domingo

Maratona do Porto 2014 - 3ª semana de preparação


Depois da Maratona do Perneta de domingo passado, estava com bastante curiosidade para ver como seria a recuperação. No domingo de tarde, senti-me naturalmente algo cansado, mas não me pude dar à malandrice, pois a minhas filhas “exigiram” bastante atenção, especialmente a mais pequena …uma bébé cheia de pujança, que ainda não caminha, mas já sabe para onde quer que a “transportem” é o “recuperador muscular” ideal como pós-Maratona…não sei se foi disso, mas 2ª feira sentia-me quase a 100%...ainda pensei em fazer 20 minutinhos mas depois achei que merecia um descanso total. Na 3ª tb não corri, porque só tinha disponibilidade ao fim da noite, e como no dia seguinte ia fazer um treino longo não quis arriscar…o resto da semana foi assim:

4ª feira – 24,8km a acompanhar o João Casal da Volta a Portugal solidária. Etapa Cristêlo-Viana do Castelo.


5ª feira – Embora me sentisse muito bem não fui correr, mas fiz um reforço muscular que faço uma vez por ano J

6ª feira – 13,2km bem ritmados (4,37min/km) com ca.200m D+ – estava um pouco receoso, mas à medida que ia avançando ia-me sentindo mais confiante…acabei muito bem este treino duro, que é sinal que estou a recuperar muito bem.

Sábado – 12,2km a rolar com os últimos 5km em 20,52min. Saí apenas para rolar, mas decidi espontaneamente fazer 5km a 4,30min/km…fi-los bem mais rápidos (4,09min/km), tendo feito o km mais rápido a 3,51min/km. Estou surpreendentemente “rápido” para esta altura da preparação.

Neste momento tenho ca.50km feitos nesta 3ª semana, um pouco aquém do que tinha previsto, mas nada que me preocupe. Os treinos tem sido de qualidade e sinto-me muito bem, a evoluir e a recuperar muito bem entre treinos. Amanhã talvez ainda faça 1 horita a rolar, mas não é certo ainda.

Certo é que amanhã vou de férias…até inicio de Setembro não haverá Papa Kilómetros por aí, o que não quer dizer que deixe de treinar. Na 4ª semana vou apostar em treinos mais curtos, mas intensos…quero ganhar mais ritmo.

Até ao meu regresso…muitas e boas corridas para vocês todos J

quinta-feira

Maratona do Perneta - 42 anos, 42km e algumas histórias da minha vida


Para a grande maioria dos atletas de pelotão como eu, o número 42 é um nr. mágico, talvez o mais especial de todos, por ser o número de km de uma Maratona, prova rainha do atletismo que nos parece impossível de atingir quando começamos a correr mas com a qual sonhamos na mesma, até que um dia, num acesso de “loucura” arriscamos uma inscrição, embarcando numa viagem sem volta atrás – quando finalmente a “conquistamos” é para a vida, e raros são os casos em que se fica “apenas” por uma. Eu até à data já tive o privilégio de completar 5 na minha ainda curta e humilde careira de atleta de pelotão, 3 no Porto e 2 no estrangeiro (Madrid e Paris). Se tudo correr bem, até ao final do ano devo completar mais duas, uma em Münster (na Alemanha) em meados de Setembro e outra novamente no Porto no início de Novembro.

Digo que completei 5, que são as oficiais, porque no domingo passado completei mais uma….chamemos-lhe a "Maratona do Perneta", que como é natural não entra na contabilidade oficial.

Voltando ao nr. 42, aqui o vosso amigo, atingiu esse belo número em idade na passada 5ª feira, dia 14 de Agosto….eu sei, pareço mais velho, mas garanto-vos que de juízo tenho o equivalente a um miúdo de 15, pelo que somando a aparência ao juízo e dividindo por dois, em média não estou mal J …1972 foi um ano mau para o vinho do Porto (não é um ano Vintage), mas foi um ano de excepção para pessoal de grande qualidade humana…bem, existem sempre excepções que confirmam a regra J …mas avante…

