A empenar e desempenar pela República Checa e Austria

Esta semana estive primeiro em Brno na República Checa e depois em Viena na Áustria. Além da bagagem habitual, levava comigo a firme ideia de correr todos os dias, fazer muitos km.

2ª feira foi um dia muito longo. Levantei-me às 3 da manhã, apanhei um voo para Frankfurt, depois outro para Viena, onde aluguei um carro para ir até Brno. Cheguei ao Hotel um pouco antes das 17h e tinha duas horas antes de um compromisso para jantar com um cliente. Conheço esta zona pois já lá estive uma vez … a vontade não era muita, algum cansaço acumulado da viagem, dos treinos do fim-de-semana e ainda algumas dores no tornozelo direito devido a uma torção no treino do dia anterior. Mas forcei-me a ir … estavam uns impressionantes 20ºC e só custou começar, desemperrar os músculos – acho que foi a primeira vez este ano que corri de manga curta. Deu-me um enorme gozo, aquilo é mesmo desafiante, quase sempre em trilhos, muitos single-tracks, por entre floresta e campo, num sobe e desce constante. Nos dias anteriores deve ter chovido, a terra estava muito remexida, alguma lama o que tornava o piso mais difícil para se progredir – um autêntico percurso para moer as pernas. Mesmo não estando em muito bom estado, dei por mim várias vezes a acelerar e a ficar com os bofes de fora. Ia-me valendo as breves paragens para disparar a máquina fotográfica do telemóvel. Tivesse eu mais tempo, ainda a esta hora andava por lá J

 

 

Cenário de guerra?!?

 

 Minas?!? ... cenário de guerra confirmado :)

as senhoras de limpeza do Hotel perdoaram-me...

Para o dia seguinte os meus clientes convidaram-me para um jogo de futsal, quer dizer uma espécie de … o campo é um pouco mais pequeno e as balizas são de hóquei. A minha ideia era levantar-me cedo, para uma corridinha matinal ligeira antes de ir trabalhar. Mas estava de rastos, tinha que recuperar as horas de sono perdidas além de que o tempo tinha virado … chuviscos e 6ºC apenas – não fui. Mas ao fim da tarde fui jogar à bola … só havia 6 jogadeiros, pelo que o joguinho foi de 3x3. Como podem imaginar, 1 hora sempre a correr de um lado para o outro, sprints, travagens, viragens bruscas, foi muito intenso e cansativo. No fim umas cervejolas e uma valente pizza, e quando no restaurante me levantei para ir até ao carro é que comecei a ver o lindo estado em que estava … parecia um Condor … com dor aqui, com dor ali J … o pior eram as costas e os joelhos. “Amanhã já devo estar bom”. Santa inocência!!!

Quando acordei na 4ª feira parecia que tinha sido atropelado por um camião. Dores por todo o corpo, com especial incidência nas costas, joelhos, tendões, virilhas. Parecia um velhinho de 150 anos e subir escadas era uma risota. Estive em Brno até ao início da tarde, e depois viajei de carro até Viena onde cheguei ao fim da tarde. Ao contrário do habitual fiquei mesmo no centro da cidade, com o Danúbio ali mesmo ao lado a convidar para uma corridinha. Mesmo não conseguindo caminhar em condições, decidi ir tentar correr um pouquinho – tinha que aproveitar aquela oportunidade. Depois de aquecer até que o fiz relativamente bem, apenas quando parava para tirar umas fotos é que me custava voltar a arrancar. Andei junto do Danúbio alguns km (onde vi umas dezenas de outros corredores) e depois decidi ir para o centro visitar alguns dos monumentos mais emblemáticos, onde andei pelo meio de centenas de turistas normais, não vi nenhum corredor, muitos menos de calções e sem luvas com aquele frio (devia estar perto dos zero graus). Mas não tive frio J. Foram 1h15 que passaram a voar, banhinho e o empeno voltou. Aproveitei para ir “recuperar” as energias para um Restaurantezito que havia mesmo ao lado do Hotel, para não ter que andar muito J, e deitei-me cedo. No dia seguinte teria que me levantar antes das 5 da manhã.

 

 

... calma, mais daqui a bocadinho, ok? ... 

 

pontes coloridas... é prá menina ... 

 

e pró menino... 

 

 

... tava bom, por acaso até estava muito bom ... 

