Antes de mais tenho que dizer que me tornei Decamaratonista (só Maratonas de
estrada) ontem no Gerês, na autoproclamada Maratona de estrada mais dura do
mundo. E não podia ter havido melhor Maratona para atingir esta marca (bem, se
comparar isto com as 130 que o Luis Pires completou ontem, não é nada, mas como
costumo dizer, cada Maratonista no seu galho).
Desde a primeira edição que tinha vontade em participar – cheguei a estar
inscrito na primeira (e pago), mas na altura um imprevisto impediu-me de estar
presente. No ano passado não me foi possível ir e este ano a decisão só foi
tomada na semana a seguir à Maratona do Porto. A “época” tem sido desgastante,
em treinos e provas, pelo que fiz depender a minha participação na forma como
iria recuperar do Porto. E como a recuperação foi muito boa, e tinha um gajo
chato a chagar-me a cabeça quase diariamente para participar lá me inscrevi (o
“chato” é o Hugo Fernandes, um moço que me inspirou e foi principal responsável
para eu me aventurar nas Ultra-Maratonas – antes que fiques todo vaidoso, a tua
inspiração foi mais ou menos esta – “fonix, se este meia-leca consegue, eu tb
consigo” J ). Quem se juntou também foi o Filipe Fontes – o caldo
estava entornado, e qualquer mínima hipótese de haver algum sossego também J.
Sempre encarei esta prova na maior descontracção, a ideia era fazer um
treino sem qualquer preocupação com tempos. Principais objectivos, divertir-me,
apreciar as paisagens e evidentemente acabar. Posso dizer que “desrespeitei”
esta Maratona – deixei a preparação dos pormenores para a véspera, e já passava
das nove da noite de sábado quando me comecei a preocupar com equipamento,
alimentação, etc. Resultado – relógio apenas com 5% de carga (e o cabo para
carrega-lo estava numa pasta na empresa), esqueci-me completamente de analisar
o mapa de altimetria da prova, porta-dorsais nem vê-lo (o meu deve estar
algures em casa dos meus pais) e tive sorte em encontrar quatro alfinetes
enfiados no dorsal da Maratona do Porto, etc, etc, etc. Apenas não me esqueci
de uma coisa … minis e sandes de presunto com ovo J … sim estão a ler bem, eram quase onze da noite e
aqui o Perneta estava a estrelar ovos para fazer sandes de presunto “à la
D.Alice” e a meter minis dentro de meias e manguitos (é para isto que eles
servem não?) para as proteger durante a corrida. Tudo enfiado na mochila, com
uns géis (que não viria a usar mais uma vez) dava para aí uns 5kg. Sem stress,
os meus amigos merecem J
No dia seguinte, eram 5.30h e estava em frente à casa do Filipe para o
apanhar, a ele ao Hugo Daniel e ao João Moreira que se iriam juntar na viagem
até ao Gerês. Chegar, estacionar, levantar os dorsais e ir tomar o
pequeno-almoço (o 2º), tudo sem sobressaltos.
Apresento-vos o "A" ...hehehe ... todos tinham o nome no dorsal menos o Filipe ... elite é assim :)
O tempo estava excelente e prometia um dia lindo (que se viria a
concretizar) – perfeito para correr esta prova. A hora que faltava para o início
da prova também passou num ápice, entre amigos aqui, amigo ali, foi uma festa
mesmo antes sequer de dar o primeiro passo. Tanta gente conhecida ali reunida,
uns para correr, outros para assistir. Muito bom.
Ai Kaká ... enganaste-me bem ... eu a pensar que o gajo ia fazer a Maratona e lá foi ele fazer um aquecimento ... pffff ...
elas não me largam, é o chamado charme natural :):):) .. as sempre simpáticas meninas dos BYL
A chamada tripla da "bejeca"
Antes da partida, uma bonita homenagem ao Paulo Pinto, atleta da nossa zona
(de Espinho) que no ano anterior tinha sido 3º nesta prova, e que no dia seguinte
à prova sofreu um acidente de trabalho que o deixou incapacitado – foi por ele
que eu e muitos outros correram com o boné ao contrário, era a forma como ele
corria em todas as provas – espero que consiga recuperar dentro das
possibilidades para ter uma vida o mais digna.
