Desafiei os 5 Pernetas que fizeram o UTSM a relatar a aventura de sábado passado. O primeiro a responder positivamente ao desafio foi o Badolas, que dispensa apresentações para quem passa aqui por este cantinho de vez em quando. Aos mais distraídos relembro que este meu amigo é "pai" de uma filosofia de treino de corrida muito à frentex ... "que se foda o treino, gajo que é gajo só vai a provas e a poucas" é o lema dele, e com a conclusão dos 100km de S.Mamede elevou a fasquia a um nível superior ... é a prova provada que esta coisa das Ultras está muito na "cabeça" (e nas minis :)) ...
...e agora, uma estreia mundial ... o Papa Kilómetros tem a honra de apresentar (sem qualquer censura, juro que ainda não li, se tiver asneiras a responsabilidade é dele :)) ...
UTSM 2015 - by Badolas
15 de Maio, 19.30h, 5 pseudo-atletas fianenses bem dispostos mas algo assustados, saem de Santa Maria da Feira rumo a Portalegre. Objectivo: 100km a correr nos montes alentejanos.
A viagem até Portalegre é feita rapidamente, apenas com uma paragem para um dos participantes mudar a água às azeitonas e parar de chatear os restantes elementos, eu como condutor de serviço fiz questão de demorar ao máximo para parar, só para não habituar mal o pessoal e porque já estavamos atrasados.
Chegados finalmente ao Estádio dos Assentos em Portalegre, fomos logo levantar os dorsais e comer: massa, rissóis e quiche.
Depois de equipados, já no controlo zero, o Filipe tem de vir ao carro buscar o corta-vento (obrigatório), ele vai a resmungar e eu vou com ele para certificar-me que fecha bem o carro, mais tarde nessa noite, ele vai dar graças ter ido buscar este equipamento.
Meia noite em ponto, ao som de uma banda a tocar um tema do Xutos, dá início a prova, uma empreitada que nos parecia a todos utópia, mas que iriamos tentar correr contra as probabilidades e elevar alto o nome CAL e Pernetas.
Os primeiros kms são feitos em fila indiana em single-track, uma enorme nuvem de poeira levanta-se com as luzes dos frontais a deixar um rasto serpenteante pela montanha. Estes primeiros 9km até ao PAC1 são feitos relativamente rapido, mas com uma paragem a meio para atravessar um pequeno riacho. Os 5 pernetas separam-se ligeiramente, mas a curta distância uns dos outros. Chegados ao PAC1, o Filipe e o Nuno rapidamente seguem viagem, enquanto me deixo ficar com o Zé Alexandre e o Bruno a comer e a tirar fotos.
A viagem até ao PAC2 é por uma florenta não muito densa, estradão poeirento e quase sem luz natural, apenas os frontais vão mostrando o caminho a seguir. O PAC2 foi talvez o que mais gostei, no sopé de um monte, no Castelo de Alegrete, com umas ruas antigas, bem iluminadas e estreitas e casas brancas. Algumas pessoas à janela a saudar os participantes, que se dirigem à praça central, cheia de gente e música alta. Aqui, rapidamente o Bruno faz um amigo que lhe oferece uma cerveja, que este agradece e bebe deliciado enquanto tira umas fotos. Dou um gole na cerveja que me sabe como um nectar dos deuses. O Nuno e o Filipe apenas os vemos por breves instantes no abastecimento, já que estão cheios de vontade de continuar, sem perder tempo desnecessário. Nós os 3 demoramo-nos mais 5min a confraternizar com os simpáticos residentes e voluntários, algo que gostamos muito de fazer em todas as provas que participamos.
Saindo de Alegrete, sentimos que agora começa verdadeiramente a prova, já que ao subir a montanha as pernas dão sinais de algum desgaste. O Bruno, que levou os bastões para esta prova, parece estar a dar-se bem com eles ajudando-o a subir, eu experimento-os por breves instantes mas não me adapto. A caminho das Antenas (PAC3) e depois de uma subida muito ingreme, onde cantámos em plenos pulmões o Hino do FCP (só para chatear quem andasse pela montanha), de repente aparece-nos atrás de nós, os restantes 2 pernetas. O Filipe e o Nuno tinham-se perdido e andado alguns metros em contra-mão, com isso acabamos por nos agrupar e juntos chegamos ao PAC das Antenas. Aqui o Filipe deu graças ter trazido o corta-vento, já que estava muito frio e especialmente muito vento, no sopé da montanha. A tenda dava algum conforto para que nos demorássemos um pouco mais a comer e a beber, por exemplo um cházinho quente...
