terça-feira

Maratona do Porto 2021 - vamos a isso?

 


Tenho estado caladito por estas bandas, algo recorrente nos últimos meses e aínda mais desde que decidi mudar de emprego. Nos últimos meses de Cinca e nos primeiros na nova empresa (Klingenberg Dekoramik – não me responsabilizo por nós na lingua ao tentarem ler este nome 😉) a corrida perdeu alguns lugares na minha lista de prioridades o que não quer dizer que tenha deixado de correr.

Voltaram as viagens em grande forҫa, tenho estado muitas semanas fora, muitos km de avião e de carro, muito levantar de madrugada e chegar tarde a casa. Vai continuar a ser assim nos próximos meses, já sabia disso. E a corrida faz-me falta, pelo desporto em si mas muito para “limpar” a cabeҫa ao fim de um dia de trabalho.

Neste últimos meses perdi um pouco a rotina da corrida, tanto corria 4 dias seguidos como estava 3 dias sem correr. Deixei de fazer treinos especificos como series, rectas, rampas ou mesmo treinos longos ao fim de semana. Depois do PK100 também estive 2 semanas praticamente parado, para deixar o corpo recuperar ... na primeira semana não corri, apenas algumas caminhadas, e na 2ª umas pequenas corridas de 45min em ritmo muito soft.

Na segunda semana de Agosto já corri 5x, pouco tempo, mantendo os ritmos soft e poucos km, menos num deles em que cheguei ao Hotel stressado e decidi dar tudo em 10km ... e demorei apenas 41m para os fazer o que me surpreendeu de certa forma ... dei (quase) tudo e no dia seguinte bem o senti nas pernas ... os 100km ainda estavam bem presentes nos músculos das coxas.

Entretanto, na semana passada, fui uma semana de férias para o Algarve com a famelga toda e corri todos os dias menos no dia de regressar de viagem. Não foi fácil acordar pelas 6h da manhã nas férias, mas foi a forma que encontrei de não roubar tempo à familia, a quem a minha vida profissional já rouba tempo o suficiente durante o ano. Assim, enquanto a malta dormia eu saía para a minha hora de corrida ... umas mais lentas, outras mais rapidas, foram 6 corridas numa semana que ajudaram a conhecer a zona de Pera (nova para mim). Na maioria tive a companhia da Pikinita e nas outras fui sozinho.


para manter a tradicao o Guru Lobo veio um dia treinar conosco

custa levantar ...

e manteve-se a tradicao ...






Mas não pensem que fui só porque me apeteceu muito correr nas férias ... tinha um objectivo bem claro definido ... voltar a ganhar rotina de treino, arranjando tempo para treinar quase todos os dias. E porquê?

Porque vou arriscar tudo na Maratona do Porto em inicio de Novembro ... e quando digo arriscar tudo é mesmo arriscar tudo. O meu “Mister” acha que eu valho um determinado tempo à Maratona e esse tempo para mim é um sonho que tenho dentro de mim, um daqueles tempos que à partida achava quase impossivel para mim mas que com o tempo achei que poderia um dia ser possivel. Acho que as 10 semanas que tenho para me preparar não são propriamente o ideal, talvez sejam curtas, mas como não parto doi zero vamos tentar com tudo.

e nos anos a Pikinita ofereceu-me os pneus para esta empreitada

Esta semana ainda não tenho treinos especificos no plano, continuo com as corridas diárias para ganhar as tais rotinas e aumentar um pouco os km. Para a semana já devo entrar nessa luta.

aqui a minha pista para a preparacao da empreitada ... em Klingenberg junto ao Main

Posso não conseguir o que pretendo mas vou dar o meu máximo ... nos trilhos sou pouco ou nada competitivo. Na estrada é o contrário ... só peҫo que as lesões andem longe 😉

O meu RP à Maratona são 3h14 ...a ideia é dar-lhe uma machadada bem grande. O tamanho da machadada? Essa agora 😉 ... deixem ver como estou daqui a duas semanitas ... se estiver como penso, assumo sem problemas o tempo que quero fazer ... e conto com a vossa ajuda, seja com mensagens de apoio carinhosas, seja com bocas reacionárias a rasgar 😊

Vamos a isso???