…já andava à muito tempo a magicar numa corrida especial para comemorar devidamente a chegada aos 42…e nada melhor que uma Maratona para o fazer, não é? 42 anos = 42km (e 195m já agora)…mas faltava ali qualquer coisa para a tornar mais especial ainda, até que li este relato do Jorge que adorei e me emocionou…é isto mesmo…vou fazer a minha Maratona, a Maratona do Perneta e o percurso será a “visitar” locais que me dizem alguma coisa, que fazem parte da minha história…e partilha-la com vocês aqui no Papa Kilómetros…afinal somos quase família J. Não convidei ninguém a juntar-se a mim, porque esta Maratona era para se fazer sozinho…

...o ideal teria sido no próprio dia mas não foi possível, na 6ª e sábado tb não pelo que a escolha recaiu no domingo. Levantei-me às 5.15h e faltavam poucos minutos para as 6 da matina quando arranquei para a Maratona do Perneta…se quiserem, venham de lá comigo em mais uma longa viagem…
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A camisola para esta Maratona foi escolhida com critério…a escolha recaiu sobre a camisola da 8ª Maratona do Porto, a minha primeira (não há nada como a primeira) que se realizou em 2011.
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O percurso não foi planeado ao pormenor, mas apenas assim por alto…sabia onde queria passar, mas a sequência não estava definida…deixei isso para o próprio dia…

