucidio Dias, o Badolas, o Zé
Alexandre, Bruno, Pedro Lino, Luis Miguel e eu como habituais, mais o Tiago
Poças e o Gil Correia que faziam a estreia com a equipa. Pelo facto de se terem
lesionado nos últimos dias o Zé Miguel e o Nuno Silva, embora inscritos não
puderam participar.
Ao nosso grupo
juntaram-se ainda dois “craques” do NAC de Cucujães, que vivem aqui na nossa
zona e aproveitaram a boleia – o Paulo Pereira (mais conhecido por nas grandes
provas andar sempre colado às primeiras mulheres para aparecer na televisão –
um dia destes ganha um Óscar) e o Artur (que por acaso até tem o mesmo vicio).
Dois gajos, que embora não estejam ao nosso nível, acolhemos bem por serem porreiros:
D. Para terem uma ideia, o Paulo foi 10º na Maratona do Porto este ano e o
Artur é da selecção nacional de Corrida de Montanha, tendo já participado em
vários campeonatos da europa e do mundo. São amadores, ambos têm de trabalhar
normalmente para levar a vida, e os treinos são feitos fora do horário laboral.
Durante a viagem até
Viana estive mesmo para desistir das corridas, é que estar no mesmo carro com
os dois “craques”, a ouvir as histórias deles, os treinos, provas e tempos que
conseguem fazer, desmotiva qualquer um. Estou a brincar….cada um é como é, e
aposto que eu falo melhor alemão do que eles!!! Mais uma vez tive a confirmação
de que o pessoal do atletismo é de uma humildade incrível – estes dois atletas
de elite nunca se puseram em “bicos de pés” (tb se pusessem, eram postos fora
do carro:D), sempre com piadas o tempo todo, foi uma viagem que passou num
ápice.
Chegados a Viana
continuava a chover, miudinha mas certinha. Era hora de levantar os dorsais, o
que se transformou na primeira “molha”….depois disso fomos ao Natário, onde eu
resisti a comer a famosa bola de Berlim antes da prova, mas comprei uma dúzia
delas para levar para casa.
Uma meia hora antes do
início da prova, fomos ao carro para nos equiparmos para dar início ao
aquecimento. Quando o Artur nos convidou para fazer o aquecimento com eles eu
tentei arranjar todas as desculpas e mais algumas para não ir, primeiro porque
não os queria atrapalhar e depois porque achava que eles me iam partir todo
ainda antes de começar a prova. Mas eles lá insistiram e nós (eu e o Gil) lá
fizemos o aquecimento com eles, que para surpresa minha foi bem calminho e se
resumiu a umas corridas descontraídas, umas rectas e uns alongamentos ligeiros.
Faltavam 5 minutos
para o início (10h30) da prova quando nos fomos colocar na zona de partida –
como quase sempre já lá estavam quase todos e tivemos que ficar praticamente no
fim do pelotão. O tiro de partida foi dado com 10 minutos de atraso o que foi
um problema….estar ali exposto à chuva e ao frio sem a roupa de protecção foi
duro. Nem dei pelo tiro de partida, tão longe estávamos do pórtico, mas
apercebi-me disso pela habitual azáfama que se começa a ver no pelotão – da
nossa equipa eramos 4 atletas que iam com o mesmo objectivo, de baixar 1h35min
(Badolas, Tiago, Gil e eu) - estava muito descontraído e confiante. Demoramos
ca. 2 minutos para passar o pórtico de partida e para poder dar inicio à nossa
corrida, que como sempre nestas provas, ao inicio é feito de arranques,
travagens e ziguezagues – até que conseguimos entrar no nosso ritmo
(4,30min/km) rapidamente – acho que por volta do km 2. O percurso de Viana é
considerado como duro por muita gente, pelos constantes subidas e descidas – é
um percurso de ida e volta, em que a ida tem muito mais subidas, que embora não
sejam muito acentuadas se prolongam e moem os músculos – na minha opinião, quem
subir bem e conseguir fazer a primeira parte da prova a um bom ritmo tem tudo
