Começo este post por dizer que acabei a minha 12ª Maratona do Porto, a minha 20ª Maratona de estrada (sem contar a de Roma 😉) e que as 3h20 e 37 segundos que demorei a chegar à meta correspondem ao meu 3º melhor tempo de sempre. Nada mau, não é?
Não, não é … fiquei muito longe
do que pretendia. Mas vamos aos pormenores …
Sábado foi dia de manter a tradição e foi a família quase toda … levantar dorsal, espreitar as cenas de corrida à venda (sem comprar nada) e participar na Pasta Party … e tal como nos últimos tempos, portei-me muito bem … não toquei na cerveja por exemplo ☹ … a tarde foi tranquila e a noite tb, dentro do possível.
Levantei-me às 5h para tomar o pequeno almoço a tempo e horas de fazer a digestão … tentei fazer tudo conforme mandam as regras. Deixamos a miúdas em casa dos meus pais (coitadas, terem que acordar tão cedo por causa das maluquices dos pais) e fomos ter com o Bruno ao Beto para tomar um cafezinho antes de zarparmos para o Porto, onde chegamos bem a horas.
O que depois nos atrasou um pouco foi a procura de uma casa de banho ... no Queimódromo as filas para as casas de banho (muito poucas para tanta gente) eram enormes ... a tropa manda desenrascar, não é?
Mantivemos a tradição da foto de equipa na rotunda da Anémona e depois o grupo separou-se … Américo, Leandro e Lima para
um lado, Pikinita (que ia aos 10 com a Barbara) para outro e eu e o Bruno ainda
conseguimos fazer um pequeno aquecimento que me deu bons sinais … estava levezinho 😉
O que não conseguimos foi chegar a
tempo da partida ao bloco A (o das 3h15) pois as laterais estavam cheias de pessoal,
atletas e gente que ia assistir. Não nos restou outro remédio que saltar as
grades e entrar no bloco B quando a partida se deu … mas não foi por aí, 1 minuto
depois estava a passar o pórtico … se calhar até foi melhor assim, pois nem deu para
ficar ali muito tempo a pensar no que aí vinha …
Único problema é que o meu balão,
o das 3h, já ia longe … sem stress … a minha táctica hoje era entrar no ritmo que
precisava (ca.4,15m/km) ou um pouco acima até aos 30/32km e depois logo se via.
A subida da Boavista é o costume
… muita gente … e mais uma vez muita gente que está deslocada, que parte em
blocos que não são para os tempos que fazem, mas prontos … querem ir ali e
depois é um problema para quem como eu quer entrar no ritmo. Até um senhor em
cadeira de rodas a ser empurrado/puxado estava ali pelo meio naquela confusão …
acho a ideia nobre e apoio como é lógico todas iniciativas deste tipo … mas qual
seria a diferença para eles, partirem num bloco mais atrás? Talvez até fosse
muito melhor, muito menos confuso … mas prontos …
1º km a 4,33, com alguns sprints
pelos passeios … bem bom. O 2º km foi um pouco mais rápido para entrar na média
… e depois estabilizei pelas ruas e ruelas de Matosinhos com o primeiro retorno aos
ca.3km onde consegui ver que tinha ca. 1 min de atraso para o “meu balão” e mais
importante, ver que os meus compinchas iam já todos bem colocados dentro do que
era o objectivo de cada um, tal como eu.
… voltamos a passar
junto à anémona, com muito público … lá pelo meio saía de vez em
quando um “força Perneta” … eu não conseguia ver ninguém … ia concentrado … ia
trocando algumas palavras com um ou outro companheiro de luta, era só … a
chegar ao Porto de Leixões lembro-me de pensar que ia mesmo bem … ritmo e
bpm controlados, a disposição/motivação era excelente, o tempo ajudava … será hoje? … não me
deslumbrei, já tenho experiência suficiente para saber que isto é como acaba e
não como começa … mas era preciso começar bem e isso estava a ser conseguido …
A subida para a ponte do Porto de Leixões relembrou-me que a Maratona do Porto não é ideal para tempos … aquela merda é inclinada e em paralelos … se fosse só esta parte estávamos bem, mas são muitos retornos, muitas rampinhas e alguns troços chatos em paralelos durante todo o percurso.