…os primeiros 4km do percurso foram a reconstituição da maior parte do percurso do meu primeiro treino, quando decidi começar a correr…isso foi dia 26/12/2009…às 6h da manhã ainda estava escuro, pelo que tive de recorrer ao frontal…meia lua, os galos a cantar a alvorada, cães a ladrar à minha passagem e umas cores espectaculares do nascer do sol por trás das montanhas...lindo...
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…passagem pelo Campo das Valadas, do Canedo Futebol Clube – representei este clube durante 5 épocas – foi o meu último clube – deixei de jogar aos 26 anos para me dedicar ainda mais à minha carreira profissional. Vivi excelentes momentos aqui, fiz muitos amigos e desportivamente o ponto alto foi termos sido campeões de Aveiro, tendo chegado a capitão de equipa o que foi uma grande honra. É pena a entrada do estádio hoje não ostentar o emblema do clube nem referir o nome – melhoraram as condições do campo mas a entrada piorou muito - deviam corrigir isso.
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Saliento a dificuldade destes primeiros km...este percurso fi-lo muitas vezes quando comecei a correr...tem uma subida de 2km que não é brincadeira nenhuma, mesmo hoje com muitos km nas pernas não é fácil fazê-la. Não sei como o consegui fazer naquele primeiro treino em 2009 quando pesava quase 100kg...
Ao km 8 passei pela "Dª Amélia"...um trilho que em pouco menos de 1km nos oferece de bandeja quase tudo o que precisamos para um bom treino de trail. Subidas e descidas acentuadas, single-tracks, pisos complicados, riachos e consequente molhar os pés. Descobri esta pequena maravilha quando procurava o percurso para os Trilhos do Perneta e "apaixonei-me"...sabia que me ia desgastar bastante mas tinha que passar pela "Dª Amélia"...
Depois fiz-me a caminho de Fiães, que é a minha verdadeira terra...decidi seguir pelo passadiço junto ao rio Uíma...foi construído à relativamente pouco tempo, e desenvolveu em grande a prática desportiva entre a população nas freguesias vizinhas...agora toda a gente se lembrou de correr, caminhar e usar as maquinas de manutenção que lá existem e ainda bem...o passadiço na zona de Fiães foi construído muito perto do campo de "Gabinhus", campo de futebol improvisado no meio do mato (daqueles inclinados, cheios de regos onde as balizas eram feitas com pedras), onde na minha infância os miúdos se juntavam ao sábado de tarde para grandes jogatanas de futebol...saíram dali grandes craques, e eu levei algumas porradas da minha mãe, por me esquecer das horas e chegar tarde a casa...
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Gabinhus era algures por ali..
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aquela casa ali ao centro foi dos pais do meu amigo Agostinho...passei ali muito tempo entre os meus 15 e 18 anos. Fotografia
...um pouco mais à frente, no lugar da Idanha fica a casa do Sr.César e da Dª Gina, pais de um dos meus melhores amigos - o César. Além do muito tempo que por ali passei, foi aqui que eu conheci a minha Inês. Um caso clássico...a irmã do César (Natércia) tinha uma amiga gira e simpática que teve pena de um "encalhado" como eu...e a coisa aconteceu...
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Avenida de Fiães...local onde se realizam as Festas da Sra.das Neves no primeiro fim de semana de Agosto. Evidentemente que este era um dos acontecimentos do ano para a canalhada da cidade. Eu não falhava uma...e vi bons concertos por ali, com grande destaque para os Peste&Sida quando surgiram no panorama musical nacional - nesse dia comprei um T-Shirt deles, que usei até fazer buracos de tanto uso...mesmo com montes de buracos e quase transparente apareceu-me uma vez um drogado que a queria comprar...recusei...essa T-Shirt acabou como farrapo a limpar os vidros do meu velhinho Vauxhall dourado...
...a meio da Avenida fica a escola primária da Avenida...não, não andei ali...acontece que um dia, por volta dos meus 18/19 anos, estava eu de cama à uns dias com uma gripe daquelas...mas já quase bom. O meu pai chegou do trabalho e o carro dele não pegava...problemas de bateria...como eu já estava melhor, pediu-me para empurrar o carro para a estrada, e manda-lo colina abaixo para o por a funcionar. Quem é que ia dentro do carro...EU...o carro pegou e foi até ao cruzamento onde voltou a ir abaixo...com um bocadito de lanço consegui faze-lo chegar à próxima descida e voltou a pegar...decidi dar uma voltinha maior até que em frente à escola da Avenida, a subir, o motor vai abaixo definitivamente...só tive tempo de o encostar em frente à escola...e qual é o problema? Nenhum, só que eu estava de pijama e sapatilhas de basquete (daquelas de cano alto), era hora de ponta e tive que percorrer o caminho até casa a pé...que vergonha J
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...antiga escola preparatória de Fiães onde fiz o 5º e 6º ano. Funcionava numa bela quinta com um palacete que infelizmente está ao abandono. Quando voltei da Alemanha com 11 anos foi para esta escola que fui, e não tive nenhum problema de adaptação pois já conhecia alguns miúdos da minha idade das férias que cá passava e me ajudaram imenso nos primeiros tempos.
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...ao passar nesta casa verde lembrei-me de uma das maiores "coças" que levei na minha vida. Vinha eu a pé de regresso da escola ao fim do dia, quando a senhora dona desta casa me chama. Pediu-me para ir a uma loja que havia ali perto fazer umas compras e que me dava 20 escudos. E eu fui...estava lá muita gente, e aquilo demorou montes de tempo e quando finalmente lhe fui entregar as compras ela disse-me que não tinha o dinheiro mas que mo daria mais tarde. Quando estava a chegar a casa da minha avó (no primeiro ano em Portugal vivemos com os meus avós maternos) já a minha mãe estava cá fora à minha procura...estavam à minha espera para me ir para o Porto para o Instituto de línguas onde andava no alemão 3 vezes por semana. Nem tive tempo de explicar...claro que pensou que eu tinha andado outra vez a jogar à bola em vez de vir embora, e pimba...mais tarde, mais calma quando soube da história sei que ficou com remorsos, situação que aproveitei muitas vezes em meu favor em situações futuras. Os 20 escudos nunca os vi e acho que nunca mais vou ver (acho que a senhora já faleceu) J 

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...aqui funcionava um bar chamado "D.Carlos", uma coisa moderna para a altura (inicio dos 90). Aqui vi o primeiro (e último?) concerto de uma banda de amigos meus chamada "Mulher da Cova Morta" que tinham um Hit chamado "A quinta pata do Cavalo" ...tá tudo dito J. Hoje ainda funciona, chama-se "Nostradamus" e é o sitio mais alternativo de Fiães...a música que passam é excelente, mesmo ao gosto aqui do Perneta.
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...a Desportex, fábrica de calçado desportivo líder em Portugal nos anos 80. O meu pai foi sapateiro, e quando regressou da Alemanha trabalhou aqui até se reformar. Quando eu tinha 13 anos queria um ZX Spectrum, e os meus pais disseram que sim senhor, que eu devia ir trabalhar e ganhar para ele. Assim foi, nas férias de Verão lá andei a trabalhar oito horas por dia durante quase dois meses e ganhei o meu primeiro salário...foi muito pouco (5 contos por mês), dava para pouco mais de metade...armei um pranto tão grande que os meus pais me deram o resto e lá fui comprar o computador...talvez tenha sido aqui que nasceu o provérbio "quem não chora não mama" J 

