terça-feira

PT281+ Belmonte a Sabugal



A partida foi do Castelo de Belmonte que pertence à Beira Alta, um local apenas perfeito para iniciar uma aventura destas. Ali estávamos nós a contar os segundos, tudo sentadinho nas bancadas em pedra de uma espécie de anfiteatro, uma espécie de imitação dos guerreiros que no passado também ali estariam a ouvir as instruções dos seus comandantes antes de partir para as suas guerras. A nossa seria com certeza mais simples, menos sangrenta e mortal, mas com certeza iriamos ter de lutar e sofrer muito para vencermos a nossa guerra
vamos a isso...




Para vencer a guerra era preciso conquistar as batalhas, 8 no total ... e primeira seria Sabugal a ca.37km daqui. Está na hora dos guerreiros se levantarem, pegarem nas suas armas, despedirem-se das suas familias e amigos que estavam presentes, desejar pela trigésima vez boa sorte aos companheiros, limpar o suor dos olhos  e iniciar a viagem ... vamos a isto. 


Ligo o GPS e começo a caminhar atrás do pelotão saindo pela porta principal do Castelo de Belmonte a caminhar bem no fim do pelotão. Muita gente a assitir, a incentivar, últimas palavras de força e siga a descer as ruas empedradas daquela vila medieval agora a trote e com máxima atenção ao GPS para ver como é que a coisa funcionava no terreno.

a minha maior preocupação acabou por desvanecer ao fim de pouco tempo … afinal é fácil
Não tardamos a sair de Belmonte para entrar pelas tipicas planicies da zona com percursos mistos que alternavam entre caminhos rurais, estradões em terra e alcatrão. Somos 3 patos bravos juntos, eu, o Lima e o meu amigo Artur.

Partimos às 18h, um fim de tarde muito quente ... não sei que temperatura fazia mas com certeza bem mais que 30 graus ainda e bem abafado.





Mesmo não metendo um ritmo nada alto, mesmo começando logo de inicio a caminhar em praticamente todas as subidas o suor caía em bica. Aquele nervoso miudinho tinha desaparecido, reinava a boa disposicão entre as tropas, faziam-se as primeiras „amizades“ com quem nos cruzavamos, tirava as primeiras fotografias às paisagens, inspirava fundo e agradecia a oportunidade que tinha em estar ali a participar.







Os km avançavam ao ritmo que tinha planeado ... queria chegar a Sabugal pelas 23h – 5 horas deviam chegar para não desgastar demasiado logo na primeira etapa.

Por volta dos 14km (penso eu), temos uma subida jeitosa para chegar a Sortelha, uma aldeia de Portugal fantástica que merece uma visita com mais calma. O calor continua a fazer-se sentir mesmo com a noite a aproximar-se – tivemos a sorte de assistir ao por do sol nessa subida... lindo. Já bebi praticamente 2 litros desde que parti e aproveito a primeira fonte para recarregar os flasks – a hidratação seria a minha (e penso que de todos) maior preocupação durante toda a prova.





Durante a descida pelas casas típicas de granito de Sortelha noto um Nuno demasiado calado para o habitual. Não vai com boa cara. Não digo nada por enquanto.




Chega a noite, hora de ligar os frontais ... o percurso continua por caminhos campestres, estradões, algum alcatrão ... passamos por algumas aldeias onde embora ainda não seja tarde não se vê ninguém na rua, algumas poucas luzes das casas acesas o que demonstra que pouca gente ali deve viver. 


estava na hora de ler a carta da Pikinita … deixei-me ficar um pouco para trás e à luz do frontal li e reli aquelas 2 pequenas páginas manuscritas que diziam tanto … é tão bom … os olhos suaram, devia ser pelo calor que ainda se fazia sentir … só pode

o Lima? é melhor deixa-lo estar na vidinha dele que a coisa não está fácil ...

não escapava nenhuma fonte … nem que fosse só meio flask, era para encher



O Nuno Lima continuava calado. Comecei a meter conversa, a puxar temas de que ele gosta, o Artur entrava na conversa, do Lima só um „grunhar“ de vez en quando. „O que se passa moço? Vais bem?“

Não, não ia nada bem. Ia indisposto, branco, cansado e desmotivado ... a pensar como é que com tão poucos km já estava assim. Imagino o que iria a pensar. Fiquei preocupado tb. Eu próprio já sentia as pernas demasiado pesadas para tão poucos km – o que se passa?

Fiz uma preparação boa, com treinos longos e duros onde me sentia impecávelmente bem, e agora a descansar há praticamente 2 semanas, fresco como uma alface, ao fim de 20km estava cansado? Vai ser bonito ...

Ainda faltava uns 10km para o Sabugal e fomos reduzindo (ainda mais) o ritmo. Demorou uma eternidade mas finalmente avistamos o Castelo de Sabugal, pelo qual passamos pelo meio, para depois atravessar o centro da vila e chegar finalmente à primeira BA ... seriam 23h30. 