Subi controlado e sem exagerar … atrás de mim uma voz conhecida grita “ahhh …desta vez treinaste….” … era o Fumo que com uma mochila às costas vinha a ultrapassar toda a gente … ele conhece bem aqui o ex-pupilo, deve ter tirado pela pinta que desta vez me tinha preparado para a luta … ao contrário de muitas outras vezes 😉
Aquela parte em Leça é um bocado
chata, é o chamado encher chouriços … muito pouca gente a apoiar, andas ali um
bocado abandonado … ca. dos 9km o primeiro gel (aliás, o 2º se contar com o que
tomei antes de arrancar) … o plano dizia mais ou menos de 40 em 40min e era para
cumprir …
Recta do Farol de Leça para mais
um retorno … 10km a 4,14m/km de média, 42m30s … a distancia para o "meu balão" tinh reduzido um pouco ... bons feelings … perfeito…
O regresso a Matosinhos correu igualmente
bem … mais um retorno, mais uma rampa em paralelos para passar a ponte de novo
para o lado de cá. Estas merdas quebram o ritmo e à medida que os km vão
pesando nas pernas voltar ao ritmo torna-se mais difícil. Mas continuava bastante
tranquilo …
Já do lado de cá, mais uma subidinha,
prolongada e menos inclinada junto ao Porto de Leixões … do outro lado o Luis Trigo tinha abrandado e
estava claramente à minha espera. Mais um retorno em que dava para ver que a
distância para o “meu balão” se mantinha mais ou menos igual e que o Bruno e o Leandro continuavam
bem na luta … encosto ao Luis … "então Luis?" … “vou desistir … hoje não estou com cabeça
para isto” …. “tu é que sabes, não tens nada a provar e já tens as tuas sub 3h
feitas” …
Fomos juntos até à rotunda da
anémona, ali por volta dos 19km … um “boa prova” e um high five fizeram as despedidas …
e siga … novamente “sozinho” … esta parte é um perigo … muita gente, muito
incentivo, muita gente a berrar por mim … e as pernas aceleram mesmo sem querer e sem necessidade … procuro a Pikinita mas não a vejo … ainda deve estar a acabar a
prova dela …
Não tarda muito entro na Avenida
Brasil, novo gel e depois chego à meia maratona com 1h30m40s … perfeitamente
dentro do objectivo … excelente e excelente tb a forma como me estou a sentir …
algum desgaste natural como seria de esperar mas bastante bem … será hoje? … já
acredito mais um bocadinho … mas calmex que ainda nem começou mais a sério …
A parte que nos leva da Foz, ao
longo do Douro, até à Ribeira é bonita mas bastante solitária … já há muito
menos atletas, já estás mais ou menos posicionado no teu lugar o que quer dizer
que não ultrapassas nem és ultrapassado por muita gente … nas bermas das
estradas lá vais encontrando algumas pessoas, mas poucas, apenas algumas zonas são excepções, com grupos de apoiantes, a maior parte estrangeiros … vale pela paisagem... mas como já conheço aquilo muito bem de provas e treinos, esse "incentivo" já não é assim tão válido para mim …
… os km passam bem, o ritmo está
controlado e a minha mente vai distraída a pensar no retorno no Freixo por
volta dos 30km … partindo do princípio que chego lá assim em razoável estado,
ataco logo ou aguento e trato de recuperar o tempo mais tarde? … talvez não
fosse má ideia ir ganhando algum tempo e tentar encostar ao balão ali pelos
35/36km e ir de boleia … isto só prova que eu estava confiante, se fosse já a
gerir ou a sofrer queria lá saber como seria daqui a 6 ou 7 km, só queria saber era como sobreviver ao próximo km, não era? …
Perto dos 24/25km lembro-me de uma
moça com um cartaz ao qual achei imensa piada … dizia “há 4 meses atrás isto
parecia boa ideia” … fartei-me de rir … por ser verdade 😊
… já vou um pouco mais cansado, mas continuo bem e mais importante, controlado, e perfeitamente dentro do
objectivo. Será hoje? … já faltou bem mais, mas calmex que isto está quase, quase a
começar …
Uns 200 ou 300m mais à frente a
minha Maratona vira completamente de rumo … eu vinha a sentir desde o início um
pequeno desconforto na inserção do musculo posterior da coxa na nádega esquerda
… mas nada demais, nada mais que uma daquelas dorzitas que nos aparecem de vez
em quando e que tão depressa vem como vão. Mas de repente, e sem que nada o
fizesse prever, senti uma espécie de choque eléctrico na nádega a irradiar pela
coxa … “Óh diabo, o que é esta merda?” … abrandei e rapidamente tentei voltar ao
ritmo … a impressão (não lhe posso chamar dor) na nádega intensificou-se, mas
não me impedia de correr …
… não demorou muito a levar novo
choque … tentei alongar um pouco e voltar aos ritmos altos … agora já prendia
um pouco … “caralho, agora não ….” … fiquei com receio, se por um lado queria
aproveitar o bom momento por outro vieram-me à memória situações em que me lixei
bem por causa de teimosias e faltas de respeito para com o corpo (como esta emViana que me arrumou durante muitos meses) … e agora? ... já há muitos anos me deixei daquelas maluquices de acabar custe o que custar ....