Jorge Branco - as Desportex eram uma maravilha não eram?
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..lugar do Monte...aqui as minhas emoções ficaram ao rubro - confesso que as lágrimas me correram várias vezes pela cara abaixo. Este lugar diz-me muito...local onde viveram os meus avós maternos, com quem passei todas as férias de verão da minha infância quando vinha da Alemanha com os meus pais, assim como o meu primeiro ano em Portugal. Á medida que ia avançando lentamente pela rua abaixo, as recordações iam surgindo em catadupa...impossível colocar tudo aqui...embora esteja um pouco diferente, os cheiros são os mesmos...que saudades desses tempos, dos meus avós, das vizinhanças, dos convívios, das brincadeiras de rua - acreditam que esta rua com uns 300m tinha mais de 10 miúdos da minha idade? Este lugar misturava as famílias mais abastadas de Fiães com outras muito humildes como a nossa...mas viviam todos em grande comunhão. Tão diferente dos dias de hoje...é pena...
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...Fábrica de Cortiça Moisés Alves da Silva...praticamente em frente à casa dos meus avós. O meu avô era encarregado nesta fábrica (chegaram a trabalhar aqui a minha mãe com 9 anos, e alguns tios e tias). O meu avô tinha a chave da fábrica, e quase todos os sábados ia para lá organizar trabalho...eu sempre que podia ia com ele...adorava brincar nas "montanhas" de sacos de apara ou fardos de cortiça...seria já a minha veia de trail a vir ao de cima? Adorava quando me levava no camião a dar um passeio, ou de carro até ao Alentejo para comprar cortiça. O meu avô era o meu herói, homem simples, correcto, amigo do seu amigo, que respeitava tudo e todos e se fazia respeitar - nunca tocou na minha mãe nem nos meus tios para impor respeito, bastava olhar - era homem de piada fina, muito magro (só ossos e músculo), muito moreno, cabelo preto...adorava os netos e queria a família toda reunida à volta dele. Acho que não havia domingo em que não houvesse um convívio. Portista dos sete costados, levou-me a primeira vez aos estádio das Antas...na época 84/85, embora só tivesse 12 anos, levou-me a todos os jogos europeus do Porto em casa, rumo à final da antiga Taça das Taças que perdemos com a Juventos. Partiu cedo demais, tinha eu 18 anos...um grande choque para mim. Tenho a certeza que ele ainda olha por mim. 
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...a casa dos meus avós. Aqui parei e tive que entrar...a casa está desabitada (pertence a um tio meu)...fui lá atrás ao terreno...agora parece tudo tão pequeno. Os arbustos que davam a volta à casa já não existem. A minha avó pagava-me para eu os cortar...uma forma de eu ganhar responsabilidade e de merecer o dinheirito. A minha avó (chamava-se Belissima, mas toda a gente a tratava por Dª Maria...não sei porquê) era qualquer coisa de espectacular...eu acho que ela encarnava tudo o que uma pessoa pode imaginar numa avó, era a avozinha perfeita. Também era analfabeta, mas muito à frente para o seu tempo, de uma perspicácia que não sei de onde vinha, conseguindo acompanhar a evolução dos tempos como ninguém. Havia muita gente que vinha lá a casa "pedir" conselhos, carpir mágoas, saber a opinião...homens e mulheres, muita gente formada...era vê-los ali sentadinhos com ela no sofá da sala a conversar e ela ouvia e tinha sempre uma palavra amiga para dar...essas conversas tb as tinha comigo...mesmo para o fim, todos os domingos vinha almoçar aos meus pais, tal como eu, e não havia nenhum em que eu não estivesse uns 10 minutinhos com ela sozinho a por a conversa em dia....até que tivemos a última conversa, num domingo em que fui de viagem de trabalho para Itália...estava constipada....morreu 3 dias depois e é uma das minhas maiores mágoas...não ter estado ao lado dela nos últimos instantes, como o resto da família mais chegada esteve - só faltei eu. 
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...gostei muito deste bocadinho...acho que foi a primeira vez que passei aqui a correr...e lá segui a minha Maratona..

