quinta-feira

Caminhos de Santiago (42km) - Etapa 5 ou "Benvenidos a Galicia"




Que noite mais bem dormida!!! Ninguém a roncar ao lado, ninguém a levantar-se de noite para ir à casa de banho, a rebolar toda a noite na cama, a mexer na mochila, pior … a ressonar, nada de teenagers bêbados a chegar a altas horas e a incomodar toda a gente … maravilha e retemperador o soninho desta noite J … e tínhamos sobrevivido ao casal canadiano, que desconfiava serem assassinos psicopatas de tão estranhos que eram J
Ainda bem que a noite foi boa porque tínhamos pela frente uma jornada muito longa – os dias estavam a passar e já não havia muita margem para poder acabar dentro do tempo que tínhamos. No plano de hoje temos uns bons 40km para ficarmos com quase uma etapa de vantagem em relação às clássicas. A particularidade de hoje é que iremos chegar a Espanha e mais ou menos a meio do Caminho. O destino é Villadesuso e um Albergue privado onde conseguimos reservar 2 camas.
Levantamos cedo, por volta das 5h – hoje tínhamos que começar mesmo cedo. O ritual habitual com primeira bucha, encher as garrafas de água, tratar dos pezinhos (acho que não vale a pena repetir-me em relação aos meus), escovar a dentuça e siga para bingo.
“Achas que leve o frontal???” … pergunta inocente de um inexperiente peregrino quando estava a preparar a mochila no domingo passado. “nah, não vamos caminhar de noite” foi a resposta de uma experiente caminheira … pois J

Estava bastante escuro ainda quando saímos … queríamos fazer o caminho junto à costa mas não havia iluminação e pelo dias anteriores ainda teríamos que esperar pelo menos uma hora até ver os primeiros raios de luz. Nessa hora fazemos no mínimo 5 ou 6km. Siga pela Nacional 13, não temos tempo a perder. Os passeios são largos, a esta hora há pouco transito mas os carros que passam andam a velocidades enormes e fazem um vento do caraças J … é perigoso e por isso sempre que possível usamos as estradas paralelas por entre campos. 

prontos … já chegava não????


eu vou conseguir fazer esta merda nem que se fo&%$ tudo … 

É assim que chegamos a Vila Praia de Âncora, já com luz do dia e tomamos o segundo pequeno-almoço do dia. Os primeiros 10km estão feitos. O tempo hoje está mais fresco e está nevoeiro … o que até nem é mau olhando ao que temos pela frente. Único problema é a minha perna direita – até estou a conseguir superar bem o incomodo que as bolhas me provocam mas não consigo evitar de caminhar na “defensiva” o que me continua a provocar problemas no gémeo (que vou massajando com pomada para cavalo de x em x tempo).


Passado Vila Praia de Âncora, voltamos aos passadiços de madeira junto às praias. Serão assim quase 5km até Moledo … mar, dunas, passadiço e corredores … desde que entramos na marginal de Âncora que é só atletas a fazer a sua corridinha matinal … os menos habituais andam às voltas junto à Vila, os mais experientes já se aventuram para bem fora. Acho que peregrinos não vimos nenhuns até Moledo. Estranho.



a coisa segue divertida … 

muito …

Em Moledo abandonamos a praia e seguimos pelo centro, para apanhar uma recta enorme que nos levará a Caminha. Á entrada de Caminha mais um café e um bolinho. Já não me lembrava como Caminha é bonita, aquele centrozinho histórico cheio de vida àquela hora (seriam umas 10h30), o rio Minho … não me importava de ter uma casinha de fim de semana por aqui J


e prontos…



Caminha vale uma visita com mais tempo...



