Mega Hiper Super Tareia do Paleozóico 2016

A partida para a distância mais longa foi dada pouco passava das 8h. Como sempre, a Pernetada saiu bem do fundo do pelotão. Desta vez até devo ter sido mesmo o último a começar a empreitada– como o meu relógio não estava a a apanhar sinal de GPS eu atrasei o máximo a minha partida -  é que sem GPS eu não consigo correr – como é que eu depois tiro uma foto ao relógio, com o registo da prova para postar no FB e aqui no blogue??? Pois … mas começou a funcionar mesmo a tempo … já não tinha desculpas, tinha mesmo que fazer o Paleozóico deste ano J

Umas poucas horas antes tinha-me levantado sem grande vontade, cansado e cheio de sono. Até me deitei cedo, mas sabem aquele sono leve, sempre a acordar e que depois acordas pior do que quando te deitaste? Era isso … tb ajudou o facto de o Nuno Lima nos ter mandado uma mensagem a desejar uma boa prova .. simpático o moço, pena ter sido à uma da manhã e me ter acordado … deve ter ficado com as orelhas a arder, e estava com a firme ideia de lhe ligar às 5h, quando me levantasse para lhe agradecer J … mas esqueci-me. Tiveste sorte moço!! J

Encontro no Beto com a malta, viagem curta até Valongo, levantar dorsal, mais um café, equipar, frio, e quando dei por ela já ia a correr pelas ruas de Valongo. E precisei apenas de duas centenas de metros para que a vontade de estar ali voltasse em força.

Depois de 1km, saímos de Valongo para entrar logo a subir para o alto das serras. E logo ali começa-se a caminhar, pois a inclinação já é jeitosa, embora as pernas estejam frescas. Vou correndo onde posso, mesmo a subir, mas sem desgastar demasiado. A minha estratégia era essa, tentar avançar o melhor possível, sem entrar em loucuras … o objectivo era chegar ao fim, se possível sem ficar completamente empenado. E enquanto ia avançando, ia pensando para os meus botões “abaixo das 8h é que era” (n.d.r. em 2014 tinha feito 8.38h). Enquanto subíamos por estradões ia passando muita gente, até que na parte final da primeira subida entramos em singel-track e acontece o habitual … paragens e filas. Não é mau, o ritmo baixa e dá para recuperar o fôlego. Atingido o topo, percorre-se a crista da serra, bem ondulada, sempre em single-track com vistas para ambos os lados. Está na hora de nos afastarmos de Valongo.

Os próximos km são muito corriveis, embora com muito single-track, pedra molhada e até alguma lama, o que dificulta a progressão. Imprimo uma espécie de trote e descubro o primeiro piso onde as minhas La Sportiva não aderem muito bem … com lama escorregam, ou pelo menos com este tipo de lama isso aconteceu várias vezes. A confirmar nos próximos trilhos com “outras lamas” J … de resto impecável. Ia bem divertido, sentia-me bem e a gostar dos trilhos – e o ritmo médio ia bom. Passei dois abastecimentos de água sem parar – levava comigo 2 litros. Ia parar no primeiro abastecimento sólido, que deveria estar perto do km 20.

Para lá chegar fizemos vários km junta a um curso de um rio, ora em estradão, ora em single-track, pequenas subidas e descidas, antes de contornarmos uma serra (não sei os nomes, sorry J) que reconheci da minha última participação, serra essa vestida de lilás... muito bonita esta parte. Primeiro uma descida em single-track com alguma tecnicidade (lá está o Perneta a sofrer e a atrapalhar os outros) e depois uma longa subida feita a caminhar, antes de então darmos a volta à serra para descer ao rio novamente onde estava instalado o primeiro abastecimento a sério. 16,5km??? Então não era aos 20??? Algo estava errado!! Que se lixe … comi, bebi e voltei aos trilhos. Voltaram os single-tracks técnicos, intercalados por alguns estradões, ora subia, ora descia, mas sempre com algum plano pelo meio. Muita pedra e trilhos molhados, já recalcados por muitos pés que passaram antes de mim – foi num desses trilhos de lama que eu escorreguei a descer e dei um bate-cú daqueles … foi só susto J. O ritmo continuava bom, sentia-me bem e ia a curtir aquilo tudo. 20km em pouco mais de 3h. Sei perfeitamente que a segunda metade é que ia doer, pelo que continuava a controlar. O próximo abastecimento chegou por volta dos 23km … ia começar a luta … comi, bebi e enchi o camelback… há que estar preparado para o que aí vem J … sigaaa… 

Um pouco depois encontro o Fábio, um colega aventureiro que não conhecia … quem faz trail longos conhece bem a fase em que encontras atletas que vão no “teu” ritmo … não quer dizer que vais junto, mas ora passas, ora és passado e de vez em quando fazes alguns troços junto na conversa … foi o caso do Fábio, que iria durar até ao fim da prova.  Mesmo fazendo muitos km sozinhos, havia sempre alguns em que nos “encontravamos” e os fazíamos juntos. E foi assim que chegamos à primeira grande subida, e à primeira tareia a sério … fonix.