...aqui a escola primária da Barroca...nunca a frequentei (fiz a primária na Alemanha), mas quase todos os meus amigos estudaram aqui. E o meu tio Francisco teve uma fabriqueta de cortiça mesmo ao lado. Diz-se (quem a frequentou), que quem ali andou, sabe fazer muito melhor contas do que os que andaram nas outras escolas. Pelos exemplos que conheço de perto, nem quero imaginar os tais outros...deve ser muito mau  J
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...casa dos meus avós paternos. Não conheci a minha avó, pois morreu uns meses antes de eu nascer. O meu avô Tomás (se tivesse um filho gostava de lhe dar este nome) era um fixe...homem pacato, mais para o calado, mas divertido. Agarrado ao "tostão"...fumava Mata-Ratos que eram mais baratos e não percebia como é que eramos capazes de gastar dinheiro para tomar um café ("agua de lavar os pés"). Á medida que fui ficando mais velho fui ficando um pouco mais próximo dele, e ficou-me na memória uma visita que ele me fez, aquando da minha convalescença de uma operação à tiróide, e de uma longa conversa que durou uma tarde. Nesta casa viviam duas tias solteiras, irmãs do meu pai...sempre super divertidas, especialmente a Mélita que me chamava de "meu Tenente" com uma voz estridente...morreu à 4 anos e a família ficou mais pobre...onde ela estivesse era boa disposição garantida. Sobra a Nide que vai mantendo viva a tradição do jantar de Natal nesta casa...infelizmente não tenho ido por coincidir com outro onde neste momento faço mais falta. Mas quero voltar a ouvir sempre as mesmas histórias do meu pai e dos meus tios e rir-me que nem um perdido. Sabiam que este lado da família é provavelmente a maior família de benfiquistas de Fiães? O meu avô tinha 19 irmãos, todos casados com uma média de 4 ou 5 filhos, que por sua vez todos tem filhos, e por aí fora...é só fazer as contas. Tudo vermelho...e eu azul às riscas brancas e feliz...imaginem que eu fosse vermelho tb (Deus me livre), a esta hora não tinha nem uma terça parte das alegrias que já tive com a bola  J  
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...a Foto Henry, do meu tio Toné (irmão da minha mãe)..foi local de trabalho da minha mãe até se reformar. Cheguei a trabalhar para ele quando tinha uns 14 anos...ia aos casamentos, ajudar o gajo que filmava...na altura as camaras eram enormes e era preciso um morcão para preparar os fios e segurar nas luzes..era o que eu fazia...apanhava cada seca, mas recebia 1000 escudos por cada um..
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Padaria Pastelaria "Laurita" ou "Beto" para os amigos...ao lado da Cinca é onde vou tomar café todos os dias à hora de almoço. É igualmente ponto de encontro da nossa malta da corrida para as saídas para provas ou treinos em conjunto. Tem as melhores natas do norte. O Beto é o Benfiquista mais doente que conheço e não se acanha nada em mostrá-lo aos clientes...consegue ver 40 penalties a favor do Benfica em apenas 45 minutos de jogo...hehehe...no domingo quando ia a passar por lá fiz uma paragem ao balcão para tomar um café...ainda olhei para as natas mas ainda só levava 15km e ainda não tinha fome J
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A Cinca, empresa onde trabalho desde o dia 3 Janeiro de 1993 (com excepção de 3 anitos em que estive pela capital e Almeirim)...fui ali parar por acaso...tinha reprovado a Matemática no 12º ano e jogava a bola de forma semiprofissional...como tinha apenas 4 horas de aulas semanais, procurei um part-time que me permitisse ganhar mais algum dinheiro e fui ali parar...estudava Desporto e nunca me imaginei a ficar na industria dos "calhaus"..certo é que o miúdo lingrinhas e caixa de óculos, que apareceu ali de calças de ganga, T-Shirt e sapatilhas foi aproveitando as oportunidades que lhe foram aparecendo e acabou por ficar e esqueceu o Desporto como modo de ganhar a vida...não me arrependi...hoje é a minha 2ª casa, pois tal como quase todos nós é no local de trabalho que passamos mais tempo logo a seguir à nossa casa. 