Não perdemos muito tempo, queríamos apanhar o ferry das 11h e conseguimos. 3 € para os dois para passar para o lado espanhol. Bem em conta quando comparo com o metro do Porto … para ir de Rio Tinto ao centro do Porto (uma viagem de 15min) pago mais L … antes de entrar tomo novo café. Teno que abastecer de café porque as minhas últimas experiências com café em Espanha não foram as melhores J 

equanto se espera vai-se reforçando a protecção dos pezinhos de princesa

O ferry vai cheio de turistas … de carro, mota, de bicicleta ou a pé como nós. A fazer o Caminho a pé umas 2 ou 3 dezenas no mínimo. Há muita gente a começar os caminhos aqui como um grupo que chegou de autocarro … todos divertidos e ainda bem frescos como é lógico.
O nevoeiro não deixou apreciar a passagem como poderia ter sido. Estava frio e foi a primeira vez que tive que sacar do meu impermeável, que tirei logo que recomecei a caminhar, agora já em território espanhol.


Fomos dos primeiros a sair do ferry e os últimos a arrancar para continuar a etapa. Ainda estivemos ali um bocadinho a ver o que havia por ali, a tirar umas fotos e coiso … a Ana é que tem razão …”estes assim não chegam lá” J


tá quase …

O caminho leva-nos a A Guarda, uma cidadezinha já com algum tamanho. Para lá chegar subimos e descemos uma serra. Á entrada de A Guarda somos intercalados por uma senhora de idade muito simpática … quer saber de onde vimos, para onde vamos e começa a indicar-nos a melhor forma de o fazer – assim do nada durante uns bons 3 ou 4 minutos … acho que lhe dissemos que viesse connosco que ela vinha J



estilo … o que é preciso é estilo…


cá está a senhora, super divertida … engraçado, iam várias parelhas de peregrinos e ela veio ter connosco … talvez por termos cara de ter muita paciência :) 

Pouco depois estamos refastelados num Restaurante onde comemos muito bem – omelete, pizza, os famosos calamares e umas Estrella Galicia frescas. Uma pausa de mais de uma hora que nos retemperou as forças para o resto que nos esperava e que não era pouco.


Pusemos os pés ao caminho e procuramos a costa … não foi difícil, era sempre em frente. Depois foi só engatar na costa rumo a norte. Até começou bem, com umas praias e uns rochedos giros. Mas quanto mais íamos para norte mais degradada a zona – o mar e a costa rochosa até são bonitos, mas aqueles muros em pedra pelo meio, cheio de “barracos” sem qualquer ordenamento ou as casas mal tratadas, quase ao abandono, muita coisa à venda, não nos deixaram as melhores impressões deste percurso. Já não sei bem onde, mas o percurso a partir de um certo momento retira-nos da costa e leva-nos pelas bermas de uma estrada nacional durante alguns km, quase sempre a subir ligeiramente. O nevoeiro tb se foi entretanto e apareceu o sol … as pernas vão cansadas de quase 30km e ainda falta um bom bocado, os pés vão a “ganir” … olhando para trás este terá sido provavelmente o pior momento de toda a caminhada para mim e muito por causa do pé direito. Paramos na berma dessa estrada nacional para descansar, comer uma maçã, uns frutos secos e descalçar-me … deixar os pezinhos gozar um pouco de liberdade … que bem que soube aquele bocadinho J

eu vou conseguir, rais parta se não vou conseguir … se o Bruno consegue qualquer um consegue

fodaice ;)







ainda falta um bom bocado ...

Mas a viagem tinha que seguir … e melhorou. Não os pés ou o cansaço, mas a zona por onde passamos o que foi uma bela ajuda. Voltamos para junto da costa, agora as aldeias já estavam mais bem tratadas, o sol embora dificultasse um pouco também ajudava a tornar as paisagens mais bonitas. Destaco Oia e o seu Monasterio … a aldeia é pequena, com casinhas em pedra todas impecáveis, com restaurantes, cafés, lojinhas, uma praia com areia … localidade pequena e muito pitoresca. 