O Lima tinha ficado um pouco para trás a beber umas águas com gás num café na Vila mas rapidamente se juntou a nós. Estava de rastos, muito pálido. „Vamos com calma, tratar de nós, comer e descansar um pouco ... temos tempo“ ... e assim foi.

Encontramos o Rui Pinho que estava à espera que o Miguel acordasse ... estava a dormir no chão da casa de banho das mulheres completamente desidratado. Havia mais gente maltratada na sala de refeições, gente experiente. Acontece a todos, afinal é normal.

A verdade é que esteve mesmo muito calor, não só desde que começou a prova. Levantamos cedo, estivemos muitas horas por Proença à espera, tivemos uma viagem de autocarro longa e a espera para o inicio da prova. Tudo isso desgasta.

A primeira batalha estava ganha ... o Sabugal conquistado ... tinha sido mais dificil do que esperava, deu luta e não me deixou no estado que pensava em que iria estar.

Um sopinha salgada, um pratinho de Bolonhesa, muita hidratação, recarregar flasks e baterias. 1 h depois estamos prontos para partir para a 2ª batalha ... o Lima está muito melhor, praticamente novo, o Artur parece-me o melhor dos trés, eu estou mais ou menos bem.

Siga para Penamacor, a maior distancia de todas as etapas ... 48,5km.

14 comentários:

  1. Ai... Eu não vou aguentar... Uma pessoa vai toda entusiasmada na leitura e do nada... Acaba! Acho mal!...

    Mas acho muito bem ficar a saber um pouco mais do que é fazer uma prova desta dimensão. A logística e toda a preparação devem ser incríveis.

    A questão da hidratação é mesmo fundamental, e muita gente descura isso. Eu sou meio paranóica com isso, mesmo nas minhas mini-provas, e chateio bem o Rui com isso, porque já o vi sofrer muito à conta de menos cuidado. Com o calor que vocês apanharam, não se podiam mesmo descuidar!

    O que é que te terá passado pela cabeça, quando logo na primeira etapa, achaste que era mais difícil do que esperavas?...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lol … é para fazer render o peixe, mais clicks, mais $$$ … espero que seja desta que fique rico :)

      Sim, a logística é mais complexa e erros pagam-se muito caros.

      Para mim a hidratação é sempre fundamental, então nesta prova é ainda mais. Além de ser a diferença entre acabar e não, pode muito bem ser factor de enorme risco para algo grave para a tua saúde. Não estás bem a ver o que passamos nos dois dias … aquilo é de morte.
      Não achei que fosse mais difícil, senti-me foi demasiado cansado demasiado cedo … pensei que não ia ser nada fácil chegar ao fim mas uma coisa de cada vez :) … não me atrapalho assim logo à primeira :)

      Excluir
  2. Grande prova, diria mesmo,... épica!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Foi grande em distância e tempo, e foi épica sim senhor :):):)

      Excluir
  3. E o resto?!😀😀

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lol… calma … já podes ir até Penamacor que já saiu … depois logo se vê :P

      Excluir
  4. Deve ser assustador sentir o cansaço de início mas, creio, que o segredo seria como fizeram, dividir por etapas, conforme as bases de vida e não pensar que ainda faltam 200 e tal...
    Venha a 2a que estou como a Inês, uma pessoa vai deliciada a ler e de repente acaba :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não foi assustador mas foi preocupante e surpreendente … pensei que este tipo de cansaço me aparecesse a partir dos 70 ou 80km. Sempre faço a divisão por etapas, tb em provas mais pequenas … o que não quer dizer que não faça as contas de vez em quando até a fim ;)
      A segunda já saiu …

      Excluir
  5. O calor, o calor o calor...e o ambiente pesado e abafado.

    yeap, vou mudar de corpo para fazer isto um dia e ver como se leva um jerrican de 50 L nas costas.

    O Artur está com boa cara, já tu, meh, deve ser da diferença de idade :)

    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lol … 50l não sei se chegam :)
      A curiosidade é que ambos os 3 eram todos desse ano maravilhoso de 1972 … o Artur o mais velho, o Lima logo de seguida e eu sou o único que ainda não fiz anos e por isso o bebé do grupo … e o mais bonito :)
      Abraço

      Excluir
  6. Ainda bem que esperei que completasses o relato.

    ResponderExcluir
  7. Ai o calor...nem imagino. Nós tivemos de férias nesses dias no interior do Alentejo com temperaturas acima dos 40°C e só nos lembrávamos de ti...eu dizia para o Vitor "Imagina a malta do PT281 a correr com este calor!!!"
    E se a distância só por si já é impressionante, com o calor que estava vocês foram todos uns verdadeiros guerreiros!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade … mas uma coisa é certa, a prova decorre no interior e em finais de Julho … acho que ninguém vai com expectativas de apanhar tempo fresco :)

      Excluir