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Estádio do Bolhão do grande Fiães Sport Clube...joguei 6 épocas no meu clube da terra e do coração, onde fiz os escalões de formação desde os juvenis até chegar a Sénior na 3ª divisão. Foram anos cheios de histórias boas, de grandes amigos e de muitas alegrias (e algumas muito poucas tristezas). No meu tempo apostava-se pouco no pessoal da terra, mas é com agrado que hoje vejo que se aproveitam muitos jovens habilidosos vindas das camadas de formação - fruto da crise e da falta de guito.
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Mesmo ao lado do estádio foi inaugurado um Pavilhão municipal onde milita o Clube Desportivo de Fiães, histórico clube que se dedica ao voleibol (tem uma ou outra actividade diferente). Aqui o vosso amigo também tem um passado ligado a este clube e desporto, mas isso virá mais à frente. Este pavilhão foi construído em cima de um campo de treinos de futebol, onde no verão de 2002 se disputou um torneio de futebol de 7, daquele de equipas de café. Eu participei com uma equipa de amigos e um belo sábado de tarde, num jogo contra uma equipa de conhecidos sofri um acidente que me marcou para o resto da vida e que me condiciona também hoje nas minhas corridas...já perto do final do jogo, numa bola disputada com um adversário batemos joelho com joelho, andei pelo ar e quando me quis levantar não consegui...o joelho direito tinha saído do sitio, a rótula estava quase na coxa...já tinha visto muita coisa mas nunca nada igual...vi logo que era muito grave mas mesmo assim nunca perdi a boa disposição que me caracteriza...chegou a ambulância, e a maca empancou quando me iam a meter na "mala"...nem para a frente nem para trás...tiveram que chamar uma segunda ambulância para me transportar...se estivesse a morrer tinha ficado ali...a caminho do hospital, passei ao lado da minha casa e só aí me lembrei de ligar à Inês...tinha combinado um jantar com uns amigos para essa noite, e sabem o que lhe disse ..."olha lá, tive um problemazito no joelho, vou ao hospital ver o que é...avisa o pessoal que eu vou chegar um pouco mais tarde" J ..os médicos pensavam que eu tinha sofrido um acidente grave de viação...ruptura total do tendão rotuliano, não sei quantos ligamentos foram à vida e mais umas fracturas aqui e ali..fui operado nessa noite, andei engessado do tornozelo até à virilha durante 10 semanas e em recuperação durante anos...apenas 3 anos depois voltei a fazer desporto de uma forma mais regular....voltei ao futsal, uma coisa levezinha para os joelhos J
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Casa do Pedro Regal...foi nesta garagem que organizamos o nosso primeiro baile...aparelhagem, bebidas e miúdas sentadas de um lado e os rapazes do outro...que cromos J
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Fonte Bufas...local de encontro para os treinos da Lourocoop...a minha primeira passagem pelo atletismo com um grande sucesso J
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Café Centro, ponto de encontro com os amigos durante anos e anos...era ali que passava a maior parte do meu tempo livre. 10 livros não chegavam para os episódios engraçados que ali se passaram...sem dúvida um marco na vida de muito jovem de Fiães da década de 90...
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....mesmo em frente vivia a Inês com os pais, no 3º direito...estão a ver aquela desculpa para com as namoradas "ai e tal, estou cansado...vou dormir"  e ias ter com os amigos...tá bem abelha....com a namorada a morar em frente ao café onde estavam os amigos, ainda por cima com vista privilegiada sobre o dito-cujo, não havia hipótese nenhuma...estava "vigiado"...além disso a Inês tinha uns aliados muito fortes...os meus pais não me davam hipótese, se eu pusesse um pé em ramo verde, a Inês sabia imediatamente J ...quando voltamos de Lisboa vivemos aqui um ano até a nossa casa estar pronta.