é por ali ....


PK100 - uma aventura pelos Caminhos de Santiago ... by Pikinita

NOTA: a Pikinita aceitou o repto de ser ela a escrever sobre esta aventura, que embora seja dos dois tenho a certeza absoluta que será melhor "vista" pelos olhos dela ... mas como o trabalho é de equipa, as fotos sao minhas :) ... aqui vai ... aproveitem que este tasco subiu para outro nivel ...

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Um dia … um dia todos queremos fazer mais do que já fazemos e fizemos. E eu não sou exceção!

Corro há pouco tempo (desde 2016) e já acumulei umas brincadeiras engraçadas e muitas histórias e pessoas surgiram através dos quilómetros que fui acumulando quer por estrada, quer por trilhos, que é onde mais gosto de andar.

Quando fiz o Ultra Trail Douro e Paiva superei uma distância bastante acima do que alguma vez tinha feito e nesse mesmo dia fui muito inquietada pelo número 100! Sabia que ainda não estava preparada e levei algum tempo para sentir que o 100 já me poderia servir. No final desse ano, olho um pouco para a frente e penso em voz alta: “Perneta, este ano quero fazer uma prova de 100 kms”…  e um diz vamos, o outro diz já devíamos ter ido! A verdadeira parceria Mata & Esfola!

Sigaaaaaa! Plano lindo: uma prova nos Picos da Europa em Junho, seria um desafio mas também um passeio. Uma bela prenda de aniversário… só que não! 2020… cenas pandémicas e alterações constantes de planos que a todos nós se impuseram, e esta prova não foi exceção.

Não queria nada de muito duro e fui aguardando a ver o que surgia entre os certos e incertos.  Se não surge nada, criamos o nosso desafio: “Ó Perneta, uma coisa é certa, arranja-te que tens de me acompanhar!”

Procurámos, procurámos e… fui parar aos Caminhos de Santiago que me dizem muito. Considero que todas as pessoas deviam, independentemente da motivação pessoal para o fazer, passar pelos Caminhos de Santiago. É uma experiência de vida, que nos dá o que mais precisamos naquele momento das nossas vidas. Já fiz algumas vezes e estou sempre pronta para partir de novo.

E que tal fazer parte do caminho a correr? Porque não?! Pensando bem, não é só estrada, nem trilho puro. Temos suporte de tascos e cafés para o que for preciso, obrigando a menor logística e menor peso na mochila, haverá sempre alguém relativamente perto para algum percalço e ainda é a possibilidade do Perneta fazer uma parte deste Caminho Central. É isto! Escolha feita! Haja Pernas!

O dia chegou num ápice! Deitamos tarde, acordamos cedo, pouco dormidos. Preparar mochila e siga para o Porto, há um caminho para se fazer! Eram 5h30, estava de noite. Vento forte e a temperatura nos 15 graus. As fotos da praxe e começámos a aventura na Sé do Porto às 5h40!




Bora lá atrás das setas amarelas!


Atravessamos o Porto em direção a Leça do Balio. Nestes primeiros 10 kms ficou de dia! Sabíamos que teríamos a presença do Kaká perto de Ponte da Pedra. Tentámos que não se preocupasse, era demasiado cedo para um sábado, mas lá estava ele cheio de mimos para nós. Não tínhamos fome ainda, fresquinhos, tudo a rolar bem, só queríamos aquele abraço de força e um pouco de água. Obrigadinhosssssssssss! Soube mesmo bem!




Grande Kaká e Valter ...

Seguimos tranquilos por ali adiante, seta atrás de seta. Começou uma parte menos interessante por passar a zona industrial ainda antes de entrar na ruralidade, mas íamos tranquilinhos a fazer os planos da aventura. Vamos dividir isto pelas etapas do caminho: para completar os 100kms são 3 etapas.



Ora bem, a primeira paragem vai ser em Vilarinho (Vila do Conde) para um primeiro Pit-stop. Passamos por Gião onde se inicia uma Grande Rota, vem o Mosteiro de Vairão e depois chegamos a Vilarinho. Ai completamos a 1ª etapa com cerca de 28kms. É música para os ouvidos pensar num lanche e reforçar a hidratação.  A paragem foi maior que o planeado. Para fazerem uma torrada devem ter ido comprar o pão e nunca mais vinham… mas valeu a pena! Estávamos impecáveis! Reforço de água e siga!


