quinta-feira

Siga para Sevilha

 

o rapaz deste tasco descobriu os filtros ... aguentem

A recuperaҫão da Maratona do Porto está feita. Foram práticamente 2 semanas onde não corri, limitei-me a umas caminhadas, uma massagem e a engordar 2,5 Kg 😉

Bem, esta engorda já vem de trás, da paragem de 3 semanas por lesão. Não sei como é com vocês, mas comigo quando venho de semanas a correr certinho e tenho que parar, nas primeiras nunca engordo mesmo continuando a comer como se estivesse a treinar todos os dias e a desfazer tudo o que entra. Só umas duas ou trés semanas depois é que recebo a “factura” e de repente ... pumba .. toma lá 2,5kg, dos quais 2kg se alojam directamente na barriga.

Recomecei a correr a meio da semana passada ... corridinhas curtas... no fim de semana voltei ao Quintal dos Pernetas para ver como estavam os percursos para o P.I.T.O. (ainda não falei deste enorme evento Perneta por aqui, mas haverá registo a tempo e horas) e soube mesmo bem calcar trilhos ao fim de tantos meses de alcatrão. Mas foi uma excepҫão porque o foco está virado para a Maratona de Sevilha daqui a sensivelmente 3 meses.

O treino mais especifico para Sevilha comeҫou esta semana que já tem 5 treinos na ementa, e já voltou a englobar umas séries e irá ter um treino mais ritmado no fim de semana. Ao contrário de quando iniciei o plano para o Porto, para Sevilha já levo uma boa base de treino além dos tais 2kg a mais ... e perguntam vocês ... “mas não eram 2,5kg?” ... eram, mas agora já não são 😉

2a feira foi daqueles treinos muito bons ...

na 3a além de uns lunges fiz uma Maratona de Roma

ontem voltei às series ... 19km de treino no total ... fiquei roto 

Estou bastante motivado, embora mais pesado acho que não perdi assim tanto quanto pensava ... tenho feito os treininhos bem ritmados e a sentir-me muito bem (mas gordo) ... isto em treinos mais curtos, vamos ver quando a distancia esticar como está a resistência.

Vem aí a época das São Silvestres ... para já estou inscrito na de Santa Maria da Feira dia 4/12 e vou voltar à Amadora dia 31/12. Pelo meio ainda queria ver se me inscrevia em mais uma ou duas. Além de gostar dos ambientes deste tipo de provas são excelentes treinos de ritmo 😉

Vamos a isso que 3 meses passam a voar.

um filtro "vintage" para um rapaz "vintage"


sábado

Isto tb é a Maratona do Porto

 


Com a ediҫão deste domingo foi a minha 10ª Maratona do Porto consecutiva ... em 2011 foi a estreia absoluta na distância (e deu origem a este blogue) à qual se seguiram mais 8 a correr e uma no apoio por fora por estar lesionado na altura (em 2019). É a prova em que mais participaҫões tenho desde que corro ... nenhuma São Silvestre, nenhuma Meia Maratona e nenhum trail chegam sequer perto deste registo. E porquê?

A resposta a isto não é apenas uma, são várias que em conjunto explicam porque ano após ano a data da Maratona do Porto ser sagrada para mim.

Primeiro porque a distancia da Maratona é talvez a que mais gosto de fazer. Tudo o que envolve o fazer a Maratona, que comeҫa com a inscriҫão com bastante tempo de antecedência, ao olhar para o calendário para definir o dia da partida “oficial” de preparaҫão, o definir de um objectivo, o elaborar o plano de preparaҫão, as semanas de treino antes do dia M e todas as oscilaҫões a nivel de forma, da motivaҫão, do psicológico ... tudo isto faz parte de qualquer Maratona e é algo que eu adoro. Mas qual a diferenҫa de uma qualquer Maratona para a Maratona do Porto???

