Não sei se deram pela minha ausência pelo meu tasco, se sim
é bom sinal, se não, não faz mal, estão perdoados. Eu senti saudades de
escrever sobre as aventuras e desventuras das minhas corridas, mas não houve
tempo. Há coisas para contar e registar, mas a verdade é que o tempo não estica
e eu ando em grandes mudanças, à cabeça uma mudança de emprego de uma empresa
que me acolheu durante quase 30 anos para um projecto muito desafiante que me
foi proposto há uns meses atrás, eu aceitei e agora está a arrancar. Mas isso
são contas de outro rosário, ou não … aqui é para escrever sobre corrida, e
comida, parvoices e o que me apetecer 😊
No domingo passado voltei a uma das minhas provas
preferidas, à Serra Amarela organizada pelo Carlos Sá , dois anos depois de ter
ido pela primeira vez … em 2019 fomos à distância maior, este ano com a decisão
de participar a ser tomada há duas semanas decidimos pelos 34km. Isto porque
dia 31 de Julho há uma aventura grande com a Pikinita em agenda e a ideia era
não empenar demasiado para poder continuar a treinar na semana seguinte.
Há dois anos fizemos os quase 50km um pouco abaixo das 10h
– foram feitos em ritmo tranquilo, a apreciar as paisagens, muitas fotos, gerir
tempo nos abastecimentos, etc, etc … foi uma viagem brutalmente espectacular, o
dia esteve lindo, o percurso foi fantástico, a organização impecável e o empeno
enorme 😊 … a cereja no topo de bolo foi
esta foto que transmite tudo o que foi a Serra Amarela para nós dois.
Para esta edição o plano era outro … a Pikinita ia ligar o
modo “competitivo” para ver como vai a forma … e eu ia partir 5min depois dela.
Combinamos que ela arrancava e geria a prova conforme lhe apetecesse … “eu
apanho-te nos primeiros km” (vais vais 😊).
Domingo lá nos levantamos bem cedinho para seguir para
Entre Ambos os Rios, Ponte da Barca.
Chegamos pouco passava das 7h e já tivemos que estacionar a 1km … a restante
Pernetada ou já estava ou chegou logo de seguida. Entre levantar o dorsal,
voltar ao carro para equipar e voltar novamente para a zona de partida o tempo
passou muito rápido. Quando chegamos já tinham partido os das 8h e as mulheres
estavam já a entrar na box … apenas tempo para uma foto e lá seguiram a
Pikinita e a Teresa para a zona de partida.
A seguir era o meu grupo, o das 8h05, que incluía o resto da Pernetada … Flávio, Bruno, Elisio, Américo e eu … que inkipinha 😊
e confirmei que esta figurinha existe mesmo em carne e osso ...
A nossa partida foi dada à hora marcada … parti de trás
juntamente com os meus colegas mas rapidamente me despedi e comecei a abrir a
passada. Sabia que tinha ca.4km mais corriveis antes de começar a subir a
sério. Tb sabia que uma boa parte destes primeiros km são em single-tracks o
que torna difícil ultrapassar. Por isso forcei, mesmo logo na primeira subida
ainda em empedrado para me colocar o mais à frente possível, algo que nunca
faço porque no trail vou sempre em “passeio” …
Hoje não, a minha primeira missão era recuperar os 5min
para a Pikinita e achava que o ia fazer antes de chegar a Ermida, onde havia o
primeiro abastecimento por volta dos 7km. Ainda nem 2km tinha percorrido e já
comecei a passar algumas meninas e comecei a contar (perdi a conta às 30 e picos e da Pikinita nem pó) … fiz os dois primeiros km
ligeiramente abaixo do 5min/km, média que foi subindo à medida que começaram os single tracks e as ultrapassagens
se tornaram mais dificieis … ainda nesta fase passo a nossa Teresa que se
estreava nesta distância e logo na Serra Amarela … uma guerreira 😊
Aos 4km acaba-se a “brincadeira” e começamos a subir a
sério .. serão quase 1400m D+ nos próximos 12km. Vou alternando uma caminhada
vigorosa e sempre que o terreno o permite imprimo um trote … passo o Manuel que
me diz algo como “a Dora vai muito bem, estás lixado, desta vez vai ser ela a
escrever a crónica” 😉 … eu bem olhava para cima e nem
sinal da moça. Mas que raio ….