Pouco depois, um troço de estrada sem margem para descuidos pois não havia passeio e a vegetação estava alta, mas saindo dessa zona somos brindados com a Ponte Medieval de Zameiro,  S. Miguel dos Arcos e a seguir S. Pedro de Rates, Pedra Furada e Barcelinhos que fica colado a Barcelos, onde completaríamos os 55 kms, mais coisa menos coisa. Partilhamos os trilhos com os imensos milheirais, agricultores e pouco mais. Vimos apenas meia dúzia de peregrinos em todo o percurso, albergues estavam fechados e muitos tascos anunciados pelo caminho também. O tempo aquecera, mas sempre com brisa fresca a ajudar. Ainda assim, esgotei a água que tinha. Era altura certa para voltar a atascar! Barcelos tem uma bela recepção: os galos coloridos a relembrar onde estamos, uma entrada muito medieval com os paços de Reis, o forte e ruas de casas antigas.







50km em 6h10 ... ai a marretada que vai ser ...




Já sei o que me apetece! Uma sopa, uma sandes e umas minis para recompor as energias. Cinco cafés, snacks e tascos e nada de sopa… pelos vistos não se faz sopa aos sábados. Bom, venha o que houver. Merendinha, pastel de camarão, umas batatinhas salgadas e dois finos fresquinhos a estalar. Mais 2 litros de água para as repor as mochilas vazias e sigaaaa… passou 1h e pouco e retomamos o caminho para a 3ª e a mais longa etapa, tínhamos 56 kms nas pernas!

2 finos??? 2 para cada um ....

Apesar de ainda me sentir relativamente bem… sentia as pernas a pesar e pensei: Agora é que isto vai começar!” E começou e o gajo chegou! Quem? O senhor da marreta!

Isto é tudo um jogo mental! Se fosse fazer uma maratona, tenho a certeza que o “gaijinho Marretas” aparecia aos 25 a 30 kms, mas metes o número 100 na cabeça e automaticamente te mentalizas que antes dos 50 kms não te podes queixar de nada… e comigo, regra geral, resulta. Estávamos com 60 e poucos kms nas pernas e o cansaço fazia-se sentir e a partir daqui caminha-se nas subidas e aproveita-se ao máximo o balanço das descidas e mantém-se nos planos.

brava e gira 


souberam que nem ginjas

E assim se subiu até Tamel, que me recordava bem do meu primeiro caminho de Santiago. Será que é por ser depois de um trilho a subir?! Depois vem Balugães e Vitorino de Piães. Aqui percebo que as pernas estão mesmo pesadas, mas há motivos para celebrar: alcançara os 80 kms, distância nunca antes por mim alcançada! Só falta uma meia maratona dizia o Carlitos… mas nem por isso parece ser menos custoso… mas nem que seja a caminhar, hei de lá chegar!





Algures mais à frente uma fonte fresquinha no meio de um trilho. Soube tão bem, molhar cara, braços e pernas e sentar 5 minutos a repor o possível com um rehidrate… Percebo agora que parar é pior do que nunca, retomar a passada parece uma dança de zombies bêbados… as pernas não são nossas. Alguma coisa é nossa?


Tenho uma espécie de fome e enjoo, mas não apetece nada do que temos… a imagem da sopa não sai da cabeça. Era mesmo isso que apetecia… mas nicles! Lembro que chegamos a uma estrada que daria a uma nova entrada em trilhos já à entrada no concelho de Ponte de Lima e aparece um tasco e sentamos. Lembro bem que tínhamos 84 kms. Não tinham sopa, não tinham bolos, não tinham simpatia… então bebemos uma cola para dar alguma energia. Nessa altura as minhas pernas começaram a latejar, nunca tinha sentido aquilo. Aviso o moço.. “epah, não sei o que se passa, mas daqui não devo conseguir sair, só de guindaste!” … e só me conseguia rir da desgraça! Não te preocupes, é normal, não podemos demorar muito aqui! Olha passa o gelo do copo nas pernas, e sem outra solução melhor, foi mesmo o que fiz!


ainda vai ...