A partida foi dada com algum atraso, e mal se deu o tiro lá seguiu um
alegre trio (eu, o Filipe e o Hugo) pela Vila do Gerês fora, o que quer dizer,
que depois de uns 200 metros planos se começou logo a subir e de que maneira …
adoro subir, ir ali naquele “moer de pernas” devagarinho por ali acima, já com
a respiração a mil dá-me gozo … e tinha começado o “festival Filipe” … o homem
não se cala um segundo, faz perguntas e responde ele próprio, constantemente a
rir-se, conhece (ou pelo menos parece) toda a gente, as pessoas que estão a
assistir à porta ou janela das casas são todos “primos, primas, sócios ou
sócias, tias e tios” … e os companheiros de corrida ou riem-se ou ficam com
vontade de matar o gajo que vai ali a fazer aquelas subidas brutais como se
nada fosse, a falar tipo papagaio e na galhofa.
Dos 2 aos 8km é sempre a subir fortemente … o Hugo começou a ficar um pouco
para trás e disse para não nos prendermos por ele – não é fácil arranjar tempo
para treinar quando se tem gémeos pequenos para criar – e nós fomos, eu e o
Filipe. Caminhamos uns bocaditos, pois eu ia com uma dor na virilha direita que
me impedia de levantar muito a perna – estranho. Por outro lado, era muito cedo
para desgastar já tudo nestes primeiros km. Mas mesmo assim subimos bastante
bem, pois não eram muitos os que passaram por nós em sentido contrário a descer
depois do retorno (500mD+ em 6km é dose). A descida também foi gira … sempre em
ritmo controlado porque aquilo moi e de que maneira, foi um fartote de nos
metermos com a malta que ainda vinha a subir J … é páh … o Filipe devia estar a fazer um esforço
para não se ir embora, mas como ele sabia o que eu levava na mochila lá se
aguentou … o gajo é fino J
o que é preciso é alegria no trabalho :)
Depois de descer uns 5 km, voltamos a fazer uma subida muito idêntica a
anterior, agora já com muito menos gente, apenas com o pessoal da Maratona
(individual e por estafetas de 3)…. não sei se já disse alguma vez, mas eu
adoro subir J. E eram as
estafetas que animavam a prova … nos pontos de passagem de testemunho era uma
confusão de gente divertida que era um luxo J Ca. dos
18km atingimos o segundo pico, entre corrida e alguma caminhada para nos
resguardarmos um pouco – tb foi aqui que os 5% de bateria do meu relógio se
foram, mais concretamente com 17,39km (com 1h49m01s). Que se lixe … posso dizer
que os primeiros km a seguir foram um pouco estranhos, mas que depois de me
habituar à ideia que não tinha relógio a marcar a distância, até gostei
bastante dessa liberdade. O foco estava agora virado para a meia-maratona, só
por causa de um motivo … o nosso “abastecimento especial” … mais ou menos a
meio da prova entramos num estradão em terra, mais ou menos plano … soube pela
vida correr num piso menos duro, e apanhar uma zona mais plana que eu reconheci
do Ultra Trail Geira Romana (aliás, este troço pertence à Geira Romana) … foi
sempre a abrir, o Filipe não sabe andar devagar, e eu ia refreando os ânimos ao
moço senão ainda ia ganhar aquilo … íamos à procura de um sitio onde pudéssemos
abancar para o lanche, sitio esse que descobrimos com vista sobre a barragem de
Vilarinho das Furnas e com o solzinho a bater ( e logo de seguida uma ventania
dos caraças). Sacamos das minis, das sandes e esperamos pelo Hugo que chegou
uns 5 minutos depois, surpreendido por estarmos à espera dele – mas havia
dúvidas??? Prometido é de vidro J
… soube pela vida (pena as minis não estarem frescas) e era ver os
“invejosos” a passar e a reclamar igual tratamento por parte da organização.
Meus amigos, nem só de corrida vive o homem!!! Uma sandes no bucho, uma (ou
duas no caso do Filipe) mini pela goela abaixo e umas fotos depois estava tudo
pronto para seguir viagem até ao próximo abastecimento que foi no museu da
Geira em Terras do Bouro (penso que deveríamos ter 30km feitos). Depois de
arrancar-mos novamente o Hugo disse para irmos andando, que não estava bem e
que iria ter que gerir para chegar ao fim. E como amigo não empata amigo lá
segui com o Filipe, agora outra vez serra acima. Se ainda não sabem, aqui o
Perneta adora subir J
Toda a prova é bonita, mas aqueles últimos 10km foram para mim os melhores
… o tempo estava aberto, o sol brilhava, as cores do outono em diferentes tons
de verde, castanhos e alaranjados, espalhadas por paisagens brutais de perder
de vista. Lindo. Até me esqueci das pernas que já vinham pesadas há muitos km,
da virilha que me prendia os movimentos e dos problemas habituais com o joelho
direito que as descidas tinham tratado de acelerar. Então a descida final a
serpentear até à Vila do Gerês foi maravilhosa … não deu para não parar e tirar
umas fotos … que se lixem os tempos ou as classificações. Nos últimos 5km
desce-se uns 450m D-, não é fácil para quem já leva as pernas massacradas.