para fazer um bom tempo, pois na volta tem o mesmo percurso a descer onde dá
para recuperar um pouco, manter bons ritmos com menos desgaste. Nós os 4 lá
íamos a bom ritmo, dentro da média necessária para atingir os objectivos….eu
sentia-me forte como nunca, a subir cheio de força, até tinha de me retrair um
pouco para não andar rápido demais….único problema era o meu joelho direito, em
que comecei a sentir uma picada a partir do km4 (normal quando está
frio)…..passamos os 5kms com uns segundos de atraso em relação ao previsto,
zona onde estava instalado o primeiro abastecimento onde, mesmo sem ter sede,
apanhei uma garrafa de água que iria levar até ao fim da corrida….não tardou
estávamos no retorno e logo depois passamos a placa dos 10km já com alguns
segundos de vantagem em relação ao planeado – aqui ainda eramos 4. Pouco depois
começou a descer e foi quando começamos a aumentar o ritmo para médias abaixo
dos 4,15min/km, loucura por ainda estarmos tão longe, mas sentia-me tão bem (a
picada do joelho tb já tinha desaparecido) que pensei “que se lixe, é até
arrebentar”…. foi mais ou menos nesta altura que eu tomei um pouco de gel
energético só para precaver – nem conseguia abrir a embalagem com as mãos
geladas, teve que ser com os dentes – este abastecimento fez-me ficar pela
primeira vez ofegante, e demorei algum tempo a conseguir recuperar o fôlego,
mas sem baixar o ritmo. Embora no retorno as subidas sejam menos, a subida mais
ingreme (300 a 400m) é nesta altura – conseguimos supera-la com mestria e
quando volta a descer deu para recuperar. Foi nesta altura ca. do km 13/14 que
“perdemos” o Badolas ( a falta de treinos a fazer-se sentir). O ritmo aumentava
de km para km mas ia muito bem – lembro-me de passar aos 15km com 1h07min,
1,30min abaixo do meu recorde da distância – o músculos das coxas já davam
algum sinal de cansaço, mas a caixa estava muito bem e eu embalado pelos
colegas Tiago e Gil lá me ia aguentando. Quando entramos novamente em Viana levamos
com vento contra o que foi desagradável – penso que ca.km 17/18 estaríamos a
andar a 4,10-4,15min/km. Ao km 19 o Tiago e o Gil aceleram um pouco mais, olhei
para o relógio e vi que estava com larga vantagem para o meu objectivo, estava já
cansado e com o músculo da coxa esquerda a querer explodir….poderia ter ido com
eles? Talvez sim. Até onde? Não sei….mas decidi-me manter o ritmo que já era
muito bom….segui-os ao longe e lá me fui aguentando com a dificuldade a
aumentar à medida que os metros iam passando… foi acertada a decisão em não ter
ido com eles….passagem pela zona da meta em sentido contrário para fazer um
último retorno e entrar na recta da meta….faltam ca.300/400m, olho para o meu
relógio e vejo que poderei chegar abaixo da 1h33min e desato a
acelerar…..quando passo a meta o meu cronómetro marca 1h32min54seg….
verdadeiramente incrível…sentia-me o maior dos atletas, um campeão….uns metros
mais à frente o Gil e o Tiago à minha espera para o cumprimento e festejar o
objectivo alcançado.
As pernas estavam
desfeitas, mas curiosamente a minha respiração estava impecável para o esforço
que tinha acabado de fazer. Recebemos a medalha, uma garrafa de vinho e mais
umas bebidas e pusemo-nos logo a andar para o carro para mudar de roupa, estava
completamente encharcado, não sentia os pés e o frio era por demais. Depois de
ter trocado de roupa, de nos termos despedido do pessoal, enfiamo-nos (eu e o
Gil) no quentinho do carro à espera dos dois craques, que por terem ido ao
pódio em veteranos (Artur ganhou com 1h08min e o Paulo ficou em 3º com 1h10min)
demoraram mais algum tempo.