É que a Maratona do Porto é no Porto ... no nosso Porto. É nesta Maratona que convergem ano após ano a malta da estrada e a malta do trail da nossa zona para “celebrar” a corrida ... e nesta prova que se guardam as “armas” e se esqueҫem aquelas rivalidades bacocas de tentar saber o que é melhor ... alcatrão ou fora de estrada ... pelo menos por umas horas. Também é aqui que aquele pessoal da nossa zona, que comecou a correr há pouco (ou muito) e ainda não arranjou a motivaҫão para correr a distância raínha sai à rua para vir apoiar um amigo que desta vez se aventurou ... a maior parte das vezes é aqui que se dá aquele último click para numa póxima trocar o estar de fora a assitstir pelo estar dentro da corrida. Quantos e quantos não é? É aqui que revejo muitos dos atletas que quando comecei a correr admirava pelas loucuras que faziam ... algumas destas minhas referências deixaram de correr ou fazem-no muito esporádicamente. Mas na Maratona do Porto lá estão eles, a participar ou de fora a incentivar. Resumindo a Maratona do Porto é para mim a Maratona dos Amigos!!!

Montemorrows ou lá como se chamam ... Ricardo, Paula, Pedro e uns Penetras

o Leandro com a camisola Perneta ... que enorme estreia na Maratona

Os velhinhos ... Trigo&Eu ... Sevilha que nos aguarde

Mais uns Montemorrows ou lá como se chamam (Paulo e Raquel) na box de partida

as manas ... grande recorde da Raquel ...

Isa e Vitor dos 4 ao km que vieram do "estrangeiro"

E nesse aspecto eu sou um felizardo!!! Algo de bem devo ter feito (ser parvo deve dar uma boa ajuda 😉) porque se há algo que não me falta é gente boa a apoiar-me nestas minhas parvoices. E se em Maratonas passadas o apoio e o carinho que senti já tinha sido enorme, esta ediҫão foi algo completamente inimáginável que só visto. Volto a recordar a frase do Lobo durante a prova “... mas há alguém que não te conheҫa?” ... eu, um atleta de pelotão do meio da tabela.

MUITO mas mesmo MUITO OBRIGADO a todos vocês, desde os que me foram acompanhando na preparaҫão pelo blogue, pelo FB ... as palavras de incentivo, o apoio, as bocas fofinhas, aos que me enviaram mensagens nos dias que antecederam ... aos que estiveram nas ruas do Porto e gritaram o meu nome, me aplaudiram, me “gozaram” como eu tanto gosto ... foram tantos. Obrigado mesmo!!!

o apoio nesta zona foi brutal ... Caldas S.Jorge, Running Espinho, SCE, Trail Running Sanguedo (entre outros) proporcionaram um apoio épico ...obrigado

Um obrigado especial a 3 craques que sem eu lhes pedir nada, se ofereceram para me ajudar entre outras nos treinos longos, nesses treinos onde sozinho é muito mais dificil de manter os ritmos pretendidos. João, Edgar e Trigo ... vocês estão cá dentro.

o Luis depois de bater o recorde dele nos 10km ainda andou ali a fazer piscinas para apoiar os amigos 

Edgar e Luis, companheiros nos treinos e a Paula que fez uma enorme Maratona

grande Joao ... 14 da geral nos 58km do UTM do dia anterior, nao faltou e lá estava ele ali na meta à minha espera ...

Uma palavrinha tb para o meu treinador ... Hélio Fumo, às vezes gabo-te a paciência, mas desta vez fiz (quase) tudo o que foi possivel e acredito mesmo que se não fossem aquelas 3 semanas parado o resultado tinha sido épico. É ele o obreiro de me conseguir colocar a correr como nunca imaginei, foi ele que me disse que o “sonho” de baixar as 3h é possivel para um Perneta como eu, que bastava acreditar e fazer por isso. Também foi ele que me puxou as orelhas no domingo, dizendo que fui pouco inteligente na abordagem da prova ... mais uma vez tem razão. Serviu de liҫão. Obrigado e siga com o trabalho que Sevilha está já ali (mas antes preciso de voltar a andar normalmente que isto ando dificil 😊).

E o que dizer que já não tenha dito da minha familia calense/perneta? Só me consigo repetir ... pode até haver igual, mas melhor não é possivel. Comeҫou no sábado com o já tradicional levantamento dos dorsais na Alfandega do Porto ... este ano a Expo Maratona esteve fraquinha e tb não houve a famosa Pasta Party por causa do Covid o que impossibilitou aquele habitual e famoso convivio de dia anterior entre a comunidade maratonista e não só. O remédio foi ir almoҫar em familia a um restaurante ali ao lado 😊 ... maravilha.



as próximas geracoes Pernetas a serem preparadas


kaputa de tripla que mais paracem 4 ou 5 

sortes ...


quero ver como vai ser amanha ...