Chego a Eremida aos 7km ao primeiro abastecimento. Levo com
o Sayajin a gozar-me … “ó Perneta, só agora?” … eu a matar-me por ali acima,
todo esbaforido e ainda tenho que levar com este gajo que anda ali a passear e
a acompanhar a prova de abastecimento em abastecimento 😊 … encher um flask, meter uma banana no
bucho e siga … a Pikinita deve estar já ali … só que não 😉
Nem sinal da moça … continuo a passar pessoal. Vou a suar
em bica, tenho a camisola encharcada e embora esteja com calor vou mantendo os
manguitos que servem para ir limpando o suor … o tempo está fresco, óptimo para
correr, mas o coração bate forte … vou contente por não ver a Dora, vai a dar-lhe bem … bom sinal.
Ainda continuei assim durante uns bons 3 km antes de a
avistar ao longe … mesmo a forçar a distância não encurtava muito … a
inclinação era muita. Quando finalmente chego mais perto é que me apercebo que
ela vai ali colada num grupo de 4 mulheres, “na luta”, a ferrar os calcanhares
às outras moças. Brava …
Quando finalmente consigo colar, aos 10,5km, pergunto se
vai bem … diz-me que sim, na medida do possível. Dou-lhe um flask com Guronsan
Energy e um gel …. ficamos um pouco para trás enquanto durou este
abastecimento, mas rapidamente voltou a corrinhar para colar nas meninas que,
entretanto, tinham apanhado mais um grupo de homens e agora ia tudo misturado
na conversa … foram uns km com uma inclinação muito elevada mas com uma
paisagem brutal para chegar ao 2ª abastecimento com ca. de 16km…. mais de 1200
m D+ (e os primeiros 4km “planos”).
A Pikinita parou apenas para comer qualquer coisa de sólido
e arrancou … eu fiquei a encher os flasks
e parti novamente um pouco atrasado. E lá fui eu tentar colar na moça
outra vez … consegui um pouco depois, num estradão em terra que nos levava, ainda a subir, para as antenas … o grupo das
moças estava partido … umas mais à frente, outras mais atrás … a Pikinita
decidiu correr a subir e eu acompanhei, não muito rápido mas o suficiente para
passar as “adversárias” e as deixar para trás.
Chegamos à parte final da subida … o tempo mudou, está
muito nevoeiro e bem mais fresco. Ainda bem que mantive os manguitos. A
Pikinita entretanto “fugiu-me” de novo, quando escalamos uma parede de pedras, eu fiquei atrasado por outros atletas que ficaram entre nós. Tal como
combinado, ela andava para a frente que eu havia de arranjar forma de colar novamente …
Depois de termos chegado ao ponto mais alto da prova ia
comeҫar a nossa desgraҫa ... as descidas. Como tudo o que sobe tem que descer,
serão km com inclinaҫões brutais, muitos deles feitos em trilhos bastante
técnicos de pedra, irregulares ... a Pikinita “sofre” do mesmo problema que eu,
a descer é uma desgraҫa ... comeҫou o festival de gente a ultrapasar-nos ...
mesmo assim ela ainda desce melhor que eu que ficava para trás quando a coisa
ficava mais técnica e conseguia recuperar e colar em alguns intervalos em que
dava para correr ...
Quem olha para o gráfico da prova sem olhar aos pormenores pensa que a segunda
metade é apenas descida, mas engana-se redondamente. Eu já conhecia e por isso
as duas ou trés paredes que nos vão aparecer para escalar são encaradas com
normalidade ... mesmo aquela parede que se transpõe autenticamente a escalar.
Há dois anos ficamos sentados a contemplar a vista no cima destas pedras ..
este ano não, é para fazer o mais rapidamente possivel.
Ainda faltava fazer algum D- mas aquele tipo de trilho com
muita pedra tinha acabado. Sabia que ainda havia uma bela de uma parede para
escalar e depois os últimos 4 km seriam junto (e dentro) ao rio até à meta. Nem paramos no último abastecimento aos 30km ...
A Pikinita já ia bastante cansada, a mim as descidas
tinham-me massacrado as pernas mas de uma forma geral até que não estava muito mal. Chegamos à parte do rio ... esperam-nos 4km de single-tracks, com algumas travessias pelo meio que sabem que nem ginjas ... água boa 😊 ... vamos num grupo de meia
dúzia de pessoas entre homens e mulheres... a Pikinita a comandar, o resto
atrás ... aparece uma enorme poҫa de lama, eu hesito em como atacar, meto o pé
a medo, escorrego e com o esforҫo para não cair dá-me algo que há anos que não
me dava ... cãibras ... na virilha ... fiquei ali um pouco a alongar ... como
ia atrás ninguém se apercebeu ... tento correr, a coisa ainda doi ... massajo mais um
pouco e tento correr novamente ... ainda sinto uma ligeira impressão mas já dá para correr ... vou ganhando confianҫa e aumentando o ritmo e não tarda volto a apanhar o
grupo...