Baixei o ritmo para ver se a coisa
passava … e descobri que ali entre os 4,45 e os 5m/km a coisa andava bem. Mas
era uma merda, porque com esse ritmo ficava completamente fora dos meus
objectivos para hoje. Não tive foi outra alternativa … ainda tentei várias
vezes acelerar com a esperança que a coisa tivesse desaparecido, mas o prender
da perna e uns choquezinhos eléctricos avisavam que não dava, não hoje.
Fazer o quê? Desistir? Não era caso para isso… seria
apenas estúpido, estava na ponta mais longe do percurso, teria que voltar e
tinha. Além disso dava para correr, só que não ao ritmo que queria …
Foram 17km muito penosos para mim
… já não podia lutar pelo meu objectivo, estava fora dessa luta …. sobrava
o chegar ao fim …. dos 25 aos 37 os km foram feitos entre os 4,40 e 5m/km …
dependia se a coxa prendia mais ou menos, se caminhava mais ou menos … nem a sempre espectacular passagem
pela Ribeira, a subida à Ponte e o público entusiasta junto ao tabuleiro inferior da Ponte D.Luis me animou
… mar de gente, muita dela conhecida a gritar por mim … e eu ali apenas a
meter um pé à frente do outro, resignado …
… os Run&Fun, o Pires e a família,
o Álvaro, o Pedro Bastos e muitos outros … queria ter passado ali a voar e
aproveitar o embalo deles … não era dia ... paciência …
Resignado é a palavra certa!!! Nunca
fiquei chateado, ou revoltado com isto tudo durante a corrida … faz parte, qualquer
prova é assim, mas a Maratona muito mais … a preparação é fulcral, mas no dia
tudo tem que bater certo e nem sempre é assim. Há que saber aceitar …
Depois do retorno no Freixo lá
estava o Fumo a incentivar a malta … “então Perneta, o muro dos 30km é lixado” …
por acaso é e conheço bem esse gajo, mas ali não era esse o caso … não cheguei a bater nesse muro …
O que me deixou contente foi ver o
Bruno certinho e com “boa cara” (como se isso fosse possível 😉)
já nos 30km …. um pouco mais preocupado fiquei com o Leandro que vinha perfeitamente
dentro do que queria fazer, mas um pouco pálido e a bufar … será que se vai aguentar
das canetas?
Eu lá continuei no meu ram ram … fiz
asneira em ter descurado a alimentação, deveria ter continuado a tomar os meus géis,
mas já nem sei se não me lembrei ou se não quis porque achei que não valia a pena
… ia arrepender-me …
Por volta dos 35km apareceu-me o
Francisco que vive em Matosinhos … andava a fazer um treininho pela marginal e quando
me viu decidiu fazer-me companhia até ao Castelo do Queijo …. e foi bom pq lá
me foi distraindo um pouco e ajudou a que os km não custassem tanto. A partir
dos 38km a coisa começou a apertar, comecei a sentir-me mais cansado e mesmo a
coxa já me dava mais que fazer, mesmo a ritmos mais lentos … a solução era ir
parando e caminhando um pouco …
Ainda encontrei o Xico Rebelo e a
Marta … e pouco depois voltava à Avenida Brasil … 40km … faltam dois … aquela
subidinha na Boavista para mais um retorno é lixada …. tinha-me imaginado ali muitasa vezes, nas lonas a tentar não perder o comboio … mais à frente vinha a última subida
para a meta … estes 2 últimos km da Maratona do Porto são do caralho …
… quando entrei no Queimódromo vi
a Pikinita (e a Bárbara) e mais à frente a Flávia … no meu filme perfeito teria as visto,
ignorado e “sprintado” até à meta … na realidade deu para parar, cumprimentar e
seguir … na recta da meta vi que dava para ficar nas 3h20 e dei um bocadinho à
sola, não muito …. Feita!!!