A cereja em cima do bolo aconteceria no domingo, dia da Maratona ... as nossas meninas e meninos organizaram de surpresa uma claque que foi uma animaҫão durante as horas que a prova durou. Tive que me segurar quando ao km 25 vi a algazarra que por ali ia ... muito obrigado a todos ... o nosso lema “quando corre um corremos todos” foi mais uma vez muito bem vivido.

e foi isto durante horas ... 





grande claque ...

à espera dos fofinhos ...




até pela mao nos levaram ...

camisola + linda ...


Para acabar ainda houve um pós maratona em casa do meu primo Elisio ... a carne estava óptima, a companhia também, mas confesso que me custou horrores, em casa logo após o banhinho, dizer que não ao chamamento da minha cama ... voltei a casa do churrasco e deitei-me eram 19h30, adormeci por volta das 21h e só acordei na manhã seguinte. Imaginem só como estava ...






Faltam dois agradecimentos pessoais ...

Comeҫo pela minha Pikinita. Ao contrário de outras aventuras em que me meto, onde treinamos muitas vezes juntos, especialmente treinos longos nas serras e montes ao fim de semana, para esta maratona contam-se pelos dedos das mãos os treinos que fizemos os dois. Um ou outro de recuperaҫão talvez, sempre curtos. Todos os restantes treinos foram sozinhos. Os nossos ritmos são diferentes e por isso, para atingir o meu objectivo teve que ser assim. Como sempre tive todo o apoio, que é por demais importante ... ir treinar tranquilo é fulcral. A Dora não pode participar devido a lesão, estava num excelente momento de forma e tudo indicava um resultado excelente ... paciência. Mas esteve lá o tempo todo no apoio a mim e a quem passava. Muito obrigado fofinha!!!

Hoje deixo para o fim o Luis Lobo ... o que dizer mais sobre o meu irmão alentejano. Foi a corrida que mo deu ... ele sisma em dizer que comeҫou a fazer Maratonas por causa do Papa Kilometros o que é estranho mas como costumo dizer, não lhe gabo o gosto 😉 ... apesar da distância de mais de 400km e não nos falarmos assim tantas vezes, sempre que é preciso lá estamos. Já lá vão uns anos e algumas belas de umas aventuras juntos. Obrigado por tudo 😊

Pequeno-almoco de campeao ... nao falha

E pronto ... agora sim ... fica concluída a Maratona do Porto 2021 ... para o ano cá estaremos novamente. Mas antes viramos as agulhas para o dia 20 de Fevereiro ... Sevilha!!!

segunda-feira

Maratona do Porto 2021 - o dia da minha extrema unҫão

 



A chegar à última viragem deste novo percurso, no Freixo passamos os 30km ... pergunto ao Luis Lobo que tempo de prova temos ... “2h13 ...” ... ainda consigo fazer contas de cabeҫa ... “Perneta, só precisas de fazer os últimos 12km a uma média de 5m/km e está feito” ... mas vou muito cansado e em grande esforҫo já há alguns km. Chega a viragem, aquela última viragem custa-me horrores, especialmente aquele arranque para voltar a entrar no ritmo.

Procuro no horizonte e no sentido contrário a bandeira das 3h15 ... ainda demora umas boas centenas de metros a cruzar comigo o que é bom. É a minha bitola e ainda tenho uma boa vantagem, talvez uns 3 minutos ... talvez ... voltam os cumprimentos com alguns elementos que ali vão na luta.

Um deles é o bem disposto do André Oliveira (um dos 352 irmões Oliveira aqui da nossa zona 😊) que sempre que se cruza comigo canta músicas da Igreja (hoje já tinha saído um Pai Nosso entre outras – é o que faz o percurso ter muitos retornos) ... desta vez foi original ... do outro lado da rua grita “dou-te a extrema unҫão” ...

Achei imensa piada ... se ele soubesse como eu ia, se ele imaginasse que estava praticamente morto ... ainda durei 1km em que lutei bravamente com os diabinhos na minha cabeҫa a dizerem para eu parar e eu a insistir em correr ... uma forte tontura fez-lhes a vontade ... tive que parar e agarrar um poste de electricidade que estava ali por perto para não desfalecer ... 