Somos 5 atletas com ritmos distintos, o Filipe e o Nuno com vontade e sobretudo aptidão para altos voos, ou seja, correrem bem e rápido. Eu até me sentia bem com eles, mas estava com mais vontade de ir com o Zé e o Bruno que são mais de caminhar, tirar fotos e interagir com todos aqueles que se atravessem em seu caminho. No entanto, até ao PAC6 (60km) que era o nosso primeiro grande objectivo, fui com o Nuno e Filipe, estava a sentir-me muito bem e nas subidas só não corria porque parecia mal J, a chegada ao PAC6 é feito sempre a subir por uma calçada romana que aquece os pés, no entanto estou cheio de coragem e energia nas pernas, deixo ligeiramente para trás os meus amigos pernetas, mas quando checo à porta do Castelo (Marvão) tenho a indicação que devemos descer a rua e circundar o castelo e tornar a subir em direcção a outra porta (aqui já sem água, só tinha de aguentar, o que fiz com alguma facilidade, ultrapassando alguns atletas pelo caminho. Cheguei sozinho a este abastecimento, com um sorriso nos lábios por me estar a sentir tão bem. Melhor só mesmo a água fresquinha que me esperava, juntamente com a sopa (fantástica) que me revitalizou totalmente o corpo (e a mente), o chamado red-bull tuga J.
Aqui trocamos de roupa, lavamo-nos, alguns trocaram de sapatilhas, preparamo-nos para o que se seguia (calor, insectos e 40km estenuantes).
O Zé e o Bruno chegaram algum tempo depois, este ultimo com algumas mazelas nos pés, tratou-as na assistência no local.
Foi neste PAC que se juntou a nós o Guru das corridas Rui Pinho, sábio e experimentado nestas lides, sempre a dar-nos dicas de (sobrevivência e preserverânça) na corrida. O Filipe ainda pensou em ficar nos 60km, não se estava a sentir bem, tinha o corpo a tremer, decidi dar-lhe moral e disse-lhe para tentar mais 10km e depois via (nem eu sabia se lá chegava, mas fui muito convincente), tanto que ele acedeu em continuar quase em pestanejar.
Saímos os 4, eu Filipe, Nuno e o Rui Pinho decidindo desde logo apenas caminharmos, já que o calor era abrasador e as pernas estavam moídas dos kms já feitos, à chegada no abastecimento dos 70km em Carreiras, já não tinhamos água outra vez e os joelhos e os gémeos ficavam pesados a cada passo, decidimos ficar mais tempo a refrescarmo-nos aqui. A verdade é que nem 200 metros depois deste abastecimento, tivemos um outro sem contarmos. Estava uma malta a assar chouriços e a beber cerveja na berma da estrada e logo metemos conversa para assim beneficiarmos deste nectar fresquinho que soube que nem ginjas aos pernetas, pareceu que ficamos com pernas novas (recauchutadas).
Como me estava a sentir um campeão, sempre a caminhar à frente e com uma passada forte e constante, entrei no abastecimento dos 77km em Castelo de Vide como um campeão, optando por não comer quase nada e beber apenas um pouco de coca cola, ou seja, segui viagem rumo ao PAC9 pouco alimentado. Isto fez com que passasse mal nestre troço e ao entrar no PAC9, o meu corpo desligou quase por completo, nem forças para me sentar numa cadeira tinha, aparentemente tinha chegado ao fim a minha aventura, tão perto do final. Quase a desmaiar de cansaço vejo o Filipe a mergular de cabeça na piscina, o Nuno dizia-me que também não estava nada bem, mas a recuperar rapidamente. Enfim o Rui Pinho seguiu viagem, logo depois o Nuno e Filipe e o Nuno fizeram o mesmo. Estava sozinho e sem ter forças nem para comer, enjoado, com tonturas, quando recebo um telefonema do Perneta Mor (Carlos) que desde logo se apercebe do meu estado. Dá-me força anímica e diz-me algo sensato: “descansa o tempo que precisares que tenho 5h para o tempo limite de prova, recupera e vê se continuas, estás tão perto...”