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Café do Tono "Careca"...fazia umas francesinhas que era um luxo e tinha 3 bilhares. Era ali que ia comer as francesinhas e passei ali muitas tardes a jogar  bilhar com os amigos. Lembram-se dos Peste&Sida...um sábado à tarde, aquilo estava vazio, era eu, o César e o Agostinho a jogar bilhar e entram os Peste por ali dentro...queriam almoçar..."Francesinhas? O que é isso?"...experimentaram e repetiram...a maior parte deles comeu duas, até os dedos lambiam. Não nos passaram grande bola, mas pareciam divertidos...
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Velhinho Pavilhão do Clube Desportivo de Fiães...aqui o Perneta jogou vólei durante um ano (aos 14 anos) e modéstia à parte tinha jeito para a coisa...foi uma época em grande e como prémio no fim tive uma convocatória para integrar um estágio da selecção nacional de sub-15. Eu não fui...abriram as inscrições para a equipa de futebol e mesmo com a insistência do treinador da altura não mais quis saber do vólei. Mas é um desporto que gosto muito de ver e de jogar, é elegante e muito técnico...mas o coração batia mais forte com a bola no pé...
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Igreja de Fiães...baptizado, comunhão, crisma e casamento...tudo nesta Igreja. Mais giro quando era miúdo e ia com os meus amigos à missa das 11h...íamos para o coro e era uma brincadeira pegada...um dos desportos preferidos era atirar as moscas mortas, que ficavam no vitral, uns aos outros..."xiuuuus" e olhares reprovadores dos velhotes era uma constante, mas depois de um minuto quietos, bastava um começar e lá voltava tudo de inicio...lembro-me também que me dava montes de vezes aqueles ataques de riso incontroláveis...e lá vinham mais "xxxxiuuuuus"...
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...aproveitei que estava ali e fui ao cemitério fazer uma visita aos meus avós e tios...
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...estava na hora de ir a casa...Rua de Penoucos (mas que raio de nome!!! Será que não se arranjava nada mais bonito)...
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..aqui está ela...foi nesta casa que eu vivi a maior parte da minha vida, com os meus pais e irmão Gabriel (mais novo), dos 11 até aos 28, ano em que casei e saí de casa. Hoje vivem aqui apenas os meus pais, a Dª Teresa e o Sr.Zacarias, ambos vindos de famílias muito pobres e sem futuro, fizeram-se à estrada nos inícios dos anos 70 em direcção à Alemanha para terem uma vida melhor - era preciso grande coragem naquele tempo e eles conseguiram-no...tiveram uma vida de trabalho, humilde e pouco aproveitaram, mas aos filhos nunca faltou nada. Ainda hoje fazem tudo por nós...nesta casa funciona tb o "Restaurante Mamã" para mim...quando estou em Portugal vou lá almoçar todos os dias, sendo apaparicado até dizer chega. Que querem? Não tenho culpa de ter uns pais 5 estrelas...evidentemente entrei em casa no domingo, para um rápido cumprimento..só estava o meu pai, a minha mãe tinha saído para a missa da manhã...
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...e agora???...decidi fazer o caminho que fazia para a escola Secundária Coelho e Castro, que frequentei apenas durante o 9º ano, ano que foi de inauguração desta escola. Fiz parte da turma de desporto que ainda hoje recordo com saudade...que grandes malandros, tantas asneiras e maluqueiras de uma turma, que mesmo assim era aplicada...só não passou um (o Mariota), mas esse era impossível...
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...segui para a Feira dos Dez, fronteira entre Fiães e Lourosa e como o próprio nome indica, é uma praça onde se realiza uma grande Feira no dia 10 de cada mês (por acaso tb se realiza a 28 de cada mês). Nesta praça do lado de Lourosa existe um campo de futsal ao ar livre...foi neste campo que à mais de 20 anos, aos sábados uma equipa de amigos começou  a jogar uma vez por semana. Não fiz parte da formação inicial, mas juntava-me sempre que precisavam quando a época futebolística acabava. Este equipa passado uns anos passou para 6ª feira das 19-20h e quando deixei de jogar futebol passei a jogar com eles todas as semanas, fosse inverno ou verão, chovesse, nevasse, fizesse temperaturas negativas ou 40 graus. Este jogo era porreiro tb por marcar o inicio do fim de semana, ou o fim de uma semana de trabalho - é como quiserem - e à medida que íamos ficando mais velhos, com família e por isso nos víamos muito menos, também era uma forma de manter contacto com um grupo de grandes amigos. Desde que comecei a correr com objectivos mais ambiciosos decidi abdicar deste joguinho de 6ª feira - custou-me muito, mais pelos amigos que agora vejo muito menos do que propriamente pelas futeboladas. Mas eles continuam a convidar-me para as jantaradas e uma vez de longe a longe lá vou fazer uma perninha para matar saudades. 
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...nesta altura levava ca.22km e decidi-me a ir até à localidade seguinte..S.João de Vêr, onde no fim dos anos 90 eu e a Inês compramos o nosso primeiro apartamento. Compramos em construção antes de casar, e fomos mobilando aos poucos...fomos para lá viver quando casamos há quase 13 anos atrás. Ao passar por lá parece que foi à mais tempo...não sei explicar...vendemo-lo quando fomos para Lisboa em fim de 2004...tivemos sorte, meio ano depois e teria sido muito mais complicado...
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...um pouco mais à frente (talvez 100 ou 200m) encontrei a seguinte vista...incrível...como pude viver ali durante 4 anos e nunca verdadeiramente ter reparado...se na altura corresse como hoje também ali teria tido excelentes condições para treinar para trail...
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...e pronto, ca.25km nas pernas...estava na hora de voltar a Canedo, via Caldas de S.Jorge, Lobão, Gião...a partir daqui foi a rolar certinho sem "visitas"...apenas uma paragem no Parque das Termas de S.Jorge para abastecer o camelback e comer qualquer coisa...ca.30km...