Voltemos este filme um pouco mais de 2 horitas para trás. Ali ia a familia Perneta a descer o fim da Avenida da Boavista em amena cavaqueira para se dirigir à Partida de mais uma Maratona do Porto. Somos muitos este ano, 8 no total ... destaco o Elisio e o Nuno Pereira, estreantes na distancia. Brincadeira, mijinhas de última hora, foto na rotunda do Castelo do Queijo e lá vou eu fazer um ligeiro aquecimento com a minha lebre de luxo, o Lobo.


a tropa manda desenrascar

Nuno, Mor, Lobo, Bruno, Badolas, Américo, Serafim e Elsio - the dream Team

Poucos minutos depois estamos na box A a arrancar para a minha 13ª Maratona de estrada, a 9ª no Porto. Tinha ligado o meu GPS e colocado o relógio no cinto ... não perguntem porquê, mas iria fazer a Maratona sem controle de tempo constante ...

com malta dos Montemorrows ou lá como se chamam...

A minha primeira preocupaҫão era passar a bandeira das 3h15 ... subimos muito bem a parte da Avenida da Boavista que viriamos a repetir umas 3h mais tarde. O dita bandeira ia uns 200m à nossa frente mas ainda demoramos uns bons 3km para finalmente a conseguir alcancar e passar ... agora era ir à procura da bandeira das 3h ...

Na minha cabeҫa era colocar-me entre as duas bandeiras e depois seguir conforme me fosse sentindo. E estava a sentir-me muito bem como seria de esperar. Uma coisa era certa ... não ia fazer uma prova na retranca, ia arriscar e queria um tempo entre as 3h05 e as 3h10.

Nas voltinhas por Matosinhos comeҫou algo que para mim era inimaginável ... um apoio de fora e de dentro do pelotão que foi qualquer coisa de espectacular e que viria a repetir-se durante toda a prova. De tal forma que o Lobo a dada altura se vira para mim e pergunta ...” mas há alguém que não te conheҫa?” ... é o que faz ser parvo e pertencer aos Pernetas 😉

Não tardou muito a entrar na parte que era nova para mim ... a ida a Leҫa. As pernas estavam frescas pelo que a subida ao pontão foi feito sem dificuldade, tal como a ida até perto do Farol para mais um retorno onde meti o primeiro de 4 géis (não falhei nada neste aspecto). A bandeira das 3h continuava ali bem perto ... algumas vezes pensei que talvez estivesse a exagerar, mas continuava a sentir-me bem. Apenas no regresso à ponte de leҫa a bandeira fugiu mais um pouco.

Mais umas voltinhas e já estamos de regresso à marginal de Matosinho. Junto à rotunda da anémona mais um apoio enorme ... ouvia-se “andaaaa Pernetaaaa” de todos os lados ... não conseguia ver ninguém, tentava retribuir com aceno ou um sorriso, era o possivel. Voltamos a passar a zona de onde tinhamos partido há 20km atrás e seguimos pela Avenida Brasil onde a meio iríamos passar à Meia Maratona ... confesso que nesta fase já estava a sentir algum cansaҫo.

Passamos a meia maratona com 1h32 ... tinha aparecido o Rebelo a dizer “juizinho...” e logo de seguida o João Sousa “calma, controla ...” . Foi a primeira vez que soube a quanto ia pois perguntei ao Lobo. Também foi a primeira vez que senti que talvez tivesse exagerado um pouco no ritmo.

Uma breve conversa com o Lobo e estava decidido ... vamos baixar o ritmo para 4,30m/km ou um pouco acima até ... chega bem para o objectivo. Vamos a isso.

Acontece que aquela fase complicada que aparece em quase todas as Maratonas e que todos tentam adiar o mais possivel me apareceu demasiado cedo. Lembro-me de a partir dos 23km, já na parte junto ao rio Douro, estar a olhar para o horizonte à procura da placa seguinte um pouco deseperado o que é mau sinal. As pernas já pesavam e o facto de esta ser uma das partes em que não existe grande público tambem não ajuda nada. O Lobo já se tinha apercebido do meu estado ... tentou falar algumas vezes comigo, controlava o relógio e várias vezes se colocou ligeiramente à minha frente para que eu seguisse na sua roda.

Ainda não tinha visto a Pikinita ... na partida sei que estava ali na rotunda do Castelo do Queijo mas não a vi. Quando lá voltamos a passar tb não a vi ...pensei que estivesse na Avenida Brasil mas tb não.