Uma ultima chamada da minha Andreiinha e levanto-me convicto que não estava morto, como um pouco de tomate com sal e molho a cabeça. Aproveito a saída de um pequeno grupo de 5 pessoas e tento acompanhá-los, a cada passo me sinto a ressuscitar e rapidamente ultrapasso este grupo. Depois de andar quase 1km o Zé Alexandre liga-me a saber onde estou, o Carlos tinha-lhe ligado e pedido para me ajudar. Inicialmente digo que espero por eles, mas como me estava a sentir melhor sigo o meu caminho a ver se não quebro. Estes ultimos kms faço-os a passo acelerado e depois até a correr, chego ao estádio dos Assentos era já noite onde estavam já o Nuno e o Filipe. Eles não esperavam ver-me a terminar a prova e dá-me um ânimo fantástico ver a alegria deles ao vislumbrar-me a correr, renascido e a terminar a prova em 20h39.
50min depois entram no estádio o Bruno e o Zé Alexandre fazendo com que estes 5 pernetas se tornem heróis acidentais, talvez os menos qualificados à partida para terminar uma prova desta envergadura.
Quero apenas realçar a força que o Carlos Cardoso e o Gil Correia nos deram antes, durante e depois da prova, eles que foram os primeiros a sugerir a participação, mas que não puderam correr, esta é também uma conquista deles, os 3 digitos são igualmente deles.
Parabéns à organização. Não faltou nada. A prova é dura, mas com abastecimentos de qualidade e voluntários extraordináriamente prestáveis e atenciosos.
A paisagem não é como as que temos no norte do país, o que a torna mais monótona em algumas partes, mas no fundo é característica da zona onde se realiza, que eu não conhecia.
Sinceramente, não me importava de voltar... quem sabe!
Badolas
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e agora vou ler a coisa....obrigado campeão!!!
Muito bom !!!!
ResponderExcluirSou fã desya filosofia de treino... vamos ver se também funciona no OMD :D
Grande Badolas.... este foi o desafio que ia colocar a tua filosofia à prova ... superada com distinção :) ...grande máquina e o resto é treta.
ResponderExcluirAhh .. e tavas com uma vozinha aos 90km que nem te digo ... grande surpresa e alegria quando umas horitas depois recebo uma sms tua a dizer "consegui :)" ....espectáculo!!
Abraço
É uma inspiração ler estas postas :) Parabéns a todos!!! 100km, um dia quem sabe...
ResponderExcluirJá o escrevi antes e volto a escrever (roubando descaradamene palavras ao Perneta Mor): " inspiram-me muito mais atletas normais que fazem coisas extraordinárias como vocês fizeram hoje"
ResponderExcluirOu seja: PARABÉNS!
Abraços e até um destes dias num trilho por aí.
100 kms, para mim só de carro :)
ResponderExcluirParabéns pela conquista!
Abraço
ESPECTÁCULO!!!!!
ResponderExcluirMuitos e muitos parabéns por esta grande prova de superação!
São uma inspiração!
Um grande abraço
Parabéns a estes Super Campeões!
ResponderExcluir(Eu sabia que esta filosofia de treino era infalível :))
Grande abraço
E aqui comprovada, e mais que comprovada a teoria de "treinar que se f....." que uma menina não diz essas coisas :)
ResponderExcluirBravo!!!!
Grande Badolas!!!
Aqui sim está a prova que a mente e o apoio são 100% de um sucesso garantido!! :P
BRAVO!!!
Fantástico... isso é que é chamada uma metodologia de treino do car#$#"$!!!
ResponderExcluirParabéns a todos os elementos do "grupo" que concluíram a empreitada!
Esta malta de Fiães é do caneco ;)
Fónix estou a ver que a filosofia de mandar o treino às urtigas resulta... Parabéns a todos os Pernetas (mesmo a aqueles que se baldaram com medinho... ) :) estou a brincar Carlos ok? Um abraço
ResponderExcluirMuitos parabéns! Ganda Perneta! :)
ResponderExcluirGrande Badolas! :)
ResponderExcluirEspectáculo!
Todos os Pernetas estão de parabéns!
GRANDES!
Fantástico!!!!!
ResponderExcluirSabias que cada vez que cá venho ao teu blog me fico a salivar??
Cá para mim há aqui algum efeito "pavloviano" para estas bandas, só pode!
Ehehehe
Abraço