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...receava um pouco a subida das Caldas para Lobão..ca. de 2km de subida com 30km nas pernas que mostravam algum sinal de cansaço...a juntar a isso, o sol já espreitava e o calor apertava...mas os receios foram infundados...subi muito bem...só por volta dos 36km é que comecei a sentir mais cansaço, que era mais psicológico do que propriamente físico...e assim lá fui lutando até chegar a Canedo...
...ainda passei no que foi a Discoteca "Mirante", que visitava sempre que jogava em casa quando estava no Canedo Futebol Clube...íamos lá só beber um copito no fim do jogo, que nunca pagávamos...afinal eramos os "craques" do clube e pelos vistos dávamos um certo bom ambiente aquilo...também não era difícil...imaginem que eles nas matinés de domingo além do hino nacional fartavam-se de passar "hits" de músicas tradicionais portuguesas como por exemplo "24 rosas"...era a loucura na pista...eu como gostava muito desse tipo de música e tenho um jeito natural para a dança, deixava-me mas é estar quietinho agarrado  a uma cervejita e encostado ao balcão a rir-me que nem um perdido. Com estas brincadeiras tive pelo menos dois amigos meus que foram "caçados" por umas moçoilas de Canedo e ficaram por cá J
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...2km depois estava a chegar a casa, 42,2km e 4h36min depois de ter partido..
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...muito sinceramente correu melhor do que esperava...a nível de tempo cheguei dentro do previsto (entre 4.30 - 5h), fiz a primeira metade em 2h37min e a segunda em pouco menos de 2h. Parei montes de vezes, tirei montes de fotos, fui tomar um café, fui ao cemitério e dar um abraço ao meu pai...não esquecendo que o percurso teve ca.850m de desnível positivo. Fiquei satisfeito por isso, mas mais ainda por não ter ficado empenado, apenas cansado....cheguei a casa com "cara de morto", mas um banhito depois já estava aí para as curvas.
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FUJAM!!!!
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Foi uma pequena loucura, que normalmente não faço quando estou a preparar uma Maratona. Costumo fazer alguns longos, mas dificilmente costumo passar dos 30km. Mas só se faz 42 anos uma vez na vida, e esta foi sem dúvida a melhor forma de o festejar.
Agora isto não se vai tornar um habito, porque caso contrário, quando chegar aos 100 anos terei que fazer um treino de três dígitos, e não sei se vou ter disponibilidade para isso J