não, não é o Elevador ... é um irmão mais novo ... o Elevadorzinho :)

A partir daqui, era vencer as subidas brutais que nos eram colocadas no menu, fazer as descidas igualmente difíceis (pelo menos para mim) que vinham logo de seguida, para correr depois um pouco em plano a pensar já na próxima tareia (quer dizer, subida a matar J) …  toda a gente fala no Elevador, que é a última grande tareia, mas antes temos duas subidas que não lhe ficam nada atrás, uma delas uma novidade para mim e outra (subida ao ponto mais alto do percurso) que já tinha feito à dois anos e que é uma brutalidade, na minha opinião bem mais complicada que o Elevador. No fim desta última, um troço de escalada pela chamada Fraga de Parapente, uma parte espectacular mas não sem alguma perigosidade … mas é disto que a malta gosta J Depois de finalmente vencida esta subida, seguiram-se 2 ou 3km muito corriveis até ao próximo abastecimento, instalado num tanque, daquele onde antigamente (e talvez hoje ainda) a malta ia lavar a roupa. Reconheci o local … à dois anos logo depois de sair dali, tínhamos seguido à esquerda por uma subida curta mas muito inclinada – lembrei-me do sofrimento que tinha sido, da indisposição que senti na altura e do calor que fazia – tal como hoje eram ca.13h, hora de almoço. Mas desta vez sentia-me muito melhor, e o tempo estava bom para correr … 13 ou 14ºC e pouco sol. Comi e bebi, e siga que se faz tarde … vou convencido a enfrentar a dita subida de faca nos dentes, mas para surpresa as fitas indicam em frente, por entre uns trilhos abertos de xisto preto …. não fiquei nada triste de evitar a dita subida, confesso J

vejam este link com um vídeo da última parte da subida, uma escalada pela Fraga do Parapente - e não, não sou eu ... eu seria mais a arrastar-me por ali acima, com a cueca borrada (se as usasse) :)

Não tardou a passar na Pedreira de Xisto, com as suas águas de um azul espectacular e ao mesmo tempo estranho, para pouco depois passarmos uma ponte suspensa, outro dos pontos de interesse deste Paleozóico, antes de começarmos nova empreitada a subir. Nesta fase já íamos passando muito do pessoal mais atrasado dos 23km, malta que vai ali numa de diversão … juntou-se a fome à vontade de comer, e ainda deu ali umas belas gargalhadas, o que ajudou a que esta “escalada” se fizesse melhor J

Depois descemos novamente até ao rio, onde existia uma abastecimento de água. Á 2 anos estava “morto”, fiquei ali a refrescar-me para enfrentar mais uma valente tareia – estava calor. Desta vez nem parei, tinha líquidos mais do que o suficiente comigo, e o tempo estava ameno e eu sentia-me bem (na medida do possível, claro). Esta subida também não é brincadeira nenhuma, começa por ser quase vertical, com um piso difícil, para depois se alongar já com menos inclinação mas mesmo assim complicada. Foi nesta subida que da última vez demorei uma eternidade, morto delirei com minis fresquinhas J … desta vez não, ia com uma cadência lenta mas sempre a subir sem parar, e até deu para me deslumbrar com as vistas de serra e rio que pintavam a paisagem do nosso lado esquerdo.

Estava vencida a penúltima grande subida … faltava “apenas” o Elevador!!! … antes disse corri durante uns 2 km, atravessamos uma pequena aldeia e logo à saída desta, o último abastecimento. Voltei a apanhar o Fábio que me tinha “fugido”, e depois de comer qualquer coisa, saímos juntos para enfrentar a besta. Neste abastecimento somos informados que a prova tem apenas 43km e não os 49km anunciados, e que o vencedor já tinha chegado à muito – 4h03min??? Sem palavras!!!

Siga. Estradão em terra durante um km, já com uma inclinação jeitosa, sempre a subir … tomo um gel para me precaver. Já não me lembrava que esta parte subia tanto. Ao longe já se avista o dito-cujo com vários pontinhos coloridos a decora-lo de cima a baixo. Chegamos … não lhe dei tempo para me amedrontar e comecei a subida … pé ante pé, sempre certinho, tentando não olhar para cima … este gajo é mesmo brutal, levo os músculos a chiar, canelas, pés, gémeos a latir, mas nada de cãibras, esta a dar uma boa luta, mas nada parecido com o nosso último encontro. Ou ele está mas fraquinho ou eu estou mais forte J … chegamos ao primeiro patamar. Digo para o Fábio - “só falta mais um”. Engano meu, afinal são 3 as partes do elevador … já não me lembrava. Recebo uma chamada do Bruno a perguntar como vão as coisas, a informar-me que o Zé Alexandre tinha desistido por lesão aos 6km e que ele vinha bem. Atrasei-me um bocadinho por um lado, mas por outro distrai-me e quando desliguei já só faltavam meia dúzia de passos…