A Pikinita vai muito cansada .. não é de admirar ... já se ouve o speaker, sinal que já não falta tudo ... saimos do single-track junto ao rio para a estrada ... surpresa, está ali a Ana Xavier a puxar por nós e por todos os que passam por ela ... esta moҫa faz a festa 😊 ... está quase ... só falta uma última parede antes de entrar na recta da meta ... “anda, vamos a correr até ao fim” ... ela tenta mas já não dá ... subimos a rampa a caminhar ... muita gente a assistir, a incentivar, grande ambiente ...
....fazemos a recta da meta a correr de mão dada, muito
satisfeitos com a prova que fizemos ... 5h10 para mim, mais 5 minutos para a
Pikinita ... mesmo muito bom.
Se a gente soubesse descer medianamente e não fossemos os
trambolhos que somos, no minimo 30 minutos tirávamos a este tempo. Até ao
abastecimento dos 16km, praticamente sempre a subir, demoramos pouco mais de
2h, e precisamos de 3 h para fazer os 19km seguintes, na grande maioria a
descer. É como é 😊
Ainda ali ficamos bastante tempo a curtir o solzinho que
estava bom, na companhia da Barbara e do Ricardo que tinham ido fazer os 15km e
a assistir à chegada dos Pernetas que aos poucos iam acabando as suas provas.
Grande destaque para a Teresa que como tinha dito mais atrás, se estreou nesta
distancia e a concluiu com categoria, cansada como é normal, mas com aquele
sorriso rasgado que é caracteristico dela ... muitos parabéns e que seja a
primeira de muitas aventuras assim 😊
Quanto à prova só posso dizer muito bem em todos os
aspectos. Acho que me comeҫam a faltar adjectivos para classificar as provas
organizadas pelo Carlos Sá e sua equipa. Os trilhos são do melhor, as marcaҫões
impecáveis, os abastecimentos completos e colocados onde devem estar, o
levantar dorsais e toda a restante logistica, mesmo em tempo de pandemia com regras
mais apertadas tudo funcionou super bem. Destaque para a simpatia de toda a
equipa, a comeҫar pelo próprio Carlos Sá, sempre incansável, sempre presente,
sempre bem disposto ... até aos restante staff, especialmente a malta dos
abastecimentos que mais uma vez foram de uma simpatia e prontidão inescedivel. Muito
obrigado a todos. Não é por acaso que esta prova está no topo das minhas
preferências 😉
Tenho ainda que dizer, que apesar de estarmos em tempo de
pandemia e das regras apertadas, foi a primeira prova de há muitos meses para
cá, que nos devolveu um pouco daquele espirito de convivio que havia antes
desta merda do Covid. Só por isso tb valeu muito a pena.
Quanto a nós, muito satisfeitos com o decorrer da prova.
Parece que estamos no bom caminho e foi mais um passo para o PK100 do próximo
dia 31. O que é o PK100? Essa agora ... 😊
ahhhh ... e mal chegamos a casa, banho e logo de seguida recuperar :)
Parabéns Carlos e Dora :)
ResponderExcluirGostei muito da prova. Confesso que gosto deste tipo de provas onde se sobe tudo de uma vez!
PS: Ah, as fotos não te fazem gordo, fazem "forte"
https://andaviana.wordpress.com/
Obrigado Pedro. Já estou de dieta, só que nao :P
ExcluirQue equipa inspiradora que vocês são. Que garra e companheirismo. Motivador 💪🙏
ResponderExcluirOlha a Ana ... obrigadoooo ... pelo apoio tb, sabe bem ver uma cara conhecida ali no meio :) ... beijocas
ExcluirNão escrevias aqui nada? nã reparei :)
ResponderExcluirOlha, antes de mais tudo a correr bem com essas megas mudanças na vida, quando tem que ser tem que ser e tem muita força!
Agora, acho que o Sá costuma ter uns Trail Camps, workshops, cenas para pessoas que correm e podem ir lá a ver se aprendem a descer, nem tanto para os tempos mas também para se protegerem e a esses joelhos.
E, muitos parabéns pela forma da Dora, tu é que coiso, acho que não é das fotos ahahaha
Abraços
deixa lá, nao foste o único ... obrigado. Quanto aos trail camp do Sá devem ser espectaculares e bem gostava. Pode ser que um dia destes vá.
ExcluirAbraco