A partir daqui, apenas faltavam 16 kms mas são do mais desafiante. Estrategicamente agarro-me à contagem decrescente. E agarramos com força a mão um do outro em cada caminhada. Era o energizante necessário para mais um bocadinho e mais um bocadinho. Começo a sentir as pernas a normalizar, pés impecáveis, nunca doeram e assim de repente estamos nas margens do rio Lima. Já se avista a ponte e sabemos quem breve estamos a ver o sorriso dos Pernetas Teresa & Flávio que nos vieram esperar.

nesta altura a coisa estava dificil ...



pode doer tudo mas a tacha anda sempre arreganhada

Tinha 90kms e um novo fôlego, mas chegar a Ponte de Lima não vai chegar para concluir o desafio.  Meninos, vamos avançar até à próxima terriola, venham ter connosco até ao Codeçal, é lá que cumprimos a distância, nem que tenhamos de dar umas voltas por ali. Atravessamos Ponte de lima, cheia de gente, com uma luz incrível de final de dia.

Teresa & Flávio ... os nossos anjos da guarda



Entramos nos trilhos e diga-se que estes últimos trilhos tinham de ser trail, pedras, sigle tracks, algumas subidinhas… tudo o que se quer para uma bela despedida. Chegamos ao Codeçal com 98 e pouco. Vimos o nosso carro de apoio e acenamos a dizer, está quase, já voltamos! Avançamos 800 metros para depois voltar e… Voltamos e estava feitoooooo!



100, fiz 100kms em 14h25m, uma meta improvisada com uma peça de roupa aguardava por nós e um colorido ramo de flores!

Epah, está feito! Aquele abraço, aquele olhar, aquele orgulho sentido por mim, e em mim, através dos olhos dele! Sinto-me incrivelmente bem! J

Ouço o Flávio: “Se a mulher quer sopa, arranjámos sopa!” Acreditam nisto? Uma sopa caseirinha maravilhosa que ali estava à nossa espera! Comi e repeti! Era mesmo aquilo que apetecia! Tinham tantos mimos e não conseguíamos comer nada de jeito. Estava feliz e satisfeita com a sopa e a imaginar-me dentro do carro a caminho de casa.

No carro, enroscada em mim mesma ao som do rádio, das conversas soltas, das mensagens a soar no telemóvel, das luzes na noite e daquelas duas mãos dadas, esboço os meus sorrisos… Está feito e bem feito! E não podia ter corrido melhor!

O Caminho marca qualquer um, mas desta vez, fomos nós que demos alegria ao caminho. Faltavam os passos dos peregrinos e nós levamos um pouco de nós para ali!

Impossível foi conseguir acompanhar a quantidade de mensagens de apoio, incentivo e força que foram surgindo ao longo dia. Não conheço parte das pessoas, mas o bem faz bem, e faz toda a diferença fazer algo deste género com essa força extra vinda um pouco de todo o lado. Obrigada a todos! Obrigada mesmo!

Em especial, vai um agradecimento àqueles que apareceram algures : Kaka Jesus, Valter, Teresa e Flávio, Bárbara e Ricardo, até um cartaz especial tive direito!


Bárbara & Ricardo vieram esperar-nos ao Porto

E claro, ao grande Perneta Mor que é o maior apoiante deste feito. A força e as pernas são minhas, mas o incentivo e a maneira em como me fazes acreditar que é possível é muita responsabilidade tua. Bebo das tuas experiências e aprendo alguma coisinha com isso J

O ditado diz: “Se queres ir rápido, vai sozinho. Se queres ir longe, vai acompanhado!” Juntos, vamos cada vez mais longe, é um privilégio construir contigo esta nossa estranha e boa forma de vida J

Obrigada Carlitos por tudo, nesta e outras aventuras mas esse aperto de mão nos momentos certos serão sempre o maior marco e a melhor imagem desta aventura.

Fazes desta tua Pikinita uma pequena grande aventureira!

aventureira e gira ...