… passar aquela meta teve um sabor agridoce … é sempre aquele cortar de meta especial que não se explica, mas por outro lado queria muito ter chegado ali uns 15 a 20min antes … não deu … a Maratona mais uma vez fez das suas …
Fui buscar a minha medalha, a camisola finisher e a tradicional cervejinha e fui ter com a Dora … soube tão
bem aquele abraço, um conforto que estava mesmo a precisar … a Dora sabe bem o
quanto me esforcei para outro resultado …
Um pouco mais tarde lá vem o
Leandro com um sorriso de orelha a orelha …”então?” …. “3h36” … espectáculo
Fiquei mesmo muito feliz pelo
resultado destes dois meninos … já de há uns 3 ou 4 anos para cá, criamos
um grupo de treino para a Maratona no whatsapp … cada um tem os seus objectivos
e respectivos ritmos … o grupo tem o objectivo de motivar, de trocar ideias e
às vezes até de treinar juntos … o Bruno queria fazer 3h30 e o Leandro apontou
para as 3h40 … em ambos os casos seriam recordes pessoais por largos minutos …
superaram e muito, e foi tão mas tão merecido pela preparação que fizeram … a
verdade é que senti aqueles resultados como se tivesse sido eu, e dava gosto
ver aqueles gajos meios mortos mas ao mesmo tempo cheios de vida 😊
… grandes maquinas!!!
Os outros dois deste grupinho são
raposas velhas e estiveram como eu… aquém …lolol … mas tb acabaram e agora tem
mais uma no CV.
Depois da Maratona ainda fomos
cumprir outra tradição … fomos comer a francesinha, depois a ideia era ir até
casa, banho e dormir um pouco.
Mas a minha Sara tinha outros
planos … ela que dorme todas as tardes entre 2 a 3h, desta vez estava com a
pica toda … foda-se!! Lol
Durante a tarde e noite tive um
pouco mais tempo para pensar nesta Maratona … e fiquei um bocado aziado,
confesso. Eu sabia que baixar as 3h seria muito difícil, mas um recorde pessoal
acho que estava ao alcance. E da forma como me correu nos primeiros 25km tinha
boas hipóteses … não deu desta vez.
Na 2ª feira já estava a pesquisar
maratonas ali para a Primavera … já tenho umas opções em cima da mesa. Isto não
fica assim … quero voltar a tentar, voltar a preparar-me bem, talvez corrigir
um ou outro erro que possa ter cometido para ir à luta. Nada tenho a perder,
muito menos a provar …
Por fim queria agradecer todo o
apoio durante a preparação e durante a maratona de domingo. Sei que tenho muita
gente a torcer por mim … é espantoso ver a quantidade de gente que no domingo
me incentivou, pessoas que eu não conhecia pessoalmente, muitas
pessoas a dizer coisasbdo tipo “é hoje que baixas as 3h” ou “estás atrasado para o objectivo” … mostra que sabiam para o que estava ali … oh páh … muito obrigado …
Obrigado à malta do meu grupinho
de treino do whatsapp … além de motivador, o grupinho é muito divertido, pronto, parvo mesmo … para
o ano há mais e estamos sempre abertos a gente que queira entrar no espirito.
Por fim queria agradecer aqui a
duas pessoas que foram muito importantes neste processo.
Ao João Sousa por me “guiar”
neste caminho, por aturar as dúvidas e o caos deste velhote, e encontrar o
plano certo dentro da desorganização e falta de tempo que é a minha vida. Foste
tu que conseguiste que eu voltasse a ter rotina de treino sem que desmotivasse
e me mantiveste viva a esperança e convencido que eu sou capaz. Gostava de te
ter “oferecido” um tempo muito diferente, mas considera um passo atrás para voltar a tomar lanço. Isto não acaba aqui. Ainda vais ter orgulho aqui do velhote.
Escreve …
Por fim à minha Pikinita … sem ti
seria impossível. Dizes que muitas vezes não sabes como conseguimos fazer tanta
coisa … nem eu, mas a verdade é que conseguimos. Chama-se trabalho de equipa.
Neste caso a tua parte foi aguentar as coisas por casa 😉
para que eu pudesse treinar, e mais que isso, muitas vezes a incentivar-me a ir.
Tentei tirar o mínimo de tempo à família, muitas vezes treinando de noite mas a
verdade é que tira sempre. Tive muita pena que te tenhas lesionado pois estavas
a voltar a ter aquela motivação em correr e merecias muito a meta no domingo – é resolver isso para voltar.
Obrigado por tudo, especialmente por aquele abraço!!!
Esta coisa já vai demasiado longa
… até ao fim do ano vou fazer umas paragens por algumas São Silvestres, em
janeiro talvez ataque a Meia Maratona em Viana para depois me dedicar novamente
à Rainha das Provas de estrada ... ver se lá para Abril cumpro o que falhei
no domingo passado.
Vamos falando…
































