Aos 25km a surpresa da Maratona ... via uma pequena multidão ao longe aos saltos e a fazer um barulho ensurdecedor ... reconheci as camisolas vermelhas do CAL ... tu queres ver? Reconheci a Marlene que tinha vindo um pouco mais ao nosso encontro ... mais à frente a nossa familia calense e perneta ... o Lobo só me diz “impressionante” ... emocionei-me, confesso ... ali estavam todos por nós, equipados a rigor a fazer uma festa que só visto ... sei que a Pikinita tb lá estava mas confesso que não a vi naquela confusão. O que sei é que por momentos me esqueci do cansaҫo e as pernas ganharam um boost que durou ainda umas boas centenas de metros.


Lá ia fazendo tripas do coraҫão para me aguentar, tomando o meu gel religiosamente de 9 em 9km com a esperanҫa que a coisa se fosse aguentando. Mas estava dificil ... aquela rampa ao lado da Igreja de São Francisco antes de investir à direita pela Ribeira foi feita num esforҫo enorme para não perder muito ritmo ... tb sabia que de seguida ia descer até ao rio Douro o que dava para recuperar um pouco.

Agora vinha aquela rampa da Ribeira para o tabuleiro de baixo da ponte D.Luis ... tem que ser. Lá em cima eu sabia que costuma haver bastente público agora nunca pensei que viesse a ser como foi ... no fim da subida só vi gente conhecida ... ali estava a malta do Caldas, do BTT de Sanguedo, do Running Espinho, do SC Espinho entre muitas outras ... “olhem os Pernetaaaaas” ... cum caralho, eu mesmo que quisesse morrer não me deixavam ... não ali ... 😊

obrigadoooo malta ...

Siga para o último retorno no Freixo ... vão ser 2 penosos km onde a marreta comecou a pairar ainda com mais forҫa sobre a minha cabeҫa. Chegamos ao ponto onde iniciei este texto ...

A chegar à última viragem deste novo percurso, no Freixo passamos os 30km ... pergunto ao Luis Lobo que tempo de prova temos ... “2h13 ...” ... ainda consigo fazer contas de cabeҫa ... “Perneta, só precisas de fazer os últimos 12km a uma média de 5m/km e está feito” ... mas vou muito cansado e em grande esforҫo já há alguns km. Chega a viragem, aquela última viragem custa-me horrores, especialmente aquele arranque para voltar a entrar no ritmo.

Procuro no horizonte e no sentido contrário a bandeira das 3h15 ... ainda demora umas boas centenas de metros a cruzar comigo o que é bom. É a minha bitola e ainda tenho uma boa vantagem, talvez uns 3 minutos ... talvez ... voltam os cumprimentos com alguns elementos que ali vão na luta.

Um deles é o bem disposto do André Oliveira (um dos 352 irmões Oliveira aqui da nossa zona 😊) que sempre que se cruza comigo canta músicas da Igreja (hoje já tinha saído um Pai Nosso entre outras – é o que faz o percurso ter muitos retornos) ... desta vez foi original ... do outro lado da rua grita “dou-te a extrema unҫão” ...

Achei imensa piada ... se ele soubesse como eu ia, se ele imaginasse que estava praticamente morto ... ainda durei 1km em que lutei bravamente com os diabinhos na minha cabeҫa a dizerem para eu parar e eu a insistir em correr ... uma forte tontura fez-lhes a vontade ... tive que parar e agarrar um poste de electricidade que estava ali por perto para não desfalecer ...

... demorei alguns segundos a recuperar e disse ao Luis ... “vamos continuar” ... durei talvez mais um km antes de voltar a ter que parar por mais um tontura, mais fraca, mas como ia mais atento reagi antes. O Luis dizia “se quiseres caminhamos um pouco” ... conselho que aceitei ... tomei tb o último gel, um pouco antes do previsto para ver se se dava o tal milagre.

a tentar nao dar parte fraca ...