Uma dupla de Pernetas que se conhecem desde sempre, que a vida separou e a corrida voltou a juntar ...
já cheira a meta...
Mas
eu (e do Filipe nem se fala) ia bastante bem, de tal maneira que foi sempre a
abrir, tirando os últimos 200m da descida,
ainda mais inclinada, em que os meus joelhos reclamaram e me obrigaram a
travar a mota … a chegada foi engraçada, muita gente e sempre com o Filipe ao
lado … aliás cortamos a meta juntos e o tempo de chip é igual ao segundo
(4.20,08) …
Encontrar malta amiga, esperar pelo Hugo que veio pouco depois, fotos,
acabar com as mines, tomar uma banhoca, almoçar com uma malta dos Running
Espinho e regressar a casa. Eram 18h quando cheguei a casa … dar uma vista de
olhos pelo FB e pelo Blogue (ficar muito feliz com um recorde estrondoso do meu
amigo João Lima) e estava na hora de preparar a mala de viagem, porque hoje foi
dia de viajar até Hannover. Eu tenho uma pontaria do caraças, marco sempre
viagens depois de provas difíceis – já estou habituado J
Como podem depreender foi uma prova que me deu um prazer enorme, tendo
atingido todos os objectivos por larga margem. Até o tempo conseguido me
surpreendeu .. foi muito bom para quem andou na desportiva e até parou para um
abastecimento extra J …
A organização esteve ao nível das organizações do Carlos Sá, ou seja, muito
boa – ouvi pessoal no fim a queixar-se de pormenores como não haver classificações
por escalões, serem caras, por haver poucos brindes, não darem garrafas de água
no fim. Eu compreendo mas não concordo – a prova tem regulamentos e se as
pessoas se inscreveram aceitaram estas condições. Que eu visse, não falharam
com nada do que prometeram, pelo menos eu não senti falta de nada.
Hoje estou surpreendentemente bem para quem fez uma prova dura (são sempre
42km e estes tiveram 2400m D acumulado). Tenho algumas dores musculares e uma
bolha no calcanhar do pé esquerdo que me incomoda um pouco, mas nada que me
obrigue a um andar novo ou coisa semelhante. Até o joelho à Mantorras não está
tão mal como costuma ficar. Vamos ver amanhã J
Uma palavrinha de agradecimento a todos que se cruzaram comigo nesta prova,
e ajudaram a que a festa se fizesse, especialmente ao Hugo Fernandes e claro ao
Filipe que me aturou durante todos os 42195m da prova … adorei!!!
OBRIGADO MALTA!!!
Palavras para quê?!? Fazes esse tempo, nessa prova, na galhofa e com direito a paragem para lanche!!! :)
ResponderExcluirMuitos parabéns (e obrigado pela referência à minha pessoa)
Um grande abraço
Foi uma festa ...
ExcluirGrande abraço
Cheira-me que vou experimentar uma sandes dessas... o post é sobre o que mesmo? Fizeste uma prova? A sandes é só presunto e ovo estrelado?
ResponderExcluir:p
Abraço
Hehehe ... e pão ;)
ExcluirAbraço
Mas isso foi uma prova ou um piquenique?! :P Mas compreendo-te, essas subidas do Gerês exigiam esse reforço, ainda que não fossem as originais D. Alice. ;)
ResponderExcluirParabéns!
Beijinhos
PS: E o Gerês é lindo, não é? :)
As duas coisas :) Brigado.
ExcluirBeijinhos
P.S. Sem dúvida que é lindo. Tenho que vir mais vezes ao Gerês.
Muitos parabéns Carlos! :)
ResponderExcluirUns dias antes eu e o Vitor vimos o filme de apresentação da prova e falámos na hipótese de para o ano fazermos esta maratona. Agora depois de ler e ver as tuas fotos acho que ainda fiquei com mais vontade :)
Deve ser brutal!
Muitos parabéns! Estás numa forma brutal! Esse tempo e com paragem para abastecimento...sim senhor... ;)
Beijinhos
Obrigado Isa!!!
ExcluirVocês, tal como eu, que gostam de apreciar as vistas enquanto correm, não hesitem. Se puderem façam esta prova.
Mas também te digo uma coisa ... se o tempo estiver com chuva e vento, isto deve ser duro mas duro ...
Beijinhos