“FOOOOOOODAAAAAA-SEEEEEE CARAAAAAAAAAAAAA-LHO”

O meu grito de vitória é já uma tradição …. Pumbaaaaa …. 2-0 para o Perneta J J J

Agora são “só” 3km a descer até Valongo, a grande maioria a descer a pique, por single-track … a minha grande dificuldade são as dores nos pés. Este sobe e desce constante, os pisos com muita pedra fizeram mossa – doí-me “ambos os dois” praticamente só quando é a descer. Vou com o Fábio … nem é preciso dizer nada, vamos acabar isto juntos. Chegamos à entrada de Valongo, agora é planinho, campos, passadiço de madeira, passa por trás de um prédio, passamos por baixo de um pontão pela água (sabe tão bem molhar as pernas na água fria”, última curva e lá está a meta …. muita gente a aplaudir, o Filipe já de banhinho tomado e de cerveja na mão a gritar “Anda Perneta” J e como do costume (já começo a pensar que é de propósito) está a decorrer a entrega dos prémios J … high-five ao Fábio e cortamos a meta juntos. Mesmo sem combinar, andamos juntos mais do que os últimos 20km J .. 6h29 e uns troquinhos, e 131º classificado entre 250 que acabaram (e mais uns quantos que não chegaram ao fim).

Muito satisfeito, mesmo muito satisfeito com a forma como me correu a prova… geri muito bem, e mesmo levando uma tareia destas (isto é mesmo uma coça daquelas), era menino para continuar durante mais alguns. Penso que se a prova tivesse os 49km que tinha baixado e muito as 8h - acho que 7h30 eram realistas, o que seria 1 hora abaixo do que fiz à dois anos. Acho que estou no bom caminho para fim de Agosto. Ainda tenho algum tempo para me preparar melhor.

Agora é recuperar o mais rapidamente possível, porque daqui a duas semanas tenho os 100km de Lousada, algo completamente diferente e para o qual não fiz preparação especifica. Enquanto estou a teclar isto, e me doem as pernas, sinto-me um bocadinho pró arrependido por me ter inscrito – no papel é tudo muito bonito, mas na prática é outra coisa. Mais 2 ou 3 dias, quando já não me doerem as pernas já fico todo contente por ir a Lousada.

Palavrinha para os meus amigos de clube. Parabéns a todos que concluíram, Filipe (aquela máquina), Américo (parabéns pela primeira Ultra oficial) e Bruno (mais uma e mai nada), tb ao Francisco Terra (grande sofrimento mas tá feita) e ao Jorge (esta já está no currículo). Parabéns tb aos dos 23km, Zé Miguel (de regresso aos trails), ao Badolas e ao Hélder. Um grande destaque para o meu primo Pedro, que está a dar os primeiros passos na corrida, nos tem acompanhado de vez em quando nos Pernetas, e que se estreou oficialmente numa prova, fazendo os 12km (a primeira de muitas, espero eu).

Uma palavrinha de conforto para o Zé Alexandre, que teve que desistir logo aos 6km devido a uma lesão no joelho. Espero que a recuperação seja muito rápida, para voltares para junto dos Pernetas que é onde tens que estar, e onde fazes falta. Força amigo!!!

Quanto à organização, esteve impecável, tirando a parte de faltar 6km à prova. A mim não me fez diferença nenhuma, mas gostava de saber o que aconteceu. Afinal são quase 15% do percurso a menos. De resto foi uma grande festa, muita gente a participar, muita gente a assistir no fim. O percurso está muito diversificado, tem partes bastante técnicas, muito single-track como a malta gosta, e como já referi, dá-nos uma tareia do caraças. Com o ponto mais alto a menos de 400m, os 2250mD+ explicam uma coça tão grande J … muito bom. Pessoal dos abastecimentos 5 estrelas, muito activos, sempre prontos a ajudar. Aconselho vivamente!

Mais uma vez tenho que agradecer as muitos fotógrafos que estiveram ontem em Valongo, e que nos tiraram excelente fotos que são grandiosas recordações. Além disso, além das fotos, têm sempre uma palavrinha de incentivo quando passamos por eles, que nos sabem como gingas.

Não era para colocar isto, mas tenho que dar resposta ao Vitor Oliveira … olha aqui a recuperação pós-prova dos Pernetas, fast-recovery do melhor J … embrulha!!! A correr não tenho hipótese nenhuma, mas a comer levas umas goleadas J

Bifana e mine, logo depois de cortar a meta e antes do banhinho...

... e depois uns rissoisinhos fritos na hora (tão bons que estavam) ..hmmm

fresquinha ... hidratar, sempre hidratar e bem...

mas??? .. que é isto???

e isto????

Á tua Vitor!!!!