Embora apetecesse uma fresquinha decidimos continuar, aproveitar o ritmo que ainda havia 4km a fazer por entre campos agrícolas. Quando chegamos finalmente a Villadesusa nem queria acreditar … e pouco depois lá estava o tão desejado Albergue, uma Maratona (e não a de Roma J) depois.


estas carinhas dizem tudo ...

de outro ângulo, não menos esclarecedor...

Que excelentes condições encontramos, os beliches de excelente qualidade, colocados de forma a dar o máximo de privacidade a cada um. Balneários limpos, espaçosos e água quente com boa pressão – são estes os pormenores importantes, são estes os luxos que valorizamos nestas situações. Por 12 € por pessoa. Justo.
O supermercado ficava a um bom km, mas era preciso reabastecer de água, fruta, bolachas … o que num dia normal parece pouco, custa muito naquela situação – havainas e bolhas na planta do pé não combinam J. O restaurante com menu de peregrino era ao lado mas decidimos comprar a nossa comida para jantar na esplanada do albergue, virado ao mar a contemplar mais uma pôr-do-sol daqueles … acho que nunca uma sandes de pão de forma com queijo e chouriço, umas batatas fritas de pacote e um iogurte souberam tão bem J. Pelo local, pela companhia e pelo sentimento de objectivo do dia cumprido J



Neste albergue e pela primeira vez voltamos a encontrar peregrinos que tínhamos conhecido noutras noites. Foi o caso de uma casal italiano (Stefano e Elena) com o qual ainda iriamos cruzar algumas vezes daqui para a frente. Também foi aqui que conhecemos uma mãe e filha madrilenas, muito simpáticas, que tb seriam nossa companhia por muitas ocasiões nas etapas seguintes, tal como um casal holandês, ele um grandalhão preto (tipo porteiro de discoteca), ela uma branquelas loira ambos bem simpáticos. Este albergue era dominado por tugas que estavam em maioria … não sei porquê, mas fizemos “amizade” com quase todos menos com os tugas, que ficavam um pouco mais na deles J
Fomos dormir cedo, cansadinhos mas satisfeitos por um dia longo mas bem preenchido. Amanhã há mais J

6 comentários:

  1. Não digo que tenho inveja, que é um sentimento um bocado negativo e fico contente por terem vivido isso. Mas, porra, quem me dera. Tenho que programar isso para no futuro fazer com a minha Sara.

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    1. Há a que eu chamo "inveja da boa" … essa pode ser :) e sim, faz algo deste género com a Sara que vais adorar. E depois escreve sobre a viagem que eu tb quero ir :)
      Abraço

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  2. Mais um texto bonito e divertido!
    Não contei foi quantas referências ao 11 mas deve ter ficado perto das... 11
    Essa etapa foi por caminhos bem bonitos, tanto em Tugalandia (Caminha é tão bonita!!!) como em Espanha.
    E como um justo e muito merecido jantar ao pôr-do-sol, com a satisfação e orgulho do objectivo cumprido.

    Venha a sexta :)

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    1. :):):) … e só cá estão algumas, encontrei muitas mais e só tirava às que via sem procurar nada.
      Tá prontinha, a 6 à sexta … :)
      Abraço

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  3. Estou a pensar deixar de ler estas crónicas... É que de cada vez que leio mais uma só penso: eu querooooo!!! A sério! Que inveja, que emoção, que experiência! :D

    Claro que não imagino o sofrimento que terá sido em algumas partes (eu sou perita em bolhas, por isso estou muito solidária com a tua dor), mas no fim do dia, o que conta são mesmo as coisas boas, as memórias, esse pôr-do-sol incrível :)

    E agora, só para plantar a semente do sonho e quem sabe para pensarem já na próxima aventura, vai espreitar isto: https://en.wikipedia.org/wiki/Coast_to_Coast_Walk

    Também quero lá ir um dia :)

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    1. Já nem me lembro das bolhas :)
      E esse caminho é qualquer coisa … vai para a wishlist :) gracias

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