 

... a sede era muita ;) 

... quando eu estava a chegar ao Hotel, passei ao lado deste estabelecimento e uma senhora simpática meteu conversa comigo, e convidou-me a entrar ... eu recusei, já tinha jantado ;)

 

E assim foi … quando me levantei estava pior do que no dia anterior – comigo normalmente ao 2º dia fico pior – “rais parta a merda da bola”… mexi músculos que normalmente não uso, e estava dorido não só nas pernas, mas tb pelo resto do corpo, abdominais, costelas, enfim … é a PDI J. Lá fiz uns 500km de carro, umas reuniões e estava de volta a Viena. Tive sorte e não apanhei trânsito, pelo que cheguei ao Hotel cedo, por volta das 17h. Desta vez fiquei na periferia onde já tenho ficado muitas vezes, numa zona plana de campos até perder de vista. A minha intenção no início da semana era fazer um longo e lento neste dia, tipo 3 horas. Mas nas condições em que estava era impossível, achava eu. Fiz o check-in, e mal entrei no quarto equipei-me para sair a correr, não pensar muito no assunto se não corria o risco de ficar por ali. Caí na asneira de me sentar na beira da cama, e quando dei por ela já estava deitado … que bom … “é só um bocadinho” … e fechei os olhos … “NÃO!!!!” … levantei-me de repente, tipo com um salto à Bruce Lee … na realidade devia parecer mais um Bruce Lee marreco e perneta, e não foi um salto … parece que ainda estou a ouvir o chiar das roldanas dos meus velhinhos joelhos e das minhas costas J … a sério, eu estava mesmo todo fodi… J. Água fria na cara e toca mas é a sair pela porta fora….”afinal és um homem ou um rato??”. Quase que nem dei tempo de o GPS apanhar sinal, e lá saí meio tropeço pelo parque de estacionamento fora em direcção aos campos . “Ui, ai, ui, ai …” os primeiros 200, 300m doeram à seria, mas depois comecei a entrar em modo automático e a coisa rolou bem. Quando comecei não sabia se ia andar meia, uma ou mais horas. O tempo estava frio, e dependendo para o lado que corria levava com vento de frente, de lado ou pelas costas. Os dias já estão muito mais longos, já se consegue andar com luz do dia até às 19-19.30h… maravilha. Acabei por fazer um bocadinho mais de 2h15, 23,5km no total, o que foi bem mais do que poderia imaginar quando arranquei. Imaginam 34m D+ nesta distância (aquilo é mesmo plano) J. O mais complicado acabaram por ser as mãos – esqueci-me de levar luvas para esta viagem – socorri-me da minha velha táctica das “mãos nas nádegas”, que pode não ser bonito de se ver, mas funciona muito bem J … e querem saber que depois de um banhinho me senti muito melhor? Áh pois é bebé J

 

 

Hoje foi dia de regressar a Portugal. Levantei-me às 7h e sai para correr novamente. Já me senti bem melhor, embora me tenha voltado a custar sair, mais por causa do frio que fazia, zero graus e um ventinho. Mas estava céu azul, um solzinho que era uma maravilha, e sempre tinha a minha táctica revolucionária para aquecer as mãos se fosse preciso (e foi) J … foram apenas 40min, banhinho quentinho e estava pronto!!! Agora vou aqui no voo de Viena para Geneve e sinto-me 5 estrelas, quer dizer, ainda um bocadinho cansado mas nada por aí além. Amanhã o dia será dedicado às minhas meninas, nada de corridas, e domingo é dia de longo com os Pernetas no nosso Centro de Estágio pelas serras de Canedo – continua a preparação do Trail do Marco dos 4 Concelhos (26/3) e dos Trilhos do Perneta 3(1/5) … queremos receber bem, e para isso é preciso que esteja tudo em ordem. Vais ser mais uma manhã de diversão garantida J

Durante estas corridas por Brno e Vienna, cruzei-me com muita gente a correr – a corrida não é só um fenómeno actual em Portugal. Enquanto em Brno a malta é super simpática (não houve um único que não me tivesse cumprimentado, dito alguma coisa ou sorrido) em Viena é cada um para si … tudo macambúzio, nem um aceno, nada. Até gosto da Áustria como país, é pena é ter tantos austríacos J

Como conclusão quero dizer, que quando existe força de vontade conseguimos correr, se não for mais depressa é mais devagar, se não for 1 hora é apenas meia, mas conseguimos. Basta dar o primeiro passo, sair de casa e não desistir nos primeiros 200 metros. No fim de um treino desses garanto que o sentimento (não é de dever cumprido, porque não existe dever) de satisfação é ainda maior do que o habitual. É evidente que tive vários “plus” (não é Luis Lobo?) de motivação, pois não é todos os dias que se tem possibilidades de correr assim em sítios diferentes e bonitos, mas eu acho que o teria feito na mesma se tivesse sido na minha zona habitual. É que vem aí grandes aventuras, e é preciso estar à altura, pois essas não fazem prisioneiros … e a brincar, a brincar, 2 meses já se foram J

Boas corridas!!!