A partir daqui foi isto ... ia-se corrinhando ... a última vez que ainda pensei em recorde deve ter sido pelos 35km ... perguntei o tempo ao Lobo e vi que ainda daria se fizesse um pouco abaixo dos 5m o km ... e fizemos um km a 4,50  mas tive que parar novamente. Agora eram as pernas que não iam, doia tudo, os adutores, o estomago dorido ... uma desgraҫa. E foi nesta altura que o Paulo Pereira passa por mim com a bandeira das 3h15 às costas ... “anda ... encosta aqui ...” .... mas não tinha forҫa, encostado já estava eu 😉

Se por um lado este tenha sido o momento do adeus ao RP também me libertou um pouco dessa "responsabilidade" ... já nada havia a fazer a não ser chegar ao fim o mais rapidamente possivel. E lá fui, com o Lobo muito paciente a apaparicar-me durante o resto do percurso. Ora corria-se ora caminhava um pouquinho de vez em quando. Voltamos a passar pela malta do CAL, agora um grupo mais reduzido porque se dividiram ... a outra metade tinha seguido para a zona da meta ... tb aqui fiz questão de não me verem a caminhar ... maravilha 😊

rir para nao chorar ...

Na chegada à Foz estava o Ricardo Bontempo ... “então? Anda que vais fazer 3h25...”   ... uns poucos metros mais à frente o Lobo pergunta “este moҫo tem alguma bola de Cristal?” ...

Lá está a sempre infindável Avenida Brasil ... digo sempre isto ... esta avenida é mais longa de sul para norte do que de norte para sul ... e ninguém me convence do contrário 😉

As dores nas pernas eram mais que muitas, os adutores então nem se fala. Mas agora iria correr até ao fim. Rotunda do Castelo do Queijo, faltam 2km ... iamos lentos mas mesmo assim ainda iamos passando alguns que estavam piores que eu. A subidinha da Boavista tem mais de 1km, já se veem os pórticos e uns 100m antes de fazer a curva lá está a nossa claque novamente...

 ... grande festa ... procuro a Pikinita ... beijoca ... e siga ... o Lobo já tinha seguido mas espera por mim uns poucos metros antes da meta ... hora de um primeiro abraҫo sentido ... mais uns metros e passamos a meta juntos ... 3h25 ... o Bontempo afinal tem mesmo uma bola de cristal.

foi o possivel ...

Mais um abraҫo ao Luis Lobo a quem estou profundamente agradecido ... ele tem por hábito não repetir maratonas e já tinha feito a do Porto em 2015. Tinha feito a Maratona de Berlim há pouco mais de um mês mas desde que soube que eu tinha como objectivo baixar as 3h se prontificou imediatamente em ajudar-me. Ali estava ele ... com uma paciencia daquelas a fazer o pior tempo de sempre em Maratona ... e olhem que já tem muitas 😉 ... mas os irmãos são para as ocasiões não é? 😊

obrigado Luis ... 

Eh páh ... esta Maratona saiu-me do pêlo como já não me saía uma prova há muito tempo. Eu sabia perfeitamente que não tinha feito a preparaҫão ideal, e que as 3 semanas parado iam fazer mossa. O meu treinador diz-me que fui pouco inteligente e tem razão. Eu tb sabia que se fizesse uma prova mais contida, mais resguardada, teria uma grande probabilidade de bater o meu recorde. Fiz algo que raramente faҫo que é jogar ao ataque e depois logo se vê ... paguei o preҫo e servirá de experiencia. Adoro a Maratona por isto mesmo, se nao te preparares levas no focinho e se te preparas levas no focinho na mesma só que menos. O facto de ter corrido sem o relógio foi um erro ... é de facto uma ferramenta que me podia ter controlado o impeto. Mas isso agora não interessa nada ... o que interessa mesmo é que adorei mais esta Maratona do Porto. Desde a prova em si, à organizaҫão que esteve ao nivel que nos habituou, até o tempo ajudou ... o ambiente entre atletas foi excelente e o público presente esteve impecável e bem acima da média ao que estamos habituados em provas portuguesas.

Ainda fiquei com a nossa claque à espera de ver chegar e a aplaudir os atletas durante mais de uma hora ... espectacular assistir ao esforҫo, as caras da malta prestes a concluir uma Maratona são qualquer coisa de fenomenal.

Os calenses estiveram em grande e está tudo de parabéns. Américo e Bruno com excelentes recordes pessoais, o Nuno Pereira e o meu primo Elisio com estreias na distancia bem sucedidas (benvindos ao clube) e o Serafim e o Badolas com mais uma para a colecҫão.

Esta Maratona do Porto não fica por aqui ... existem agradecimentos por fazer num post à parte ...