Depois foi a viagem
até casa, a ouvir e a contar a história de prova de cada um. Não via a hora de
chegar a casa pois já desesperava por uma banheira cheia de água quentinha – um
prémio merecido!!!
Em relação ao
desempenho do CAL, foi mais uma vez excelente…todos finalizaram a prova,
havendo a destacar 5 recordes em 9 atletas, o que é obra – o Tiago logo na
estreia pelo nosso clube, o Luis Conceição, o Pedro Lino e o Zé Alexandre pelo treino
e dedicação dos últimos tempos – estão a evoluir muito bem – e eu.
Aqui os tempos oficiais
da prova da malta – estou ainda a aguardar que a organização disponibilize os
tempos do chip:
Classificação
|
Dorsal
|
Nome
|
Tempo oficial
|
709
|
104
|
Gil Correia
|
01:34:05
|
714
|
882
|
Tiago Poças
|
01:34:08
|
756
|
875
|
Carlos Cardoso
|
01:34:57
|
1078
|
876
|
José Coelho
|
01:40:32
|
1135
|
879
|
Luis Conceição
|
01:41:36
|
1260
|
873
|
Lucidio Dias
|
01:43:49
|
1662
|
881
|
Pedro Lino
|
01:51:08
|
1663
|
877
|
José Moreira
|
01:51:09
|
1858
|
874
|
Bruno Pinho
|
01:56:23
|
Em relação à
organização pode considerar-se positiva, o atraso no início da prova tem a ver
com o facto de a maioria dos atletas ter deixado para o próprio dia o
levantamento dos dorsais – não seria problema de maior se não fosse o frio e a
chuva. Positivo foi o facto de terem alterado o percurso nos últimos 2/3kms,
evitando que os atletas no fim ainda tivessem que subir e descer por ruas de
paralelos de Viana. De realçar mais um recorde de participantes, com 2215
finalizadores na Meia e 1012 caminhantes na prova paralela, o que prova que os
corredores de rua estão a aumentar a olhos vistos. É uma prova que eu
aconselho, Viana é uma cidade bonita, temos as bolas do “Natário” (salvo seja)
e a madrinha da prova merece tudo – grande Manuela Machado, bem no meio do
pessoal, sempre simpática.
Quero ainda aproveitar
para agradecer a companhia durante a corrida do Gil, do Tiago e do Badolas que
tornaram esta corrida mais “fácil”. Não sei, se “sozinho” teria conseguido,
pois a cabeça prega-nos muitas partidas quando andamos sós – assim, em grupo,
uns a puxar pelos outros foi tudo muito melhor – foi sem dúvida a prova, até
hoje, em que me senti melhor, com pujança e força…e tb a prova em que não dei
pelo passar do tempo, em que não arrebentei e andei uns kms a sofrer até à
meta.
No dia 10 de Fevereiro
estarei de volta a Viana, para participar no Trail de Sta.Luzia – 33km de
trilhos, com 2600m de desnível positivo – vamos lá ver como me vou safar –
apenas quero chegar bem ao fim, fazer um bom treino longo com os meus amigos
(Zé Miguel, Badolas e Bruno Pinho), que se encaixa na minha preparação para a
Maratona de Paris.
De referir que, embora
não tenha comido nenhuma Bola de Berlim do Natário antes da corrida, durante a
tarde vinguei-me e comi 3…sim leram bem….3 bolinhas cheias de creme…eu
mereço!!!
NOTA: Estou com alguns problemas técnicos e não consigo colocar fotos nem videos....vamos lá ver se consigo resolver o problema pq queria postar aqui algumas fotos, principalmente das bolas de Berlim do Natário.